Há almas eternas, outras imortais e talvez até mesmo outras confortavelmente emanentes sobre o Universo; cabe-nos a nós descobrir quais as que nós somos, por outras que andam por aí...
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quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
A Selva Sagrada
O que se esconde na realidade por detrás daquelas árvores, lianas e matagais?
Tratar-se-à de uma remota lenda ou como se julga, uma espécie de reserva de seres pré-históricos em resquício dos vestígios do Homo Sapiens?
Tanatowa - O Berço da Humanidade
O maior arquipélago do mundo, que se estende ao longo de 5000 quilómetros em redor do equador - entre o Oceano Índico e o Pacífico - é formado por uma interminável cadeia de ilhas. Uma destas ilhas do Pacífico é a ilha de Celebes, que integra a nação Indonésia. A paisagem montanhosa de clima tropical ajudou a conservar os modos de vida antiquíssimos dos seus habitantes, mesmo quando Portugueses e Holandeses nos séculos XVI e XVII incluíram esta ilha nos seus impérios coloniais.
Trata-se dos Kajang, um povo que resistiu às pressões de missionação - sobretudo graças à sua firme crença animista - e que vive no Sul da ilha de Celebes, junto à costa. No território por eles ocupado, guardam desde tempos imemoriais um segredo: julgam situar-se aí Tanatowa, o berço da Humanidade.
Vida em origem da Escuridão
Ainda hoje os Kajang continuam a viver em apenas quatro aldeias. Sobu, Balambina, Benteng e Tambolo. Seguindo por estradas acidentadas, passando por plantações de cauchu e arrozais, chega-se próximo das localidades onde eles habitam. Uma cancela feita de troncos nodosos impede subitamente a passagem. Os visitantes têm de deixar os seus automóveis a uma distância considerável das povoações, pois os Kajang não desejam ter qualquer tipo de contacto com os sinais do progresso da civilização moderna.
Uma vez que continuam a viver conscientemente numa relação de harmonia com a Natureza envolvente, quaisquer objectos que representem o progresso, são para eles tabu. Até mesmo os estranhos que os visitam têm de adaptar-se ao seu modo de vida: antes de poderem penetrar no território dos Kajang, têm de vestir roupas escuras, saias compridas e, uma espécie de longos turbantes que cobrem toda a cabeça. Como a vida teve origem na escuridão, apenas lhes é permitido vestirem-se com roupas de cores escuras.
A Existência dos Seres Humanos Primitivos
A firme convicção dos Kajang é que a origem da vida está relacionada com uma zona de selva sagrada, à qual não pode jamais ser pisada por qualquer ser humano. Segundo a tradição transmitida pelos seus antepassados, foi nessa selva que surgiram os primeiros seres humanos e ainda hoje lá vivem. Uma vez que receiam que qualquer pessoa que aí entre se perca, deixando de haver qualquer hipótese de regresso, é proibido a todos os Kajang orientar a entrada das suas casas na direcção desta selva mística, pois esta possui uma força de atracção mágica que, actuaria sobre os seus ocupantes.
Os Vestígios do Homo Sapiens
Questionemos então: o que se esconderá na realidade por detrás daquelas árvores, lianas e matagais? Talvez os Kajang sejam fiéis depositários e, supostamente, guardiães da memória de uma verdade antiquíssima. Há 30 mil anos o Homo sapiens - o nosso antepassado que viveu em condições ainda bastante primitivas - começou a povoar a zona sul da ilha de Celebes, muito próximo do território dos Kajang. Desenhos de cor de ocre nas íngremes escarpas calcárias de Leang Leang, fornecem provas acerca da sua existência. Em 1905, exploradores holandeses descobriram a cerca de 100 quilómetros desta zona, perto da antiga residência do príncipe de Bone, aquilo a que chamaram «homens da selva» e a quem a população autóctone se refere como «Toala».
Por tudo isto, não parece totalmente irreal pensar que numa espécie de «reserva» possam ter existido até ao século XX, seres dos primórdios da Humanidade.
Verdades Míticas
O professor Bernd Laufer, do Museu de História Natural de Chicago, chamou em 1928 a atenção para o facto de a capacidade inventiva do espírito humano não ser capaz de imaginar coisas que não tenham uma existência real. "Um produto da nossa imaginação é sempre motivado por algo que possui uma existência real ou, quando julgamos haver razões para acreditar que existe realmente."
Os Kajang poderão assim ser depositários de memórias acerca dos nossos mais remotos antepassados. Noutros lugares, esses elementos terão dado origem a lendas como a do «Yeti» pois nada se inventa a partir do nada e já anteriormente, tudo existiu; de uma maneira ou de outra.
O povo dos Kajang está convencido de que Tanatowa - a terra onde habitam os antepassados - se encontra muito perto daquela em que eles mesmo vivem. Pode ser essa a razão que levou os seus vizinhos, os Toraja, a colocar imagens que representam as pessoas já falecidas, diante das sepulturas onde estão guardados os respectivos restos mortais, possivelmente à espera que os venham buscar para uma vida no outro mundo. A acreditar nesta crença dos Toraja, oxalá tal se cumpra mais que não seja pela sua vontade de verem os familiares já falecidos em «boas mãos» celestiais. Pela crença e, pela atitude de preservação da Natureza e do seu modo de vida destituído de prazeres mundanos, assim lhes seja feita a vontade e a boa ventura no que acreditam ser legítimo e, cumprido. Quanto a nós, coarctado que nos está ao direito da invasão deste espaço terrestre como último tugúrio do Homem primitivo, só nos resta acrescentar: continuem a ser felizes, na recolha, guarda e depósito desta última maravilha do mundo. Assim seja e, assim continue a ser! A bem da Natureza e, da continuação dessa incólume preservação! O mundo agradece!
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