Translate

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A Profecia

"A Águia não se cruzará com a Pantera; a Água não jorrará sobre a Terra...não, nesta vida!"


Foi assim, enigmática e abruptamente que a velha cigana cobrida de um negro feroz, me anunciaria em presságio metafórico (e metabólico) do que iria ser a minha vida futura a médio-longo prazo.
Não discerni de imediato o que em sina pronunciada sobre mim, aquelas palavras me ditavam. Na altura associei que a «pantera« de que a cigana falava, fosse o grande Eusébio, o ícone máximo do nosso futebol nacional  e não, outro sentido em inversa insinuação da pantera neste caso, poder ser eu. Para quem só tinha onze anos de idade na época, a coisa compreendia-se. Só mais tarde em lucidez mais rebuscada e pormenorizada, aludiria à maior expressão daquela espécie de profecia a mim dada num jeito confuso e de certa forma aleatório, ao que supus. Ou não. Lembro-me de ela me ter reportado ainda algumas outras palavras de igual consonância esotérica, observando-me as linhas da mão: - Vê filha, como tens tão bem alinhavado esta linha, aqui. Dita-te muitas alegrias mas também muitas tristezas...a Felicidade leva tempo a tomar; leva muitos anos a ser cumprida!...

O episódio daquela tarde de domingo passou na minha vida, como passariam todos os outros sem que eu me debruçasse muito sobre a analogia metódica e certamente ritual dessa cigana que ganharia assim o pão de cada dia no vislumbre que cada um de nós fazia ao querer saber o Futuro. Felizmente o meu pai não estava presente pois era caçador (o que a mãe odiava) ao ver-lhe entrar pela porta dentro todos os domingos à noite, os infelizes cadáveres de perdizes, coelhos e faisões sobre a anilha pendente e cerrada que o pai trazia à cintura em ilharga de troféu vencedor. Esfolar coelhos e depenar os galináceos não era tarefa fácil nem desejável, uma vez que exalava um cheiro horrível de sangue, luta e morte que a mãe - não raras vezes - teve de declinar em assomos maiores de ir a correr para a sanita em vómito latente pela condição de carrasco esfolador nas actividades ilíquidas.

Mais tarde, rebuscando literaturas mais coesas com o enunciado, descobriria profecias de outros tempos, revelando-me então, os sinais precursores do «Fim do Mundo»: - "Repentinamente, o Sol brilhará de noite e a Lua de dia. Pingará sangue das árvores, as pedras gritarão, os povos revoltar-se-ão!...As mulheres parirão crianças malformadas. Na água doce haverá sal e os amigos guerrear-se-ão entre si!"
 
Pareceu-me feio e mau...o Futuro. A reiteração de cataclismo geral ou futuro apocalíptico que se anunciara nestes tempos de uma Idade Média transversal no tempo também, não augurava nada de bom, fazendo-me arrepiar as entranhas na falta de esperança e arreio fatal com que geriam as expectativas da humanidade até ou para além da actualidade. Havia que saber mais e tentar encontrar algo em contraditório ou menos nefasto, daí que me ocorresse das buscas em salvação desta mesma humanidade nas visões «Marianas» da corrente religiosa e católica sobre as mesmas. Desde as de 19 de Setembro de 1846 na figura das crianças Melanie Calvat e Maximin Girard de La Salette (enquanto estavam a tomar conta dos seus animais, neste caso, vacas) em visão translúcida e transparente de uma «Senhora» deslumbrante, passando pelas de Fátima em Jacinta e Francisco Marto e a sua prima Lúcia em 1917, acabando nas de San Sebastián de Garabandal em 1961, tudo eu procurei. Só mais tarde teria conhecimento do mesmo fenómeno em mensagem, revelação ou profecias comuns na de Medjugorje na década de 1970. Em todas - e em particular nesta última pela advertência de guerra iminente a médio prazo nas décadas seguintes, ao que supus...- mostrando as terríveis consequências em catástrofes apocalípticas mas que (os visionários) as não deveriam entender como inevitáveis mas sim que a Mãe de Deus em sua aparição, lhes consignava em aviso nos humanos: - "Se não corrigirem esses comportamentos ímpios, o castigo cairá sobre eles!"

Desde a Antiguidade que a nossa História é pertença de vários factos e profecias de mensageiros que (morrendo ou não à partida ou entrega da missiva...) se têm vindo a registar, uns com mais poder do que outros mas sempre na mesma determinação de futurismos catastróficos e da extinção da humanidade. Mais próximo de nós - que acreditamos viver um pouco mais, sobrepondo-nos a essas mesmas tragédias de fim do mundo - queremos saber do nosso próprio futuro na condição de sermos felizes para sempre e, em boa companhia se possível. Assim seria desejável. Desde os tempos remotos que crianças malformadas eram consideradas mensageiras do infortúnio e «filhas» do Demónio. As crenças ultrapassavam os limites da racionalidade e razoabilidade humanas na maldade exposta como foi o caso do «Monstro de Ravena» em 1512 em que nasceu uma infeliz criatura, portadora de graves deficiências físicas. Possuía duas letras no peito: Um X e um Y, asas em vez de braços, um corno na cabeça e um olho nos joelhos. Observara-se ainda, que era possuidora de ambos os órgãos genitais, feminino e masculino. Esta pobre criatura não terá resistido muito tempo de vida em sobrevivência nula pela cumulação efectiva da sua imensa deformidade física, fazendo na época correr  na já costumeira especulação popular de que fora a punição veemente de ter sido concebida por um padre e uma freira. Como sempre, o pecado mora ao lado...pecado ou anunciação de algo pior? Pouco interessaria neste caso, pelo menos em relação àquela pobre criatura da Renascença que se viu morta à nascença, também.

Para terminar vos digo: acredite-se ou não em profecias, a minha ainda não foi cumprida, tal como a sina dita em mim nesse dia por aquela cigana de olhar obscuro, penetrante e circunspecto. Falsária ou não, ainda hoje me recordo das suas palavras. Ouço-as imperativamente no que me guia e escolho para a minha vida. Não me tira o sono mas consegue persistir no caminho que faço dia a dia na procura, busca e entrega de uma felicidade que desejo para mim, sendo comum em todos nós na realização pessoal que todos almejamos. Só isso importa. Nem que isso, nos leve eternidades a conseguir com...ou sem profecias. Assim seja, a bem de todos!

Sem comentários:

Enviar um comentário