Translate

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

A União do Absoluto



Shiva e Shakti: deus e deusa enquanto auto-revelação do absoluto. Símbolos da vida universal e individual, da acção permanente dos opostos criadores. Terão sido  um só, em força, divindade e poder do Universo num imenso ventre materno da génese humana?

Shiva e Shakti
A divindade mais importante, luminosa e controversa do panteão hinduísta é, sem dúvida, Shiva (o bondoso). Os textos religiosos mais antigos, os «Vedas» - anteriores ao primeiro milénio antes de Cristo - que não mencionam ainda este nome, chamam-lhe Rudra (o uivante), o terrível Deus das Tempestades.

O Grande Iogue
Segundo o Shiva-purana, uma colectânea de textos religiosos do hinduísmo, Shiva possui cinco caras, que correspondem ás suas cinco missões (panchakriya): criação, conservação, destruição, moderação e compaixão. Vive na montanha kailash, nos Himalaias, e monta o touro branco Nandi. O terceiro olho que Shiva tem na testa está fechado. Só o abre quando está encolerizado, pois é o olho do fogo, do qual procede o poder da destruição.
Shiva aparece frequentemente como um deus encolerizado, que extirpa todo o mal. Representa as trevas e aniquila o mundo, para depois o criar de novo, pois é o grande iogue, o Deus da Meditação Profunda e do Ascetismo, dos quais retira as forças espirituais necessárias para uma nova criação.
Na mitologia, Shiva combate o demónio da cegueira espiritual, Andhaka. Shiva, destruidor da temporalidade e encarnação da renúncia, defende assim a sabedoria.

Os Seguidores Ascéticos de Shiva
Xiva é muitas vezes representado na figura de um asceta de pele escura, sentado na posição de ioga na pele de um veado ou de um tigre. Tem o cabelo comprido e emaranhado preso por serpentes e, usa ao pescoço um colar de caveiras humanas ou cobras. O seu emblema principal é o tridente (trishula).
Os Sadhus - um grupo de seguidores de Shiva que renunciaram ao mundo - andam com um tridente que levantam quando fazem as suas orações (pujas). Às vezes, quando louvam o seu deus e se entregam a práticas espirituais, esfregam o corpo todo, excepto as mãos e os pés, com estrume de vaca.

Parvati - A Força de Xiva
Shiva é normalmente adorado nos seus templos com a configuração da coluna fálica (linga), símbolo de todas as forças de regeneração. Embora a sua forma seja um falo, na verdade representa o espaço invisível, mas omnipresente e que tudo atravessa. É um símbolo visível da realidade última na qual assenta o Universo, mas que também está presente em cada ser humano.
Shiva é a calma do espírito lúcido. A energia primitiva da criação, relacionada com a imagem do linga, provém da sua companheira Parvati - que portanto é denominada Shakti (força). Aparecem separados mas, na verdade, são sempre um só. Não existe Shiva sem Shakti nem Shakti sem Shiva. A sua união é o estado natural. Juntamente com Shakti, Shiva é o absoluto transcendente. Na realidade, Shakti é o aspecto feminino da sua totalidade divina, razão por que, às vezes, é representado meio-homem e meio-mulher (ardhanarisvara).

A Interacção dos Opostos
A realidade é um todo indivisível, é Shiva-Shakti. O mistério da interacção das forças criadoras e sua consubstancialidade encontrou a sua expressão na vitalidade da sociedade indiana em obras de carácter sensual e erótico. São símbolos da vida universal e individual, da acção permanente dos opostos criadores.
As imagens de união sexual em posições de ioga, representam a diferenciação do absoluto no par antagónico - mas actuando em conjunto - formado por Shiva e Shakti: deus e deusa enquanto auto-revelação do absoluto. A aparência dos opostos num ser único.

Linga e Yoni
Já se referiu de que Shiva é normalmente representado com a forma de um falo (linga), penetrando o órgão sexual feminino (yoni) da sua companheira divina, fonte de todas as ilusões.
O linga de Shiva assente no pedestal yoni, simboliza a união do princípio masculino e feminino na sua totalidade cósmica. Shiva, que tem 1008 nomes, é também chamado Mahadeva (o Grande Deus) ou Mahayogui (o Grande Yogui).
No Templo de Ekambaranthar, em Kanchipuram (no Sul da Índia), existem 1008 lingas assentes em yonis, tantos como os nomes do deus. As práticas rituais relativas ao «linga» e ao «yoni» contam-se entre as formas de adoração mais importantes.

Princípio criador do Universo ou simplesmente, a reiteração terrestre de uma origem e concepção humanas que, por intermédio e primórdios nestas duas (ou unas) divindades de Shiva e Shakti, se tenha prolongado no tempo em mito ou verdade transmissível ao Homem no seu todo. Lingas e Yonis no fundo, a correlação exacta no espaço físico e orgânico do ser humano na sua acoplagem perfeita de interacção, envolvimento e assaz criação ou concepção. Poderá ser um princípio filosófico ou não. Ou igualmente, a demonstração dos deuses de um dia, que por cá tenham imposto benevolente e placidamente, as suas raízes em continuada imitação pelos humanos...até aos dias de hoje! E assim possa continuar a ser, digo eu!...

Sem comentários:

Enviar um comentário