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quinta-feira, 8 de março de 2018

Mutilar uma Vida

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(Foto da UNICEF/Kate Holt) - Fátima, é o seu nome. Com apenas um ano de idade foi submetida à mais horrenda intervenção física que existe ainda em certos núcleos fechados das comunidades islâmicas que, interpretando mal o Corão, destinam às mulheres (de bebés à mais extensa idade madura) o vil acto da excisão ou MGF - Mutilação Genital Feminina.

Para quando uma intervenção da ONU mais dura e mais eficaz sobre os desmandos absolutamente contrários aos Direitos Humanos - em particular os Direitos das Crianças e Mulheres - que as mutilam para toda a vida...? Para Quando uma outra intervenção, política e globalizante, que termine com estes abusos...? Para Quando???

A ONU Alerta: «Poderão estar sujeitas à Mutilação Genital Feminina (MGF) mais de 15 milhões de mulheres até 2030!» Segundo o Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Al-Hussein: "Embora a Mutilação Genital Feminina pareça estar a diminuir em todo o mundo, este não é o caso na Guiné (em particular na Guiné-Conacri), onde a prática é generalizada em todas as regiões entre todos os grupos étnicos, religiosos e sociais".

                                                    Dia Internacional da Mulher???   
8 de Março: O Dia Internacional da Mulher. Só o afirmá-lo assim nos confrange, nos diminui e nos emparcela naquela imbecil ou energúmena lista (não a de Schindler, mas outra) desta era moderna que se diz contemporânea e agora do Antropoceno, em que a Mulher - menina, mulher ou idosa - se vê confrontada com o mais arrepiante acto de ablação de toda a sua vida: A MGF ou Mutilação Genital Feminina!

Triste sorte o nascer-se em África ou na Ásia - ramificas ambas pelo mundo inteiro - sobre nações que seguem os ditames de um deturpado Islão (no que o Corão em nada refere mutilação genital!) e de uma crença que extermina desde logo à nascença o direito a ser-se Mulher: o direito a ser-se feliz ou a ter prazer sobre o prazer da vida e não morrer, em muitos casos, logo após tão castradora ou medonha mutilação genital em larga infecção, hemorragia e septicemia generalizadas.

Quem tem o direito de Mutilar uma Vida...? Quem se arroga no direito de extirpar algo que nos pertence, a Nós, Mulheres, seja em que país for, seja em que religião se induzir, seja que dogma seguir, se todos os direitos nos são coarctados sem que algo ou alguém mexa uma palha para tal mudar???

Quem protege estas meninas que o deixam de ser após tão cruel acto sanguinário...? Quem não protegeu ou salvou esta menina - Fátima - como tantas outras que, no exercício desta minha escrita no momento, se encontra (mesmo que do outro lado do mundo na zona mais inóspita ou por entre as cerradas fileiras comunitárias de uma qualquer cidade ocidental) se vê a esbracejar, a gritar e a ser ferozmente mutilada sem que ninguém a socorra, sem que ninguém vá em seu auxílio?!

Quanta vergonha, quanta negligência fatal e indescritivelmente pecaminosa temos todos nós em não o estancar, em não o penalizar mais, na que se supõe uma das mais abomináveis leis da Humanidade (regida por uma religião que, não a induzindo, se traduz em práticas abusivas), sendo assim considerado pela lei ocidental «Um dos Maiores Crimes do Século» perpetrado por mãos humanas.

Mãos essas que deveriam amparar e não excruciar, tecidos moles e direitos humanos, no eterno dever humano também de se cuidar e, preservar, o que de melhor se possui na Humanidade: maior humanidade, maior compreensão e sapiência para que tais actos não fiquem impunes ou se estatizem, estabilizem e perpetuem - ad aeternum - sem que algo se faça de contrário...

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Meninas que ainda sorriem (terão esquecido ou será só para a objectiva do fotógrafo?), meninas que são também pelo mundo ocidental esquecidas nesta hedionda prática ancestral que se realiza a todos os dias, a todas as horas ou instantes, em que se escreve sobre esta atrocidade, nada se fazendo entretanto para que se salvem estas e outras meninas, almas que choram por dentro no sorriso que revelam por fora...

«Cobrir o Mato»...
A expressão é vaga mas quem a pronuncia, conhece sobejamente esta realidade. Fatumata Djau Baldé é uma dessas pessoas. Segundo uma entrevista concedida ao jornal Expresso, em 2016, a Presidente do Comité Nacional para o Abandono de Práticas Tradicionais Nefastas à Saúde da Mulher e da Criança (fundado em 1995) - organização guineense que se juntou à campanha «O Direito a Viver Sem Mutilação Genital Feminina» - sabe-o bem. Sentiu-o na pele e no coração ao também ela ter sido mutilada em menina. Ao também ela ter sido uma vítima da MGF.

Hoje, fazendo parte desta organização em lugar cimeiro, está vigilante e obreira na contenção destes actos, procurando evitar assim que as meninas sejam levadas para África (por ar ou por mar) mas também de entre as etnias guineenses que se encontram radicadas/residentes em Portugal.

A Guiné-Bissau continua a exercer estas práticas numa contenda absurda como se estivessem nos países de origem. Não sentem que estão a cometer o acto mais insano da História e, nos dias de hoje, o que se lamenta. Urge tomar medidas; urge «Descobrir o Mato»...

Na Linguagem Africana, o dizer-se «Cobrir o Mato» é a imposição obrigatória desde tempos ancestrais do que se não deve fazer no comportamento inverso do «Descobrir o Mato», como se o tempo passado na selva fosse interdito a «tudo o que viram tudo o que viveram, no período em que estiveram no mato, tendo de ficar para trás e ser esquecido» segundo as palavras de Baldé, que aquiesce que esse passado não é para ser falado e, sendo-o, estar-se-à a violar um dos mais sagrados princípios da sua tradição e cultura. Fatumata D. Baldé reitera ainda:

"Vivem cá (em Portugal) como viviam nas tabancas (aldeias africanas) onde não chega nenhuma informação, em que não se sonha sequer falar no Direito da Mulher, quanto mais falar de abandonar uma prática que faz parte da sua identidade cultural".

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A Imagem do visualizado mas sufocado horror (não ver, não falar e... muito mais...):Calar o medo, silenciar a dor e a mágoa de só por se ter nascido mulher, ter de se sacrificar - em África, no Médio-Oriente, na Ásia, ou nos 50 países do mundo onde se pratica ainda hoje a Mutilação Genital Feminina ou brutal excisão. Para quando uma investida à escala planetária de todos estes abusos sobre meninas e mulheres, indeferindo o direito a sê-lo, a ter prazer, ou somente a ser mulher sem cortes e ferimentos no mais íntimo do seu ser, da sua alma???

Estimativas da ONU e não só...
Ainda segundo a ONU, há cerca de 200 milhões de mulheres mutiladas genitalmente no mundo. Na Guiné (em particular na Guiné-Conacri, segundo designa um relatório de 2016 desta organização das Nações Unidas), resume-se que 87% das mulheres e meninas com idades entre os 15 e os 49 anos passaram pela MGF, apesar da prática ser proibida pelas leis nacionais e internacionais.

Na Guiné-Bissau, aquela que fala a língua de Camões (por muito que por lá se oiça também a língua francesa) e foi até Setembro de 1974 uma colónia portuguesa, só em 2011 a MGF foi considerada Crime Público. Mais vale tarde do que nunca, lá diz o provérbio.

A situação é de uma calamidade tal, que por mais esforços que se façam em fervorosas campanhas de esclarecimento e mesmo sobre o estanque (passado a pente fino por um filtro de identidade) nos aeroportos e portos marítimos sobre crianças que possam ser levadas inocentemente até à África para que se cometa esta prática, há sempre fugas, há sempre, inevitavelmente, quem consiga fazê-lo fugindo às malhas da justiça.

Na Guiné-Bissau a prática de MGF atinge os valores absurdos de 44%, (situando-se nos 30% nas meninas até aos 14 anos de idade) o que por si demonstra o muito que ainda há a fazer neste sentido.

Em Portugal, os esforços têm sido hercúleos para se acabar com semelhante prática, reverbera Baldé, segundo intuímos do que tem levado a cabo nas comunidades guineenses aqui residentes.

Imigrantes vindos da Guiné-Bissau (mas não só) estimam esta realidade. Uma realidade que punge e se estende a outras etnias e comunidades, tais como o Senegal, Egipto e Somália, onde essa prática do MGF se realiza em comunidades islamizadas. Nas da Guiné-Conacri esta realidade ainda é mais negra, factualmente negra, em que só por se ter nascido mulher, há a obrigatoriedade inclusa de se ser excisada. Na Indonésia também. Um horror!

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O processo é de arrepiar os mais insensíveis. Com lâminas de barbear, navalhas ou facas na brasa para o efeito, a tortura - medieval - não tem mesuras na dor excruciante que impõe. E quem o pratica, em irrefutável requinte de malvadez, sadismo ou exibicionismo da dor de outrem, revela-se superior ou portentoso que nem o Santo Ofício da Idade Média, na mais temível Inquisição Espanhola do inquisidor-mor, Torquemada.

Os tributos e as acções desta terrível prática não consegue ter mais adjectivos nem sobre quem o faz nem sobre quem o admite, ainda hoje... Muitas destas práticas, sabe-se, acabam em morte... após muito e muito sofrimento havido... (Que fogueira de maldição é esta então, pergunta-se?).

As «Puras» Fanatecas...
Há quem lhes chame as «Bruxas de Salem» numa versão ocidentalizada agora de uma ancestralidade que nada tem a ver com este epíteto titular. Estamos perante as mais orquestradas mulheres que nada temem nem afligem sobre a dor de outros.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) identificou já quatro tipos diferentes desse procedimento «protocolar» cirúrgico das tais Fanatecas que, de mãos nem sempre lavadas ou esterilizadas (assim como dos seus instrumentos de incisão) tudo deixa muito a desejar.

E isto, desde o corte total ou parcial dos Órgãos Genitais Externos da Mulher, até outras intervenções tais como a Punção ou a Queimadura. Como disse anteriormente, penso que nem o mais ímpio inquisidor, tal como o espanhol Tomás de Torquemada (do século XV) o faria com tanto gosto... com tanto «aprumo» torturador...

Voltando às Fanatecas: Praticam-no como quem degola uma galinha ou um porco (o que por si já me repugna e enoja de sobremaneira) e, por entre o suplício de gritos aflitivos do autêntico terror vivido, ainda se dá ao luxo de, muitas vezes, esbofetear, sufocar - ou até amedrontar - estas meninas ou mulheres, dizendo espalhar por toda a aldeia ou comunidade de que se não foi honrada o suficiente para abafar os gemidos ou a lancinante dor havida...

Em Portugal, as ditas Fanatecas começaram por ser importadas da Guiné-Bissau, uma vez que os laços portugueses com os países lusófonos, os PALOP, sempre foi de franca bonança e, vizinhança, sem se importar muito com a prática ou com os estragos (pelo menos até 2010, onde a acção desta prática começou a ser bloqueada pelas entidades oficiais portuguesas mais em rigor).

Tudo isto derivado não só a um maior conhecimento mediático, mas, ao explanar de situações terríveis que começaram a chegar aos hospitais públicos ou privados, na denúncia óbvia por parte dos médicos sobre leis que têm por direito defender as crianças e mulheres indefesas, venham elas de onde vierem.

A desgraça alheia passou a ser uma proibição; ou seja, ainda que tal estivesse já na lei portuguesa, a fiscalidade não se fazia. Mas ficou mais apertada. Daí que hoje se tente por outros meios fazê-lo sem que haja complacência ou opacidade sobre quem prevarique... e mutile assim a vida de uma inocente.

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Uma imagem que não precisa de palavras. Mas que têm de existir, que têm de dar voz a quem não a tem, mesmo que entrecortada pelo grito da dor, da revolta ou da inacção das autoridades que muitas vezes compactuam com estas situações. Na Serra Leoa (África) as mortes de crianças após este acto de excisão são às dezenas ou centenas, sem um número preciso, pelo que as autoridades o escondem do resto do mundo. A Ablação do Clítoris (ou Ablação do Diabo, como outros lhe chamam...) assim é, efectivamente, pois que dúvidas não há sobre isso...

«É difícil vê-la gritar assim, mas é a tradição!» (Quem o diz, é um pai muçulmano durante o infame ritual da excisão, que, tentando amenizar os gritos da bebé e da cerimónia em questão, coloca música local). Quem assiste, parece impávido e insensível à dor da bebé indonésia...

(Pela impressionabilidade da imagem não a coloquei, não vendo razão para aumentar ou ferir mais a susceptibilidade de quem me lê. As imagens expostas já são cruéis quanto baste para que se utilizem bebés... daí que não o faça porque, simplesmente, não consigo).

Ou seja, na Indonésia o caso é igual. As Bebés, em idade latente ainda, são morbidamente mutiladas nos braços das mães, em que o clítoris ou pequeno capuz clitoriano lhes é arrancado a sangue-frio, ou seja, sem qualquer tipo de anestesia. E ainda com o beneplácito dos progenitores que fazem deste ritual uma quase orgia cerimonial votiva de deuses menores ou diabos à solta.

(E, em que a incumbida da excisão ou circuncisão tradicional - para mim carrasca-mor da coisa - pegando nos pequenos pedaços de tecido clitoriano da bebé,  os crava num limão com a sua faca ou estilete assassino em ritual muçulmano de autêntico terror). Descrevê-lo é inimaginável, vivê-lo então, terá sido um autêntico filme de terror. Adiante.

Esta prática da MGF, na Indonésia, é concebida há várias gerações neste país - um dos países mais populosos do mundo no seio asiático -  em que para muitas famílias é um ritual obrigatório. Por imposição/condenação da ONU, Jacarta tenta travar estes ímpetos religiosos, não sem alguma resistência por parte das famílias indonésias deste arquipélago do sudeste asiático que tentam manter irredutivelmente a pretensão destas práticas - e sobre esta lei que as condena, às MGF`s.

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Sufocar, Calar, calar sempre o que os mitos e as consequências provocam, na oscilação premente de quem não sabe destrinçar nem uns nem outros na valência exacta do que se deve ou não seguir em rituais ancestrais ou obrigações morais para com o seu esposo ou mesmo o resto da família que também penaliza, caustica e põe à margem quem o não pratica. Mudar mentalidades é preciso, mas não é tarefa fácil...

"A Mutilação Genital Feminina não é apenas extremamente prejudicial à saúde e bem-estar de mulheres e meninas, mas também é um acto de atroz violência e sem justificativa possível!" (Zeid Al-Hussein, Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos)

Mitos e Consequências
A MGF como rito de iniciação ou acto/processo feminino de grande dignidade, como é o caso na Guiné-Conacri, em que é vista por estas comunidades como algo a estabelecer-se e a desenvolver-se - sem retracção - pelo que, não havendo este ritual e esta excisão nas meninas, elas são postas de lado.

O Grande Mito nestas Comunidades é o de que, não tendo passado por este ritual e esta prática, já não serão boas parceiras, exímias companheiras conjugais, não reunindo assim a condição primordial de facultar prazer ao seu marido nas relações sexuais, sendo por conseguinte uma mulher impura, suja.

Registe-se que, a pressão no seio da comunidade é tanta, que, muitas meninas, acabam cedendo ao medo e ao terror por outros ainda maiores de se verem ser excluídas daquele seio e de um futuro para si. São vistas como «indignas», como cobardes ou simplesmente desinteressantes...

Sobre a Lei Islâmica - Corão - a perspectiva da mulher sobre uma sua identificação no futuro, além da já referida conjugalidade conspurcada (podendo esta ficar solteira para o resto da vida), detém que a mulher não excisada não é pura para praticar a lei islâmica, estando imediatamente excluída de preparar ou cozinhar alimentos para pessoas puras, sobretudo no período do Ramadão.

Mas a escalada de horror não termina aqui: Muitas Mulheres após esse ritual ou prática inenarrável de dor, hemorragias e infecções que sofreram em meninas ou ao longo da sua escassa vida ainda, irá terminar na mais abstrusa consequência desse acto da MGF: a impotência de sentir prazer sexual, além de, muitas vezes, em sequência de feridas subsequentes, não poderem vir a ser mães - inférteis portanto; ou, não o sendo, o acto do parto poder-lhes ser fatal.

Num dos tipos de MGF (preparem-se para o horror, meninas) nos dias que antecedem o casamento ou matrimónio anunciado pelas famílias (ou mesmo no próprio dia em que este é consumado), a noiva indicia um processo de autêntico terror, mais um: A abertura vaginal é-lhe tapada. Nem dá para acreditar neste tipo de situação.

(A traumatologia hospitalar está cheia destes casos, o que ensandece, por vezes, toda a comunidade médica ocidental sem nada se poder fazer de contrário. Mas continuemos na evocação demoníaca deste macabro ritual de uma simples noiva que teve o azar de nascer num sítio errado, à hora errada e numa errada religião que muitos não sabem ou não querem melhor interpretar por lhes convir melhor assim... )

Finalizando o horror: A faca com que foi cortada passou pelo lume primeiro... (imaginam o horror?) e depois, sim, porque há mais nesta diáspora digna de um filme de terror, a noiva ainda tem de cumprir as suas nupciais obrigações tendo relações sexuais nesse mesmo dia com o seu agora marido. Algo que na ocidentalização nupcial seria um registo de absoluto estupro e doentia violação dos Direitos das Mulheres.

Nestas comunidades o ritual é um mimo de cerimónia, resistência e autenticação, do que é ser-se mulher. Ou, do que em mais lúcida observação e conceptualização ocidentais se reconhece ser-se mulher (ainda!) neste planeta... mais do que um absurdo, é a legitimidade do que fazem e fingem não saber, por parte das entidades governamentais que não mexem um dedo para tal anular; mesmo que a lei a isso imponha...

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Quem salva estas meninas, quem??? Na Guiné-Bissau ou em qualquer parte do mundo onde, o ser-se Mulher, é sinal de Tortura, Dor, Sofrimento, Mágoa, Solidão, muitas lágrimas e muita incompreensão por quem no mundo - em particular a ONU - deveria proteger. Os meios são escassos e ineficazes, afirmam, pelo que as autoridades locais se não fazem cumprir em desvelo da lei internacional que proíbe a MGF. Que fazer então??? Ficar de braços cruzados ou Agir?!

A Taxa de Mortalidade Infantil
É sabido - e com muito orgulho! - que Portugal está nos píncaros de um honroso lugar na taxa ou estatística de baixa mortalidade infantil (ou pré-natal) abaixo de países que se dizem soberbamente desenvolvidos e sem défices económicos estruturais de relevância. Mas não é assim nestes países e compreende-se porquê. Do tanto que já se disse, é só tirar conclusões por si mesmos...

A Taxa de Mortalidade é mais elevada nas zonas onde se pratica a MGF como é óbvio. Os números falam por si (mesmo que muitos destes países o não franqueiem ou determinem em dados estatísticos, segundo as suas convicções e falta de acção das autoridades judiciais se fazerem cumprir na lei que condena esta prática).

Os níveis de HIV são também extremamente elevados, regista-se (havendo a certeza da contaminação e proliferação do HIV por indução de uma faca ou utensílio usado vezes sem conta em inúmeras mulheres sem esterilização prévia). O acompanhamento durante a gravidez também não é um ponto forte nestas mulheres que tudo deixam ao acaso da Natureza ou, de um Deus maior, que as proteja de algo ainda mais penoso e mais castigador sobre o seu género ser feminino...

A Fístula Perineal ou Fístula Períneo-rectal (uma comunicação patológica entre duas superfícies epiteliais) é uma constante nestas mulheres, ou seja, existe um número supostamente elevado de mulheres que sofrem desta patologia num pequeno canal que se desenvolve entre o final do intestino - ou canal anal - e a pele perto do ânus. (A fístula perineal é, em muitos casos, uma consequência directa da MGF).

Este abscesso anal ou perianal que ocorre na zona rectal vai gerar então uma infecção sintomática (numa colecção purulenta, ou de pus, que se forma na região rectal) que, para ser eliminada, tem de ser obrigatoriamente drenada e tratada convenientemente. Ocorre muitas vezes após o parto destas mulheres, sendo que nem o tratamento imediato nem o conhecimento para a erradicação da mesma (patologia) se verifiquem, pois os recursos nestes países são sempre limitados.

Uma vez mais, ostracizadas e estigmatizadas, sendo até consideradas indignas, estas mulheres são muitas vezes abandonadas pelos maridos que se queixam delas cheirarem mal (pois não controlam a urina e as fezes) e, assim, não os deixarem cumprir com as suas «obrigações sexuais», votando-as à mais completa solidão, desamparo e destruição de personalidade, sentindo que falharam na sua «missão» de mulheres e mães. Que maior tragédia lhes poderá acontecer mais...???

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Por todo o mundo soam as vozes em grito selvagem, em grito de uma revolta que nem todos sentem, que nem a todos convence, por razões e intuições que nos deixam a todos incomodados, sobre a quem se reverterá tal ganho, tal displicência humana ou indecorosa indecência de uns sobre outros e todos os seres humanos...?

Quem nos fez ser tão desiguais e tão humilhados ou tão castrados assim sobre princípios, regras e obrigatoriedades que não são de ninguém, de nenhum Deus, de nenhum Homem de nenhuma força viva do Além...? Quem nos fez tão obtusos quanto medíocres na dor de outros, na ablação de direitos e convenções em estúpida e cruel hegemonia?! QUEM??? POR QUEM OU PORQUÊ???

MGF no Mundo
Em Primeiro está a Somália. Em Segundo, a Guiné-Conacri. Em Terceiro, o Senegal com uma quota de 25% na estatística apresentada da MGF. Uma calamidade humana que não pára por aqui. A lista continua...

Em quarto lugar, vem um país que tem a quota de 38% nesta escala, e que muitos de nós mal conhecem mas se dá pelo nome de Costa de Marfim (e sim, até já representou o Mundial de Futebol com bravos e ilustres guerreiros de bola nos pés mas sem cabeça para mudar mentalidades sobre as suas mulheres, filhas e netas, que mães já tiveram a igual sorte ou desdita de os parirem em maior dor do que no Ocidente).

E no final da tabela, desta triste tabela, está a Libéria com uma quota de 50%. (Que infelizes mulheres estes povos têm! E pior, não haver ninguém ou algo que tudo transforme e os auxilie, a eles e a elas, nessa contraposição...).

Em relação à Guiné-Bissau (o único país lusófono onde esta prática é realizada), Fatumata Djau Baldé, acrescenta que se estão a incrementar medidas, fomentando e, incentivando até, a denúncia sobre estes casos em que a MGF se cumpra às escondidas.

Os técnicos de saúde estão a ser formados para lidar com essas situações (em maior rigor nestes últimos anos de grande insurgência ou subversão contra a até aqui instituída prática da MGF), no que se tenta ensinar agora a identificar também melhor os casos de mutilação genital.

Havendo uma grande influência islâmica ou muçulmana na região da Guiné-Bissau, implementou-se nas escolas um módulo sobre a MGF em circulação nestas, introduzidas no curriculum escolar.

Existindo já uma grande sensibilização contra a prática da MGF nas comunidades - contando-se inclusive com a prestigiosa ajuda dos seus lideres religiosos muçulmanos que mantêm grande influência no terreno - há a certeza de nada ficar como dantes.

Desde 2013 que, 200 Imãs de toda a região, na Guiné-Bissau, se investiram nessa causa de parar com as MGF`s, criando uma «Fatwa» (decreto islâmico); ou seja, um decreto a condenar a prática da MGF em nome da religião. As já mencionadas Fanatecas, hoje ex-Fanatecas, registe-se em bom tom, estão também a colaborar com as autoridades em influência e comunhão para a mudança de mentalidades e sequenciais práticas que elas próprias executavam ou exerceram no passado.

Existem panfletos espalhados pelas comunidades, existe informação, mas quem os lê afinal se a taxa de iliteracia é tão grande quanto a pobreza instalada...? Algo que nem Baldé nem o mais sábio poderá ou saberá responder, talvez por se saber de antemão a resposta... (impotentemente, Baldé ainda nos diz em jeito de pergunta sem resposta: «Quem sabe ler nas tabancas...?).

Sabe-se entretanto que de entre mais de 2000 tabancas ou aldeias africanas que existem na Guiné-Bissau, só 500 foram abrangidas por estas «sessões» de esclarecimento. Como ela própria assume:
«Ainda temos muito por fazer».

Pois têm, reconhece-se. Mas Roma e Pavia não se fizeram num dia, ou seja, já um grande passo foi alcançado, mesmo que se saiba que outro tanto há por fazer, intui-se, dando-se os parabéns desde já a Fatumata Baldé por acreditar que tudo é possível ainda; a bem de se parar também esta mal-formada corrente de infelizes meninas ou sobre quem lhes rouba não só a meninice, mas toda a felicidade da vida por viver...

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Dia 6 de Fevereiro de 2018: o dia e o mês no presente ano de 2018, advogado pela ONU, como o dia «comemorativo» - ou mais exactamente ilustrativo - do Dia Mundial da Luta contra a Mutilação Genital em meninas e mulheres, no que contabiliza já cerca de 200 milhões de vítimas que já foram excisadas ou sofreram qualquer outro tipo de intervenção baseada na MGF (mutilação genital feminina).

OMS versus ONU (juntas ao ataque...?)
Segundo estimativas da OMS (organização mundial da saúde), entre 130 a 140 milhões (mas há quem afirme serem na verdade já perto dos 200 milhões ou mais...) de meninas e mulheres - em rácio absurdamente lastimável no planeta - de pessoas que se encontram excisadas presentemente, do que no passado em infância atribulada, viveram de uma intervenção de MGF, em maior ou menor sequência, escala e sofrimento, de um qualquer tipo de Excisão ou Mutilação Genital Feminina.

Segundo criteriosos dados da ONU, três milhões de meninas morrem por ano ou, a cada ano que passa, no decorre deste triste fenómeno de massas que se auspicia sobre a tutela de uma religião muçulmana, poderosamente activa sobre os seres do género feminino. Além de discriminatório é criminoso!

Na Arábia Saudita as mulheres já podem conduzir, Urra! (Parabéns para elas e para o seu jovem líder governante que assim catapultou para a antiguidade leis e medidas quase obscenas contra as mulheres), mas tal não chega, é pouco ainda... muito longe do que se passa por ente as suas casas, sejam elas rasas sejam em altos edifícios sumptuosos nesse vislumbre do que o petróleo pode comprar...

Na América, os movimentos «Mee Too» proliferam como cogumelos devido ao assédio por parte do género masculino, queimando-se as «badalhocas» francesas que o não seguem (com a cabeça da Catherine Deneuve no cepo, mais a sua polémica carta) por se não juntarem à causa e até esta lhes ser distinta. Mas, em prol de uma civilização mais uniforme e mais consciente e informada, o que se faz por estas meninas  de verdade?

Que rebelião maior será essa (porventura muito maior do que usar vestidos negros nas cerimónias de altas vaidades de galardões e insultos, champanhe e fastio) a quem se lhes extrai o clítoris como se fosse uma carraça interna do corpo? Quem faz justiça a quem a não tem???

Será que tudo isto basta...? Campanhas de Consciencialização bastam...? Não o sabemos. E afligimo-nos por tal, sabendo que tudo poderá ser efémero e tão inútil quanto o inocente  desejo destas infelizes meninas de que tudo acabe depressa e bem. Conseguiremos tal???

Urge o combate e o incentivo de campanhas de elucidação às populações sim, mas, acima de tudo, legislação efectiva e punitiva, caso alguém desobedeça à lei e à prerrogativa desobedecidas.

No Código Penal do Chade, a pena de prisão por cometer MGF vai de um a cinco anos, além de uma multa até 100 mil francos chadianos, ou seja, cerca de 200 dólares.

Para quando então uma maior intervenção das Nações Unidas, questiona-se? Porque são todos e tantos os loucos deste mundo que comandam os destinos e as agruras de uma vida mutilada, excruciada e malfadada que a todos depõe como culpados, como inactivos, como gnomos de uma enorme floresta humana que nada reproduz mas infecta e perece... Para Quando ONU???

(Não basta parabenizar o movimento Mee Too, no Dia da Mulher, há que agir em conformidade ou estarei errada?!) Assediar é pior que violar, matar e mutilar toda uma vida??? Não me parece!

E já agora, antes que me esqueça... Um Dia da Mulher Muito Feliz. Para Todos. Para os que conseguem ainda dormir descansados ou sonegados desta outra realidade de não terem nascido em solos e céus em que se pratica - ainda! - a MGF. Para esses e para todos os outros, que este Dia Internacional da Mulher vos não tire o sono...

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