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sexta-feira, 13 de setembro de 2013

A Magia

Magia Branca e Magia Negra
 

Dificilmente se pode dissociar estas duas vertentes de Magia em bem ou mal na sua distinção que não pode ser feita de modo inequívoco. Cada cultura interpreta-a a seu modo e não existe uma regra universal. Possui um poder inexplicável de influência sobre a Natureza e os seres humanos. Não se poderá dizer que seja uma ciência exacta ou uma corrente não ambígua e por certo, discrepante também. Nada justifica...( sendo mesmo, potencialmente imoral) que se aja consoante estas regras difusas e aquém os princípios básicos de uma natureza humana que se quer e deseja sã.; de corpo e espírito.
A Magia boa e a Magia má, andam aladas, unidas e transversais a rituais incomuns na procura de benefícios terrenos que os espíritos invocados lhes possam trazer. Que grande erro!
Falar-se de Teurgia (bem) ou de Nigromancia (mal), será falar-se da incongruência humana que a tudo busca sem contemplações de maior, rebuscando em livros e pessoas dessas práticas, uma solução egoísta, luxuriante e pouco ou nada coerente com a posição que o ser humano se reveste na vida. Inclusive, nos feiticeiros de tempos idos, os xamãs que, funcionando como curandeiros, ajudariam os membros da sua tribo mediante o uso dos seus poderes mágicos não sem antes (em total viragem do que lhes era devido) enfeitiçarem igualmente os seus inimigos, invertendo esses poderes para o mal.

É por aqui que começo na analogia familiar de contos antigos e alentos lendários que as minhas avós (sendo parte integrante das mesmas) se terão induzido pela mão da vida. Ambas foram mulheres muito à frente do seu tempo, que mesmo sem termos ingressado na guerra de 39-45 - a não ser pela via neutral, sentindo as idênticas agruras da falta de pão, trabalho e alegrias - estas se tenham dado ao povo da aldeia e de outros em redor, nos préstimos seus do que sabiam e lhes tinha sido ensinado. Mas como em tudo na vida, é suposto de uma certa maldade, inveja e mal-formação nos demais, as minhas avós terão sido injuriadas pelo que lhes chamariam de bruxas. Sempre as houve, é certo...mas as minhas avós (paterna e materna) apenas se devotavam a algo que talvez na época não lhes seria muito bem visto, cada uma à sua maneira.
A minha avó materna, mulher franzina e de corpo esguio, levava horas a fio a separar e a identificar as diversas ervas e plantas do campo que só ela conhecia no tratamento eficaz de maleitas e dores humanas. Acorria vezes sem conta ao invocado pela população local para socorrer alguma parturiente mais aflita e em vias de ser mãe, sem o conseguir individualmente. Nestes tempos tinham-se os filhos em casa e tudo deveria correr sempre bem ou então, a morte chegaria depressa e não veladamente nas infelizes mulheres que pereciam assim sem ajuda de ninguém, elas e os seus bebés. Muita coisa mudaria nestes últimos tempos, graças a Deus e a uma tecnologia superior em recursos maiores e mais abrangentes por todos cidadãos do país e do mundo em geral. Era parteira, ervanária (se é que se pode usar este termo) e conselheira nas horas vagas que não seriam lá muitas. A minha outra avó, a paterna, mulher robusta, alta e de vozeirão assente numa praga sua que faria fugir o demónio mais aterrador, ajudava a matar coelhos, cabras e porcos, segurando-os com um força de homem das galés, sem decoro ou sentimento mais lasso de constrangimento pelas vidas dos pobres bichos. Fora criada assim, dizia-me num orgulho desmedido de ter sido criança feliz e azougada em seio familiar abastado de proventos muitos, em cereais, gado e diversas culturas agrícolas que se estenderiam por toda a aldeia de norte a sul do povoado. Pena foi que, tudo tivesse sido desbaratado, asseverou-me, pela mágoa que retinha em si de não ver mais em extensão e poder seus, toda a fortuna havida de seus pais que as filhas espoliaram por misérias havidas na vida. Todas levaram o seu quinhão e todas o perderam...anunciara-me um dia esta, em comunhão triste e desgarrada da menina rica que houvera sido em tempos, ela e as irmãs. Mas isso não a quebrou. Fazia o melhor sarrabulho de que há memória, em alguidar de barro enorme do que me lembro esta fazer para gáudio e fastio perdido nas gentes da sua aldeia em dias de festa em honra e graça da Nossa Senhora da Aboboriz.

Fui abençoada por uma matriz matriarcal de ramo genealógico estranho mas eficaz, sem dúvida. Mulheres de garra, mulheres de raça, mulheres de mármore em atitude e compleição que não, de coração. Ajudavam tudo e todos, ainda que sob o cabresto dos seus desmandos ou ordens irrevogáveis no que se propunham. Ninguém as contestava, pelo menos à sua frente...limitando-se a seguir os ditames dados por si. Iracundas mas poderosas, as minhas avós seriam no futuro, um marco irrepreensível e temeroso ainda por muitos do que lhes assistiu nesses difíceis tempos na aldeia. Havia vozes que não se calavam em desprezo e inveja do que não sabiam e não estaria à sua mercê num maior conhecimento, apelidando-as de bruxas. Sempre assim foi. A maledicência e o negrume dessas suas almas persistiriam ainda por muito tempo, havia que esquecer, havia que perdoar. Ambas trouxeram graças ao mundo e eu...sinto-me feliz por isso.

"Compendium maleficarum" - um livro surgido em 1626 que constitui uma espécie de manual para as bruxas. Não me parece que as minhas avós ou muitas outras pessoas que se dizem (e até vangloriam de o ser), bruxas e bruxos por aí, o tenham em mãos, alcançando a magnitude do seu poder maléfico. Invocam-se espíritos demoníacos prontos a prestar serviços, dizem...pobres dos que o fazem. Invocando o mal, retendo-o, inserem-no neles mesmos. Esta variante reprovável da magia faz entender de que os mortos possuam conhecimentos acerca do Futuro. Existe uma descrição particularmente impressionante das terríveis artes de uma bruxa na Tessália, chamada Erichto e, consultora do estadista romano Pompeu (106-48 a. C.). Outra ainda de seu nome En-Dor na invocação dos mortos para consulta de Samuel, do que há registo na Bíblia em 1 Samuel 28.
Na Antiguidade a a Teurgia (bem) também se faria sentir. Teurgia ou "Acção Divina", o mago procura a ajuda dos anjos e dos espíritos bons. Mediante a concepção neoplatónica do Mundo (que em virtude da estrutura estratificada do Mundo) colocava o ser humano em contacto com os espíritos superiores.
A invocação dos espíritos na Terra na primeira parte do "Fausto" de Goethe é um exemplo desse tipo de magia teúrgica.

Assim sendo, até onde irão os humanos na sua tentativa de influenciar, modificar e alterar comportamentos e acções terrenas que não lhes dizem respeito? Até onde é que essa tentativa de influência não natural, sendo amoral, acredito, não seja igualmente condenável e impensável de seus esconsos intentos?... Haverá repercussões sobre as mesmas, disso não tenham dúvidas. Quem chama ou clama por espíritos no limbo das mágoas e incertezas, só colherá maldade e fealdade em si. Não duvide disso! Quem optar pelo bem (sem que com isso se utilize as idênticas armas de arremesso do poder do mal), poderá ter o bem, se o fizer em si e, nos outros. Essa, é a única Magia que eu conheço!...E a que quero em permanência e efeito. Para todo o sempre!

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