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terça-feira, 27 de abril de 2021

Chernobyl: a terra maldita

 

Chernobyl (Ucrânia): uma região maldita que muitos alegam jamais vir a ter futuro, tendo sido automaticamente abandonada e ostracizada mesmo passados 35 anos após o já considerado por muitos como o «Pior Desastre Nuclear da História!»

As consequências, ainda por determinar, exalam um pestilento fedor de indignação e muita altercação sobre o muito que ainda se esconde - ou tenta ocultar - não só das causas que levaram a esta terrível tragédia, como, aos indubitáveis e para sempre indomáveis efeitos colaterais da catástrofe que se farão sentir durante longos e dolorosos anos e a vários níveis: Ambientais, Sanitários, Políticos e Económicos. A Ucrânia tem uma extensa ferida por sarar mas o resto do mundo também!

Às Primeiras Horas do dia 26 de Abril de 1986, o núcleo do reactor 4 da Central Nuclear de Chernobyl, na Ucrânia (e ainda em plena era soviética), entrou em fusão e explodiu sem que tempo houvesse para o evitar. No cômputo geral, um dia marcante pelas piores razões que ceifaria cerca de 12.500 vidas (segundo os dados oficiais das autoridades ucranianas em 1998) e mais de 200.000 deslocados.

Lamentavelmente, o mundo evoca hoje esta efeméride com muita tristeza mas também alguma incerteza sobre esta avassaladora ocorrência nuclear de há 35 anos e que, ainda não vê mensuráveis e depostas responsabilidades, exumadas nas consequências deste acidente sem precedentes.

O fim foi de facto trágico: Uma explosão no reactor nuclear que vitimaria cerca de três dezenas de pessoas (em números oficiais) e o adensamento de um Nuvem Radioactiva que se espalhou de imediato, contaminando de forma absolutamente indescritível os céus europeus - mais concretamente na Europa de Leste e Central - tendo a Ucrânia, a Bielorrúsia e a Rússia sido os países mais fortemente atingidos.

É do conhecimento geral à época que muitos animais tiveram de ser abatidos devido à tóxica emanação disseminada no ar (em particular na Finlândia, país fronteiriço), sabendo-se também do alastrar da radioactividade que chegou a ser detectada na Irlanda. Como se calcula, o pânico foi geral. E não era para menos, uma vez que as proporções se tornavam efectivamente calamitosas.

A verdade ditou o pior dos cenários nas semanas, meses e anos seguintes: Milhares de Mortos em consequência da radiação - entre 4 mil e 90 mil almas. Almas que jamais voltarão e que para sempre nos deixarão um sentimento de culpa sem castigo.

E mesmo que se façam séries televisivas, novelísticas, romanceadas ou inversa e ficcionalmente impregnadas de ódios e vinganças (e que fez crescer em cerca de 40% o turismo na zona de exclusão devido à série Chernobyl da HBO), nada será como antes. 

Ninguém ficará indiferente aos escombros e aos fantasmas deixados para trás, como nunca ninguém saberá ao certo as reais consequências e, vivências, de quem de perto viveu tamanho inferno e a ele sobreviveu.

Actualmente, vivem cerca de 5 Milhões de Pessoas em zonas contaminadas pela Radioactividade. Impensável não é?! Mas acontece. Os efeitos na saúde desta massa populacional ainda não estão determinados.

Como todos sabemos ou intuímos, a Energia Nuclear, é sempre um foco de discussão e alerta. Em todo o mundo! Uns elogiam o seu potencial e outros digladiam-se diabolizando algo que só nos trará tragédia e morte, mesmo que isso se reverta em cerca de 11% de electricidade gerada pelo mundo.

Depois do Acidente de Chernobyl, foi desencadeada a maior crise de credibilidade jamais sentida e, a nível internacional, devido a tudo o que este consigo arrastou. O medo imperou e, uma maior consciência sobre esta energia, assolou grande parte do globo. 

Reconhecer os erros do passados para não os repetir no futuro era a sigla; no entanto, outro terrífico acidente nuclear dar-se-ia criando ainda Um Maior Impacto nessa rejeição: O desastre nuclear na Central Japonesa de Fukushima Daiichi, na sequência de um terramoto e um tsunami.

Em Chernobyl, as consequências ambientais foram trágicas: a explosão e consequente libertação tóxica geraria e libertaria pelo menos 100 Vezes Mais Radiação do que as bombas atómicas lançadas pelos Estados Unidos sobre Hiroshima (em 6 de Agosto de 1945) e Nagasaki (em 9 de Agosto de 1945) na fatídica II Guerra Mundial; ou seja, durante os estágios finais desta II Grande Guerra do século XX.

O que se seguiu foi ainda mais trágico: Uma Nuvem Composta de Elementos Radioactivos (Iodo-131, Césio-134 e Césio-137) que escapou do local do acidente, da central nuclear, e nos 10 dias seguintes; e que, empurrada pelos ventos, contaminaria sem dó nem piedade grande parte da Europa.

"O Dilúvio Radioactivo" ou, a grande parte da chuva radioactiva que posteriormente caiu, ensombraria sem contemplação alguma toda a região ucraniana (Ucrânia), assim como a Bielorrússia e a Rússia.

Segundo os dados estatísticos de então, mais de 350.000 pessoas foram retiradas das imediações da Central Nuclear da Ucrânia, sabendo-hoje com toda a certeza, feliz ou infelizmente, que cerca de 5,5 milhões de pessoas lá permanecem; elas e tantos outros animais que, vagueando sem rumo e em solidão, vão tentando sobreviver por entre os destroços retorcidos e radioactivos de toda aquela região.

Se esta região ucraniana tem futuro ou não não o sabemos, embora as estimativas sejam diminutas. A Natureza cresce como se nada se tivesse passado e um novo ecossistema rejuvenesce contra todas as expectativas, o que por si já é um milagre!

Todavia, a Contaminação dos Solos é uma enorme preocupação. A contaminação com Césio e Estrôncio tem deixado os cientistas muito apreensivos e nada optimistas quanto a esse ressuscitar das cinzas, pois que, estes dois corrosivos elementos químicos permanecerão nos solos da região durante muitos e longos anos, não havendo para já solução à vista de uma possível e radical descontaminação.

Fora da Ucrânia a noção do perigo também paira no ar. E nos solos. Após o trágico acidente nuclear, Vestígios de Depósitos Radioactivos foram encontrados em quase todos os países do Hemisfério Norte.

Nada de bons ventos, portanto. Nem no ar nem no chão. Sabe-se inclusive que, a chuva e os ventos irregulares, conseguiram transportar com eles uma maior contaminação sobre áreas mais longínquas do que propriamente as contíguas em efeito totalmente perverso.

Tal como se pronunciou sobre o sucedido na Finlândia, toda a Escandinávia sofreu com estas consequências derivadas do Acidente da Central Nuclear na Ucrânia. 

Muitos outros países foram igualmente e gravemente afectados. Ainda hoje, existem vastas áreas no Reino Unido onde as quintas, fazendas e cercanias agrícolas têm de fazer controlos regulares, assim como em França e em muitos outros países, numa vigília e supervisão rigorosas sobre o restolho consequente de todo aquele acidente. 

Terá sido um aviso para a Humanidade?! De certeza que sim, embora saibamos que outros porventura virão se nada se fizer nesse sentido. Quanto a efemérides está tudo dito. Passados que são 35 anos sobre algo que ninguém (ou muito poucos) querem recordar, há o recente estudo dos investigadores do NIH / National Cancer Institute que alude aos Efeitos Genéticos da Radiação de Chernobyl.

Mesmo que recordar seja penoso, há sempre que elaborar o quê e o porquê das coisas; mesmo que malditas segundo alguns. Há que não subestimar ou negligenciar estudos que nos fornecerão e, formarão, uma mais lúcida conclusão sobre as eventuais repercussões de toda este desastre de 1986 na Ucrânia.

É por esta razão que estes investigadores utilizaram ferramentas genómicas para analisar melhor os potenciais efeitos na saúde em face à evidente exposição da Radiação Ionizante, um conhecido carcinógeno, como resultado do acidente de Chernobyl.

(Em Registo: Este estudo (repartido em duas partes ou em duas titulares publicações) foi divulgado na revista «Science», em 22 de Abril de 2021, com o título (I) «Ausência de Efeitos Transgeracionais da Exposição á Radiação Ionizante do Acidente de Chernobyl»; (II) «Perfil Genómico relacionado à radiação do Cancro Papilar de Tiroide após o acidente de Chernobyl»). 

Os seus autores são imensos e, a todos eles, aqui fica a minha sentida homenagem pela incansável força e motivo que os leva a não desistirem nunca de saber de Toda a Verdade. Epidemiológica e não só.

Stephen J. Chanok e Lindsay M. Morton são apenas dois dos muitos envolvidos, pelo que em nome de todos na generosa e internacional equipe do qual fazem parte, representarão todos os outros em igual ou idêntica amostragem de valor, aprumo e notabilidade que evidenciam por excelência. 

A todos eles desde já «Um Muito Obrigado» por fazerem da Ciência uma das mais portentosas ferramentas que hoje se dispõe - alada à avançada tecnologia de ponta - para que resultados como este vejam definitivamente a luz do dia.


Uma cidade fantasma. Não é mas parece, por muito que tentem investir em turismo tétrico ou macabro; ou porventura em algo de muito duvidoso gosto sobre a penúria dos escombros e do que foi até há pouco vida e prosperidade. Estima-se que cerca de 200.000 pessoas tenham sido deslocadas e, o que era para ser em parte provisório (foi-lhes dito que a evacuação duraria apenas três dias), não o foi - a maioria nunca mais retornou a casa.

Foi então determinada uma Zona de Exclusão que determinava cerca de 2.600 quilómetros quadrados, embora se saiba que nem todos terão cumprido esta lei, esta obrigação, havendo um registo de 130 a 150 pessoas que ainda lá permanecem, tendo regressado às suas casas e mantido a partir daí o cultivo das suas terras ou das suas famílias.

Radioactividade: as evidências

Viver e Morrer: tão simples ou tão complexo quanto estes dois termos pelos quais o ser humano se rege. As doenças derivadas deste acidente, assim como o número de mortos apresentados, continuam a ser tema de aceso debate e controvérsia. 

De acordo com um relatório da ONU em 2005, a estimativa do momento e mesmo de projecções futuras eram de 4 mil mortos nos países mais afectados; e que pelo menos 9 mil morreriam com cancro (evocado pelo Forum de Chernobyl liderado pela ONU). As autoridades ucranianas relataram então (em 1998) cerca de 12.500 mortes como de início se referiu.

O Greenpeace está entre aqueles que prevêem efeitos mais gravosos e sérios para a saúde pública com uma previsão de, pelo menos 93.000 mortes devido a cancro (câncer), entre muitas outras doenças e patologias associadas que levarão certamente a vida a mais de 200.000 pessoas. Se isto não é uma tragédia humanitária então o que será?!...

O Impacto na Saúde Pública é óbvio. Notou-se um aumento acentuado no Cancro da Tiroide. À época do acidente foram observados cerca de 4 mil casos da doença, principalmente em crianças e em adolescentes. No entanto, poderão ascender a muitos mais, pelo que se poderá atingir cerca de 270 mil casos de todos os tipos de cancro, dizem alguns especialistas.

Daí ter sido pertinente a pesquisa realizada pelos estudiosos do NIH (National Institute of Health) / National Cancer Institute (NCI) que numa investigação internacional que se compôs de várias equipes e empenhados nomes realizou uma pesquisa bifurcada em dois estudos, nos quais tentou encontrar evidências de Mutações Genéticas associadas à exposição da radiação após o acidente de Chernobyl.

Em Resumo: no primeiro estudo realizado estes investigadores admitem não ter encontrado qualquer evidência de que Mudanças Genéticas associadas à exposição da radiação são passadas para crianças. Ou seja, neste primeiro estudo verificou-se que não havia nenhuma herança genética de pais para filhos, apesar dos progenitores terem estado sujeitos à radiação. 

No segundo estudo realizado, foi documentado que essas mudanças genéticas aconteciam nos tumores de pessoas que desenvolveram cancro da tiroide - aquando crianças ou mesmo ainda em idade fetal - uma vez expostas à radiação libertada pelo acidente de Chernobyl.

Estes dois conjuntos estudos são assim marcantes, pelo que os investigadores tiveram de usar ferramentas genómicas (tecnologia de ponta) para poderem analisar mais em pormenor os potenciais efeitos na saúde em relação à exposição à Radiação Ionizante - um conhecido carcinógeno -  do acidente de 1986 na Central Nuclear de Chernobyl, no norte da Ucrânia.

Stephen J. Chanok, MD, Director da Divisão de Epidemiologia e Genética do Cancro (DCEG) do NCI - National Cancer Institute - afirmou:

"Questões científicas sobre os efeitos da radiação na Saúde Humana foram investigadas desde os bombardeios atómicos de Hiroshima e Nagasaki, e foram levantadas novamente por Chernobyl e pelo acidente nuclear que se seguiu ao tsunami em Fukushima, no Japão." E insistiu:

"Nos últimos anos, os avanços na tecnologia de sequenciação ou sequenciamento de ADN / DNA permitiram-nos começar a abordar algumas das questões importantes, em parte por meio de análises genómicas abrangentes realizadas sobre estudos epidemiológicos bem planeados."

Como é verificável e tristemente corroborado por todos os especialistas, o Acidente de Chernobyl expôs milhões de pessoas na região circundante a contaminantes radioactivos. 

Muitos estudos têm fornecido ao longo destas últimas décadas muito do conhecimento actual sobre o Cancro; e sobre muitos outros, causados pela exposição à radiação que foi igualmente emanada para a atmosfera devido a similares acidentes noutras centrais nucleares.

Esta Nova Pesquisa baseia-se nesse alicerce, nessa base de sequenciação de ADN de última geração e outras ferramentas de caracterização genómica para assim se poderem analisar as bio-espécimes de pessoas na Ucrânia que foram afectadas pelo acidente ou desastre nuclear.


Exposição à Radiação: haverá ou não mudanças ou alterações genéticas neste contexto?...É certo que sim. O impacto mais cruel e óbvio registado é o da existência do Cancro da Tiroide, principalmente em crianças e adolescentes. Com o tempo tudo se foi agravando e fazendo aumentar as estatísticas. 

Pessoas e animais em risco permanente. Haverá um dia a possibilidade de se viver e respirar sem este cutelo sobre a cabeça...? Não se sabe. Por enquanto, os cientistas vão-nos dizendo de seus estudos em alerta e rigor do que enfrentaremos caso Chernobyl se repita...

Um Estudo que engloba dois...

O Primeiro Estudo das equipes internacionais de investigadores - liderados pelos pesquisadores do National Cancer Institute (NCI) e parte dos investigadores do National Institutes of Health (NIH) - primou pela investigação de longa data de, se a Exposição à Radiação resultaria ou não em mudanças genéticas - que podem ser transmitidas de pais para filhos -  como foi sugerido em alguns estudos realizados em animais. 

Para responder a essa pergunta, o Dr. Chanok e os seus colegas analisaram então criteriosamente os genomas completos de 130 pessoas nascidas entre os anos de 1987 e 2002 - e seus respectivos 105 pares de mãe e pai. O que se seguiu foi:

Um ou ambos os pais eram trabalhadores que ajudaram a limpar o acidente ou, foram evacuados porque moravam perto do local do acidente. Cada pai foi avaliado quanto ao grau de exposição ou à exposição prolongada a que foi sujeito quanto à Radiação Ionizante - que pode ter ocorrido por meio do consumo de leite contaminado (isto é, leite de vaca dos animais que pastavam em pastagens contaminadas por precipitação radioactiva). Estas mães e pais experimentaram assim uma série de doses de radiação.

Os Investigadores analisaram então os genomas de crianças adultas (pré-adolescentes) em busca de um aumento de um particular tipo de Mudança Genética Hereditária conhecida como «Mutações de Novo».

«Mutações de Novo» são então alterações genéticas que surgem aleatoriamente nos gâmetas de uma pessoa (espermatozoides e óvulos) e podem ser transmitidos aos filhos, mas contudo não são observadas nos pais ou progenitores paternos.

Para a Gama de Exposições à Radiação Experimentada pelos Pais neste referente estudo, não houve evidência de dados do sequenciamento ou sequenciação do genoma completo de um aumento no número - ou de tipos de Mutações de Novo nos seus filhos nascidos entre as 46 semanas e os 15 anos após o acidente.

O Número de Mutações de Novo (desta nova mutação que não foi herdada de nenhum dos pais) observadas nessas crianças foi muito semelhante ao da população em geral com características comparáveis. 

Como resultado, obtiveram-se dados impressionantes que sugerem que «A Exposição à Radiação Ionizante do acidente teve um impacto mínimo»; se algum, na saúde da geração subsequente. Boas notícias, portanto!

Novamente o Dr. Chanok alui de forma peremptória: "Vemos estes resultados como muito tranquilizadores para as pessoas que viviam em Fukushima na época do acidente em 2011. As doses de radiação no Japão são sobejamente conhecidas por terem sido menores do que as registadas em Chernobyl."

No Segundo Estudo, os investigadores usaram  a sequenciação de última geração para se poder traçar o perfil das Mudanças Genéticas nos Cancros da Tiroide que se desenvolveram em 359 pessoas expostas - na infância ou ainda no útero materno - à radiação ionizante de Iodo Radioactivo (I-131) libertada pelo acidente nuclear de Chernobyl em cerca de 81 indivíduos não expostos e nascidos há mais de 9 meses após o acidente com o reactor nuclear.

O Aumento do Risco de Cancro da Tiroide foi um dos efeitos adversos no que concerne à saúde, mas também um dos «Mais Importantes Observados!» após o acidente de Chernobyl, concluem os analistas e investigadores.

A Energia da Radiação Ionizante quebra assim as ligações químicas no ADN / DNA, resultando em vários tipos diferentes de danos. Este Novo Estudo destaca de forma absolutamente visível e irrefutável a importância de um específico tipo de dano ou anomalia no ADN (DNA) que envolve quebras em ambas as fitas de DNA no caso dos tumores da Tiroide.

A Associação entre quebras de fita dupla de ADN / DNA e exposição à radiação foi muito mais forte para com as crianças expostas em idades mais jovens.

Em seguida, os investigadores identificaram  os candidatos a «condutores» do cancro em cada tumor - os genes-chave nos quais as alterações permitiram que o cancro crescesse e sobrevivesse. Eles identificaram igualmente os «drivers» em mais de 95% dos tumores. 

Quase todas as alterações  envolveram genes da mesma via de sinalização, chamada Via da Proteína Quinase activada por Mitógeno (MAPK), incluindo os genes BRAF, RAS e RET.

O Conjunto de Genes Afectados é semelhante ao que foi relatado em estudos anteriores sobre o Cancro da Tiroide. No entanto, os investigadores observaram uma mudança na distribuição dos tipos de mutações nos genes. 

Especificamente, no estudo de Chernobyl, os cancros de tiroide que ocorreram em pessoas expostas a altas doses de radiação aquando eram crianças, eram também mais propensos a resultar de Fusões Génicas (quando ambas as fitas de ADN são quebradas e as partes erradas são novamente juntas), enquanto aqueles em pessoas não-expostas ou expostas a baixos níveis de radiação, eram mais prováveis de resultar de mutações pontuais (alterações de um único par de bases numa parte-chave de um gene).

Os Resultados sugerem então que - As Quebras de Fita Dupla de ADN - podem efectivamente ser uma mudança genética precoce após a exposição à radiação no ambiente que, subsequentemente, vai permitir também o crescimento dos cancros da tiroide.

Estas Recentes Descobertas vêm assim fornecer distintivamente uma sólida base para futuros e adicionais estudos oncológicos (ou relacionados aos cancros) induzidos por radiação, particularmente aqueles que envolvem diferenças no grau de risco - em função da dose (ou grau) e da idade - de acordo com o que os investigadores proferem.

Lindsay M. Morton - PhD. e vice-chefe da Divisão de Epidemiologia de Radiação no DCEG - que liderou o estudo, reafirmou:

"Um aspecto emocionante desta pesquisa foi a oportunidade de vincular as características genómicas do tumor com informações sobre a dose de radiação - o factor de risco que potencialmente causou o cancro. E alinhavou de modo cirúrgico:

"O Atlas do Genoma do Cancro estabeleceu o padrão de como traçar um perfil abrangente das características do tumor. Estendemos essa abordagem para concluir «O Primeiro Grande Estudo de Paisagem Genómica» em que a potencial exposição carcinogénica foi bem caracterizada, permitindo-nos assim investigar a relação entre as características específicas do tumor e a dose ou grau de radiação."

A Dra Morton observou ainda que este estudo só foi tornado possível com a criação do Banco de Tecidos de Chernobyl há cerca de duas décadas - muito antes de, a tecnologia ter sido desenvolvida,  para conduzir o tipo de estudos genómicos e moleculares que são tão comuns hoje.

A Dra Lindsay Morton finalizou, contextualizando: "Estes estudos representam a Primeira Vez que o nosso grupo realizou estudos moleculares usando as bio-espécimes que foram recolhidas pelos nossos colegas na Ucrânia."

E deixa ainda um sopro de esperança: "O «Banco de Tecidos» foi criado por cientistas visionários na missão de se recolherem amostras de tumores - de residentes em regiões altamente contaminadas e que aí desenvolveram cancros de tiroide. Estes cientistas reconheceram que haveria de facto avanços substanciais da tecnologia no futuro, pelo que a comunidade científica ou de pesquisa agora, só poderá beneficiar da sua previsão."

Uma vez que o texto é longo, só me apraz dizer que tudo tendo sido uma Enorme Tragédia, também terá sido um Enorme Alerta para com não só a contenção mundial na utilização e desenvolvimento da Energia Nuclear e dos riscos que esta implicava como, a maior certeza da Humanidade se virar para energias mais seguras, mais limpas e certamente muito mais profícuas do que a inflamada por reactores nucleares.

Havendo gostos para tudo, desde o Turismo Macabro (na zona de exclusão) até à criação de um «Corredor Verde» para o trânsito turístico na Ucrânia, eliminando assim a transgressão de curiosos, tudo é possível neste reino fantasma de há 35 anos.

Para se ser mais animador há que referir que Chernobyl (apesar da ainda contaminação da área abrangida) é agora um Eden de Vida Selvagem, pelo que populações de cavalos selvagens, javalis e lobos prosperaram, os linces regressaram e os pássaros nidificaram, pasme-se!, no edifício do reactor acidentado sem que tenham sido detectados quaisquer efeitos nocivos da radiação na sua saúde.

Portanto há esperança! Tendo no passado ditado uma enorme e irreversível cruz sobre os há muito longos e intrincados caminhos da União Soviética - tendo a catástrofe de Chernobyl sido de facto um marco indelével e muito importante no início do declínio desta (URSS / CCCP) - além das já mencionadas consequências ambientais e sanitárias também teve custos políticos. E económicos.

O custo foi elevado. Mikhail Gorbachev, o líder soviético de então só o admitirá a 14 de Maio desse mesmo ano, 1986. E muito depois da Suécia  ter feito o alerta público (em 28 de Abril de 1986) devido à detecção de um aumento de radioactividade no seu território. 

A AIEA (Agência Internacional de Energia Atómica) recebeu a notificação oficial do acidente só a 30 de Abril desse ano. O custo soviético para resolver esse problema quase a arruinou. A contenção e descontaminação imediatas do local e das áreas abrangidas teve um custo que orçou os cerca de 237,8 milhões de dólares. Uma fortuna!

Deixemos então o passado e falemos de futuro. A ambição é o que faz o Homem sonhar. E se possível, não voltar a errar. A triste e desafortunada Ucrânia tem agora uma ambição: Solicitar a classificação da central nuclear desactivada como Património Mundial da UNESCO, na esperança de que tal atribuição honrosa signifique mais financiamento e mais turistas; assim como a alegria perdida por tantas almas que se finaram e pela igual tragédia ecológica ocorrida.

Assim desejamos que aconteça, assim rezamos para que tudo refloresça e resplandeça, e nada mais se repita em aprendizagem e, por certo uma outra voragem, de novos dias se fazerem brilhar; na Ucrânia e fora desta. Por todo o planeta. 

E em todos os nossos corações, sentindo que é sempre possível começar de novo e acreditar de novo que não há terras malditas, antes desditas (ou talvez proscritas) de um qualquer pretor que jamais será um nosso senhor. Cometeremos sempre erros, mas teremos sempre também de os admitir. E resolver. Penso que a Ucrânia lá chegará. E o resto do mundo, pelo resto que nos falta de o sabermos enfrentar. Terra maldita?... Não. Apenas interdita por algum tempo...

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