1979 - Um ano de uma trajectória política e social assaz tumultuoso e de transformação constante.
O Xá Reza Pahlevi abandona o Irão, "permitindo" assim, o regresso triunfante em Teerão, de Ayatollah Khomeini, incrementando o islamismo no país. Idi Amin Dada, o chefe de estado do Uganda, acusado de ter mandado matar mais de trezentas mil pessoas, na sua ditadura, foge para a Líbia.
Uma coisa boa neste ciclo mau: o Parlamento europeu reúne-se pela primeira vez, tendo como presidente, a francesa Simone Weil. Por cá, pelo nosso pequeno burgo, também seria uma senhora a ocupar o lugar da Presidência da República portuguesa, de seu nome Maria de Lurdes Pintassilgo ( e ainda que eu não fosse da sua facção política, muito me tinha aprazido que tal sucedesse no meu país).
Na Irlanda do Norte, assassinariam o Lorde Louis Mountbatten, tio de Isabel II, e último vice-rei da Índia. E as tragédias não acabariam aqui...apesar de em Bruxelas, os Estados membros da Nato reunidos, terem chegado a acordo sobre um amplo programa de rearmamento no sector dos mísseis de médio alcance - o que não se resumiria ou reverteria em equivalência de qualquer indução de desarmamento militar entre estes - mas que pelo menos, em interacção global, lá se terem entendido de se não porem a disparar mísseis e outras coisas bélicas, uns contra os outros. não terá sido por isso em forma de desmotivação ou imponência desse agrupamento, que as tropas soviéticas se quedaram de investir pelo Afeganistão adentro, na sua invasão, matando o respectivo primeiro ministro da época, Hifizullah Amin. Terá sido infrutífero acredito, pelas centenas e milhares de mortos após essa tomada de posse soviética. De um lado e, do outro!
Mas enquanto isso, ou três meses antes de tal suceder (pois a invasão soviética dera-se em Dezembro) e por cá, pela minha bela terra de mar e sol e ainda por razões de ócio e folgada época estival - após a divertida festa da aldeia dos meus avós paternos - eu estar em fim de ciclo, queimando os últimos cartuchos como se diz aqui (que é o mesmo que se dizer, aproveitar tudo até à última...) aspirando e retendo na memória, o Verão que já se despedia. Tinha a mesma idade com que a minha avó se casara, no princípio do século e que, diferentemente desta, eu não querer assumir nada disso. Era livre e gostava disso. Ou era obrigada a isso pois não havia mouro na costa e eu, em celibato forçado e punitivo pelas más escolhas havidas anteriormente, me cingir nesse momento, à única companhia viável desse tempo: o meu pequeno irmão. Tínhamos dez anos de diferença e eu sentir que de vez em vez, lá teria de ser a sua ama seca, escalando a Serra da Amoreira, a aldeia em questão ou indo caminhar de bicicleta com ele, ficando eu para trás e não raras vezes, esfarrapada e despojada no chão. Fizemos um pacto então: eu ia sempre com ele mas em caminhada pedonal, aberta e sem obstáculos na frente. eu já não tinha idade para tanta esfoladela, até porque, senhora que se preze, não sobe às árvores nem se esparrama ao comprido no asfalto!...
A Amoreira - a aldeia dos meus avós paternos que já fora vila com foral concedido por D.Manuel em 1512, pertencendo à Casa das Rainhas e, nessa época medieval, ter possuído um castelo e uma Misericórdia, hoje desaparecidos. Só existiam na minha imaginação e como tal, tentando relembrá-lo e incitá-lo no meu irmão menor, lá ascenderíamos no torpor de uma enseada declinante e não muito segura. o rapaz aceitou a coisa e lá fomos em passeio, mas sem farnel e sem bússola que nos protegesse. mas fomos, ainda assim.
Chegados ao cimo, esbaforidos e sem ganas de o voltar a fazer tão depressa, sentando-nos de seguida - e observando a vista magnífica, deslumbrante mesmo a nossos pés de uma terra em vale imenso de terras agrícolas trabalhadas em fazendas e quintas inúmeras na riqueza de algo que já suspeitávamos da nossa aldeia por simpatia, que não de berço. De repente...um zunido! Pareceram-nos milhares de cigarras gigantes ou zangões deveras zangados...num borbulhar terrível de coisa estranha, atrás de nós. Nem nos déramos ao trabalho de pesquisar o que estaria por detrás dos velhos moinhos de outrora, corcovados e comidos pela erosão do tempo. As ruínas dianteiras a nós, altivas mas gastas como fantasmas perenes, intuindo algo que sem saber, já temíamos...tremendo ambos, agarrados um ao outro e eu a jurar nunca mais subir aquela encosta maldita, e o que veríamos, deixou-nos derreados e sem fala. Um coisa lustrosa, sibilante de uma cor acinzentada, metálica. Parecia refulgir sobre nós, vindo de dentro da Serra em que nós os dois lhe seríamos intrusos e invasores e não esta nove ou coisa assim. Coloquei o meu irmão por trás de mim que se urinou de seguida pelo medo e pelo receio de eu não estar á altura dos acontecimentos. Eu balbuciaria algo deveras imperceptível até para com o comum dos mortais, tal o meu nervoso miudinho. ou grosso...não sei. Tinha de proteger o meu irmão ou à vinda para casa, os meus pais retaliarem, podendo dar-me uma carga de pancada como quando certa vez ( e sem querer, claro está...) eu lhe ter entalado os deditos no elevador do prédio em Lisboa e nem ter dado conta, levando-o ao colo. tinha sido negligente dessa vez e jurara a mim mesma, não mais descurar nenhum pequeno pormenor que o pusesse em perigo. Que faria agora e ali, sem margem de manobra para me mexer e galgar com o miúdo pela enseada abaixo...? As pernas não deixavam e a voz essa, também não. Nem para gritar, ó da guarda!...alguém que nos acuda, aqui...
Foram segundos. Milésimos de segundos, sei lá! Foram um susto. A minha adolescência já estava marcada há muito, desses factos paranormais ou extraterrestres. Era apenas mais um no curriculum, achei! E sem saber ainda do que a vida me reservava, de futuro. Raios, pensei...até parecia que tinha um íman agarrada a mim, para que tantas destas coisas me aconteçam! Nossa Senhora da "Agrela"
"A Coisa" subiu aos céus e eu e o meu irmão, sem dizer nada um ao outro e a fazer daquele facto, um baú sagrado (ainda mais mítico e sagrado que o Santo Graal...sentíamos) descendo por ali abaixo em frémito de medo e arredo, como se um touro ou leão viesse atrás de nós em bocarra de fome de meses a fio.
Novamente - e desta vez com mais lógica e mais força - fizemos um pacto de sangue em que nenhum de nós, se abriria em confissão ou confidência coloquial do que acabáramos de ver. Também ninguém acreditaria em nós...sabíamos. Uma miúda a deixar a puberdade com laivos de mulher crescida que ainda não é, e um rapazola que mal se tem nas pernas e ainda veste calções e ilhargas...quem acreditaria?
Fizemos segredo. pelo menos, até sermos adultos e rirmos desse facto ou ocorrência doida. Pelo menos, eu já tinha motivos de sobra para não me perder em choros idiotas e despojados da realidade, aquando ouvia o Joe Dassin cantar ou o Jacques Brel, na minha fase mais erudita da juventude.
Hoje, no limiar de um pensamento maior que me conduz a alma, posso sentir em pensamento e sentimento, de que há algo muito grande, muito acima de nós e isso já o disse...muitas vezes. A barreira de um conciliador e filósofo e homem de alma grande como Dalai Lama em tese tibetana ou, um Alan kardec, historiador e senhor dos espíritos que nos vagueiam e ladeiam na nossa grande caminhada terrestre, eu assimilo como ar que respiro e venero na sedução crente do bem, só do bem que temos de fazer na Terra. se existem outras civilizações que, como nós o pensem e o sintam, então...sejam bem vindos. Se vierem por bem...que venham mas...não nos assustem. Hoje, já pouco ou nada me assusta. Talvez a doença...sim. E a tristeza de não ter amor, de não dar amor. É por isso que ainda hoje, ouço o "Je Tàime, moi non plus... da Jane Birkin do Serge G. O romantismo não pode ser incompatível com as novas tecnologias ou a visionária que sou, de ter havido contactos extraterrestres. Aqui está a prova de dois mundos (ou mais...) inquietos e vibrantes numa osmose de corpos físicos e espirituais, sentidos num só, como em mundos paralelos que Deus nos valha, a haver outra como eu, vai ser lindo! Vou pensar nisso. A sérir "Fringe" muito á frente no tempo, acredito, já nos dá uma ideia que é capaz de não nos ser tão ficcional assim. É tudo fantasia, diria o meu pai, aquando no cinema, tudo explodia ou o actor principal morria e nós lá em casa chorávamos a bandeiras despregadas. Tudo fantasia...ou não? Por mim, que muito me respeito...não acho. Sei o que vi. Sei o que senti. Eles andam aí e são muitos. E fogem de nós. Porque será...?
Se somos seres inteligentes, temos de lhes conceder igualmente o benefício da dúvida e não, deixar alastrar a ignorância e a subtileza dos infelizes que nos querem tapar a boca e o cérebro. E matar à paulada, qualquer resquício de uma maior abertura de mente e circunstância, sobre estes factos dos nossos amigos das estrelas. Eu vi uma nave! Fosse de onde fosse, aquela coisa também me viu e não me cumprimentou. Fugiu. Mas não me peçam para dizer, se teria lá ficado a ver pois que a precoce idade mo não permitiam nem tão pouco o coração que, acelerado, quase deixara de bater. Mas acredito que eles me perdoaram essa fraqueza de alma. Afinal...eu sou um deles. E eles, sabem disso!
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