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terça-feira, 26 de novembro de 2013

A Colina Mágica



Seria Borobudur um lugar de culto destinado ao povo?


Indonésia- Ilha de Java

Borobudur nunca teve as características de uma construção real, como o eram por exemplo, as pirâmides egípcias. Qualquer pessoa poderia visitar o templo e subir as escadarias sem qualquer impedimento. Terá sido este então, um lugar de culto destinado ao povo? Curiosamente não foram encontrados no templo quaisquer indícios de lugares próprios para a realização de cerimónias rituais.
Borobudur parece ser assim um símbolo edificado em pedra do sistema cósmico do budismo e, simultâneamente, a expressão simbólica do caminho para a iluminação.

Esta descoberta fantástica foi feita em 1929 pelo estudioso alemão W. F. Sutterheim. O pensamento budista aspira, mediante reencarnações sucessivas, a alcançar o estatuto de «bodhisattva», uma espécie de estado semidivino. Isto acontece precisamente quando o iluminado se une com a Natureza, para tal percorrendo um caminho que atravessa três esferas. São estes três estados da iluminação que Borobudur parece simbolizar.

Estádios da Felicidade

Na plataforma inferior, os crentes podiam admirar mais de 160 relevos. Este nível representa o «Kamadhatu», a esfera do desejo. Os quatro planos subsequentes representam o «Rupadhatu», a esfera da ordem. Continuando a subir, os fiéis ascendiam aos níveis superiores. Após percorrerem um total de cerca de 5000 metros em redor do templo, repleto de uma interminável sequência de relevos, alcançavam a plataforma quadrada mais elevada. A partir daqui a vista torna-se mais desimpedida e os planos circulares que se seguem, menos ornamentados, ficam visíveis. Trata-se da esfera de «Arupadhatu». Os fenómenos compreensíveis do espaço finito deixam de estar patentes. O círculo, enquanto símbolo do infinito - que existe sem princípio nem fim - foi finalmente alcançado. As «dagobas», estruturas em forma de sino e semelhantes a capelas, permitem através de aberturas romboidais, contemplar a expressão dos 72 budas sentados no interior de cada uma dessas estruturas de pedra. Aqueles que andam em busca de algo, deverão ser lembrados de que jamais poderão reconhecer senão uma fracção de toda a realidade.

Pirâmide em Degraus - Rumo ao Nirvana

O «Stupa» central, situado no nível mais elevado, é com certeza o mais misterioso de todos. Provavelmente não terá em tempos albergado - no seu interior - qualquer estátua de Buda, simbolizando assim o Nirvana, a perfeita tranquilidade da alma e, a libertação do interminável ciclo da transmigração das almas.
Borobudur foi, por conseguinte, concebido como uma espécie de «Colina Mágica», um percurso ao longo do qual, os infiéis iam alcançando níveis cósmicos cada vez mais elevados e que os ajudava a despertar recordações da própria vida passada, bem como a fixar novos objectivos para o futuro. Só quando uma nova religião, o hinduísmo, conquista Java é que esta monumental construção foi votada ao esquecimento e, juntamente com ela, também a noção de uma iluminação gradual e progressiva da Humanidade.

Visão do Macrocosmos

Como se se movimentasse através de um enorme livro ilustrado, o peregrino passeava-se no sentido dos ponteiros do relógio pela primeira galeria do templo e deparava-se com imagens que representavam as boas e as más acções, bem como as recompensas ou castigos. Por meio dos lanços de escadas trepava até à quinta plataforma e, ao longo desse percurso, 1300 relevos e 432 estátuas de Buda revelavam-lhe a sua mensagem religiosa. A «narrativa» aí contida informa acerca da vida de Siddharta e da sua progressiva iluminação e também, da busca de um caminho de verdade.
A ascensão espiritual concretizava-se ao alcançar a esfera do desprendimento de tudo aquilo que é terreno. Borobudur assemelha-se assim a uma enorme mandala, um meio de apoio à meditação que é composto por diagramas mágicos e que, ajuda a superar o mundo ilusório dos objectos.

Ainda no início do século passado, Borobudur assemelhava-se a um enorme monte de pedras corroídas pelo tempo e vítima de imensos saqueadores. Só em 1885, é que arqueólogos holandeses descobriram mais de 160 relevos escondidos por detrás de placas de pedra.
No âmbito de um projecto especial da UNESCO foram investidos - entre 1971 e 1981 - 25 milhões de dólares, no sentido de serem reparados os danos mais sérios da construção. Para tal foi necessário desmantelar toda a estrutura e voltar a montá-la, peça por peça.

Borobudur ou a «Colina mágica», no alcance de níveis cósmicos cada vez mais elevados que auxiliariam os fiéis a redescobrir as suas vidas passadas, as suas boas e más acções passadas, bem como a fixar então no presente, novos objectivos futuros ou mesmo desse próprio futuro a cumprir por si.
Nirvana ou simplesmente o zénite da boa-ventura, da contemplação e da harmonia total no ser humano. Almejamos tal. Ansiamos por o encontrar, por o absorver, por o conquistar a breve ou a longo prazo, ainda que não na Terra que o seja no Além, no sistema solar ou no imenso Universo estelar. O certo, é que o desejamos acintosamente com toda a alma que nos abrange e invade, mesmo para além da vida. Que tal nos possa ser uma realidade que Buda conheceu, Cristo possivelmente também, Maomé supostamente e todos os outros lideres religiosos que nos guiaram até aqui. Acordemos numa coisa: todos buscamos a felicidade, seja esta uma realidade dentro ou fora do planeta. E, para sempre na perfeição que também almejamos nem que para isso tenhamos de viver muitas outras vidas. O Nirvana espera-nos. É nisso que acredito!

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