Ilhas Selvagens
Ano - 2390
"Vamos morrer todos!!!" - Foi o meu lamento (imediato) no meio de toda aquela tragédia, aflição e desmembramento de esperança em sobrevivência na incursão militar dos caças do Governo Mundial sobre nós. Puro terror. Os F`500, caças da Força Aérea da UKUSA - que engloba os países do Reino Unido, América, Austrália, Nova Zelândia e Canadá) em aliança macabra e destruidora, dizimaria o que nos restava na ilha em recursos e, sobreviventes. O seu poder belicista e aniquilador - pelas baixas altitudes a que voava, de longo alcance em poderosa arma voadora em espécie de pássaros assassinos, rasteando tudo o que nos «sobrava« de nesgas de terra semeada, água potável e...refugiados na ilha.
O António (meu marido) não teve mãos a medir. Foi muito difícil acudir a todos. Gritos, gemidos e dor, muita dor. De seguida, o silêncio. Foi um dia horrendo! O António está pele e osso, exibindo umas olheiras profundas de mágoa e desespero no que não consegue superar de carências prestativas tanto nos cuidados médicos como nos utensílios clínicos que não possuímos para salvar vidas. Penso que nem mesmo ele já acredita na sobrevivência (ou resiliência) de algum de nós aqui na ilha. Cada vez vai sendo mais difícil de suster essa resquícia esperança de salvação de algo ou alguém...tudo nos abandona, até a coragem que amiúde nos vai deixando. O Manolo foi ferido, felizmente que sem gravidade pelo que o António lhe fez um curativo à base de «belgata«, uma planta de origem africana que conseguimos que aqui desse «frutos» em sementes poisadas na terra, crescendo em boa mestria. Fazemos unguentos desta e também aguardente. Originalmente esta planta é usada para fins terapêuticos mas no nosso caso, é utilizada em ambas as circunstâncias como tratamento e, como medida improvisada de nos poder ser um anestésico bebível à semelhança dos filmes pré-históricos do Oeste Americano em que extraíam balas e projécteis similares, fazendo os estóicos homens de barba rija emborcarem uns quantos litros de whisky. Aqui, servimos-nos de aguardente de «belgata». Por vezes, há baixas em vários elementos nesta colónia de resistência humana em que por septicemia (infecção generalizada) e não possuirmos antibióticos concessionados às diversas doenças e patologias vigentes, estes se deixam sucumbir em febres altas, tremuras e debilidade geral.
Não sei quanto tempo mais aguentarei este Inferno...não sei. Estou no meu limite em insegurança e despojo humano, à semelhança do António do Manolo e da Maruga. Só as crianças ainda riem nas suas brincadeiras infantis como um mundo seu à parte de todo este horror em sepultura anunciada. A Ukusa, em bando «generoso» de malfeitores e vampiros na Terra, aliando-se às Forças do Universo hostis e exterminadoras - que se designam por Arachnids - e que vêem por este meio, sugar-nos as riqueza, poucas já do nosso pobre planeta. Pior do que admitir esta força invasora execrável e destruidora, é o ter de reconhecer a parceria belicosa e maldita de entre os nossos. Genocídio, limpezas genéticas (e étnicas) numa irrevogável verticalidade em ordem suprema, hermética a nível mundial na eliminação dos povos na Terra. A maior raiva de todas é saber que «eles», os da Terra, os da UKUSA e as famílias destes estão a salvo noutros planetas satélites mas nós, os ditos «rebeldes» definhamos! Fenecemos! Mas ainda assim lutamos, até à última gota de sangue, energia e vontade de vencer esta batalha inglória de David contra Golias. Não é há toa que o meu filho mais velho se chama de David...pudesse ele ter esse mesmo brilho bíblico de um pequeno rochedo poder vencer uma montanha enorme. É só o que me resta. esperar, rezar, confiar. Mas confiar em quem? Esperar o quê? E rezar a quem...? A Deus? Onde é que Ele está agora???
O António...o meu António, já mal é o homem que conheci. Já pouco fala comigo e com os demais. afasta-se de mim, afasta-se de todos. Talvez se sinta desmotivado ou culpado, não sei...ele, que tanto esgrimira em mim vontades de ser um homem de bravura que não de guerras ainda que fosse de pleno coração e entrega às forças militares do seu país, da sua nação que agora lhe virara as costas e tudo o mais. O meu homem e companheiro e pai dos meus filhos é uma réstea do que foi. E faz-me pena. Cada vez estamos mais distantes, mal nos tocamos e há muito que não fazemos amor. Eu choro calada, escondida das crianças e desta minha fragilidade feminina que já não tem brio nem alcance de me fazer alindar para quem quer que seja, também porque não tenho por onde nem como...se mal temos para nos alimentar quanto mais para nos abrilhantarmos, ainda que eu e a Maruga em ócio fêmeo nosso(aquando estamos mais livres da horta e das lavagens dos nossos trapos...) fazemos brincadeiras de casinhas e cabeleireiras como as nossas crianças, fugindo à dura realidade desta caverna de Dante, compondo penteados e imaginando vestidos e adereços inexistentes aqui. Se assim não fosse, há muito que teríamos endoidado. Voltando ao meu António sei que sou eu a culpada e não ele deste afastamento. Indirectamente, creio que o culpabilizei de toda esta amálgama horrenda de situação ínfame do desperdício que ele fez da sua vida e, da nossa. Culpei-o pela situação em que estamos por não nos ter protegido, por não nos ter preservado desta cúpula funérea em que nos encontramos, arrastando a felicidade e o futuro dos nossos filhos. A sua posição hierárquica militar a isso se devotava, não fosse o António ter-se dado de imprecações e desmandos aos seus superiores, devastando nestes a complacência ou piedade sobre nós. O António sempre foi orgulhoso mas agora limita-se na corrosão dos tempos e em parte sobre si, a fazer um género de acto de contrição sobre o que já irreversivelmente, nos poderia ter evitado. Agora...é tarde, muito tarde para arrependimentos. Ainda o amo mas a erusão destes sinistros tempos não me deixam fluir mais nada a não ser, revolta, irritação e mágoa, muita mágoa.
Tenho falta de tudo. Comida, roupas, alegria, entusiasmo e...o meu período. Há três meses que não tenho período menstrual ao que submeti à existência de desregramento hormonal devido às inconstâncias e vicissitudes horrendas que aqui vivemos. Agora, vou tendo cada vez mais a certeza de que assim não é e...possa estar grávida. Como foi possível, Santo Deus? Como é que eu permiti que isto me acontecesse...se mal temos para alimentar e cuidar do David, da Maria e...da gata kitty, como irá ser possível alimentar e fazer sobreviver neste auspício mais uma boca, mais uma alma, Santo Deus?...E o António, o que me dirá...? Vai-se revoltar, pela certa! Será...? Ora! ele também tem «culpa», não sou só eu... e como foi logo acontecer neste Inferno se mal nos tocamos?...Mas aconteceu! E isto não é ficção, não...é tão verdade como ontem em véspera maldita, a UKUSA e os Arachnids nos terem atacado, falível e rasamente. Está tudo um caos. E pensava eu, já não ver mais o despojamento de tudo - aquando vi o saque de lojas, armazéns, supermercados e afins - na minha cidade e tudo louco em fervor de roubo e anuência de uma sobrevivência ímpar sob as fagulhas dos mísseis e do pó e da sujidade e de tudo o mais. Ruiu tudo! Que me resta agora?...Trazer uma vida ao mundo para ser violada, estropiada, manipulada por estes senhores do Governo Mundial que só trouxe guerra, punição e maldade na Terra? Mas posso eu voltar atrás...? Acho que não. E tudo isto, porque um covil de hienas necrófilas, repugnantes e asquerosas quiseram tomar o mundo...o meu mundo. Vou pôr no meu mundo, esta minha criança em berço de invasores reptilários , nocivos à sua formação, ao seu desenvolvimento...poderei cometer essa igual atrocidade? Se já nem consigo proteger os meus dois filhos...conseguirei? Que mundo este, no qual essas forças extra-humanas tentaram e tentam ainda, aniquilar tudo o que há ou havia de bom na Terra: os espaços verdes, os rios não poluídos, os mares imensos, as florestas frutuosas de verde e fauna assente em beleza e ostentação...a flora original, os seus animais que já quase não existem e nos dá a certeza cruel de toda a extinção de vida na Terra. Não permitiram que se pusesse em redor do meu planeta, um escudo protector na proximidade funesta do planeta X (vulgo, Nibiru) a que nem os Anunnaki nos asseguraram a protecção que nos haviam firmado fazer. Sei que houve interferências e que temos de passar este ciclo de horror em pleno para que haja depois a sublimação global, eu sei disso. Se não seguisse este mesmo Deus que sempre me acompanha (ainda que por vezes eu me revolte e o inquire sobre este ruim Presente), também não reconheceria estar a viver o Quarto Segredo de Fátima em suplício, cilício e demais tortura terrestre para que haja a tão gloriosa salvação das almas. Espero é que este mesmo Deus, o meu Deus se apresse pois já somos poucos agarrados a esta esfarrapada tábua dessa igual salvação nossa. É uma provação, eu sei. Mas dura, muito dura para que se detenha este magoado sentimento de estarmos sós e abandonados à nossa sorte. Mas eu quero viver Deus! Eu, e os meus. E vou lutar por isso, até por esta nova vida, contra tudo e contra todos! Que Deus me ajude!...
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