Há almas eternas, outras imortais e talvez até mesmo outras confortavelmente emanentes sobre o Universo; cabe-nos a nós descobrir quais as que nós somos, por outras que andam por aí...
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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013
A Outra Alma
Jesus Cristo: o homem e o mito entrelaçados do que possa ter sido divindade, mensageiro das estrelas ou simplesmente um mais profeta, sábio e quiçá milagreiro de entre tantos outros na época? Será heresia podermos questionar os limites de um e outro, como homem ou de facto o Filho de Deus?
O Homem e o Mito
Talvez nenhuma outra personalidade tenha marcado tanto os espíritos das pessoas de há dois mil anos a esta parte como Jesus de Nazaré o conseguiu. Nenhum outro deverá ter sido objecto de tantos livros nem de tantas discussões apaixonadas. Não obstante, a figura histórica de Jesus permanece envolta nas sombras do mistério. Aquilo que dele ficamos a saber através da Bíblia, são em grande parte lendas, que muito devem ao culto de que Cristo foi objecto, e histórias possivelmente ficcionadas.
Falta de Provas Históricas
Aos historiadores seus contemporâneos, deverá Jesus ter passado completamente despercebido ou, pelo menos, parecia pouco digno de lhe ser feita qualquer referência. É surpreendente que este indivíduo, que toda a cristandade adopta como referência, tenha merecido fora da literatura cristã um estatuto semelhante ao de uma mera nota de rodapé num compêndio de História.
Filon de Alexandria (20 a. C.-50 d. C.), um contemporâneo de Jesus, escreveu cerca de 50 obras cuja temática abarca a História, a Filosofia e a Religião. Jamais fez qualquer referência ao Filho de Deus.
Acerca de Pôncio Pilatos, porém, encontra Filon muito para dizer. Só por volta de 115 d. C. é que, pela pena do historiador romano Tácito (55-116) é feita referência à «supersticiosa seita» dos cristãos, que derivam o seu nome de um tal de Cristo. Plínio, o Moço (62-113), escreveu acerca de Cristo na Bitínia, uma região na Ásia Menor, que foi entregue aos Romanos já em 74 a. C. e que, até 395 d. C. se manteve como parte integrante do Império Romano. Suetónio (70-140) descreve a expulsão de Judeus de Roma levada a cabo sob o Reino do Imperador Cláudio (41-54), pois sob influência de um tal de «Chrestos» estes haviam causado distúrbios.
Numa obra do historiador judeu Flávio Josefo (37-c.100) Jesus é apresentado como capaz de operar milagres e caracterizado como um bem-sucedido mestre que transmite ensinamentos. No entanto, esta conhecida obra, o «Testimonium Flavianum», não foi na realidade escrita pelo próprio Flávio Josefo. Trata-se de uma obra que lhe é atribuída, mas que deverá ter saído da pena de um copista cristão do século III, como recentemente veio a comprovar-se.
Um entre Muitos
Ao que parece, durante o curto período de notoriedade pública de que Jesus terá gozado na Palestina, pouco se deverá ter destacado dos numerosos pretensos profetas, sábios e milagreiros que julgavam então desempenhar uma missão divina. Os milagres que são atribuídos a Jesus, foram pelos autores dos Evangelhos aproveitados dos relatos que então circulavam, e que faziam referência aos feitos de taumaturgos famosos que anteriormente haviam existido, tais como Epiménides (século VII a. C.), Pitágoras (século VI a. C.) e Empédocles (século V a. C.). De Empédocles, contava-se de que havia curado gente doente, que ressuscitara mortos, que afastara tempestades e, conseguira mesmo predizer o futuro.
As semelhanças com os milagres atribuídos a Jesus, são por vezes surpreendentes. O episódio em que Jesus ordena a Pedro que uma vez mais este lance as redes à água (Lucas 5, 1-7) é aproveitado de um relato acerca de Pitágoras que, em Cróton, vaticina aos pescadores a quantidade de peixes que eles apanharão se voltarem a lançar as suas redes ao mar.
Também a biografia de um enigmático mago, Apolónio de Tiana, um contemporâneo de Jesus, revela numerosos paralelismos com as histórias que sobre este último aparecem narradas nos Evangelhos: também Apolónio proferia vaticínios, curava doentes, esconjurava demónios - chegando a chamar uma morta de novo à vida - e, escapou-se de modo inexplicável da prisão, sendo que, após a sua morte, foi venerado como um herói ou mesmo um deus.
Jesus, um Cínico?
Para o doutor Burton L. Mack, um especialista em História da Religião, o verdadeiro Cristo poderá na realidade ter sido um filósofo cínico. Os partidários da escola filosófica fundada por Antístenes, um discípulo de Sócrates, eram na Antiguidade Clássica conhecidos como cínicos. Desprezavam todos os valores e convenções religiosas - e públicas - e, cultivavam a sobriedade.
As posições extremas de Jesus relativamente às convenções, os seus desafios: ("Deixai os mortos enterrarem os seus mortos"), as suas declarações em tom de crítica social: ("Se alguém te quiser tirar o casaco, dá-lhe também a camisa"), tudo isso faz lembrar as posições adoptadas pelos filósofos cínicos, a sua simplicidade e modéstia, o seu descaramento, o seu desprezo pelas convenções.
Jesus usava uma linguagem hermética, com sentenças breves, máximas, aforismos e parábolas. Os cínicos faziam igualmente uso - e aperfeiçoaram estas fórmulas retóricas - no sentido de estabelecer regras de vida sérias que servissem de orientação para o comportamento, apresentando-as numa roupagem alegre.
Todas estas alegorias e vertentes filosóficas de que Jesus terá estado imbuído e, em parte calcinado, dá-nos a livre percepção dos actos assertivos que ele desejaria «impor» na população da época. O pensamento poderia até ser questionável no radicalismo que Jesus apelava a que todos cumprissem numa maior racionalidade e também seriedade. Muito à frente do seu tempo ou, iluminação exterior das estrelas ou mesmo de um Reino seu que só este conheceria, muito se especula ainda hoje também, sobre a sua proveniência divina e de útero materno virgem. É passível de o fazermos, de o contestarmos em ciência (não muito exacta ainda...) e de, uma certa orquestração documental que ao longo dos tempos se foi verificando em alteração e certos consensos abstractos ou mesmo contraditórios. Hoje tudo é questionável, até mesmo a fé, essa mesma fé que tantos possuem em si, sendo igualmente inexplicável. Homem e mito, a acoplagem perfeita para que o possamos seguir em ícone perfeito ou, de uma perfeição que nós próprios queremos e desejamos atingir na Terra. Por isso, como sempre afirmo de que por um maior e mais lato conhecimento humano, possamos ser dignos de tudo isso ou apenas em parte e, a bem de todos, assim possa ser!
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