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quinta-feira, 12 de junho de 2014

A Dança Divina


Escultura de Nataraja - Província de Tamil Nadu - Chidambaram                  Sul da Índia

Existirá de facto - nesta dança divina - a expressão maior de união entre a Terra e o Céu, entre a matéria e a consciência suprema? Nesta manifestação de Shiva - em Nataraja - e, executando a sua dança cósmica da criação, terá este desejado assim unificar o Universo e o coração dos homens na Terra?

Nataraja - O Senhor da Dança
A dança e a música são, em todas as culturas, componentes essenciais das práticas religiosas e mágicas. A dança conduz ao transe, durante o qual se sente a presença do divino.
Na Índia, a dança - juntamente com o ascetismo - que vira as costas ao mundo, sempre teve um significado muito especial. A contradição que o entendimento ocidental pode ver entre a dança - virada para a vida - e o ascetismo - retirado do mundo - não existe de modo nenhum na Índia.

Dança e Espiritualidade
Bem pelo contrário, todas as formas de dança sagrada da Índia, têm como objectivo último aproximar o espectador de uma consciência espiritual superior. Não se trata de uma diversão superficial.
A verdadeira experiência da dança sagrada ultrapassa os sentidos. Entendendo-a correctamente, aquele que nela toma parte, aproximar-se-à do plano da consciência divina.
Dado o significado da dança sagrada, Shiva - um dos deuses mais importantes do Panteão Hinduísta - é simultaneamente senhor da ascese e, da dança.
Shiva, no seu aspecto de dançarino cósmico, reina no palco do mundo com o nome de Nataraja (Rei da Dança). Tem no entanto mais de mil outros nomes.

O Simbolismo da Dança de Shiva/Nataraja
As cinco actividades de Shiva manifestam-se na dança de Nataraja: Criação, Conservação, Destruição, Encarnação e Libertação. Com um pé esmaga o demónio Mujalaka - que representa a ignorância e, a temporalidade. A mão inferior esquerda aponta a perna erguida, que simboliza o estado supraconsciente (ou libertação espiritual).
Os compridos cabelos de asceta agitam-se-lhe na cabeça. Na mão superior direita segura o pequeno tambor da criação - símbolo do tempo - ao som do qual dançam os elementos.
Na mão esquerda - a língua de fogo - símbolo da destruição do mundo mas também da aniquilação do véu de Maya, a força do engano e, portanto, das ilusões. A harmonia destes dois braços de Nataraja simboliza o jogo cósmico da criação e, da destruição.

Dança no Círculo de Fogo
A dança das forças da Natureza é representada num círculo de fogo, em oposição à dança da sabedoria de Shiva. A mão direita que tem livre faz o «abhaya-mudra» - o gesto da ousadia e da protecção - símbolo do poder de Shiva para proteger o Universo.
Duas serpentes segurando uma caveira prendem-lhe uma parte do cabelo. As serpentes e o crânio representam os aspectos destruidores do deus, o tempo e a morte.
A imagem de Shiva dançando com uma perna erguida, reflecte o significado místico da dança: só pode dançar quem deseja libertar-se da Terra, quem aspira ao alto. Ao mesmo tempo, só pode existir dança se houver contacto com a Terra.
A Dança Divina converte-se na expressão na união entre a Terra e o Céu, entre a matéria e a consciência suprema.

A Dança da Criação em Chidambaram
No século X, a poderosa dinastia dos reis Cola elevou Shiva, enquanto Nataraja - à qualidade de principal divindade protectora - e fez de Chidambaram o centro do culto de dança de Shiva.
Diz-se que foi neste lugar do Sul da Índia, que Shiva executou a sua dança cósmica da criação «Ananda Tandava» (A Dança da Glória).
Chidambaram - e o seu templo de Shiva - foram identificados com o coração do ser cósmico primordial.
Shiva efectuou neste lugar a sua dança no centro do cosmos e, ao mesmo tempo, no coração dos fiéis. Assim, o primitivo culto de uma divindade local foi elevado a importante culto do hinduísmo.

No Sul da Índia, na província de Tamil Nadu - em Chidambaram - encontra-se o templo de Nataraja, dedicado à Dança da Criação. Na fachada principal, vê-se uma escultura de Nataraja - uma manifestação de Shiva. Quem tal visite constatará esse enorme poder que reflecte a dita união entre a Terra e o Céu num todo cósmico que, porventura estarão interligados em maior espiritualidade do que supomos. Mais uma vez aqui se instaura a respectiva veneração e respeito sobre estas crenças e, muito provavelmente, a consciente certeza de algo mais, algo superior - num jogo cósmico da criação e da destruição no ser humano. Para além de tudo o mais, uma outra consciência verificada em dança divina, de todo um poder que une então este nosso Universo com todos nós, humanos. E por essa realidade ou verdade rectificada, e a bem de toda a Humanidade, assim possa continuar a ser!

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