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quinta-feira, 10 de abril de 2014

A Cabala Cristã


Símbolo Cabalístico Cristão

Ciência oculta ou Magia, em que eram - e serão ainda hoje - convocadas forças celestiais na transmigração das almas? Será de facto o cosmos, essa grande «árvore do Mundo» ou um ser humano cuja representação microcósmica era Adão como acreditam os estudiosos cristãos?

A Cabala Cristã
A Cabala, o conjunto de ensinamentos secretos e esotéricos da cultura judaica, conquistou terreno na Europa após a expulsão dos Judeus de Espanha (1492) e de Portugal (1497). Este acto foi pelos cabalistas interpretado como análogo à expulsão do Paraíso.
A Cabala Judaica fornecia explicações para o sentido de uma tal correspondência. Também estudiosos cristãos se interessaram por estas matérias. No âmbito da Academia Florentina, o conde Giovanni Pico della Mirandola (1463-1494) defendia a tese de que na tradição esotérica dos Judeus estavam contidos e formulados também os mistérios da fé cristã. Giovanni Pico della Mirandola ficou, por isso mesmo, conhecido para a posteridade como sendo um dos primeiros «cabalistas cristãos» da História.
Os estudiosos cristãos sentiam-se atraídos sobretudo pela noção cabalística de que, o cosmos era com efeito uma grande árvore do Mundo, ou um ser humano (Adam kadmon), cuja representação microcósmica era Adão, o primeiro dos seres humanos. Reconheciam aí ideias provenientes da Antiguidade, tais como o facto de o ser humano, em cujo interior está mentalmente representada a ideia da totalidade do cosmos, constituir uma espécie de microcosmos, formando assim uma correspondência com todo o Universo. Este tipo de especulação foi determinante para fixar a noção do ser humano do renascimento.

Precursores da Cabala Cristã
Entre os protagonistas da Cabala Cristã contava-se Johannes Reuclin (1455-1522), com as suas obras "De Verbo Mirifico (1494) e De Arte Cabbalística (1517)". Paulus Ricius, médico pessoal do imperador Maximiliano I (1459-1519), mantinha-se em contacto com os principais humanistas e tentava em vão estabelecer uma ponte entre protestantes e, católicos. Traduziu importantes textos hebraicos para o latim da obra basilar cabalística, «Sepher Yetzirah» (O Livro da Criação). Só no século XVII é que a Cabala se tornou realmente conhecida, sobretudo devido aos escritos de Christian Knorr von Rosenroth (1631/36-1689). Na sua obra "Kabbala Denudata" (1677-1678) apresenta uma tradução em latim do mais importante escrito cabalístico, o «Sepher Zahar» (O Livro do Esplendor), para além de outros textos relacionados.
Os trabalhos acerca da Cabala Cristã influenciaram as tendências teosóficas e místicas da cristandade. Sobretudo durante o Barroco - quando se procurava obter uma expressão espiritual em imagens simbólicas e alegóricas - os ensinamentos cabalísticos acerca das emanações divinas passaram a constituir o fundamento de especulações místicas acerca da mensagem de Cristo.

As Emanações de Deus no Mundo
A Cabala é uma doutrina de correspondências místicas. Nela se ensina de que modo o inominável deus En Sof (O Infinito) se manifesta no mundo. Deus concretiza-se no mundo através de 10 emanações. Estas 10 esferas místicas - ou forças divinas - eram na Cabala Judaica associadas a determinados nomes de deuses, a determinadas características, elementos, regiões, partes do dia, sendo feita toda a espécie de correspondências simbólicas. Todo este sistema de correspondências se encontrava representado na chamada «Árvore Sefirótica».

O Quadro de Ensinamentos da Princesa Antonia
Os cabalistas cristãos puseram as 10 emanações da Cabala em contacto com a doutrina cristã - alcançando assim uma visão abrangente da Criação e, do plano de Deus. Um dos pontos mais altos da Cabala Cristã é constituído pelo chamado «Quadro de Ensinamentos da Princesa Antonia», uma pintura que desde 1673 se encontra guardada na Igreja da Trindade em Bad Teinach, na Floresta Negra. Neste tríptico é feita a tentativa de representar o plano de Deus de modo figurativo e, adaptado ao entendimento cristão, mas de acordo com a organização e simbologia das 10 emanações cabalísticas ou esferas de Deus.
Este quadro foi pintado em 1663 por Johann Friedrich Gruber, pintor da corte - de acordo com indicações de estudiosos que a princesa Antonia von Wurttemberg (1613-1679) reunia em seu redor. Neste quadro, a árvore sefirótica é transposta para a linguagem visual cristã e surge representada como uma imagem para meditação num excesso barroco de relações e, correspondências.

O Cortejo Nupcial de Sulamita
A imagem exterior do quadro de ensinamentos da princesa Antonia, mostra-nos então o cortejo nupcial de Sulamita, liderado pela própria princesa Antonia, que se dirige para o seu noivo celestial, Cristo.
Esta espécie de «mística do noivado» ocorreu na época barroca  na Igreja Protestante em reacção à secura da doutrina pura, encontrando a sua fundamentação no Cântico dos Cânticos - um livro sapiencial do Antigo Testamento. Nesta imagem, cada elemento possui a sua importância alegórica ou simbólica. Das 94 mulheres representadas no quadro exterior do tríptico, 77 são figuras históricas ou simbólicas do Antigo e do Novo Testamento.

O Motivo Central
Também na parte central do tríptico nada permanece deixado ao acaso. Até mesmo os pilares e o fundo da paisagem concorrem para oferecer um amplo panorama de significações. Ao centro, em primeiro plano, pode ver-se a princesa ao portão diante do Jardim do Paraíso. Ela entra assim no mundo governado pelas 10 forças emanadas de Deus. A representação simbólica corresponde à organização da árvore sefirótica, com a décima emanação de Deus na posição mais abaixo. Esta corresponde ao elemento da terra. Cristo, enquanto filho de Deus que veio à Terra, corresponde à décima esfera (Malkhut). A partir daí emanam as bênçãos divinas que compõem a ordem de todo o círculo que representa o mundo. Essas bênçãos fluem ao encontro do novo povo de Deus, que se reúne em redor de Cristo. Trata-se das 12 tribos de Israel, representadas pelos seus chefes. O seu carácter e o futuro que lhes está reservado são representados alegoricamente pela associação com animais, árvores, pedras preciosas e signos zodiacais.

A Árvore Sefirótica Cristã
Por detrás ergue-se o Templo de Salomão, local de reunião dos sefirotes e sede do novo culto a Deus. À entrada podem ser vistos os evangelistas e apóstolos. no espaço diante do Templo encontram-se representadas as 4 forças inferiores de acordo com a Cabala: Malkhut (Soberania), Yesod (Fundamento), Hod (Louvor) e Netzah (Vitória). No frontão do templo encontram-se os sefirotes médios: Tipheret (Amor), Geburah (Força) e Chesed (Misericórdia).
Tipheret é uma peça central na totalidade do sistema sefirótico, por isso mesmo é reservada a esta emanação divina o nome mais importante, no qual estão compreendidos todos os demais: JHVH. Este «nome de 4 letras» (Tetragrama) desempenha um papel de grande importância em escritos mágicos e cabalísticos. Tipheret é representada de modo alegórico neste quadro com a «a beleza do amor». A coroar o frontão surgem finalmente os sefirotes superiores: Binah (Inteligência), Hochmah (Sabedoria) e Kether (Coroa).

A Expulsão dos Judeus
Foi em 1232 que o Papa Gregório IX introduziu os tribunais de fé da Inquisição. O objectivo da criação destes tribunais era a detecção e destruição dos autores de blasfémias e heresias que pusessem em perigo a autoridade da fé cristã. Em 1545, no âmbito da Contra-Reforma, os tribunais da Inquisição foram colocados sob a alçada central da Congregação da Inquisição. O auge da repressão foi atingido nas práticas da Inquisição em Espanha, onde entre 1481 e 1808 morreram na fogueira cerca de 31 mil indivíduos e cerca de outros 270 mil viram-se condenados a ser encarcerados e, destituídos dos seus bens. Não eram apenas as bruxas e os apóstatas a serem perseguidos - um dos resultados destes tenebrosos tempos foi a aniquilação e, expulsão dos Judeus em Espanha.

A Cabala como Ciência Oculta
Os escritos cabalísticos foram em grande parte banidos nos países católicos através das resoluções do Concílio de Trento (1545-1563). Continham ideias - como é o caso da teoria da transmigração das almas - que não eram de todo aceitáveis para a Igreja.
A importância da Cabala Cristã tornou-se assim tanto maior na tradição esotérica dos países reformadores. Nos cultos cabalísticos eram convocadas forças celestiais, o que fazia com que a Cabala se assemelhasse perigosamente à Magia. Era frequente ser entendida e aplicada por Judeus e não-Judeus como um sistema mágico. Enquanto para os investigadores das Ciências Naturais do Renascimento - próximos da Magia - era vista como sendo inteiramente uma Ciência Oculta, indispensável para as mais variadas operações mágicas, a Cabala Cristã transformou-se de modo cada vez mais notório numa espécie de amálgama mística do Judaísmo esotérico e, de divulgação da mensagem de Cristo - sendo ambas as realidades reconhecidas como fundamentalmente idênticas. Algo então que a Igreja não poderia comportar na época...
Para a posteridade ficaria os ensinamentos e, a alegoria total de um simbolismo factual em árvore sefirótica entre estas duas vertentes cabalísticas: Judaica e Cristã. E assim continuaremos a estudá-las, a entendê-las, a investigá-las em todo o seu esplendor místico e esotérico, supostamente. Com Deus sempre vigilante. Assim seja então no continuar dos tempos em outros e novos ensinamentos em futuro imediato. A bem da Humanidade!

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