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quarta-feira, 31 de outubro de 2018

O Secreto Mundo das Bruxas

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Bruxas, e o seu mundo secreto. A sua história, em poder maléfico e pungente estigma do já vulgar estereótipo vigente de se fazerem voar de vassoura nos pés e um feio chapéu pontiagudo na cabeça, vagueando pelos céus nocturnos em vibrante afirmação do que são ou foram através dos tempos.

Ninguém admite o confronto com elas ou, a completa certeza da sua não-existência, deixando-se antever que por vezes e, alegadamente, elas andem mesmo por aí e está tudo dito. Elas existem! Para o melhor e para o pior, quer queiramos quer não...

                                                  O Secreto Mundo das Bruxas
O Secreto Mundo das Bruxas está prenhe de conhecimento e sabedoria, como todos nós sabemos. Mas também - infortunadamente para elas - exaurido de compreensão e aceitação, pelo que antes e muito depois da Inquisição (autos do Santo Ofício) de uma Europa retrógrada e medieval se fez sentir. Pior, é que ainda faz... algures por aí em qualquer canto do mundo...

É reconhecido por muitos que, antes e depois de La Voisine (Catherine Montvoisin) - a célebre e famigerada bruxa francesa que colaborava com o pervertido abade Guibord na organização criminosa de ostensivas missas negras durante o reinado de Luís XIV e em que todos os demónios se soltavam em ritos orgiásticos (mas também orgásmicos) de satanismo - as então denominadas «bruxas» sempre existiram. São um facto indesmentível.

E, com mais ou menos poder (ou artimanhas próprias) através do conhecimento e potencial de ervas e plantas na elaboração de perigosos venenos até à concretização de actos sumamente impuros, as ditas bruxas de então até à actualidade fazem-se ouvir mas nem sempre ver ou cerzir.

E isto, seja em práticas que a sociedade moderna condena (Vodu), seja em malabarismos fictícios e fraudulentos que acabam sempre, inevitavelmente, por arrastar consigo incautos e alguns inocentes que ainda acreditam que são as Bruxas que os vão salvar.
 
Na periclitante batalha - por vezes muito desequilibrada - entre o que era científico ou do conhecimento ancestral na vanguarda dos dias e, uma outra mentalidade que tudo coarctava, renegava e nem sequer estudava para ver se as bruxas teriam razão, incendiaram-se corpos e almas que, também ao longo da História do Homem, se foram propagando como endémico rastilho de todas as fogueiras humanas...

Deus e o Diabo (há quem diga) podem efectivamente estar ao mesmo nível. Ou não. Os pactos com o Demónio são sobejamente conhecidos em adoração a Satanás e a tudo o que ele lhes pode trazer de benefício e gáudio. Tudo tem um preço. E optar por Deus ou pelo Diabo será apenas a mais urgente obra de consolidação, consoante o peso e a medida em relação aos favores humanos que cada um deles pode ou não realizar em seu benefício...

Ao longo da História fomos assistindo por via documental de que de facto muitas injustiças foram literal e abusivamente cometidas sobre elas, as bruxas, por outras que se distinguiram pela pura maldade dos seus actos.

Os Unguentos também contribuíam para essa façanha, os quais vamos aqui falar. O que hoje é ciência e de certa forma uma reverência biomédica, na Antiguidade, foram o sumo mais do que perfeito para a alquimia de todas as verdades e certas indignidades que ainda hoje tememos pelos voos e danças de certas bruxas que sentimos por aí...

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Dia das Bruxas (ou Halloween): a contemporânea e divertida realidade dos nossos dias numa festa pagã que se estende por todos os pontos do globo em anunciação de um folguedo popular de bruxaria e certa primazia em que todos participam. Hoje, é uma festa de família; e das crianças em busca de guloseimas ou partidas.

Na Antiguidade a coisa era mais séria. Muitos dos que entravam no secreto círculo das ditas bruxas e demónios, raramente destes saíam; e quando tal sucedia, eram levados pela própria mão do Diabo que os conduzia às muitas fogueiras da Santa Inquisição em implacável poder das autoridades eclesiásticas que os acusavam - aos bruxos e bruxas - de atentarem contra a Igreja e contra os máximos e «dignos» valores do Reino.

O delito pugnava sempre por uma justiça unilateral e a uma só voz que os condenava e, empurrava quase sempre, para a fornalha de fogo, horror e cinzas dos seus corpos e quiçá das suas almas que ninguém sabia muito bem aonde iam parar...

O Unguento das Bruxas
Segundo os relatos da época (Idade Média), acreditava-se que as bruxas misturavam membros de crianças não baptizadas - que eram previamente desfeitos e cozidos - e depois envolvidos numa sopa de gordura, sangue, corações dessas crianças, cobras venenosas, lagartixas, aranhas, sapos alimentados a hóstias abençoadas (imagine-se o contra-senso); além de ossos moídos de um enforcado e todo um arsenal de ervas venenosas, para, sob orientação do Diabo, obterem o seu unguento para voar.

Estes rituais repetiam-se à velocidade da urgência ou até demência com que eram seguidos - sobre comunidades secretas que levavam ao extremo esses rituais que, como sempre, finalizavam em grande orgia reverencial depois de esfregada esta mistela na cara, no corpo ou numa vara - elevando-se de seguida no ar em direcção ao Conciliábulo das Bruxas.

Modelos Antigos: Este tipo de relatos remonta aos anais da superstição mais sinistra que, ainda hoje, os historiadores não sabem definir se verdadeiros se falsos ante muita documentação encontrada mas também falseada ou deturpada além os tempos.

Seja como for, deve referir-se que - o Unguento para o Voo das Bruxas - não é uma invenção da Idade Média! Nem tal podia ser. Os testemunhos escritos dizem-nos dessa verdade desde os primórdios.

Assim sendo, sabemos que já Lúcio Apuleio (século I d.C.), no terceiro tomo do seu «Asno de Ouro», no qual se refere acerca da bruxa Pânfila, que esta esfrega o seu corpo da cabeça aos pés com um unguento misterioso, entrando depois em convulsões extáticas, transformando-se num corujão e saindo a voar pela janela emitindo um piar horrendo. Ou seja, um espectáculo digno de Harry Potter...

Os Componentes: Antes de mais, as bruxas eram sobretudo «Mulheres Sábias», possuidoras de conhecimento de Botânica. Sabiam usar plantas perigosas - e poderosas! - tanto para curar como para alterar o estado de consciência. Não restam dúvidas de que elas próprias ingeriam plantas da família das Solanáceas (e outras) com efeitos psicoactivos.

É possível que tenham efectivamente desenvolvido unguentos com este tipo de plantas, muito embora as manifestações fabulosas e repugnantes que lhes foram atribuídas apenas tenham servido para serem denunciadas à Inquisição. Mesmo que o objectivo final fosse o da cura, não estariam a salvo desta tomada de posição eclesiástica que as punia em geral com a morte na fogueira.

Os Componentes do Unguento das Bruxas da Idade Média revertem provavelmente para uma tradição antiga. Existem indícios de que, as Ménades, se drogavam com Amanita-mata-moscas, Beladona ou Meimendro para efectuarem as suas orgias sagradas do culto de Dioniso ou culto dionísico derivado das festas dionísicas da Grécia Antiga de celebração sacrificial.

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O Voo das Bruxas: A teoria alucinogénia (ou alucinógena) do voo das bruxas na atempada referência histórica de um poder que só poderia ser advindo do Diabo. Mas seria mesmo assim...? Que saberiam as bruxas de então que as levava a levitarem, a se fazerem viajar através daquelas tão estranhas ou quiçá invisíveis asas ou, na actualidade, naquela esconsa e retorcida vassoura que muitos de nós desejaríamos ter só para observar (tal como um drone) tudo o que nos rodeia em campo visual mais abrangente...?!

A Teoria Alucinogénia  do Voo das Bruxas
O que a História nos conta, é de que os sábios italianos - Girolamo Cardano e Giambattista della Porta (1538-1615) - foram os primeiros a fazer um relato minucioso sobre o unguento das bruxas.

Era a época das ciências progressivas onde se faziam experiências sobre os efeitos das Ervas Psicoactivas. Foi deste modo que, Cardano e Porta, chegaram a uma «teoria alucinogénia» (ou teoria alucinógena) do voo das bruxas. Devido aos efeitos psicotrópicos das plantas utilizadas, intui-se que de facto não deveria haver um voo real, mas sim um arrebatamento espiritual (à semelhança talvez dos xamãs).

O Unguento ou ingestão de plantas criaria então a ilusão de se estar efectivamente a voar; ou seja, naquela transcendência psíquica que também existe no poder xamânico agora estudado.

Experiências auto-induzidas com o Unguento: Alguns cientistas mais ousados conduziram experiências auto-induzidas com unguentos de bruxas (hipoteticamente a indução perfeita que terá influenciado já mais tarde as experiências de Remote Viewing).

O Matemático francês, Pierre Gassendi (1592-1655) foi ao que se sabe um dos primeiros a efectuar estas experiências. Realizou-as com um determinado unguento - que continha Ópio - e que, segundo o próprio e em relato deveras efusivo e de grande emotividade, revelaria para a posteridade deixando esta experiência escrita sobre o que então presenciou das suas visões de voo.

No século XX, foi um etnólogo de Göttingen - Will-Erich Peuckert que segundo uma receita de Giambattista della Porta, se esfregou com um unguento de bruxas obtido mediante a mistura de Meimendro, Estramónio, Acónito, Beladona e Papoila, descrevendo depois a experiência da seguinte maneira:

«Primeiro, dançavam caras humanas terrivelmente desfiguradas à frente dos meus olhos. Depois, de repente, tive a sensação de estar a voar através dos ares ao longo de milhas e milhas. Este voo foi reiteradamente interrompido por quedas vertiginosas. Na fase final, vi a imagem de uma festa orgíaca com uma grotesca desordem sensorial.»

Também o biólogo Wilhelm Mrsich, que já na década de 1930 havia feito experiências com diversas receitas para um Unguento de Bruxas, viveu numa experiência auto-induzida o confronto com figuras diabólicas - e voluptuosas alucinações - as quais comparou à experiência sensorial de Tannhäuser no monte de Vénus.

Mrsich refere ainda ter experimentado (ou como agora se diz, experienciado) a sensação vívica de um voo até uma orgia de bruxas... mas se terá por lá ficado por muito tempo é que Mrsich não disse ou não quis dizer para que o não julgássemos provavelmente...

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A Festa Orgíaca das Bruxas. Ontem e hoje a mesma realidade. Será pura ilusão, invenção ou mera alucinação neurológica que, derivada e cultivada pelos psicotrópicos, nos leva a compor cerebral e cognitivamente uma efabulação magistral (ainda que enviesada e manipulada) através do contexto de unguentos de plantas e seus efeitos alucinogénios?!... Que se passará efectivamente (queremos saber), sem que tenhamos de negar o que esses efeitos revelam ou até extrapolam. Mas haverá algo mais para além disso???

O Acónito - uma planta muito estranha!
Um dos ingredientes de muitos Unguentos de Bruxas era também o Acónito (Aconitum napellus), uma planta extremamente venenosa! Contém o alcalóide Aconitina - um dos venenos mais fortes do mundo das plantas - o qual se encontra concentrado sobretudo nos tubérculos. Segundo a lenda, o Acónito nasceu da baba de Cérbero - o cão dos Infernos - quando Hércules o retirou do Inferno, no monte Akonitos, em Ponto.

Na Idade Média - o Acónito - era intensivamente plantado nos hortos dos Mosteiros. Segundo Alberto Magno, filósofo e teólogo alemão (1139-1280), esta planta ajuda a combater a Lepra. Doença esta, que se disseminou posteriormente por toda a velha Europa deixando um lastro horrendo de praga e epidemia ceifando a vida a muitos milhares de pessoas.

Nos Mosteiros a estatística foi menor, talvez derivada desta «santa ou demoníaca» planta que, pelo conhecimento havido sobre os seus efeitos e por parte dos monges, a terão utilizado como tratamento eficaz contra a Lepra.

Paracelso - o médico e alquimista dessa época (1493/94-1541) - utilizou esta planta como laxante (segundo dados históricos bem documentados). Hoje em dia, o Acónito - sob a sua denominação latina de Aconitum - é frequentemente utilizado como substância homeopática, sobretudo em casos de perturbações psíquicas tais como medos ou fobias.

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O Fascínio dos Rituais ou, a simulada brincadeira que pode sair cara a quem, displicente ou levianamente tenta chamar por espíritos que não compreende. No contexto dos unguentos as experiências podem ser fantásticas mas também tenebrosas. Mesmo na ciência médica há que tomar de cuidados sobre muitas das plantas e seus venenos.

No mundo vegetal ou animal, estes venenos e suas propriedades podem induzir a outras realidades; daí que haja de prevenção e até contenção sobre todos eles, ou em breve se entrará num círculo de uma espécie de dança do diabo e de bruxas, a qual muito poucos ou nenhum mesmo dela sairá...

Dicionário de Ervas das Bruxas
Existe um espólio (ou acervo) inacreditável sobre o que se pressupõe de um dicionário de ervas, derivadas das plantas, que eram habitualmente conectadas com estas mulheres e homens que se dedicavam a actos e práticas menos consensuais com o seguido pelos restantes, tendo sempre o afiado gume da Santa Madre Igreja (Inquisição) sobre todos eles. Já o dissemos.

Daí que não fosse muito fácil reunir este espólio; nem sequer em documentação. Mas a História contemplou-nos com algumas dessas transcrições do que hoje sabemos sobre os ingredientes dessas pomadas ou clássicas ervas das bruxas. Temos assim a Mandrágora (Mandragora officinarum); Meimendro (Hyoscyamus niger); Beladona (Atropa belladonna); Estramónio (Datura stramonium) e Acónito (Aconitus napellus).

Também o muco de determinados sapos - que pode conter alcalóides - como se disse inicialmente no texto sobre a utilização destes na inclusa sopa demoníaca, é identicamente referido como elemento de algumas pomadas que consignavam esse Voo de Bruxas. Ocasionalmente, era também utilizada a Papoila (Papaver somniferum) sendo esta referida como um dos condimentos.

Um dos Componentes Mais Importantes do Unguento era o Meimendro - pelo que se descobriu desta planta. A Planta do Meimendro tem flores amarelas ou amarelo-esverdeadas com veios violetas, sendo extremamente odorífera. O caule e as folhas estão cobertos por uma penugem pegajosa.

Os Egípcios há muito que conheciam esta planta do Meimendro. Assim como todas as suas propriedades. Mas também tanto na Grécia como na Roma Antigas, esta planta era quase divina, conhecendo-se a existência de mirabolantes poções mágicas que, enriquecidas pelo extracto de Meimendro, davam a mistela perfeita para as já referenciadas evasões do espírito ou das almas soltas que voavam e partiam para longe, mesmo que esse «longe» lhes fosse indescritivelmente indistinto...

Na Idade Média - o Meimendro - era empregue como remédio paliativo. Os elementos activos mais importantes destas plantas são os alcalóides Hiosciamina, Atropina e Escopolamina. É sobretudo esta última - Escopolamina - que provoca os tais efeitos alucinogénios.

A Beladona (a droga da «Bela Adormecida»): em latim, Atropa belladonna, que pertence à família das Solanáceas e está espalhada desde a Europa Ocidental até aos Himalaias (Ásia), é ainda hoje uma droga que é muitas vezes vista como, a droga da «bela adormecida», por estar constante e ilicitamente a ser utilizada para fins pouco ortodoxos.

(São por demais conhecidos os casos de gente sem escrúpulos que a utiliza para entorpecer e mesmo «desactivar» as faculdades normais da pessoa, físicas e psíquicas, deixando-a à mercê de outrem)

Sabe-se que, muito provavelmente desde a Antiguidade, que as suas bagas pretas são particularmente venenosas, pois possuem um elevado teor de alcalóides (hiosciamina, atropina e escopolamina). A partir das suas folhas obtém-se um extracto que é utilizado na Medicina como substância anti-espasmódica e vasodilatadora.

A Beladona anteriormente conhecida como «A Baga das Bruxas» é uma planta que sempre se desenvolveu em solos calcários de bosques e matas espessas, sendo por esse facto apelidada de «baga das bruxas».

Muito ramosa e plurianual, a Beladona pode chegar a atingir os 90 centímetros de altura. As suas flores vermelho-acastanhadas dão lugar a bagas pretas brilhantes. Todas as partes desta planta são venenosas. Curiosamente, os animais não as comem.

Outra curiosidade mas desta vez histórica, há a reportar que, por volta de 1305, sob o comando de Duncan I, os Escoceses aniquilaram o exército norueguês fornecendo-lhe comida envenenada com Beladona.

Para além da Escopolamina, o alcalóide desta planta com efeitos psicoactivos mais fortes é a já referenciada Hiosciamina. A concentração dos alcalóides é mais elevada nas sementes.

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Bruxas em Confraternização. Sempre perseguidas e comummente cingidas ao poder do mal, as bruxas evidenciaram sob a capa mais cruel e sinistra da nossa História Humana, os episódios mais sinistros e de repúdio total sobre o que então exerciam.

Bruxas e Hereges de todos os tempos...
São muitos. E desses tantos, existem alguns os quais a História não lhes fez justiça, ou por não haver a devida documentação que reporte esses factos, ou porque a crença humana assim quis numa espécie de amnésia colectiva pelo apagar de uma memória que lhes não era favorável.

Mas sabe-se de alguns: Dos demónios de Loudun às bruxas de Salém, entre tantos outros episódios nefandos, em que tudo é um manto negro de pressupostos básicos do satanismo em rituais terríveis de missas negras e magia diabolizante.

E tudo isso até aos nossos dias, sob tenebrosas práticas de Vodu e Magia Negra que, desgraçadamente de quem for o visado (ou contemplado com tão ardilosas manhas e assumpções de quem se quer vingar de algo ou de alguém) seja apanhado nestas malhas do mal...

De facto - A Caça às Bruxas e aos Hereges - foi imparável e muitas vezes execrável numa batalha sem fim. É o que a História nos diz... desde os infelizes Cátaros - movimento cristão de ascese extrema que foi eliminado por ordem papal (1243-1244) - até ao mais secreto inicialmente e mundano depois, prenúncio contemporâneo de médiuns, espiritualistas e afins.

E tudo num afã comercial ou mercantil daqueles que se dizem exercer afectos e influências sobre fantasmas (ectoplasmas ou materializações dos espíritos/corporizações) ou mesmo sobre  diálogos interactivos com quem já partiu sob a égide de um mundo paranormal impressionantemente cativante.

Em evolução ou não, estes factos acontecem. Ainda hoje. É apenas mais um nicho de mercado de prestação de serviços sem que se caia de novo na fogueira dos eclesiásticos; a não ser que estejam violações a menores envolvidos...

Para finalizar: Mesmo que não se tenha a honradez ou a mórbida excentricidade de aqui evocar as Grandes Bruxas da História, há que relativizar o que estas mulheres então fizeram. Não as julguemos, pois a História já o fez. Gostando-se ou não de bruxas, aqui vai:

Maggie Wall (1657, Escócia): foi queimada viva por ter sido acusada de actos de bruxaria. Sabe-se que terá utilizado o conhecimento das ervas e especiarias (que entretanto também vinham de outros lugares devido à forte mercantilização que começou a surgir dos barcos de então de Ocidente para Oriente e vice-versa), com fins medicinais - remédios naturais de então - tendo sido uma curandeira famosa. Pena é que essa fama apenas a tenha levado até à fogueira...

Catherine Montvoisin (La Voisin/La Voisine) em França - Paris (1680): condenada por envenenamento e feitiçaria, La Voisin foi queimada em público no centro parisiense da época, não mostrando arrependimento antes ódios e rancores, cuspindo impropérios e maldições para quem assistia a tão vil mas punitivo acto de justiça de se morrer na fogueira por actos de heresia e bruxaria. Foi uma das mulheres mais odiadas da História, pois sabe-se do seu envolvimento no manancial de infanticídio que cometia com o abade Guibourg.

A Morte rondava. Desde abortos a rituais satânicos em que se praticava o acto voluntário da morte sobre crianças, e as degolavam, bebendo-lhes o sangue. E a tudo a La Voisin participava, colaborando na hedionda celebração. Conhecia ervas, plantas e seus venenos. Pena que os não tivesse podido utilizar em seu proveito em menor agonia do que o ter sido engolida pelas chamas em praça pública de Paris...

Merga Bien (1603-1606, Fulda, Alemanha): forçada a admitir uma culpa que possivelmente não tinha - sobre inacreditáveis torturas que lhe infligiram até que se desse como culpada de actos tão criminosos como o ter matado um dos seus maridos ou ter copulado com o Diabo.

Foi assim que Merga Bien - assim como outras 200 mulheres envolvidas no grande julgamento de Fulda - se viu ser condenada à fogueira por práticas de bruxaria, não obstante estar grávida e ter insistentemente gritado ser inocente aquando se viu por entre as fagulhas de todos os demónios.

Ursula Sotheil ou «Mãe Shipton» (1561, Inglaterra): figura altamente controversa de quem por serviços prestados ou alquimias auguradas se manteve firme na convicção de que a Mãe Shipton era apenas uma profetisa de renome (tal como o médico francês Nostradamus), exibindo a sua sabedoria e poder mediúnico a quem a si recorria.

Não lhe valeu de muito, pois foi prontamente acusada de bruxaria devido à sua aparência física de grande fealdade (ou resquícios de alguma doença?) em denominações pouco felizes que a sugeriam ingratamente como «Cara de Bruxa» ou «Bastarda do Diabo». Alega-se que tenha previsto a Grande Peste ou o Grande Incêndio de Londres, pelo que após a sua morte muitos confirmaram ela os ter alertado para tal.

Marie Laveau (1881, Nova Orleães, EUA): A Rainha do Vodu. Ou seja, a grande seguidora da crença sincrética  que combina elementos do catolicismo e de religiões tribais africanas. Quanto a Marie Laveau, ainda hoje há quem a sinta e pressinta pelas esquinas de Nova Orleães, no estado americano do Louisiana (será que teve influência toda essa vertente-Vodu sobre o ainda distante à época, em 2005, furacão Katrina que tudo alagou sem misericórdia?!...).

Laveau utilizando ou não a Magia Negra, foi uma mulher que não recusava um pedido de ajuda ou auxílio sobre outras dores. Uma das noções fundamentais da religião do Vodu é a dualidade do Bem e do Mal. Talvez Laveau soubesse disso e jogasse com isso, tendo sido virtuosa e perversa, ambiciosa e generosa. Penso que Marie Laveau terá agido de acordo com os preceitos da sua religião, nada receando por parte dos deuses, pois faleceu de causas naturais ou comuns à velhice. Há quem diga que «Só os infiéis têm razões para temer a vingança das divindades celestiais»...

As Bruxas de Zugarramurdi (1610, Navarra, nordeste de Espanha): Cerca de quatro dezenas de mulheres foram julgadas e condenadas sem recurso algum (que as penas lhes comutassem ou o destino lhes não reservasse tão infernal fim) de terem sido acusadas, todas elas, de bruxaria ou feitiçaria. Todas conheciam o uso das ervas para a cura dos mais diversos males e doenças.

Na caverna também chamada de «Cueva de los Aquelarres», era onde se reuniam muitas mulheres do povoado e, onde se disse então, haver a existência activa de um bode/homem (vulgo demónio) que com elas copulava em franco desatino e alegoria orgiástica que com elas privava aquando essas secretas reuniões de muitas luas.

O destino foi fatal para todas, só não se sabe ainda com toda a exactidão possível é se, a que então foi a causadora/delatora destas reuniões - de seu nome, Maria Ximilegui - teve a mesma triste sorte ou foi presenteada com a vida por ter denunciado todas as outras...

Alice Kyteler (1280-1325, Irlanda): foi acusada de bruxaria e de ainda de ter envenenado o seu quarto marido mas conseguiu fugir às terríveis malhas da justiça, tendo por sua vez caído nestas o seu servo de nome Petronilla  de Meath, que foi queimado vivo no dia 3 de Novembro de 1324.

Anna Koldings ou «Mãe do Diabo» (1590, Copenhague, Dinamarca): Anna foi brutalmente acusada de liderar uma rebelião com o propósito de afundar o navio de James VI. Foi apontada como uma das principais causadoras desse evento, pelo que, sob criteriosa e horrenda tortura, ela confessaria tais crimes acrescentando ter sido com o auxílio de pequenos demónios (que ela supostamente enviou para o mar na tentativa de afundar a referida embarcação) que realizou tal feito. Foi executada na fogueira.

A Caça às Bruxas na Dinamarca continuaria. Aqui e noutros locais, regiões e países onde, por apenas haver um mau ano de colheita ou demasiadas tempestades que todas as sementeiras arrancavam ou empestavam, a culpa ser conotada e administrada por mão do Demónio - e  subsequentemente das chamadas Bruxas - que os chamavam para si.

Muitas mulheres não tiveram quem as socorresse, quem de si se abeirasse estancando tanta maldade. Existem muitas mais para quem nem o nome foi guardado na História. Por outras que ainda são recordadas... a mal ou a bem, por tudo o que ficou por dizer ou por demonstrar...

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Dia das Bruxas. A ocidental repercussão que teatraliza - e até enfatiza - este dia e esta designação que se estende por todo o planeta em Halloween fabuloso de características tão mundanas quanto generosas de se viver e reviver a cada ano que passa uma data que, estranhamente, se baseia sobre muito sofrimento e muita vida descarnada de sentimentos. Seja como for: Um Bom Halloween para todos vós. Mas cuidado, que as bruxas andam por aí... e não gostam de ser faladas assim...

Julgamentos de Bruxas
Os julgamentos de bruxas na Idade Moderna Europeia inclui muitos dos julgamentos aqui focados. O julgamento das Bruxas de Fulda, na Alemanha, ou os do País Basco, em Espanha, ou tantos outros que, pela circunstância da realização/divulgação da sétima arte em produção cinéfila ficámos a conhecer mais plenamente pelas «Bruxas de Salém» do que efectivamente se passou em 1692, nos Estados Unidos, que resultou na execução de 19 pessoas.

(Mesmo não havendo uma listagem fidedigna dos números certos que nos determinem quantas execuções se facultaram, há a quase certeza de que oscilaram entre 40 a 50 mil execuções por toda a Europa. No entanto, continua a haver casos de pessoas acusadas e, executadas, devido a exercerem actos de bruxaria/feitiçaria).

Existem listas e países que assim o confirmam. As de ontem e as de hoje. A lista é infindável. Ou talvez inenarrável sobre o tanto que sofreram e continuam a sofrer com justa causa ou não.

Desde a Antiguidade até aos dias de hoje, existe o conhecimento de que muitas outras mulheres foram torturadas até à morte, afogadas, enforcadas, decapitadas, queimadas e dilaceradas em corpo e alma, nome e destino, punição e grande aflição (reconhece-se) sobre um rol de acusações nem sempre credíveis ou palpáveis para tão triste fim.

Oficialmente, no mundo contemporâneo, o único país do mundo onde casos de bruxaria são indefectivelmente considerados crimes - previsto no Código Penal - é a Arábia Saudita (este mesmo país onde só há pouco as mulheres tiveram direito a exercer livremente o acto de conduzirem o seu próprio automóvel).

Não me compete contudo fazer juízos de valor, diabolizar ou conceptualizar em termos jurídicos e legais sobre o que a História de outrora executou; ainda que pendente também sobre actos tão horríveis e tão abomináveis cingidos às mulheres ditas bruxas.

No entanto, nada do que essa mesma História nos revelou nos será indiferente, impondo-se uma outra realidade no actual contexto desta sociedade moderna que exultamos.

Ou mesmo, por insistência, à luz desta Nova Constituição Mundial dos Direitos Humanos do século XXI, investido nessas quase duas centenas de países constituintes em registo da ONU (mais exactamente 193 Estados-membro) -  na autoridade que tem de demonstrar sobre quem possa exercer ou não e, ainda, estes tão inusitados actos voltados contra si.

Ou seja, em deposição ou destituição de uma lacuna existente até aqui, sobre um regime legislativo que se tem verificado quase inexistente ou até contemplativo versus condescendente (ou mesmo liberal, roçando uma certa anarquia, se tivermos em conta que ainda hoje se fazem actos de bruxaria, feitiçaria, magia negra, vodu, etc. sem grande punição à vista) em face ao ilícito dos mesmos.

(Já ninguém vai para a fogueira mas, ainda assim, são recriminados esses actos e muitas vezes punidos pela lei se prevaricam ou prejudicam alguém).

De registar que, a ONU - a Organização das Nações Unidas - em 2013, se pronunciou sobre casos de execução de pessoas sob a acusação de bruxaria na Papua Nova-Guiné, exigindo mesmo do governo do país a derrogação da chamada Lei de Bruxaria promulgada em 1971. Ainda de acordo com dados da Amnistia Internacional são registados em média e, por ano, 150 execuções no mundo devido a acusações por bruxaria.

Pelo que aqui se retrata é de ver que este tema se não esgota. Nem podia. Quanto às Bruxas e à sua existência, em termos gerais de uma globalização ou gentrificação multi-pluralista de tudo se poder fazer sem ser lançado às chamas, elas existem, tal como existem por aí tantos e tantos hereges (à parte a religiosidade de cada um ou falta dela) segundo padrões que não entendemos e não aceitamos na sociedade moderna em que nos encontramos.

Todavia, elas continuam a exercer esse direito e essa prerrogativa - só não se sabendo se, mesmo fora dos dias em que não são Dias das Bruxas, elas andem efectivamente por aí, nesse seu estranho, oculto e algo disfuncional (ou aberrante) Mundo Secreto das Bruxas! Para finalizar: Que seja um Feliz Dia das Bruxas!!!

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