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segunda-feira, 31 de março de 2014

A Escrita Sagrada


Textos Essénios - Escritos em Rolos de Cobre               Mar Morto

Terão sido de facto os Sumérios a inventar a mais antiga escrita há 6000 anos para comunicar directamente com os deuses ou esta já existiria anteriormente a essa data, mesmo que noutra localização geográfica do globo? E quem a terá introduzido na Terra se de Vichy (França) a Alvão (Portugal) existem para já referências em espécie de coordenadas extraterrestres nesta singular ligação - aérea e terrestre - em estratos geológicos que assim a definem (à escrita) poder ter sido um facto em existência e berço na Península Ibérica em períodos muito anteriores até mesmo dos Sumérios?

Os Segredos da Escrita
Há quase 6000 anos , o Homem inventou um método para guardar o conhecimento: a escrita. A partir de então desenvolveu várias possibilidades para a reproduzir: os sinais gravados em pequenas placas de argila, os símbolos riscados na pedra e, por fim, as letras escritas em livros permitiram-lhes comunicar com os seus contemporâneos e com as gerações que se lhes seguiram ao longo dos milénios.
O homem letrado podia ultrapassar os abismos do tempo e aceder ao conhecimento e à fantasia de épocas passadas. Aquele que sabia escrever tornou-se um mago, capaz de fixar para a eternidade a palavra falada e, portanto, transitória. E, o que era ainda mais importante, podia transmitir a palavra divina ao seu mundo é à posteridade. É pois de admirar que os sinais da escrita fossem considerados símbolos sagrados, parecendo resplandecer com uma aura mágica? Nalgumas culturas eram até vistos como seres vivos, capazes de trazer sorte ou azar.

Palavras de Deus
Ao encontrarem sinais desconhecidos nas ruínas dos templos egípcios, os Gregos chamaram-lhes hieróglifos, designação que significa «escrita sagrada». Era sagrada porque só os sacerdotes a entendiam. Por volta de 3000 anos a. C. os Egípcios inventaram um dos sistemas de escrita mais antigos do mundo, constituído por 700 caracteres, a «Palavra de Deus», que porém não transmitiam só informações: também a sua disposição e forma tinham um significado. O povo do Nilo pensava que a magia podia insuflar vida ao que era reproduzido. Por exemplo: o hieróglifo que representava o som «m» era uma coruja e acreditava-se que este carácter seria realmente capaz de se transformar numa ave e voar da parede onde estava desenhado. A natureza mágica dos hieróglifos levou a uma prática curiosa, como a observada na câmara funerária da princesa Neferuptah, filha do faraó Amenemhat III (1842-1797 a. C.). Todos os símbolos de animais do seu sarcófago foram estropiados: desenharam a víbora sem cauda e a coruja sem patas. Os sacerdotes dos mortos quiseram deste modo evitar que os animais se afastassem do sarcófago; de contrário, o texto perderia o seu efeito mágico.

O Livro Divino
Os utensílios usados pelo escrivão egípcio eram colocados no seu túmulo. A sua posse permitir-lhe-ia descobrir no Além todos os segredos mágicos do livro divino escrito pelo deus Tot - que deu à Humanidade a escrita hieroglífica. Fechava-se assim o círculo: os deuses tinham dado à Humanidade o poder sobre a palavra mágica e oculta, mas os últimos mistérios da escrita estavam reservados ao Além.

A Magia da Palavra
O poder oculto da escrita encontra-se em muitas culturas. Nas traduções gregas da Bíblia, Deus recebe o nome de «Alfa e Ómega», porque, sendo o A a primeira e o O a última letra do alfabeto, encerravam em si todas as outras e, por consequência, todas as palavras, coisas e pensamentos que designavam.
O livro judeu Sefer Yezirah (Livro da Criação, cerca de 700 d. C.), transmitido apenas em segredo, trata do poder espiritual do alfabeto e afirma: «Cada letra é uma força associada às ideias do Universo.» Este preceito foi o fundamento da «Magia da Palavra» de Agrippa von Nettesheim (1486-1535), um alquimista alemão que defendia que todos os sinais da escrita «estão associados às forças e aos corpos divinos e celestiais». Os símbolos mais sagrados eram para ele os hebraicos - que supostamente libertavam as forças das coisas que designavam apenas pela forma das suas letras.

Rituais e Oráculos
Os Sumérios (que viveram no actual Iraque) já atribuíam o mesmo efeito mágico e, religioso, aos seus 2000 símbolos gráficos. Quando há 6000 anos inventaram a mais antiga escrita do mundo, usaram os caracteres para comunicar directamente com os deuses, os quais invocavam com a sua escrita sagrada.
Os Maias da América Central - que atingiram o auge da sua civilização entre 600 e 800 d. C. - parecem ter usado os hieróglifos principalmente para se entenderem com o Além. De modo a poderem conferir poder e magia aos seus rituais mais ocultos, escreveram colunas de caracteres nas paredes da escura gruta de Naj Tunich, na Guatemala. Os Chineses, por seu lado, já em 1600 a. C. faziam profecias por meio de caracteres que gravavam em ossos. Aquecidos ao fogo, estes mostravam fissuras «enviadas pelos deuses», onde liam o futuro.

O Fascínio dos Símbolos Gráficos
A crença no poder da escrita conservou-se até hoje de várias maneiras. Os Judeus escreveram as suas súplicas em folhas que colocam nas fendas do muro das ruínas do Templo de Jerusalém para que Deus possa lê-las. Os nomes gravados em anéis ou medalhões juram fidelidade eterna à pessoa amada.
Correntes de cartas prometem maldições a quem não copiar o seu conteúdo. No Ano Novo, nos países asiáticos, oferecem-se horóscopos em pequenas folhas de papel. E estudiosos da Bíblia como o professor israelita Eli Rips desconfiam que este livro encerra um código divino secreto que o computador descodificará e, que revelará o futuro da Humanidade.
Nesta era da Internet, os símbolos gráficos e o seu suposto efeito mágico, parecem assim não ter perdido nenhum do seu fascínio.

A Magia das Runas
Os Germanos do Norte da Europa atribuíam um poder mágico aos seus símbolos gráficos, «as Runas», que surgiram no século II d. C. Cada Runa (do gótico, Rûna «Segredo») era não só uma letra como também possuía características mágicas e de culto. O feiticeiro das Runas usava-as nas suas maldições, esconjuros e adivinhações. A própria gravação das Runas em bastões era considerada uma arte secreta e de culto, frequentemente iniciada por fórmulas como «alu», que significava «defesa» e «protecção».
A sequência dos 24 símbolos do alfabeto Rúnico também tinha um significado mitológico, que no entanto se desconhece. Os Germanos acreditavam que os seus deuses dominavam os ensinamentos e, a magia das Runas, o que lhes permitia fazer poderosos feitiços.

Invenção Genial
A escrita é o sistema de informação fundamental de uma sociedade moderna. Mas, não se sabe quem, por volta de 1400 a. C., teve a genial ideia de dividir os sons de uma língua de tal modo, que estes possam ser reproduzidos por letras. O antropólogo mexicano Ivan Illich (n. 1926), de Cuernavaca, defende que o alfabeto dos Semitas do Norte, reproduz tão bem «o universo dos sons audíveis» - desde que surgiu - que só pode ter sido inventado por um único indivíduo. Com a possibilidade da escrita fonética, os Israelitas superaram intelectualmente a civilização egípcia. De futuro, qualquer um - e não apenas os sacerdotes - podia transformar o discurso oral num texto escrito.

A Escrita: Dádiva dos Deuses?
A comunidade científica mundial tem-se debatido ao longo dos tempos com esta interrogação, acima de tudo pelas recentes descobertas de lápides terrestres e estelas fantásticas que ressurgem como autênticas dádivas dos céus em toda a sua magnitude de escrita impressionante. A polémica instalou-se, acreditando uns em novas teorias e outros negando-as em conflito aberto de uma antropocêntrica atmosfera de reiteração ou declinação, consoante a perspectiva individual desses estudiosos.
No célebre Livro da Arqueologia Proibida estão factos  e argumentos que acumulam assim a tese de que a escrita estará no planeta Terra há muitos milhares de anos desde Glozel até à Península Ibérica, de Vichy a Alvão em delineares linhas terrestres (e extraterrestres) nos Menires e Dólmenes aí existentes. De facto, exibem-se aí, diversos estratos geológicos em representações antropomórficas e zoomórficas que tal denunciam em figuras de pessoas e animais respectivamente, de há aproximadamente também 4000 anos a. C. Esses registos, assim como a definição de linhas supostamente Ibero-Tartéssicas definem uma espécie de estradas ou coordenadas que, vistas do Céu, dariam a correcta informação a quem daí viesse em anunciada informação sobre o solo terrestre. Começa então a ser evidente de que, tanto a escrita como o seu significado possa ter sido idealizado na Terra muito antes do que o suposto e, em solo peninsular ibérico.

Chegou-se há pouco à conclusão de que a Lua não é redonda mas de confluência de arestas hexagonais. No planeta Terra a NASA também tem vindo a autenticar uma nova consciência em que por vezes a estrutura redonda tal como a conhecemos, possa não ser uma verdade a 100 por cento. Existe biodiversidade molecular e mesmo, resíduos graníticos e de essência de asteróide no solo terrestre - levando alguns cientistas a compor a tese de sermos provenientes de Marte - por tal semelhança existir nesse extracto no planeta Terra ( em resultado de análises feitas a compostos similares no solo marciano). Daí, não ser assim tão incoerente ao poder afirmar-se de que as civilizações estelares há muito que terão deixado na Terra esses seus vestígios de conhecimentos em escrita sua pronunciada no nosso planeta. Para além de, uma certa estela imensa que foi descoberta na Rússia sobre os Montes Urais em que - após exímias análises científicas - se veio a constatar tratar-se de uma espécie de mapeamento terrestre em vias de rios, lagoas, serras e demais linhas terrestres que só poderiam ter sido feitas a partir do Céu - num artefacto fora do tempo (os agora designados «deooparts») - em estratos geológicos nunca vistos.
Por tudo isto, celebremos esta dádiva sagrada nesta maravilhosa escrita que nos foi porventura «oferecida» pelos deuses ou mais exactamente, senhores de inteligência superior que nos têm comandado a vida desde há milhares e milhares de anos em vigília e permanência no «nosso» planeta Terra.
A bem de toda a verdade escrita e lida, dos céus e da Humanidade, assim possa continuar a ser!

sexta-feira, 28 de março de 2014

A Terra dos Índios-Louros


Múmias com Cabelos Louros                              Peru - América do Sul

Tendo-se investido pelas ilhas Shetland, pelas ilhas Feroé, pela Islândia e pela Gronelândia, a civilização Viking ter-se-à limitado às curtas visitas na costa leste da América do Norte ou, ao invés disso, exercido uma influência mais profunda no desenvolvimento cultural do Novo Mundo?

Antigos Contactos Transatlânticos
A ideia de que Colombo terá sido em 1492 o primeiro europeu a chegar e a descobrir a América, está ultrapassada já há algum tempo. Desde a descoberta de uma importante colónia Viking em L`Anse aux Meadows, na Terra Nova, que se dá como provado que este povo chegou à América muitos séculos antes de Colombo. Mas daí a questão: Ter-se-iam eles, aquando das suas viagens de barco pelas ilhas Shetland, pelas ilhas Feroé, pela Islândia e pela Gronelândia, limitado a fazer curtas visitas à costa leste da América do Norte, ou terão ao invés disso, exercido uma influência mais profunda no desenvolvimento cultural do Novo Mundo?

A Tese de Jacques de Mahieu
Um dos mais firmes defensores da tese da influência cultural alargada dos Vikings na América, é o antropólogo e sociólogo francês Jacques de Mahieu. De acordo com ele, os Vikings não se ficaram apenas pelas regiões do actual Canadá. Pelo contrário, admite perfeitamente que grupos de Vikings tenham avançado pela costa leste da América do Norte até alcançarem o Novo México, continuando mesmo a progredir rumo à América do Sul ao longo da costa ocidental. Como poderá então Jacques de Mahieu ter chegado a uma ideia tão extravagante e, arrojada? Este estudioso afirma ter descoberto influências dos homens brancos do Norte nas culturas do México, do Equador, da Colômbia e até mesmo na região meridional da América do Sul.

Ullman - O Viking Misterioso
De acordo com Jacques de Mahieu, um normando chamado Ullman terá em 967 sido desviado por ventos contrários à rota que o seu drácar seguia, alcançando deste modo o território do actual México.
Os Astecas, que assistiram à chegada do louro-Huno no seu imponente navio, tomaram-no por um deus acabado de chegar à Terra. Deram-lhe o nome de Quetzalcóatl (Serpente Emplumada). Contudo, em virtude do clima, os Vikings tiveram de abandonar esta região e, estabeleceram-se no planalto de Anahuac. Subjugaram as populações indígenas, ensinaram-lhes a lavoura e a metalurgia, bem como a sua própria religião. Ullman tornou-se o rei desta região. Vinte anos mais tarde reencontramos Ullman na península do Iucatão, junto da tribo Maia dos Itzá - que na sua língua chamavam Kukulcán à Serpente Emplumada.
Aí permanece durante dois anos, e funda então a cidade de Chichén Itzá. Por fim, os seus apoiantes continuam a avançar rumo á América do Sul, onde em meados do século XI fundam o gigantesco Império de Tiahuanaco, que se estendia da actual Colõmbia até ao Chile. O planalto de Bogotá ainda hoje se chama Cundinamarca, uma adaptação espanhola de Kondanemarka, que significa mais ou menos: «lugar da coroa dinamarquesa».

Os Índios Brancos
Em 1290, os colonos Escandinavos terão sido vencidos por tribos indígenas. Alguns dos sobreviventes pegaram nos seus barcos e navegaram para ocidente, vindo a estabelecer-se nas ilhas do Pacífico. Outros, porém, ter-se-ão recolhido nas montanhas da região de Apurímac, de onde só saíram passados 10 anos sob as ordens de Manco Capac com destino a Cuzco, para aí fundarem o Império dos Incas.
Um outro grupo ter-se-à ainda refugiado na floresta tropical, acabando por alcançar um território a leste dos Andes. Múmias com cabelos louros encontradas no Peru, bem como relatos de conquistadores Espanhóis acerca de «Índios-Brancos», parecem validar esta tese.
Os últimos descendentes encontrar-se-ão possivelmente na tribo dos Guayaki (os brancos da planície), no Paraguai. Mediante os seus estudos antropológicos, Jacques de Mahieu chegou à conclusão de que os Guayaki apresentavam características corporais particularmente comuns no Norte da Europa, mas, dadas as relações estreitas que desde há várias gerações estes têm mantido com os Guarani, essas características ter-se-iam esbatido com o tempo.

Seriam os Homens de Clovis, oriundos da Europa?
Há também cientistas que defendem ter havido um contacto muito anterior do Velho com o Novo Mundo. De acordo com as opiniões académicas comummente aceites, os portadores da mais antiga cultura da América do Norte foram tribos mongólicas que, depois da última glaciação - há mais de 11.000 anos, atravessaram a ligação por terra então existente entre a Sibéria e o Alasca, dando assim origem à chamada cultura de Clovis.
Dennis Stanferd, do Instituto Smithsoniano, defende por sua vez a provocante opinião de que os homens de Clovis terão chegado da Europa pelo Atlântico. A técnica de produção das lâminas de pedra que se observa na cultura de Clovis, é precisamente a mesma que pode ser constatada nas lâminas espanholas da cultura de Solutré.

Mais haverá por sondar, pesquisar e elaborar em outras teses mas, não se ficando indiferente de modo algum à que Jacques de Mahieu defendeu acintosamente, leva-nos a supor de que provavelmente ele e outros terão razão ao afirmar de que os Vikings já há muito que teriam descoberto, vivenciado e mesmo perpetuado todos os seus conhecimentos e, ensinamentos nos povos que encontraram. E isto, tanto na América do Norte como na do Sul em investidas suas, verdadeiramente assombrosas do que na época nos suscita de tão primitivos barcos em transporte marítimo. Esventraram mares e oceanos, conquistaram terras e povos e foram sem dúvida, os mais valentes, corajosos e fundadores de territórios até aí desconhecidos. Bravura e heroicidade de homens e mulheres que ainda hoje nos dignificam por tanta mestria de carácter e valentia, dando os corpos ao vento e ao mar em boas e más marés transatlânticas.
Aqui fica então a justa homenagem desses povos aventureiros escandinavos que deram mundos ao mundo! A bem da cultura e do conhecimento, toda esta «nova» verdade possa ser continuada por quem de direito. Assim seja então, a bem de todos nós!

A Esperança III


 
Serra da Estrela - Guarda                                  Portugal

Poderá haver amor maior do que aquele que se esquece de si em favor e merecimento do outro, para além de todas as coisas e até da sua própria vida? Saberei valorizar esse gesto altruísta e incomensurável de despojo e, elevação, que Siul me consignou ficando comigo e com o seu filho, prejudicando a sua carreira e mesmo qualquer alternativa de ascender a cargos superiores, limitando-se a seguir-me e...a amar-me?

O Início
Chegou a Primavera. Sim...ainda existem estações do ano que se fazem sentir na atmosfera terrestre, por muito que esta tenha sofrido e sido esventrada como algozes em casa sua. Há esperança no ar. Sinto-o e, desejo-o desesperadamente tais como as flores campestres e selvagens que eclodem nos campos agrestes da serra. Beneficiei de um projecto ecológico e de novo ecossistema geográfico, localizado nesta serra em reflorestação, replantação e proliferação numa nova etapa e nova era de ressurgimento vegetal para que o planeta Terra possa ter - e de novo - uma segunda (ou terceira...) oportunidade de vida!
Sinto-me a Eva bíblica e ele, Siul, o meu Adão do Alfa do Centauro em escala quase permanente, terrestre! Foi sujeito a um interrogatório ímpio de dissecação mental pela escolha que fizera de se ter unido a uma primitiva terrestre, como se algo de doentio ou patológico em vírus desconhecido e neste revelado se tivesse insurgido em si, só pelo facto desta estranha união, afiançaram-lhe. E ele, impenetrável. E dócil e suave comigo ao confidenciar-me todas estas agruras em quase condenação sua em tribunal judicial galáctico. Não recuou, não vacilou. Foi justo à minha figura de mulher-fêmea, terrena ou simples terráquea como por vezes alguns deles - na imensa Confederação Galáctica nos reconhecem, aos que restam de nós, terrestres comuns.

A Devoção
Levaria milhares de anos-luz para que conseguisse reiterar de igual forma este imenso amor que Siul me devotou, deixando para sempre as suas estrelas em berço, laços e vida originária que o reconhecem como tão diferente de mim como o Sol da Lua. Ele, Siul, é o meu Sol! E eu...a sua Lua, disse-mo um dia. Talvez pelos meus anilados cabelos pretos que caem em cascata sobre a minha cintura e, os meus olhos cor de avelã do que recordo destas dos livros que me deram a ler em criança. A minha pele parece neve e o meu corpo de gazela assustada (igualmente como nos livros infantis) o seu cais de brigo, revelou-me ele, pelo que conhecera um dia na minha terra em solo e planeta dos cais em que barcos extraviados se aportavam.
E ele, Siul, tão majestático, tão portentoso em porte e inteligência de olhos imensos cor de água, de cabelos cor de trigo amarelo e solto como milho-rei do meu solo terrestre mas sem as espigas daninhas, pois que ele não possui defeitos a não ser, quando tem de me deixar em obrigação de Estado Federal até Alpha Centauro (Alfa do Centauro A, B ou a Próxima do Centauro) e me deixa louca de saudades e louca de ciúmes pelas suas iguais de altiva presença e semelhança que ele me diz nem observar de longe. E eu acredito. Ele é meu, só meu!

A Vivência
Por vezes dá-me raiva e dá-me ganas de o seguir, de me esconder na sua nave e fazer-lhe a pior das surpresas, suspeitando ele de que lhe não sou aquela mulher segura e firme que ele sente em mim. Mas seria idiota e mesmo inútil, pois morreria assim que pusesse os meus pés em solo seu de sistema triplo de estrelas. Ainda que pudesse navegar na nave - pelo sistema de refrigeração e oxigenação existentes para a minha locomoção na aeronave de Siul - nunca esta poderia deixar devido à atmosfera nociva de Alpha Centauro, fazendo bloquear a minha respiração, sufocando de imediato. Siul teve de adaptar-se à Terra mas para ele foi bem mais fácil, pelas subsequentes experiências de que foi alvo na receptividade pulmonar e fisiológica, em geral das quais se cingiu na perfeição. Se eu fosse uma sereia, penso que ele teria querido ganhar guelras e membranas nos membros superiores e inferiores, só para me alcançar. Mas tal não foi necessário, felizmente! Sobrevivi a dilúvios, sobreviverei a estes espaços de tempo em que Siul me deixa interiorizada nos meus temores de o perder. Nas suas estrelas, nos seus planetas, Siul viveria aproximadamente trezentos anos de vida...aqui, na Terra, não chegará aos cento e cinquenta se ficar após a minha morte física que chegará no máximo até aos cento e vinte anos de ingerência terrestre. Por enquanto, esta nossa magnífica Serra da Estrela que já foi território de Portugal e da Europa ( e hoje é pertença da União Federal das Galáxias na Terra) é a nossa «Tilmun» (Paraíso dos Sumérios), a nossa terra limpa, pura e clara onde o «leão não mata e o lobo não rouba a ovelha» - como afirmaram os meus antepassados em registo nas placas Assírias, mas aqui, pelas circunstâncias havidas da não-existência animal, isso nem se coloca. A não ser pelos simples pássaros e poucas aves que vão ainda assim nidificando por entre os arbustos recentes de plantio. Pudesse eu voar...e rumaria à ergosfera ainda que nesta me perdesse só para o poder ver mais uma vez...ao meu belo e insinuante Siul de olhos verdes!

A Família
Siul não tinha o conceito de família terrestre. Tive de lhe ensinar tudo, até os receios, as angústias e as alegrias deste novo elemento que se chama Anu e é o nosso primeiro filho após o dilúvio. Após tudo!
Não foi um processo simples ou fácil. Siul pouco ou nada entendia de todo este processo desde o início: da gestação ao nascimento. Para além das investidas interestelares que, de vez em vez me vinham pesquisando - as esferas externas à Terra em recomendação e vigília clínica - diziam-me. Mas era falso. Sabia de antemão o que tinham feito na Antiguidade e mesmo nos primórdios do tempo na Terra de dois infelizes seres chamados Adão e Eva (pelos humanos) e que mais não foram do que dois espécimes de experiências e manipulações genéticas dos senhores do Espaço. Eu não queria pertencer a esse grupo de quase malfeitores que, abnegados e voluntários da minha causa (asseveravam) e, com as melhores intenções, diziam ainda, quererem poder registar esta nova vida em miscegenação de duas espécies distintas: terrestre e de alfa centauro. Nada do que pudessem dizer eu aquiesceria de igual forma. Sentia que mo queriam tirar, a este meu filho. Não podia correr riscos, para além dos já existentes de uma consanguinidade até aqui desconhecida, mas esse era o único que eu incorreria de toda a minha fervorosa empatia e paixão por aquele ser tão distinto e tão diferente de mim que era e é, Siul. As suas mãos perfeitas, o seu beijo profundo como o oceano e...o seu amor por mim em comando, ordem e enlevo de ambos os nossos corpos unidos de quando fazemos amor. A parte sexual era divina. É divina! Eu já tivera uma ou outra experiência fugaz com um colega meu terrestre e que se revelou uma desgraça. Foi rápido, desinteressante e estranho. Não ficou em mim em recordação feliz nem sequer de memória leve. Foi decepcionante até! Era-nos dado liberdade sexual nas cidades capsulares mas com regras bem definidas de limites de natalidade e gravidezes pontuais e, extremamente vigiadas, pelo que se não queria ramificar levianamente como silvas no campo.
O meu ventre crescia. O medo também. Os senhores da Confederação Galáctica determinaram que seria correcto eu fazer em instalações próprias os exames e o parto. Eu neguei. O Siul ficou do meu lado. Queriam fazer análises (muitas) dos RFLP (Restriction fragment length polymorphism) - polimorfismo do comprimento dos fragmentos de restrição, à amniocentese (por via laser) e biopsias (múltiplas) das vilosidades coriónicas e cordocentese. Neguei todas! A engenharia genética é um bem adquirido desde o milénio anterior mas ali e agora - e para mim em particular - uma afronta terrível de suspeição e mesmo eliminação possível que estes me poderiam imputar e, incutir no meu corpo em maleita virulenta matando-me o filho. Não podia mesmo arriscar. E não o fiz. Tive o meu filho sozinha! Ainda mais só, do que uma certa Maria de Nazaré e de Jerusalém que nos livros pré-históricos a determinam mãe de um profeta na Terra. Eu estava como ela mas...talvez pior, pois nem Siul estava presente, tendo ido numa das suas muitas viagens interestelares, deixando-o eu ir apesar da sua insistência em permanecer comigo. Era algo importante que eu não queria assumir culpas e responsabilidades pelo tanto que Siul se já tinha imposto pessoalmente em anulação e sujeição a mim. Lamentei depois, ao ver-me gritar como leoa ferida, rasgando o cordão umbilical com os dentes sem utensílios esterilizados à mão que me valessem. Mas no fim, fiquei gloriosa, admirada e orgulhosa do meu mais belo feito que nascera como se estivesse na Idade da Pedra mas com a determinação férrea de fazer singrar este nosso maravilhoso filho. E assim foi. Siul voltou e ficou estático. Passaram segundos eternos em que não sabia se o segurar, se o beijar ou fugir de tamanha responsabilidade patriarcal no filho que eu dera à luz e ao mundo. Pegou em ambos com os seus fortes braços, hercúleos, ergueu-nos no ar em simbologia celestial sua e, tal como o fariam os Celtas na Terra um dia...apregoou umas quantas frases suas em espécie de dialecto seu e - sob um glorioso nascer do Sol - Siul verteu lágrimas de emoção, lágrimas de amor - orgulho também - e suspensão entre o seu mundo e o meu num só, naquele nosso já famoso filho, ser híbrido, mas tão perfeito como as múltiplas estrelas do Céu!
Somos uma família. Somos uma tríade intransponível e, inexequível, de maldade ou ociosidade. Trabalhamos em conjunto para ver o dia nascer e acabar da mesma forma: em completa submissão a este grande amor a três sob o olhar do satélite lunar e, dos raios solares que nos envolvem em caridosa vivência familiar. Somos tão felizes que até dói. Somos imortais no nosso belo amor nesta terra que nos acolhe e ampara.
Sei que estou longe ainda, da recompensa dos deuses estelares ou do meu Deus-Uno sobre uma imortalidade desejada mas, tentando redimir-me da afronta por mim cometida de os ter desafiado a todos eles, em acto impuro meu, poder um dia em remissiva via recobrar valores, estima e nenhuma suspeição futura sobre mim. Se Deus-Uno é uma realidade muito mais rica e poderosa, variada e inominável a nossos olhos, sendo igualmente e também a soma de todas as probabilidades, Ele me absolverá certamente, pela nova vida que lhe dei em respeito, mediação e oração permanentes! Com o Siul do meu lado. Eternamente!

quinta-feira, 27 de março de 2014

A Misteriosa Luzia


Crânio e Reconstituição Facial de Luzia                              Brasil

Terá havido de facto esse intercâmbio cultural e de vivência após travessias oceânicas, registadas em descobertas cranianas de faces mistas entre a Europa e a Ásia? E outras, remontando a África e à Austrália? Havendo esta relação genética entre todos estes achados, não será de supor que o mundo de outrora possa ter sido mais fluente e dinâmico entre si nas relações oceânicas que aí terão havido?

O Papel da Análise Genética
A questão das rotas migratórias irá com certeza no decurso das próximas décadas obter respostas mais concretas - fornecidas não por arqueólogos, investigadores de campo ou outros aventureiros, mas sim pelos laboratórios das Ciências Naturais. De momento, os cientistas andam a investigar o ADN de múmias pré-colombianas, podendo assim eventualmente vir  a ser confirmadas ligações a outros povos com base na Biologia. Deste modo poderão ser validados quaisquer parentescos com populações geograficamente distantes. Se forem encontrados marcadores genéticos correspondentes aos de um povo distante, poder-se-ão tirar mais conclusões em relação à história da colonização da América do Sul. Assim sendo, a análise do ADN de «Juanita», uma múmia encontrada no meio do gelo dos Andes por Johan Reinhard, revela semelhanças com outros habitantes primitivos da América, mas também com os habitantes da Formosa e da Coreia. Tal parece fundamentar a tese de que os habitantes primordiais da América terão vindo da Ásia.

Viagens Marítimas ou Migrações?
Os resultados das investigações genéticas não são ainda sólidos para se distinguir se uma determinada etnia se terá expandido para outros territórios por intermédio de uma colonização de base marítima ou, em resultado de uma migração ocorrida ao longo do tempo, há mais de 10 mil anos, através do estreito de Bering. Ao analisar-se o ADN da medula de múmias com 1500 anos - encontradas no Norte do Chile - foram descobertos vestígios de um vírus bastante comum em certos povos dos Andes.
Esse mesmo vírus fora ainda encontrado num pequeno grupo de pessoas da região sudoeste do Japão. Não é de pôr de parte a hipótese de ter havido uma presença deste grupo populacional japonês no espaço andino, transportado para o território americano pelos seus barcos e, com a ajuda da corrente Kuroshio - uma corrente que flui ao longo das costas da Formosa e do Japão - de ocidente para oriente.
É também possível que a origem do vírus remontasse a povos paleomongólicos, que poderiam ter-se separado em dois grupos há mais de 10 mil anos e migrado, uns para o Japão e outros para a América do Sul, através do estreito de Bering. Neste caso, porém, há que aceitar que estes grupos se teriam mantido unidos, fixando-se e estabelecendo-se em territórios pelos quais tiveram obrigatoriamente de passar. A quantidade de ADN analisado de que os cientistas dispõem é reduzida, mas um dia terão já o suficiente para se traçar um plano de migração dos povos, podendo-se então afirmar quais os povos que após o período glacial terão atravessado o Oceano Pacífico de barco.
Em relação aos locais onde se verificam surpreendentes coincidências a nível dos avanços culturais com povos da região oriental da Ásia - como é o caso da cultura de Valdivia, no Equador e dos Olmecas no México - parece ser certo que o contacto se estabeleceu por via marítima.

O Segredo de «Luzia»
Um crânio feminino encontrado no Brasil há quase 25 anos, o «Luzia», constitui o mais antigo achado humano no Continente Americano. Tem 11.500 anos - mais antigo que os testemunhos da cultura de Clovis, da América do Norte - considerada pelos investigadores norte-americanos, a mais antiga do continente.
De acordo com Ricardo Ventura Santos, um paleontólogo da Universidade do Rio de Janeiro, baseadas nas mais modernas técnicas, as origens desta mulher remontam a África ou, aos habitantes primitivos da Austrália. Ventura santos acredita que os antepassados de «Luzia» terão sido aborígenes australianos, que há 15.000 anos atravessaram o Oceano Pacífico rumo à América. Trata-se de uma tese ousada - tanto mais se pensarmos que é a opinião corrente do meio académico que nessa época não existia nenhuma civilização capaz de fabricar barcos para uma viagem tão longa.

O Enigma dos Olmecas
As estátuas pertencentes à mais antiga civilização da América Central, os Olmecas, patentes sobretudo no sítio arqueológico da La Venta, constituem para os cientistas um verdadeiro enigma. Esta cultura desenvolveu-se há cerca de 3000 anos na região oriental do México. Entre as suas características artísticas mais marcantes contam-se as enormes cabeças de pedra esculpidas a partir de blocos de basalto. Estas enormes esculturas, mas também as pequenas cabaças de barro dos Olmecas, evidenciam traços fisionómicos que permitem conjecturar se já há 3000 anos não teria havido algum contacto entre a África e a América Central. Também nas gigantescas máscaras de estuque do templo Maia de Lamanai, em Belize, se encontram elementos deste singular estilo de representação escultórica da fisionomia. Outros há, porém, que vêem nestas figuras - e sobretudo nos potes de cerâmica dos Olmecas - os traços fisionómcos dos povos asiáticos.

O Gene Esclarecedor
Através de estudos em que o material genético de grupos étnicos é analisado, tem-se reunido indícios de que povos da região oriental da Ásia - sobretudo os Chineses e os Japoneses - terão atravessado o Pacífico de barco e, se terão fixado tanto na América Central como na América do Norte e do Sul.
Determinadas características genéticas coincidentes foram encontradas apenas e, precisamente, nestas regiões. Se se devessem a uma migração ocorrida através do estreito de Bering, seria de esperar que se encontrassem também nos povos da América do Norte. Coincidências destas foram também registadas na América do Norte mas apenas em três etnias, nomeadamente nos Navajos (do Sudeste dos actuais EUA), nos Chamorro (de Guam, uma ilha do Pacífico actualmente pertencente aos EUA) e nos Blackfeet (da região norte do Estado de Montana).
Os investigadores detectaram a presença de um tipo único de gene retroviral «JCV», que de resto só ocorre na China e no Japão. Também aqui parece certo que a migração se tenha dado a partir da região oriental da Ásia, por barco e através do Pacífico.

Por todas estas pesquisas, investigações e estudos científicos se resume de que talvez o mundo de outrora não tivesse sido um enigma nem sequer assim tão grande em dimensão e oclusão, no que estes povos remeteram em miscegenação e culturas multiraciais. Mais haverá por certo que deixaremos para os entendidos e investigadores, que a seu tempo em tecnologias futuras nos elucidarão de toda a origem e proeminência do ser humano na Terra e, seus laços fecundos em herança e descendência. A bem do conhecimento e da cultura global, assim seja então!

A Interacção Cultural


Estátua no Templo do Jaguar - Chichén Itzá              México

Haveria já - há cerca de 3000 anos - contactos transpacíficos entre os povos das regiões orientais da Ásia e, do Novo Mundo? Que interacção cultural foi essa que deixou vestígios tão semelhantes ou idênticos aos registados entre a civilização Maia e a dinastia Chang?

Antigos Contactos Transpacíficos
O aventureiro Thor Heyerdahl conquistou fama mundial ao conseguir em 1947 viajar por mar do Peru até ao Taiti numa jangada feita de madeira de balsa a que deu o nome de «Kon.Tiki», construída de acordo com velhas técnicas Incas. Com esta experiência pretendia provar que os oceanos não haviam constituido uma barreira para o contacto entre os povos, mas antes um modo de ligá-los.

A Difusão das Pirâmides
Talvez seja demasiado simplista a tentativa de explicar a grande difusão do formato arquitectónico da pirâmide por todo o mundo através da existência deste tipo de contactos transoceânicos desde tempos primitivos. A pirâmide enquanto expressão de um desejo de chegar perto dos deuses e, do Céu, consiste numa transposição da ideia ainda mais primitiva da montanha sagrada de muitas civilizações. Trata-se da realização concreta de uma imagem arquetípica gravada no inconsciente colectivo da Humanidade.
Para explicar o aparecimento das pirâmides em diferentes continentes, culturas e épocas, não tem necessariamente de aceitar-se as teorias propostas pelos difusionistas, os quais partem do princípio de que as mais importantes conquistas da Humanidade foram difundidas através de contactos entre culturas muito distantes.

Intercâmbios Culturais entre a Ásia e a América
Contudo, não deixam de ser por vezes bastante surpreendentes as semelhanças existentes ao nível da escolha dos meios da representação e dos ornamentos, a tal ponto que um certo intercâmbio cultural em tempos longínquos parece ser uma certeza.
Entre os mais veementes defensores desta teoria conta-se o etnólogo e arqueólogo austríaco Robert von Heine-Geldern (1885-1968). Os seus estudos revolucionaram as nossas perspectivas dos progressos culturais registados no Sudeste da Ásia, na Polinésia e nas civilizações antigas da América.
As coincidências existentes entre a arte e a arquitectura do Sudeste da Ásia e, por exemplo, a dos Maias da América Central parecem confirmar a hipótese de que terão existido trocas culturais regulares e, que não se terá apenas registado uma importação unilateral de valores culturais. Heine-Geldern via sobretudo na forte expansão marítima das populações das costas da China e do Vietname, no sentido do Oriente e a mola propulsora para a forte divulgação de determinados objectos e técnicas: tal é o caso do papel e da tinta de escrever, da técnica de dobragem dos livros - que estava em uso na China na dinastia T`ang e volta a aparecer nos códices dos Maias - ou da técnica da impressão sobre fibras têxteis, que também era dominada de ambos os lados do Pacífico.
Na China, também a partir de registos antigos se chegou à conclusão de que os Chineses haviam já descoberto a América. Assim, no «Liang Shu» (A História de Liang) do século VII d. C., conta-se a história do monge Huishen, que na época da dinastia do Sul, viajara por sobre o oceano e descobrira uma terra chamada Fusang, que de acordo com Liang Qichao (1873-1929) seria o actual México. Também nas lendas do «Shang Hai Jing (O Livro das Montanhas e dos Mares) estarão descritos lugares situados no Continente Americano.

Buda e os Soberanos Maias
Encontram-se também outras correspondências interessantes entre alguns motivos budistas no espaço asiático e certas representações dos Maias no México. Numa estela de Quiriguá (Guatemala), o monarca é apresentado com as pernas cruzadas, sentado na posição de lótus. A estrutura colocada em redor do seu corpo como se fosse um ornamento representa o Céu, animado pelos símbolos celestes e respectivos seres míticos. Encontramos figurações comparáveis em muitas construções budistas, como por exemplo, no templo das cavernas de Ajanta, onde o Buda surge retratado com uma moldura muito semelhante em seu redor.

Escritos Chineses no México
Michael Xu, professor assistente de Língua Chinesa e Filosofia na Universidade Cristã do Texas, (EUA), é da opinião que houve um estreito contacto cultural entre a China e a América desde tempos bastante remotos. A sua suposição baseia-se em escavações  realizadas na América Central e no Sudoeste dos Estados Unidos, nas quais foram encontrados artefactos com inscrições e símbolos que, apresentavam semelhanças surpreendentes com símbolos gravados em ossos da dinastia chinesa Chang (1600-1100 a. C.)
Michael Xu e Chen Hanping depararam com os mais importantes exemplos deste género numa exposição sobre a cultura Olmeca na National Gallery of Art, em Washington. Trata-se de 15 figuras humanas de jade que observam uma outra figura de arenito vermelho. Este grupo de figuras foi posto a descoberto em 1955 em La Venta, no México. por detrás destas figuras encontravam-se 6 instrumentos de jade, nos quais ainda se percebia a presença de alguns símbolos e inscrições. Na escrita própria da dinastia Chang, podia ler-se nela: "O soberano e os seus chefes militares estabeleceram as fundações de um reino."
Noutros desses instrumentos conseguia distinguir-se a inscrição «doze gerações». Ambos os investigadores avançam a hipótese de estas inscrições se referirem aos 12 reis da dinastia Chang, que reinaram desde a cultura em que Pan Geng transferiu a sua capital de Shandong para Yin. Na opinião de Xu, os símbolos que designam as noções de agricultura, astronomia, chuva, religião, sacrifício, Céu, Sol, árvores e água são praticamente idênticos em ambas as culturas. Colegas seus na China - a quem ele quis mostrar pela primeira vez os instrumentos de jade da América Central - começaram por discordar, argumentando que não estavam habilitados a produzir opiniões acerca de artefactos de culturas estrangeiras. Quando por fim anuíram, quiseram saber em que região da China aqueles objectos haviam sido descobertos. Estavam firmemente convencidos de que se tratava de exemplos de inscrições da dinastia Chang, tais eram as semelhanças.

Dinastia Chang no Novo Mundo
Em relação ao que foi encontrado em La Venta, tratar-se-à efectivamente de objectos rituais que um grupo de apoiantes da dinastia Chang teria trazido consigo ao fugir numa altura em que a dinastia foi derrotada? Michael Xu defende uma tese deveras provocante, segundo a qual, a primeira grande civilização da América Central teria tido origem num grupo de chineses que nos últimos dias da dinastia Chang, teria sido forçado a encontrar refúgio na costa do actual México.
A cultura dos Olmecas deu os seus primeiros passos por volta de 1200 a. C., numa altura em que o Rei Wu vence o último rei dos Chang - pondo assim fim a essa dinastia.
Michael Xu encontrou assim apoio para as suas polémicas teses nos trabalhos da arqueólogo Betty Meggers, do Instituto Smithsoniano de Washington, nos EUA. Os estudos que ela própria desenvolveu revelam também a existência de semelhanças surpreendentes entre a cerâmica encontrada em Valdivia, no Equador, e aquela que foi desenvolvida pela cultura japonesa de Jomon. Daí resulta que tal teria já havido contactos transpacíficos por volta de 3000 a. C.
Michael Xu e Betty Meggers acreditam que barcos provenientes das regiões orientais da Ásia, poderiam perfeitamente ser levados para o Novo Mundo sem grande dificuldade pelas correntes naturais do Oceano Pacífico.

Natural será o desenvolvimento que actualmente se produz também nesta já afirmativa consistência de perfeita interacção cultural entre estes povos tão diferentes e no fundo, tão semelhantes, no que dispomos no momento em todo este estudo e, investigação. Apenas nos cabe dizer que mais haverá nessa elaborada tese de contactos transatlânticos e transpacíficos entre povos de diferentes etnias, origens e culturas. Que assim continue em busca, pesquisa e desenvolvimento sobre o tanto que ainda desconhecemos. Assim seja então!

quarta-feira, 26 de março de 2014

A Garganta do Monstro


Estrutura Zoomórfica P - Ruínas de Quiriguá - Região Oriental da Guatemala            América Central

Que nos quererão dizer estas figuras com caracteres de escrita, representando monstros e animais fantásticos de aspecto atarracado? E haverá de facto o triunfo do ser humano sobre o tempo e a matéria, bem como destes - inversamente - sobre o ser humano nestas representações esculturais?

As Estelas do Poderoso Rei
O Rei Cauac Céu surge representado em sete das estelas que sobrevivem à passagem do tempo, muito embora adquira um aspecto ligeiramente diferente em cada uma delas. Nas estelas J (de 756), D (766) e E (771) apresenta-se com um ceptro e um escudo, à laia de monarca guerreiro, ao passo que na estela H (751) pode ser visto como um sacerdote munido de um bastão cerimonial bicéfalo. Deveras interessante revela ser a estela F (761), que na parte da frente o mostra como sacerdote, com um bastão cerimonial, e na parte traseira o apresenta como rei, com ceptro e escudo.
A importância que o soberano pretendeu atribuir à sua cidade e, à sua própria pessoa, é traduzida assim nas dimensões das estelas, das quais a J, a D e a F atingem alturas entre os cinco e os sete metros e meio.
Particularmente impressionante é a estela E, que mede mais de dez metros e meio. A erecção deste monólito de 65 toneladas constitui um feito que denota grande mestria a nível técnico e, de organização.
Nesta estela, o Rei Cauac Céu pode ser visto com as insígnias do poder real e ostentando no rosto uma barba cortada bastante rente, que deverá ter estado em moda na época. Esta escultura esteve outrora assente numa fundação com três metros de profundidade. No decurso de escavações realizadas em 1934, foi - à semelhança das demais estelas - colocada sobre uma sapata de betão. Há uma outra razão que justifica o interesse despertado pelas estelas de Quiriguá: elas constituem um dos raros exemplos em que os «glifos» aí inscritos não se apresentam na sua habitual forma curta, com pequenos símbolos ou cabeças, mas antes com figuras humanas ou de animais de corpo inteiro.
Exemplares particularmente impressionantes deste género de glifos encontram-se sobretudo na estela D.

Os Misteriosos Blocos de Pedra Figurativos
Depois de 775, ocorreu algo de bastante curioso. Sempre que se festejava qualquer jubileu já não eram erigidas estelas. Em vez disso, optavam-se por grandes blocos de arenito com a forma de animais fantásticos de aspecto atarracado. Do ponto de vista artístico, estas esculturas - conhecidas como estruturas zoomórficas - são ainda mais impressionantes que as estelas. Estão inteiramente cobertas daquela mistura de altos e baixos-relevos característica de Quiriguá, para além de estarem ornamentadas com caracteres de escrita e, com representações figurativas. Os blocos representam monstros: um deles assume a forma de um jaguar, em cuja boca pode ser visto um rosto humano. Outros, porém, têm a forma de uma tartaruga. Próxima da conhecida estrutura zoomórfica P, está também a estrutura zoomórfica O, plana, que parece ter servido como altar. Nela está representada uma figura a dançar, com uma qualidade de execução excelente, bem como uma série de glifos. Consegue-se entender perfeitamente a forte impressão que as estelas e, as estruturas zoomórficas, causaram sobre o escritor Aldous Huxley - que visitou este lugar na década de 1930. Huxley referia que, as estelas de Quiriguá, nos recordavam do triunfo do ser humano sobre o tempo e a matéria, bem como do triunfo da matéria e do tempo sobre o ser humano.

O Soberano na Garganta do Monstro
O colossal monólito que é a estrutura zoomórfica P, tem a forma de uma enorme tartaruga. No interior da sua bocarra escancarada, está entre as presas do monstro - sentado imóvel e de pernas cruzadas - um rei, ricamente ornamentado, com um ceptro e um escudo e, um fantástico toucado.
A representação de uma pessoa que parece sair da boca de um monstro é um motivo encontrado em diversas construções Maias (tal é conhecido também da cultura Olmeca, patente no complexo cerimonial de La Venta e de grande importância até à sua destruição em 400).
Os monstros das figuras zoomórficas de Quiriguá parecem representar a divindade da Terra, que provavelmente se encontrava em estreita relação com a pedra de jade, a qual possuía para Quiriguá uma enorme importância, não apenas religiosa mas também económica.
O jade era entendido como um símbolo do renascimento e, da vida após a morte. Assim, também a imagem do rei que aparece ileso na boca do monstro, pretenderia então simbolizar o seu renascimento.

Uma vez mais se introduz a certeza de algo superior em conhecimento e vivência na época nas figuras destes reis representados nas estelas e, nas estruturas zoomórficas. Seriam deuses vindos das estrelas em repercussão terrestre de dinamização, cultura e ensinamentos ou vulgarmente assistidos - e aí permanentes - como «simples» soberanos, senhores de todas as posses individuais e nos demais? Sendo o jade a sua pedra preciosa em símbolos supremos de renascimento e da vida após a morte, de onde terá esta vindo em origem e supremacia senão da esfera estelar ou, como algum presente divino a estes reis soberanos de Quiriguá?...Seja como for, ainda muito se ouvirá falar destes poderes reais e de toda esta cultura Maia em existência e, permanência, em solo da América Central e Sul - para além de toda a sua pujança gloriosa que foi e, do que nos deixou em tesouros arqueológicos fantásticos.
Que se arrogue o direito e dever em continuação de averiguações e pesquisas no terreno de toda esta cultura, desta vez não em gargantas de monstros confinadas (em bloqueios da cultura e do conhecimento...) mas, de toda a sua exponencial descoberta e revelação ao mundo. Assim seja então!

A Sumptuosa Estela


Estela F - Ruínas de Quiriguá - Região Oriental da Guatemala           América Central

Quem terá auxiliado com instrumentos de precisão e utilização na pedra, os artistas Maias, sabendo-se que foram realizadas essas esculturas sem a ajuda de quaisquer ferramentas de metal? Terão os visitantes das estrelas aí cingido seus conhecimentos superiores de construção, escultura e arquitectura estelares nestas maravilhosas e surpreendentes estelas de Quiriguá?

O Segredo das Estelas de Quiriguá
Entre os mais enigmáticos testemunhos da cultura Maia contam-se as ruínas de Quiriguá, no vale do rio Montagua, na região oriental da Guatemala. Estão situadas no meio de extensas plantações de bananeiras e, integram actualmente a lista de monumentos que a UNESCO considera Património da Humanidade.
Da antiga e grandiosa estrutura da cidade, pouco restou para além de alguns templos. Aquilo que torna Quiriguá tão interessante são as enormes estelas de arenito, artisticamente trabalhadas, e os grandes blocos de pedra ornamentados que sobreviveram à passagem do tempo.

História Antiga Desconhecida
Já no Período Pré-Clássico Final (c. 250 a. C.-300 d. C.) na região em redor de Quiriguá deveria estar habitada por um povo conhecido como Putun Maya, mas sobre a história antiga de Quiriguá pouco se sabe.
Os conhecimentos actuais acerca da história política da época são resultado do costume que os soberanos Maias tinham de registar os seus nomes e feitos, bem como as datas de acontecimentos políticos e jubileus, em estelas, em altares e nos revestimentos das construções. Os avanços na decifração de «glifos Maias» feitos nas últimas décadas permitiram entretanto obter traduções das inscrições bastante exactas e fiéis.
Sabemos hoje que Quiriguá estava estreitamente ligada a Copán - um importante centro Maia bastante próximo - situado nas actuais Honduras. Enquanto Copán, com as suas estelas de aspecto barroco, é de certo um dos mais notáveis testemunhos urbanos da civilização Maia, Quiriguá permanece injustamente ainda pouco conhecido, muito embora as suas esculturas de pedra se contem sem qualquer sombra de dúvida entre as mais consumadas obras da escultura Maia em pedra.

Sob o Domínio de Copán
Até ao século VII d. C., a cidade esteve sob a influência da poderosa Copán. É possível até que fosse a partir de Copán que Quiriguá fosse governada. Quiriguá deverá ter-se revestido para Copán de grande interesse, dada a sua situação geográfica, que lhe permitia controlar uma importante rota comercial no rio Montagua entre a costa das Caraíbas e as regiões do interior. Para além disso, a região em redor de Quiruguá era rica em poderosas pedras de jade, muito apreciado e valorizado em toda a América Central.
A extracção e o comércio do jade terão com certeza contribuído em grande parte para a prosperidade de Copán. Ainda em 563, Fumo Imix Deus K - o soberano de Copán (628-695) - festeja numa inscrição no altar L de Quiriguá o seu domínio sobre essa mesma cidade.
Menos de um século mais tarde acontece algo inesperado: a pequena cidade vassala de Quiriguá, ao longo de séculos mantida sob o domínio da poderosa cidade vizinha, derrota o Rei de Copán. Que terá sucedido?

A Revolta Contra Copán
Em 725, o Rei Uaxaclahun Ubak K`awil, que significa exactamente «18 Coelho», veio a Quiriguá para aí assistir á entronização do Rei Cauac Céu. A visita de um rei a uma pequena cidade do seu reino era algo bastante incomum: é possível que, dada a crescente preponderância que Quiriguá vinha assumindo, o rei tenha querido colocar um parente seu no comando do poder dessa cidade, para assim manter a sua influência. Do Rei Cauac Céu, pouco se sabe, para além do facto de 13 anos após a sua entronização ter feito Uaxaclahun Ubak K`awil, o Rei de Copán prisioneiro, não tardando a mandar matá-lo ritualmente.
Aquilo que aconteceu para que tal pudesse vir a suceder permanece por esclarecer. Talvez Quiriguá tenha ousado desafiar à outra cidade maior a hegemonia sobre toda a região; talvez tenha havido combates, mas pouco mais se pode fazer para além de especular.
Nessa altura havia dois centros de poder no grande reino Maia: Tikal e Calakmul. Provavelmente, Copán era um dos sequazes do poder de Calakmul, ao passo que Quiriguá alinhava por Tikal. Talvez o soberano de Tikal estivesse interessado em ficar com a influente cidade de Copán sob o seu domínio, forçando assim Quiriguá a desafiá-la e, a atacá-la. Só com a retaguarda assim coberta poderia o Rei Cauac Céu ousar revoltar-se contra a supremacia da poderosa Copán. Fossem quais fossem as razões que conduziram a esta surpreendente vitória, não há dúvida que ela abriu caminho a um período de grande prosperidade da cidade de Quiriguá, o qual se faz notar nas enormes e sumptuosas estelas.
Influente centro administrativo e palco de importantes actividades cerimoniais, este local dominou o comércio com toda a costa do mar das Caraíbas e, as regiões vizinhas das terras altas e terras baixas. O apogeu de Quiriguá viveu-se ainda ao longo de todo o reinado de Cauac Céu, que durou 60 anos, bem como no subsequente, o reinado do seu filho Céu Xul e, no que a este último se seguiu, o reinado de Jade Céu, que derrubou Céu Xul por volta de 800.

A Produção das Estelas
As estelas reflectem o elevado grau de consciência do valor que a cidade de Quiriguá teve ao longo de uma época áurea que durou todo um século. Para se fazer jus aos feitos extraordinários dos artistas Maias, dever-se-à ter em conta de que estas esculturas de arenito avermelhado foram realizadas sem a ajuda de quaisquer ferramentas de metal. Os únicos instrumentos à sua disposição foram cinzéis de pedra, percutidos por maços de pedra ou de madeira. Os grandes blocos de pedra eram extraídos e cortados em colinas de arenito, situadas a cerca de 4 quilómetros de distância, de onde eram transportados em cima de jangadas através de canais de irrigação até Quiriguá. O arenito de Quiriguá é bastante mais duro do que a pedra calcária da qual é feita a maioria das restantes construções Maias. Por essa mesma razão, os detalhes não foram nas estelas tão trabalhados do ponto de vista ornamental como acontece em Copán, mas apesar de tudo os escultores conseguiram obter surpreendentes efeitos naturalistas e, aqui e ali, até algumas representações de grande valor.

Mas tudo nos deixa inquiridores sobre a verdadeira dimensão de transporte, condução e construção destas sumptuosas estelas, uma vez que, não teria sido nada fácil toda essa sequência em parcos haveres, parcos meios de transporte em singelas e mui primitivas jangadas, nas quais se chega a duvidar da consistência em arremesso e locomoção marítimas (nesses tais canais de irrigação) em equilíbrio e, sustentação. Os blocos de pedra imensos de tonelagem enorme sob esteiras de troncos de madeira. Terá efectivamente sido mesmo assim? Não terão havido ajuda e supervisão estelar em conhecimentos, elevação e edificação destas estelas e blocos incomensuráveis em toda a sua magnitude de peso e fortificação? Deixemos no ar as muitas perguntas que ainda hoje se põem, perante tamanha suspeição e alguma polémica gerada em torno destas mesmas existenciais dúvidas. Talvez algo superior e vindo do exterior lhes tivesse augurado algo de maior e de grande valor em conhecimentos e técnicas nunca vistas à época. Quem o saberá?
Que se investigue, se questione e se elabore a verdade, pois só isso importa! A bem de todos!

terça-feira, 25 de março de 2014

A Renovação da Vida


Baixo-Relevo no Campo do Jogo da Bola em Chichén Itzá- Península Mexicana do Iucatão

Que conhecimentos ancestrais seriam estes em morte e renascimento na passagem pelo mundo inferior até à renovação da vida que os Maias nos deixam reconhecidos e expostos nos baixos-relevos aqui representados? E que mistério de vida e morte é este, ainda hoje indecifrável e tão enigmático para nós?

O Campo do Jogo da Bola - Chichén Itzá
O mais impressionante campo destinado ao jogo da bola encontra-se em Chichén Itzá, no Norte da península de Iucatão. Este enorme campo de jogos tem 138 metros de comprimento e 40 de largura. No extremo sul e no extremo norte encontram-se pequenos templos, cujo interior esteve outrora ricamente decorado com cenas mitológicas e dos quais apenas muito poucos permanecem em bom estado de conservação. Invulgares são os portentosos muros de delimitação do campo de jogo, que se erguem na vertical até aos 8 metros de altura. A meio do comprimento do campo - a uma altura de 7 metros - destacam-se os anéis de pedra, com um diâmetro interior de 50 centímetros e decorados com duas serpentes entrelaçadas e representadas em relevo. A dimensão do campo de jogo de Chichén Itzá e dos anéis colocados a essa altura parece querer indicar que, neste local, se jogava segundo determinadas regras e com recurso a técnicas diferentes das do resto do território do Império Maia. Talvez neste campo de jogos de grandes dimensões se defrontassem sobretudo grandes equipas.

Morte e Renascimento
Num enorme baixo-relevo em Chichén Itzá, onde está representado o significado mítico do jogo da bola, pode ver-se um jogador ajoelhado e sem cabeça. Do seu pescoço jorra o sangue sob a forma de serpentes. À sua frente está um outro jogador que segura numa das suas mãos a cabeça decepada do adversário e na outra, uma faca de sílex. Trata-se de uma imagem que ilustra a decapitação e morte de Hunahpú.
Simultaneamente, aquele sangue que jorra para o alto, como que de uma fonte, transforma-se numa espécie de ramificada árvore da vida, um símbolo da eterna circulação da morte e do renascimento. Este contexto surge também referido no Popol Vuh, o mais importante Livro dos Maias: Ahpú, o deus da Fertilidade, transforma um ramo seco na árvore da vida, verde e carregada de frutos. Esta maravilha torna-se possível através do sacrifício da divindade, que por meio do seu sangue faz a árvore recuperar o seu viço.

Encenação de um Drama Mítico
Estas cenas sangrentas contribuíram para se reforçar a ideia de que no final de um jogo a equipa derrotada era sacrificada, ou porventura mesmo os vencedores. Não existem quaisquer indícios concretos para justificar tais afirmações, sendo bem possível que nestas imagens apenas se represente simbolicamente o mito dos gémeos heróicos. Demonstra-se assim as estreitas relações existentes entre o jogo da bola e o mito e, que esse jogo, deve ser entendido como uma interpretação de um drama religioso, uma encenação para recordar acontecimentos que tiveram lugar «no tempo antes do tempo».
No palco do jogo da bola, os príncipes de aspirações divinas encenam-se a si mesmos como heróis míticos. Por mais de uma vez desceram ao mundo inferior para aí medirem forças com aqueles que o governavam e, para superar a morte. Esta estreita relação entre o jogo da bola dos Maias e o mundo inferior, resulta em última análise também da própria disposição do campo de jogo: os muros de delimitação paralelos representam um desfiladeiro, através do qual se tem acesso ao mundo inferior.

O Crânio de Hunahpú
No campo do jogo da bola de Chichén Itzú, as paredes de delimitação são precedidas de muros mais baixos, com cerca de dois metros de altura, ornamentados com belíssimos baixos-relevos onde é representado por imagens o mito do jogo da bola dos gémeos divinos. Nestes baixos-relevos reconhece-se uma espécie de procissões, cada uma com cerca de 14 elementos, orientadas num sentido de uma cena central, onde se pode ver o crânio de Hunahpú no interior da bola - evocando o episódio mítico do Popol Vuh, quando o seu irmão gémeo é forçado a jogar contra os soberanos do mundo inferior usando a cabeça do irmão como bola. A caveira na bola, que Ixbalanqué substitui por uma cabaça, é um símbolo da força vital de Hunahpú, assim transmitida para a geração seguinte.

Encenação mítica de acontecimentos «no tempo antes do tempo», o que quererá dizer muito antes de um maior conhecimento na Terra ou de outras civilizações exteriores ao planeta que, simbolicamente como mundo a compor, evocariam poderes extremos de uma extraordinária repercussão neste designado mundo inferior. Suspeita-se que não terão apenas sido figuras de índole mitológica ou ancestral em mitos e heroicidades contadas através do tempos mas, muito mais do que isso em suplantação voraz do que existia na Terra em origem e princípios básicos da Humanidade. Seriam estes gémeos, príncipes do Universo em eloquência e dinâmica estelar, denunciando-se assim tão poderosos e imortais, fazendo renascer pessoas e animais e mesmo eles próprios? Que poderes eram esses que os vivificavam em exuberante ressurreição, em renascimento e ascensão? Deuses...? Mágicos ou simples figuras inventadas pelos Maias em suplício e seguimento do que os seus soberanos lhes incutiam em devoção, receio e punição?
Nada se sabe. Mas tudo se pode ainda aventar sobre a sua real existência que não ficou apagada no tempo em memória, cultura e conhecimento. Talvez um dia - em revelação surpreendente - nos possam elucidar sobre a verdadeira origem, proveniência e real existência destes dois especiais gémeos que, na cultura Maia, serão sem dúvida e eternamente, um exemplo para as gerações futuras de perseverança e coragem!
Agora e sempre, a bem da cultura, do conhecimento e da verdade, assim seja então!

A Bola da Morte


Campo de Jogo da Bola - Civilização Maia - Copán                        Honduras-América Central

Quem seriam efectivamente estes gémeos de que tanto falam os mitos da criação dos Maias que urgiam poderes divinos (deuses ou seres superiores?) - de morte e ressurreição - perante a estupefacção dos senhores do mundo inferior? A vitória da vida sobre a morte será «apenas» a simbologia dos ciclos intermináveis de vida nos homens ou, a consagração vital de um poder maior sobre a morte em conhecimentos ainda não adquiridos por nós, humanos?

Questão de Vida ou Morte: o Jogo da Bola dos Maias
Em todos os centros mais importantes da cultura Maia na América Central encontram-se campos destinados ao jogo da bola perto de templos e de palácios. A sua localização imediatamente ao pé dos lugares de culto e as suas dimensões por vezes enormes - como é o caso do campo de jogo da bola de Chichén Itzá ou de Copán nas Honduras - dão conta da grande importância mítica atribuída pelos Maias ao jogo da bola.

O Jogo da Bola no Mundo Inferior
Nos mitos da criação dos Maias, fala-se dos gémeos divinos Hunahpú e Ixbalanqué, os quais desceram ao mundo inferior e venceram as forças das trevas e, da morte. No mundo inferior tiveram de defrontar os senhores do Reino dos Mortos num jogo da bola. Antes disso, os gémeos tiveram de superar diversas provas. Aquando do primeiro jogo da bola, os senhores do mundo inferior lançaram a bola contra a protecção para o pescoço que Hunahpú envergava, da qual caíram pontas afiadas e mortais de obsidiana. Apesar do violento recontro, os gémeos saíram vitoriosos.
Na última prova, porém - que teve lugar na Casa dos Morcegos - Hunahpú descurou a sua defesa e espreitou para fora da zarabatana, onde se havia escondido. De imediato, um dos morcegos mortíferos arrancou-lhe a cabeça. No jogo da bola da manhã seguinte, Ixbalanqué teve de enfrentar sozinho os deuses da Morte, tendo a cabeça do seu irmão servido como bola para esse jogo. Ixbalanqué usou de uma artimanha e substituiu a cabeça do seu irmão por uma cabaça. Quando a lançou para o campo de jogo, a cabaça rebentou contra o chão e as sementes espalharam-se, saindo disparadas.

A Superação da Morte
Os gémeos perderam o jogo e também Ixbalanqué foi morto. Os senhores do mundo inferior desfizeram os seus corpos e trituraram-nos, espalhando os seus ossos num rio. No leito do rio, os ossos voltaram a reunir-se e formaram de novo os corpos dos irmãos. Passados cinco dias, os gémeos emergiram do rio. Disfarçaram-se de pedintes e, impressionaram toda a gente com as suas danças e os milagres que operavam. Os governantes do mundo inferior ficaram curiosos acerca daqueles dois e mandaram chamá-los diante de si. Demonstraram-lhes como conseguiam matar um cão e de seguida devolvê-lo à vida.
A pedido então do soberano do mundo inferior, Ixbalanqué matou o seu irmão e voltou a ressuscitá-lo. Os senhores do mundo inferior ficaram tão entusiasmados que eles próprios queriam agora ser sacrificados e, novamente ressuscitados. Era finalmente chegada a oportunidade  de os gémeos divinos se vingarem deles.
Abriram o peito dos senhores do mundo inferior, arrancaram-lhes os corações e deixaram ali ficar os cadáveres, não cumprindo a segunda parte do pedido - a da ressurreição. Por fim, os dois gémeos heróicos, transformados em Sol e em Lua, ascenderam ao Céu. Foi assim que Ixbalanqué e Hunahpú destruíram o poder dos senhores do mundo inferior e venceram a morte.
Este mito relata a diversos níveis, a vitória da vida sobre a morte. Também a própria cabaça, da qual saem disparadas as sementes, constitui um símbolo de fertilidade, da superação da morte.

Equipamento e Regras
Há que ter em conta que, para os Maias, um jogo da bola não era simplesmente um evento desportivo, mas antes e acima de tudo, expressão e representação deste mito fundamental, intimamente ligado às noções de vida e de morte, do morrer e do renascer.
Para se protegerem do impacte das pesadas bolas de borracha contra o seu corpo e, para evitar escoriações nas quedas frequentes que sofriam, os jogadores usavam em redor do tronco uma banda de couro em forma de ferradura, bem como joelheiras, luvas e cotoveleiras. As coxas e as nádegas eram protegidas por uma saia de couro vestida por cima de uma tanga.
Acerca das regras do jogo, pouco se sabe. Em todo o caso, no início a bola era lançada para o campo com a mão, mas depois disso já só podia ser tocada e impulsionada com as ancas e com a coxa. Não é ainda hoje conhecido o modo como os pontos eram contados nem tão-pouco como se decidia qual a equipa vencedora. As duas equipas concorrentes distinguiam-se uma da outra pela ornamentação que ostentavam na cabeça e no peito. Ao que parece, os utensílios para cobrir a cabeça podiam assumir formas variadas e bastante impressionantes. Na maioria das representações, apenas se vêem homens a entregar-se ao jogo da bola  e, apenas nas escadas cobertas de hieróglifos de Yaxchilán podem ser vistas duas mulheres a jogar à bola. É possível que houvesse muitas variantes deste jogo, desde uma competição entre duas equipas até ao jogo realizado apenas entre dois homens.

Os Campos do Jogo da Bola
Os campos para o jogo da bola dos Maias - nos quais se desenrola o drama mítico dos gémeos divinos e, em que se defrontam duas equipas - eram constituídos em regra geral, por duas construções compridas e paralelas em forma de muro, entre as quais ficava uma espécie de rua - o campo onde tinha lugar o jogo.
Os muros de delimitação poderiam apresentar diversas formas, mas a maior parte das vezes tratava-se de uma espécie de taludes com um declive acentuado. Só raramente apresentavam o aspecto do campo de Chichén Itzá, com os muros verticais. Do cimo desses muros inclinados - ou com degraus - costumavam ser lançados prisioneiros, que morriam em consequência da queda.
Ao longo do comprimento do campo encontravam-se quase sempre três pedras de marcação, todas elas equidistantes. Na maioria dos campos do jogo da bola, existe a meio do comprimento de cada um dos muros um anel de de pedra, através do qual a bola de borracha tinha de ser arremessada.

Nada se pode encerrar então, perante tamanha diversão maldita em que uns se limitavam a ver morrer outros numa condição humana subjacente à época, deveras cruel e ímpia para os nossos dias. Mais há a consolidar porventura neste estranho jogo em que rolavam cabeças, literalmente! Sem julgamentos mas com a observação exacta destes relatos expressos nestas construções de pedra, cingiremos apenas a compleição (e não prossecução) deste tipo de jogo poder voltar a não ser em simulação histórica destes conturbados tempos em que o valor da vida era escasso e não perfeito ou considerado. Registando este período e esta cultura dos Maias - fazendo referência ainda aos divinos gémeos que se evidenciaram por poderes superiores no tal mito da criação - somente restará dizer que muito haverá por esclarecer ainda, tanto da parte destes, Hunahpú e Ixbalanqué, como de toda  a sua influente história aí havida. Terão sido efectivamente seres superiores, inteligentes e magnificentes que deram uma lição aos senhores do mundo inferior, ou apenas a magia ilusória e, imaginária, relatada ao longo dos tempos em maravilhoso mito eterno? Aqui ficam as perguntas para que, ao longo destes novos tempos também, alguém nos possa elucidar, reescrevendo essa mesma história dos Maias e...nossa! Que assim seja então!

segunda-feira, 24 de março de 2014

A Noção do Além


Museu de Popol Vuh - escultura em pedra                         Guatemala

A busca da imortalidade, ainda que passando pelo mundo inferior, terá levado estes povos a acreditar nessa meta paradisíaca da vida eterna à semelhança de Hunahpú e Ixbalanqué que foram deificados ao superar a morte? Que forças superiores ou vindas das estrelas seriam essas que ainda hoje há quem as venere e tente alcançar, sentindo conhecimentos e energias infinitas de inteligências do Espaço em visitas e reconhecimento?

Os Livros do Sacerdote-Jaguar
Para além do Popol Vuh, também o Chilam Balam se afigura de grande interesse para a nossa compreensão do povo Maia. Chilam Balam quer dizer exactamente «Intérprete do Jaguar» e, as obras agrupadas sob este título constituem os chamados «Livros do Sacerdote-Jaguar», colectâneas de textos na língua Maia Iucateca, mas escritas no alfabeto latino. Foram coligidos nos séculos XVII e XVIII a partir de diversas fontes, o que poderá explicar a sua pouca fiabilidade e as contradições de que enferma, já que têm origem em textos preexistentes de épocas diversas - tanto antes como depois da chegada dos Espanhóis. Para além disso, a própria veracidade das fontes também não foi confirmada pelos escrivães das aldeias, gente simples, responsáveis pela sua fixação por escrito.
Apenas cerca de uma dúzia dos outrora numerosos livros que compunham o Chilam Balam chegaram até aos nossos dias. Recebem o nome das aldeias em que foram registados por escrito e conservados. O mais importante e um dos mais abrangentes deste conjunto de textos é o Chilam Balam de Chumayel. Também nesta obra é narrado um mito da criação, segundo o qual o mundo que existia antes deste foi destruído por um dilúvio, tendo o presente mundo resultado do facto de terem sido plantadas árvores divinas nos cantos e, no centro do Universo, nas quais estavam pousados os pássaros do destino.
Os 4 cantos do mundo são o esquema que serve de base para a orem cósmica. A eles correspondem simbolicamente cores, ventos e até variedades de milho. Quatro divindades, «os bacabs», suportam os cantos do mundo. Esta configuração básica do mundo numa forma quadrada é espelhada pelos Maias nas pirâmides que constroem, tornando-se estas assim uma expressão visível da ordem cósmica que os rege.

Noções do Além
Da leitura do Popol Vuh, dos livros do Chilam Balam e dos códices dos Maias, consegue-se então perceber o quanto a crença na continuação da existência numa vida após a morte se encontrava enraizada neste povo.
O tratamento da questão da morte desempenhava um papel preponderante no seu quotidiano e nos seus ritos. Ao contemplar-se as construções dos Maias, reconhece-se sem grande esforço o destaque que é dao a este tema e, a importância que deve ter assumido na sua sociedade. Já o biblioclasta Diego de Landa refere no século XVI, o costume indígena de encher a boca dos mortos com milho triturado e com pedaços de jade, para servir de moeda de troca no Além e aí nuca lhes falte de comida.
Daí se percebe de que, o Além dos Maias não era uma região abstracta, mas apenas um outro tipo de vida, na qual também se tinha de comer e beber, sendo mesmo necessário ter dinheiro para obter comida. Para os que permaneciam vivos, aqueles que morriam mantinham-se vivos enquanto seus antepassados.
Os Soberanos e os Sacerdotes podiam ainda em vida deambular entre esses dois mundos, o Aquém e o Além, mas após a sua morte não deixavam - tal como todos os outros seres humanos - de ter de atravessar o mundo inferior, mas podiam - tal como os míticos gémeos Hunahpú e Ixbalanqué - ser deificados ao superar a morte.

Os Códices dos Maias
Com a incineração de livros Maias pelos missionários quinhentistas, desapareceu assim a possibilidade de se obter um conhecimento aprofundado desta cultura. A magnitude daquilo que o mundo perdeu pode ser avaliada mediante a leitura dos 4 códices que sobreviveram. Três deles são designados pelo local onde se encontram, a saber, Dresden, Paris e Madrid. E um quarto, o de Grolier, leva o nome de um local onde pela primeira vez foi exposto, o «Grolier Club», em Nova Iorque.
Os manuscritos consistem em folhas de casca de figueira, misturada com amibo e batida até ficar lisa, tendo as páginas sido dobradas como o fole de um acordeão. Sobre a camada de cal aplicada por cima, foram desenhadas imagens e caracteres gráficos. Nos códices são narrados mitos, explicadas noções religiosas, o Calendário Maia, relações astrológicas e vaticínios.
Das representações de numerosos deuses pôde ser decifrado o Panteão Maia nos seus traços mais gerais - embora se mantenha pouco claro o significado de algumas figuras divinas.

Nestas figuras divinas, as quais se mantém ainda hoje uma dúvida existencial, do que eventualmente poderão ter sido em revelia ao que se supõe de meras figuras representativas desse Além. Seriam astronautas ancestrais, sendo igualmente civilizações estelares que lhes difundiriam a questão da imortalidade e da suposta viagem estelar após as suas vidas terrenas? Seriam deuses à sua semelhança em exterior camuflado como o que se vê na figura inicial representando um viajante espacial de armadura de fato correspondente, nada igual ou similar aos seu povo Maia? Para além da visibilidade facial (coberta por um capacete de cariz espacial como os astronautas actuais) em que se deslumbra um nariz afilado e feições caucasianas, tangível de povos nórdicos - nada correspondente às dos Maias, de cor avermelhada e rostos salientes, bojudos.
Certezas não as há (ainda...) mas já se começa a elaborar algumas teses a nível mundial sobre esta e outras mais criteriosas figuras de pedra, talhadas e esculpidas em demonstrações visíveis - e por demais evidentes - da influência destes eventuais visitantes do Espaço em crença e seguimento religioso nestes povos da América Central e Sul do extenso continente. E mesmo, noutros pontos do globo. Assim ter ocorrido, só urge acrescentar de que essa noção do Além ainda hoje - na actualidade - nos faz de igual forma questionar e mesmo insinuar, se não teriam razão de facto os Maias, sobre tão liminar questão sobre o Aquém (mundo inferior) e o Além (as estrelas) e todo um poder imortal, assim que se deixasse solo terrestre em morte anunciada...sendo deificados como todos o desejaríamos um dia, mais que não fosse, em busca de uma certa harmonia, equilíbrio e paz eterna que todos almejamos possuir um dia. Nem que seja nesse dito Além!
Pois que assim possa ser em arrogo futuro do que nos observa e guia como seus iguais! A bem das nossas eternas almas, assim seja então!

A Queima dos Livros


Popol Vuh - Livro Sagrado dos Maias                   América do Sul

"Aqui começa a antiga lenda dos Quchés, aqui se descreve o início e as origens de tudo o que aconteceu na cidade e com o povo dos Quichés."                                                -  Popol Vuh -

Que mistérios e segredos não nos seriam desvendados se não fosse a incúria, desonra e arrogância maldita daqueles que, em nome de Deus, empunharam suas tiranas mãos em demanda terrível na queima destes sagrados livros dos Maias? Do que resta, poder-nos-à elucidar da origem do ser humano e de toda a sua luta homérica entre as forças da vida e da morte e, nas quais os deuses estariam sempre presentes?

Livros Misteriosos dos Maias
Popol Vuh - Uma epopeia que nos dá a conhecer o mito sobre a criação do mundo e, dos seres humanos em que os Maias da América do Sul acreditavam. A obra de Popol Vuh hoje em dia, é tida como a mais importante fonte de conhecimento acerca da religião dos Maias das terras altas do Período Pós-Clássico.
O Popol Vuh foi escrita por um indígena na língua Maia, mas com caracteres latinos. Foi devido ao padre dominicano Francisco Ximenéz que este texto não teve o mesmo destino que tantos outros, que foram queimados pelos missionários, deixando-o assim à disposição dos vindouros.
Francisco Ximénez chegou em 1688 à Gautemala - quando ainda era um jovem - aí foi ordenado padre e rapidamente aprendeu diversos dialectos Maias, uma vez que nutria um interesse sincero pelos indígenas e, pela sua imensa cultura. Em contrapartida, foi recompensado com a confiança que as populações indígenas nele depositavam, razão pela qual lhe apresentaram o «Popol Vuh», por assim dizer a sua Bíblia.
Francisco Ximénez ficou então deveras surpreendido ao encontrar no texto dos Quichés um relato acerca da criação do mundo e que, se assemelhava em parte, ao existente no Antigo Testamento. Até mesmo a um dilúvio era feita referência, bem como a uma travessia do mar e, a uma estrela brilhante.

A Migração dos Quichés
Originalmente os Quichés viviam na região em redor da cidade de Tula - a Norte da actual cidade do México - integrando-se no grupo dos povos Toltecas. No século XIII d. C. migraram para as terras altas dos Maias na Guatemala, onde se deu uma batalha decisiva com os habitantes dessas terras. Após a vitória dos Quichés desenvolveu-se uma nova sociedade, na qual a cultura guerreira dos Toltecas se fundiu com o temperamento mais pacífico que caracterizava os Maias. Divididos por 14 tribos, que usavam dialectos diferentes, os Quichés povoaram assim as terras altas. Em 1524, os conquistadores espanhóis destroçaram o reino dos Quichés e a sua capital, Utatlán.

Os Gémeos Divinos
Na primeira parte do Popol Vuh é relatado o mito da criação dos Quichés. Em primeiro plano encontra-se o combate realizado pelos heróicos gémeos Hunahpú e Ixbalanqué contra as sombrias forças do mundo inferior. Importância assume também o mito, em redor daquele que era o principal alinhamento das populações da América Central, o milho. A segunda parte desta epopeia conta a história dos Quichés, das suas migrações, das suas guerras, cidades e reis.
No Popol Vuh é relatado como as duas primeiras criações do ser humano são rejeitadas. O primeiro exemplar de um ser humano não era capaz de se lembrar de todo o contexto da criação, ao passo que o segundo despreza completamente a sua ligação à Natureza. A Natureza vinga-se então através de um dilúvio universal e, convocando ainda uma revolta dos animais contra os seres humanos. Particularmente emocionante é o modo como depois é relatada a entrada em acção dos dois gémeos heróicos, Hunahpú e Ixbalanqué, nascidos de uma virgem. São atraídos pelas forças tenebrosas ao mundo inferior, onde terão de medir forças com os senhores da morte num jogo de bola sagrado.
Com muita astúcia, esperteza e habilidade conseguem assim superar uma série de provas em que jogam entre a vida e a morte. Em vez de morrerem, os dois jovens renascem depois de se sacrificarem voluntariamente, vencem as forças do mundo inferior e, transformam-se no Sol e na Lua. O mito narra a vitória das forças da vida sobre as forças da morte. Este ciclo de narrativas em redor de Hunahpú e Ixbalanqué conta-se indubitavelmente como um dos mais impressionantes da literatura mundial.

A Mudança das Ideias Religiosas
A aventura dos gémeos heróicos Hunahpú e Ixbalanqué na sua luta contra as forças da morte encontra-se representada em diversos vasos pintados. Outros elementos da cultura religiosa (por exemplo, as cabeças usadas como troféu ou o culto dos embrulhos da cariz religioso, nos quais eram guardados os ossos dos antepassados para serem venerados) surgem já em representações da Época Clássica dos Maias das terras baixas. Tal como surge referido no Popol Vuh, os Quichés pós-clássicos da Guatemala adoravam o deus Tojil. Este tinha para os Maias pós-clássicos do Iucatão um carácter divino semelhante ao do deus da chuva Chac, cuja representação ornamentava as fachadas dos edifícios mais importantes.
O Período Pós-Clássico consistiu numa fase de mudança nas aldeias religiosas. Das concepções religiosas dos Toltecas do México Central, os Maias pós-clássicos das terras altas receberam e adoptaram como seu, o deus da Morte e do sacrifício humano, Xipe Totec, bem como o deus Serpente Emplumada, a quem chamavam «Q`uq`ku-matz» (Quetzalcóatl). Ainda assim as suas ideias religiosas e os mitos que se explicavam, mantiveram-se muito próximos dos do Período Clássico, tendo-se assim mantido também até ao presente.

A Queima dos Livros
Diego de Landa ficará na História pelas piores razões: em Julho de 1561, o bispo de Iucatão de seu nome e berço Diego de Landa (1524-1579), mandou queimar diversos códices dos Maias. Esta terrível acção de destruição da herança cultural dos povos indígenas - e é por ele justificada no seu livro "Relación de Las Casas de Iucatán" do seguinte modo: "Estes povos usam também uma espécie de sinais gráficos, com os quais preenchem os seus velhos livros e, aí tomam nota dos seus negócios e questões científicas desde há muito. Com base nestes sinais  e em desenhos e, ainda em determinados sinais nos desenhos, entendiam-se em relação aos seus assuntos - tornavam.nos compreensíveis a outros e forneciam ensinamentos sobre eles. Encontramos uma grande quantidade de livros com esses sinais e, como estes mais não continham do que superstições - e as mentiras do Diabo - queimámos-los todos, algo que esta gente lamentou de um modo incompreensivelmente intenso e que lhes trouxe muita dor."
Foi deste modo cínico e assaz déspota que Diego de Landa e muitos outros missionários cristãos tentaram «libertar» os Maias das suas tradições diabólicas...ficando para a História o expurgo miserável e irrecuperável em toda a sua dimensão do que o Homem pode fazer mesmo contra si próprio e, à sua imensa cultura universal! Sem delongas, apenas nos resta acrescentar que não possuindo esse maravilhoso espólio que incinerado ficou, haverá por certo em tradição de gerações vindouras - do que se conhece dos Maias - toda uma continuada reprodução dessas suas histórias em cultura e vivência.
Popol Vuh e Chilam Balam, códices-base de toda a investigação da cultura Maia, em expressão escrita do que podemos extrair na ilação cósmica e universal da criação do Homem, sendo para as gerações futuras algo a reter e a considerar tanto nas forças da vida como da morte que ainda hoje nos suscitam respeito, temor e consideração. Não esqueceremos a cultura Maia nem os seus livros sagrados, os que ficaram e...os que arderam na imensa fogueira humana da ignorância e, da incompreensão! A bem do conhecimento, assim seja então!

sexta-feira, 21 de março de 2014

A Esperança II


Figura na rocha de Nossa Senhora - Mãe do Céu e da Terra e de todo o Universo - Serra da Estrela - Portugal

Poderei sobreviver a esta angústia no peito que me depõe em lágrimas como humana que sou em vias de extinção, escorraçada por tantos no Universo, sentindo-me diminuída, substituída e pior, sonegada do Grande Conselho Confederativo Galáctico? E Siul, que culpas não tem sobre a minha destituída linhagem, sofrerá ele também as amargas consequências da sua união comigo?

A Punição
Há regras. Há imposições dadas e arremessadas pela Nova Ordem da Confederação Galáctica das quais eu faço parte e me não resignei, sublevando valores, princípios e assomos meus de total incoerência e obstinação sobre tudo o que queriam que eu seguisse. Nem o sábio-mor esteve do meu lado, não por sofrer iguais represálias se acaso me auxiliasse mas, por eventualmente não querer quebrar esse grande elo de preservação e continuação de guardião-mor que é nos demais. E teve razão. Eu não o podia sujeitar a desrespeitar regras universais que a todos nós foi imposto de nos não imiscuirmos ou induzirmos nas condições de outros que não os da nossa espécie. Siul é proveniente de Alpha Centauri e muito diferente dos da minha raça ou espécie humana quase extinta na Terra. Veio em missão após deixar Marte, o planeta satélite, planeta-base onde estava a trabalhar, coexistindo no mesmo sistema solar do meu planeta Terra.
O primeiro olhar foi quase fatal. Eu fazia investigação biológica para as futuras repercussões agrícolas e de sementeiras no solo terrestre em combinação com outros elementos meus amigos e colegas do mesmo ofício mas, em vertentes de engenharia e produção em massa. Não era feliz nem infeliz. Sabia ter de me esforçar por devolver à terra em solo e à Terra-planeta a nova existência de outros produtos férteis, de outras descobertas análogas aos que um dia este meu amado planeta tão viçosamente recolheu em si. Mas quando vi o Siul tudo mudou. Desestabilizei por completo a minha cuidada atenção, a minha audaz persistência e loquaz pesquisa de intervenção sobre essas minhas teses de estudo e verificação. Quase dei tudo por perdido, só por ter-me deixado por instantes observar ou...perder-me naquele brilhante olhar de cor verde, cor de prados e planícies em que me distingui logo sua. E ele também! Daí à punição foi um pequeno passo mas enorme para mim que de repente o vi levarem-mo para sempre, julgava eu. A Confederação não perdoa deslizes, falhas, distracções, leviandades e muito menos traições. Fui trasladada de imediato para outra cidade capsular, algures fora do planeta mas que me apercebi ser solo lunar. A estrutura prisional era deveras rigorosa e hermética. Ninguém de lá saía a não ser com um visto interestelar de importância máxima em superioridade ou hierarquia velada. Eu estava perdida. Irremediavelmente perdida, pois não tinha quem me valesse a não ser as minhas preces, as minhas orações que trouxera em pequeno livro, o único espólio ou bem deixado pelos meus pais terrenos sem que eu deles me recordasse sequer. Fui feita prisioneira sem honras ou compleição, piedades ou clemências de qualquer tipo de elemento ou existência galáctica. Estava só com a minha dor, a minha alma ferida e... o meu filho no ventre que sancionada por isso, eles ainda me haveriam de respeitar, perdoar e até elevar se o Deus Universal acaso suspeitasse de minha linhagem estelar! E isso...estava para breve acontecer, ainda que a minha alma me gritasse que eu penaria até as minhas ossadas latejarem por entre os escombros metálicos e frios daquela minha asséptica cela de ninguém!

O Perdão
Houve tomadas de posição. Houve mexidas nos corredores, ainda que a sonorização fosse quase uma masmorra ímpia e cerrada de poucos ecos e ainda menos sussurros, o certo é que suspeitei de que algo iria surgir em meu apelo calado, em minha agonia tresloucada de me ver emparedada à semelhança de infelizes princesas mortas nas Arábias da Antiguidade no meu planeta azul que agora era mais verde, tão verde como os olhos do meu para trás deixado, amado. E eu sofria. Latejava em cabeça pendente e em forças deslaçadas de um qualquer salvador me vir soltar, desamarrar desta tristeza, desta imensa letargia em que me encontrava suspensa. Até que o milagre veio. Fui admitida como elemento a integrar as novas forças e energias do Universo em uma nova oportunidade de vida e continuação em solo terrestre, pois que aí era a minha origem e proveniência, colo e berço, ainda que pouco ou nada desse tempo me lembrasse. E fui solta.
Só queria fugir mas sabia não poder tal. O Conselho de Confederação Galáctica ultimou-me de que teria de viver com parcos recursos na Terra e ser quase uma espécie de eremita ou sem-abrigo, tendo de viver do que a terra me daria, tendo de subsistir apenas com o que o Céu me presenteasse em chuva e água potável para beber, um solo de caverna para morar e...umas quantas espécies de sementes para semear. Nada mais! O perdão era mais um castigo do que uma absolvição em historial inquisitivo do que me dei ares de conquistar, quebrando as suas ordens e, limitando-me a seguir as minhas. De pouco me importei de início. Só queria de dali sair em espaço, vontades e obrigações de voar para longe, de voar para a minha bela terra de campos agora mais abertos e vida a despontar. Mesmo que, sozinha! Mas recordava os nossos momentos, meus e de Siul em que ele me abraçava em todo o seu portentoso e másculo físico, denotando-se a diferença entre ambos. Os seres de Alpha Centauri são belos, muito belos! São altos, de porte atlético e de inteligência acima da média universal. Era muito fácil apaixonarmos-nos por estas criaturas endeusadas e magnificentes que por vezes sentíamos olharem-nos com um certa indiferença e mesmo displicência, tal a sua superioridade física e, intelectual. Não me deixei atemorizar com essa tão fraca perspectiva de nem sequer dele obter um vago olhar, batalhando por chamar a sua atenção deste sobre mim até o ter conseguido da pior maneira possível em que esbarrei literalmente contra si, fazendo-o desequilibrar mas não estatelar, pois era muito forte, tão forte quanto os touros Ápis de outrora, considerei. A partir daí ele foi meu e eu dele, levando-o a incondicionalmente a desrespeitar as suas próprias regras de se não misturarem em mestiçagem com «gente da Terra»! Mas misturou-se. E, no meio de valsas de cio e luxúria não inconsequente, fizemos um filho! Sentia-lhe o cheiro, sentia-lho o odor e o desejo fervoroso de estar em mim e eu nele e tudo eu lhe concedia em amores que nunca havia tão intensamente vivido numa fragrância mista e mítica de dois seres no Espaço, de duas almas dissonantes mas confluentes no que ambas queriam, desejavam e...amavam.

A Elevação
Deixaram-me na Serra que outrora tivera o nome de «Serra da Estrela», ao qual senti um frémito de ansiedade e de bom prenúncio, assim que vi a Nossa Senhora de pedra em altiva mas apaziguadora atmosfera de me recolher no seu seio de mãe presente. Chorei sobre a pedra, chorei sobre os meus tristes ditames de terrestre maldita que tinha levado por maus caminhos aquela espécie de deus-astronauta do planeta Alpha Centauri. Todos se me tinham oposto: desde os pacíficos e amistosos líderes das Plêiades, Orions, Sirius, Comsulis aos mais desafectos e tenebrosos Zeta Reticuli e Pousetis, todos eles me consignaram um triste destino, deixando-me apenas insinuar o local onde deveria ser pousada e mais tarde localizada por eles. Não dava mais para gesticular, argumentar ou sequer apelar às suas boas consciências estelares pois que, quem quebrava regras, tinha de se sujeitar ao julgamento final não de eliminação pessoal - pois esse era um hábito primitivo e jamais incluído nas suas muitas alíneas instituídas da Confederação Galáctica - mas antes, o desterramento, o exílio, o «Gulag perfeito» de alguém que se tinha injuriado a si mesmo, se tinha debelado por algo completamente inaceitável e nada tangível de todos esses capitais regulamentares de uma Confederação impiedosa! Aceitei a minha condição então de desterrada. Nada mais havia a fazer senão rezar de frente àquela minha Nossa Senhora ancestral que já muito vira porventura de desamparo e, sofrimento. A sós!
Mas só não fiquei. Ele veio. Contra tudo e contra todos, limitou-se a aventurar um novo mundo comigo e, por mim, disse-mo. Não lhe importava quem eu era, uma simples e saloia terrestre que apenas sabia de plantas e seus processos evolutivos moleculares e de desenvolvimento e...nada mais. Beijámos-nos e a Senhora de Pedra sorriu para nós, lá do alto do seu pedestal em santuário na rocha, consignando-nos o seu aval de piedade e clemência, beatitude e consagração a duas almas que se unem por amor, independentemente de regras pré-estabelecidas ou convénios de civilizações estelares!
Meses mais tarde veio a libertação, a fiel e devota absolvição de todas as culpas, de todos os pecados: o Conselho da Confederação Galáctica, assumindo erros e desculpas - porque nem mesmo eles estão acima das leis universais e, de alguma falha em brecha e disfunção estelar - e consagraram-me também eles, o ser de novo livre ou remetente de qualquer outra punição, castigo ou condenação que não fosse limpar o meu nome Aleunam de todas as injúrias sobre mim pungidas. Eu era descendente de Enki e de Ninmah e meu filho Anu se chamaria então, decidi desde sempre, no que seria o fiel seguidor deste em herança dinástica, genealógica e futura identidade do que me viu ser como humana e senhora do mundo em Universo finito ou infinito, consoante o Uno o desejasse também. Prometi a mim mesma: vou ser feliz! Vou ser muito feliz com Siul, Anu e o Céu e a Terra que nos unem e unirão para sempre. E por agora vou deixar esta escrita em diário futuro pois que Siul chegou, estou a ouvi-lo...estou a senti-lo nos passos e...na respiração que é a minha também do ar que é nosso em espaço-terra-ar e toda a matéria envolvente de nós os dois. É o amor da minha vida e com ele irei até ao mais escuro do Universo, ao mais reluzente sistema solar de estrelas ímpares...irei para onde ele for porque ambos somos um só ainda que...individualmente! Sou uma mulher muito feliz! Fui abençoada por Deus-Uno e por todas as estrelas, planetas e galáxias do meu lindo Universo!

A Rainha de Sabá


 
Ilustração publicitária actual mas que pode representar o imaginário comum do que teria sido a hipotética e mui poderosa Rainha de Sabá.

Terá efectivamente existido esta denominada Rainha de Sabá de que tanto a Bíblia fala, evocando toda a sua beleza, poder e dignidade ou apenas um subterfúgio para consolidar a imagem do Rei Salomão? Qual terá sido o seu verdadeiro nome e, onde estaria situado o seu reino? Teria sido profetisa, demónio ou anjo em que, todos os homens se vergavam à sua enorme beleza mas também sabedoria e sapiência?

A Rainha de Sabá - E o seu Reino Lendário
A rainha de Sabá ouviu falar da fama de Salomão e decidiu submetê-lo a um teste, através de enigmas. A comitiva que a acompanhou era grande e trazia consigo enormes quantidades de ouro e pedras preciosas. Salomão respondeu a todas as perguntas e a rainha de Sabá, forçada a reconhecer toda a sabedoria do rei, ficou estupefacta. Disse assim a Salomão: "É realmente verdade tudo o que tenho ouvido na minha terra acerca das tuas palavras e da tua sabedoria." Depois disso, ela deu ao rei 120 talentos de ouro e grande quantidade de perfumes e pedras preciosas.

Cimeira Política na Antiguidade
É assim que a Bíblia descreve uma das mais enigmáticas cimeiras políticas de todos os tempos. Um rei poderoso é posto à prova por uma mulher que lhe é equivalente em termos de poder e riquezas.
Muito embora a Bíblia não forneça sequer o nome próprio dessa rainha, ela foi capaz como nenhuma outra mulher até então de, durante séculos, despertar a fantasia dos vindouros - pois a ela pertenciam os mais sumptuosos tesouros do Oriente. Não tardou a tornar-se uma das lendas mais misteriosas de sempre: o encanto e o charme que irradiava deverão ter feito os homens render-se a seus pés uns após outros.
Sedutora e, de uma beleza exótica, foi como pintura e a literatura da posteridade a retrataram; até mesmo os filmes de Hollywood a retratam como um portentoso símbolo de erotismo. Mas impõe-se a pergunta: Terá de facto e realmente existido esta rainha? Tê-la-à a Bíblia inventado apenas para consolidar a imagem do Rei Salomão? Quando foi que viveu, qual o seu verdadeiro nome e, onde estava situado o seu reino?...
Não será então apenas uma só pergunta mas muitas questões em aberto que nos interrogamos sobre o historial desta fluente e bela Rainha de Sabá. As pesquisas arqueológicas encontram-se ainda no limiar de uma interessante demanda, para a qual todos os locais e vestígios temporais terão de ser cuidadosamente analisados e, verificados, com o rigor próprio de um detective.
Com base em tudo aquilo que hoje sabemos das fontes disponíveis, esta visita diplomática terá pretendido não tanto fomentar um romance real mas antes dar início a uma relação comercial, ao serem trocados bens de luxo por bens alimentares de primeira necessidade, dos quais os habitantes dos desertos árabes e, a sua rainha, necessitavam urgentemente!

Demónio ou Anjo
A Rainha de Sabá permanece envolta num estranho mistério de duplo sentido. Deverá ter sido vítima de uma malformação do pé, e por isso foi - sobretudo durante a Idade Média - frequentemente representada como tendo um pé aleijado coberto de pêlos, uma pata de cavalo ou mesmo uma pata de ganso, o que a tornava uma espécie de criatura do Diabo.
As lendas judaicas referem como à sua chegada ao palácio de Salomão ela foi dirigida por sobre um chão todo de vidro. Convencida de que iria ter de atravessar uma superfície coberta de água, ela sobe um pouco o vestido e deixa a descoberto os seus pés. Apesar disso, o Rei Salomão rende-se aos seus encantos e, desta singular relação, terá resultado Nabucodonosor - aquele que mais tarde foi o temido governante da Babilónia e conquistou Jerusalém.
Enquanto a Rainha de Sabá é aqui apresentada como uma sedutora demoníaca - ilustrando assim o medo que os homens sentiam de uma mulher forte com uma poderosa capacidade de atracção sexual - a malformação do pé da rainha é vista nas lendas cristãs de um modo positivo. Quando a rainha quis atravessar o Quidron - no vale entre Jerusalém e o monte das Oliveiras - teve uma visão profética. Das traves de madeira que constituem a estrutura da ponte, será um dia construída a cruz em que Jesus irá morrer. Não querendo por isso atravessar essa ponte, a rainha prossegue pela água e o seu pé aleijado e «demoníaco» vê-se transformado num belo pé de menina.
A Rainha de Sabá torna-se assim uma das primeiras profetisas que anunciam a vinda de Cristo, o Salvador que está para chegar. No Islão, é mesmo apresentada como uma discípula de Alá.

A Enigmática Terra de Sabá
Não passará a Rainha de Sabá de um produto da imaginação? De modo algum! - Defendem assim muitos investigadores. O reino de Sabá existiu na realidade. Foi a lendária Terra do Ouro e, do incenso das Arábias, e julga-se que a sua localização terá sido no Nordeste do actual Iémen.
O investigador alemão da Antiguidade Rolf Beyer acrescenta a propósito que, na História Antiga da região da Arábia, houve mais rainhas a governar do que propriamente reis. Esta misteriosa governante poderia também ter sido uma rainha nómada, pertencente a um povo que não usasse registos escritos. Uma vez que esta veio a Jerusalém «tão carregada de ofertas», Beyer admite também que a verdadeira intenção por detrás de tão numerosos presentes, fosse de facto a sugestão de uma ameaça militar considerável.

Regente de Ma ´in
Os presentes trazidos permitem tirar mais algumas conclusões em relação à terra de origem da visitante. Substâncias balsâmicas como o incenso e a mirra existiam naquela altura apenas na região sudeste de África ou no Sudeste da península Arábica. Com efeito, no século IX a. C. há um reino de Sabá que assume um papel de importância histórica na região, situado no actual Iémen. De acordo com as datações, apenas uma distância de cerca de 100 anos o separa do período de governo do Rei Salomão, entre 965 e 926 a. C.
É bem possível que a Rainha de Sabá tenha sido a governante do estado que antecedeu o dos Sabeus - o reino Mineano - cujas fronteiras se estendiam até à actual Jordânia. Através da Etiópia, os Mineanos tinham relações comerciais directas com o Egipto. Ter-se estabelecido então um contacto com Israel, não teria sido nada de extraordinário. Escavações levadas a cabo na antiga capital deste reino, Ma ´in, têm até hoje por razões políticas sido praticamente impossíveis.
Os segredos sobre a lendária Rainha de Sabá continuam por isso - e por enquanto - por desvendar. O seu mito continua vivo, mesmo na ausência de quaisquer vestígios arqueológicos que o comprovam.

Teorias para a Identidade da Rainha Makeda
A epopeia nacional da Etiópia defende que a sua dinastia real resulta de uma ligação da Rainha Makeda ao Rei Salomão. A história soa-nos familiar e possivelmente terá sido este o verdadeiro nome da Rainha de Sabá, só que esta narrativa é com alguma manha que Salomão a seduz.
Axum, a antiga cidade real da Etiópia, presta-se como ponto de partida para pesquisas históricas. Na boca do povo, a cidade é conhecida como «o local dos banhos da Rainha de Sabá», porém os testemunhos arqueológicos e, as inscrições passíveis de serem datadas, não recuam assim tanto no tempo. Ainda assim, subsistiu na Etiópia uma tradição judaica que remonta ao primeiro milénio antes da Era Cristã, pelo que é bem possível que as lendas em redor da figura da Rainha de Sabá se tivessem combinado com relatos bíblicos.

A Teoria de Hatchepsut
O autor russo e especialista em assuntos científicos Immanuel Velikovsky (1895-1979) chegou à conclusão de que a Rainha de Sabá poderia ter sido a rainha egípcia Hatchepsut. Para tal socorreu-se de duas teses: começa por datar todas as dinastias faraónicas para 500 anos mais tarde do que outros estudiosos - solução essa que lhe permite resolver algumas das contradições da investigação histórica neste campo.
Por outro lado, reporta-se ao historiador Flávio Josefo (século I d. C.), que se referia à misteriosa Rainha de Sabá como «Rainha do Egipto e da Etiópia». Relevos egípcios relatam uma expedição de Hatchepsut à «terra divina de Punt». Poder-se-à aqui estar a fazer uma referência à península do Sinai - pelo menos é o que parecem indicar as plantas representadas nos frisos dos templos - plantas essas que são comuns naquela terra. Esta seria com certeza a solução mais invulgar para um enigma antiquíssimo.

Da enigmática Rainha de Sabá desprende-se um estranho encanto que - desde há séculos - tem dado que pensar nos seres humanos de muitas culturas. A Rainha de Sabá a quem de resto nunca é atribuído um nome, é também identificada como Lilith - que na tradição judaica designa uma mulher-demónio ou bruxa.
Para encontrarmos as raízes da história de Lilith, teremos então de recuar ainda mais no tempo: 2000 anos antes de o Antigo Testamento ser escrito, existiu na epopeia de Gilgamesh a figura de uma Lilith que mais tarde se viu fundida com a Rainha de Sabá.
Só nos resta então acrescentar em dúbia questão entre a afabilidade e a repulsa do que terá eventualmente sido esta tão poderosa mulher da Antiguidade, em descrições bíblicas, exponencialmente também registada como uma das mais ricas, ostensivas e belas da sua época. Para além da efectiva (ou não...) vivência amorosa e de rasante e imortal paixão - ou verdadeira história de amor - entre ela e o Rei Salomão que terá «sucumbido» assim a seus pés, literalmente! Relatos da Bíblia determinam-na exemplar mas, terá sido efectivamente assim ou foi apenas o resultado de um mundo fantástico criado aí em imaginação vertiginosa e infundada em factos reais? Não o sabemos mas insinuamos de que, tão majestosa figura de tempos idos, o não pudesse ter sido unicamente de invenção histórica em mito ou lendas contadas através dos tempos. Mas isso agora, na actualidade, será trabalho árduo para investigadores e historiadores reporem. Assim o desejamos, assim o esperaremos de futuro! A bem do conhecimento, da cultura e da Humanidade!