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sexta-feira, 11 de abril de 2014

A Esperança V

 
Constelação das Plêiades (M 45)

Existirá uma maior força no Universo do que a persistência de nos mantermos vivos por amor? Haverá alguma outra energia tão exponencial quanto veemente que nos seduz, sufraga e subleva até do mundo dos espíritos, numa outra dimensão estelar e incomensurável? Resistirei por esse sentimento que me acompanha até para além da morte física? Estarei morta?...Onde estou eu?

O Resgate
Nunca o planeta Marte - líder e senhor da Guerra - me foi tão punitivo, cingindo-me por terra em solo sepulcral. Não sabendo eu ainda do que me estaria reservado em braços, auxílio e resgate final numa emergência prenhe de expectativas e ansiedades mesmo, até por parte dos intervenientes. Eu estava como morta. Não sentia nada. Não ouvia. Não correspondia a nada. O meu estado letárgico e comatoso denunciava de que algo muito terrível tinha acontecido. Eu estava no limbo dos mortos-vivos e nessa dimensão não auguramos nada do que exteriormente nos fazem, nos rectificam ou nos sujeitam em experimentação e reestruturação física, metafísica ou simplesmente em anatómica vivificação do pouco que se expira em sinais ténues de vida. Os meus salvadores: os vigilantes das Plêiades!
O que transmito agora foi-me dado a conhecer após esse estado se ter alterado, mas muito após o que tenho consciência e conhecimento do que me restauraram como peça desconjuntada e pouco calibrada numa reiteração de vida que eles, os plêiadianos, me instauraram. Não se limitaram a recursos orgânicos e outros para me quase ressuscitarem do fosso ou buraco negro em que me encontrava. Os meus companheiros de missão em Marte pereceram todos. E eu...viva. Quase me amaldiçoei por tal. Eu era o testemunho em vida do que se teria passado naquele solo vermelho em Base Estatal do Conselho Federativo Galáctico e que agora, me exigia respostas como se eu as houvesse naquele imediato turbilhão de meteoritos e enxurrada de detritos sólidos como lixo espacial desgovernado.
A regeneração celular em mim estava a ser longa e meticulosa, quase em parcial avença do que eu não queria ter de enfrentar como tribunal militar de consequências ímpares como se houvesse tido alguma culpa ou elemento nocivo em face a essa ocorrência na Base, totalmente alheia a todos nós, ainda que os radares o não tivessem detectado e os ultra-sons em sonares espaciais o não tivessem declinado também. Algo de muito errado surgiu nos céus de Marte mas eu não seria porventura a pessoa indicada para o evidenciar no que os meus conhecimentos bio-tecnológicos não alcançavam e nem sequer se limitava à minha área de estudos e investigação. Apenas como testemunha ocular e mera sobrevivente o poderia constatar.
Pior, foi a hostilidade sentida não das altas instâncias de Plêiades mas de todas as outras em inquestionável força de vários poderes, querendo imiscuir-se sobre mim. Até mesmo de Alfa do Centauro na sua tríade de governação estelar, de Andromeda, de Sirius e de todas as outras como se eu fosse um animal de laboratório em dissecação mental do que eventualmente desejariam extirpar ou distorcer sobre mim. Limitei-me então a recuperar de todas as forças perdidas e destituídas de mim. Limitei-me a esperar e a tornar à vida se não com a mesma alegria até aí, pelo menos com a mesma ou igual esperança de voltar a ter aquele amor perdido de Siul que já deveria ter sabido do meu acidente em Marte e, da minha recuperação posterior. Que terá pensado de mim? Ser-lhe-ia agora inferior em ser e em mundo do qual eu vinha em origem, proveniência e instituição? Ou nada disso o afectaria, esperando por mim pelos meus braços, pelo meu colo, pelos meus beijos e...pelo meu eterno e imenso amor que mesmo para além da morte física eu exalaria como perfume de flor que se extingue no ar em perfeita harmonia celestial?

A Compreensão
Siul estava preocupado. Mesmo não sabendo de todas as razões efémeras, úteis ou inúteis o certo é que não sabia de facto o que teria sucedido naquela cabeça, naquela mente estouvada da sua terráquea fêmea, terráquea mulher que de um dia para o outro se deu de desmandos inférteis e mesmo destruidores e, intrusivos em si - e, em toda a família, supunha - e terá partido, fugindo dele e dos filhos, da Terra que lentamente se vinha soerguendo das cheias e da catarse envolvida em nova e purificada terra que ela, Aleunam tanto amava. Que lhe terá passado nas meninges em reiteração crepuscular para tal se ter imposto sem nenhuma mensagem ter deixado a si e...aos seus quatro filhos, agora desamparados e órfãos de mãe viva? Siul não compreendeu nem podia. Siul estava só com a sua má sorte de ser agora um pai solteiro, um pai viúvo ou desgarrado de um poder que na Terra, na primitiva Terra da sua mulher e companheira se designava ainda, como um estandarte de família que ele não o reconhecendo, aprendeu a considerar, a integrar-se e, a gostar dessa sua nova nomeação de trato e condição.
Em Alfa do Centauro (mais exactamente na Próxima do Centauro agora) o conceito de família era abjecto e assim o fora sempre até aí. Até pela razão inconsistente talvez, de total diferenciação com os costumes desse tão pequeno planeta Terra, a 4,3 anos-luz do seu. Apesar da circunstância actual da sua civilização estar a somente umas poucas semanas de distância devido à tecnologia aeronáutica de naves estelares por toda a instituída Confederação Galáctica Estelar. Os terrestres eram tão básicos que nem que tivessem havido tecnologia suficiente em milénios passados, os levaria a rumarem a outras estrelas de distâncias percorridas extremas e impossíveis para si de cem mil anos a chegar a qualquer ponto ou vértice estelar. E também pela razão de que, não sabendo estimar o seu próprio planeta, porque haveriam de o fazer em relação a outros que quisessem ou tivessem possibilidade de colonizar? Todos o sabiam, daí que Siul não fosse um motivo de orgulho em se ter unido a uma fêmea do mundo inferior em planeta tão primitivo quanto as estrelas da galáxia, de qualquer galáxia em imensidão universal. Mas Siul sofria. Sofria a perca, o desmembramento físico e mental de um vazio sideral em peito apertado em «alma» - essa coisa invisível que Aleunam lhe dizia pertencer a si - e que agora o constrangia cada vez mais à medida que o tempo passava e novas não sabia de si. Chegaram-lhe rumores de que morrera, de que fatalmente sucumbira a uma estranha invasão marciana de meteoritos não visionáveis que se tinham despojado sobre extensas áreas de Marte.
Mas que fazia ela em Marte...? - Ter-se-à interrogado em total vazio de coerência (ou correspondência)  no que a tinha deixado na Terra - por breve período de espaço-tempo (pensou, declinando em si qualquer vestígio de racionalização ou premência de erro seu sobre mim) em espécie de condenação capital num planeta que ninguém queria sondar, viver ou trabalhar. A não ser em recurso de absolvição ou comutação de penas maiores em condenações judiciais que o Tribunal Institucional da Federação Galáctica impunha como remissão e punição nos demais. Que a terá levado a punir-se assim...? Nem o Sábio-mor lhe terá consignado a resposta correcta do que conhecia dos terrestres, em particular das fêmeas - terá acrescentado a Siul - que dizem não quando querem dizer sim, amuam e fazem birras como crianças de colo e muitas das vezes - irracionais à compreensão até humana de entre os seus (afiançou a um Siul completamente siderado) em que nada se sabe, nada se perfura ou se resolve, aquando a teimosia impera ou são levadas (as terráqueas) a darem-se de vontades e ciúmes e, ou batem em retirada, ou assumem-se como leoas primitivas de solos do deserto e partem para a investida e, guerra, sobre quem lhes invade território e espaço familiar. Siul acreditou mais na primeira, pois eu partira sem o anunciar, sem o dignificar até em mim própria, acobardando-me efectivamente por um ciume corrosivo, doentio e supostamente idiota em toda a acepção da palavra terrestre em que me vira condoer em intensa e cerrada teia humana do meu Siul se ter dado de amores (pensava eu, como terrestre ou terráquea que sou...) por uma plástica «centaura» de esfinge deslumbrante e olhar vítreo, mortal!
Siul amava. Os Centauros sabiam então o que era o amor, apesar de mais razoável ou consonante com a sua idiossincrasia mental em que nada subestimavam nem julgavam, a não ser quando lhes dissociavam os poderes em mão. Siul tinha muito a aprender sobre essa mesma origem, compreensão e natureza humanas, totalmente diversas da sua. Tinha muito a percorrer e...a buscar, se acaso soubesse entender a razão na sua total dimensão que teria levado Aleunam a castigar-se pessoalmente por algo que não cometera. Como as terráqueas são estranhas! (tornaria a registar em si) Mas não sei viver sem ela!...

O Recobro
Estou num sítio maravilhoso! As árvores (uma espécie arbórea que o não é de todo...em similaridade terrestre) fazem com que me acalme na sua ondulante folhagem rosa e de tons anilados, percorrendo-me a nostalgia dos dias em recobro e recuperação físicas. Há flores! Os plêiadianos são um povo muito afável, simpático até. Têm sido inexcedíveis no trato e na indução de melhorias minhas numa correspondência telepática de afabilidade ímpar. São como seres brilhantes em corpo e alma de olhos imensos mas em respeitabilidade e assumpção do que me auferem em bonomia e certa solidariedade, uma vez que estou só em desequilíbrio de alma. Eles sentem como nós. Não são tão frios como os de Alfa do Centauro que, tirando a excepção em Siul, me parecem todos gélidos, pelo que constatei de colegas e parceiros de comandos seus aquando vinham de visita à Terra. Para não falar já...da «minha ilustre rival...» em porte glacial de algo ou alguém cirúrgico que fere e mata só com o olhar. E isso dói-me. Continuo a pensar e a cogitar enferma e infernalmente de que Siul me possa ter sido infiel e isso desgosta-me. Fiz-me perder tudo só por essa insegurança jocosa em mim e peçonhenta como maleita cutânea que não mais desaparece do corpo, da pele e...da alma. Injectaram-me plasmídeos no corpo que parecem ter-me chegado também à alma, tal o estado nevrálgico em que me encontro. Esta importante ferramenta na engenharia genética fez-me recobrar cores, ânimos e desenvolturas há muito eliminadas em mim e, sentindo-me agora mais forte, vejo-me ser transposta num imenso portal estelar em que me encaminho mas não sei se concluirei ou se aí chegarei, pelo imenso receio que possuo de Siul se negar a acolher-me, a tornar a querer-me, a tornar a...desejar-me perante tamanha traição que eu lhe incuti também, deixando em Alfa do Cantauro com os filhos, os meus filhos. Que saudades meu Deus-Uno...! Como pude ter sido tão cruel e tão insana até para comigo mesma, por não acreditar no meu potencial de mulher, de terrestre que sou e serei sem alquimias de maior em suportar a descrença da superioridade centáurica?...O genoma humano afinal, ainda não é transversal até mesmo em relação a estas outras civilizações estelares pelo que observei, sentindo eu que sou uma espécie de animal em vias de extinção por aqui mas...muito bem tratada, muito bem referenciada e, reverenciada em todos quantos me cercam. Mas pouco sabem do amor e pedem-me que lhes explique, que os elucide, que os ensine...e eu lamentando-me por tanto ter perdido, falo-lhes mais com os olhos do que com os lábios, toda a magia subsequente desse estado amórfico mas sensacionalmente fabuloso de se ter paixão por alguém, de se amar alguém e eles ouvem e talvez sintam mas...sem ainda compreender muito bem toda a dimensão galáctica de facto, deste tão excêntrico e maravilhoso estado de alma que nós terrestres enfrentamos, com a mesma fortaleza e dignidade com que nos deparamos com as suas inovações tecnológicas: em total deslumbramento e, estatização; e tremuras, mãos suadas, coração acelerado, consciência alterada, pernas arquejantes, garganta seca e alma congelada ou em braseiro anunciada, consoante a transmutação imediata de que «sofremos» em anatomia celular destrambelhada!
Acharam graça... (eles, os plêiadianos também têm humor e riem...por dentro) considerando ser um estado muito estranho este que eu lhes revelo, para logo anunciar que é tão forte e tão premente que nos atinge como raio laser no peito e aí já concordam que deve de ser realmente «fatal» esse estado de amor puro por alguém!?...Não o reconhecendo de todo, afiançam-me de que o respeitam mas não querem passar por essa mesma fronteira de provação e «delirius extremis» como embargo alcoólico similar de pertença terrestre, pois ainda não acreditam (pelo que lhes digo) das vantagens e poder extremo deste sentimento vivido a dois, subliminar e totalmente máximo em expoente físico e mental de dois pares em união e acasalamento. E aí...penso de novo em Siul e, nos meus lindos e quatro filhos híbridos que com ele fiz e com ele conceptualizei em toda a dinâmica e fusão Centauro-terrestre numa união forte, doce e eterna, assim o meu Deus-Uno o permitisse, querendo, desejando, que ele voltasse para mim e me perdoasse a dislexia mental momentânea que quase me fez perder tudo o que mais amava! E poder retornar ao meu belo - ainda - planeta Terra com toda a minha família. E ser feliz, muito feliz! Cúmplice e, eternamente! Siul é o homem da minha vida e os nossos filhos, a obra perfeita em dualidade e prova do que na Terra ainda pudemos realizar. Que o meu Deus-Uno me ajude a reconquistar todos esses espaços perdidos e me dê uma nova oportunidade de voltar a ser feliz. É tudo o que espero e...desejo. Que Siul se me entregue de novo...e me perdoe a doideira, a maluquice e toda a existencial instabilidade vivida, para que num futuro próximo tudo possa ser reinventado por nós! Assim Deus-Uno queira! Assim se faça segundo Ele!


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