Figuras gigantes e Labirintos como locais de culto, estes últimos, com um importante significado mitológico, funcionando como alegorias dos «erros e deslizes da vida» e do «caminho através da eternidade».
O Homem Nu de Cerne
Bem acima da aldeia de Cerne, no Condado de Dorset - no Sul de Inglaterra - ergue-se a figura imponente de um homem nu que balança uma moca nodosa com 37 metros de comprimento e cujo falo, com 9 metros de comprimento, aponta provocantemente para cima. Embora este gigante seja considerado um símbolo de um culto de fertilidade pré-histórico, segundo a tradição oral também estará revestido de características astronómicas. Não existe qualquer registo da data ou de quem descobriu este fenómeno, mas, se uma pessoa se posicionar no primeiro dia de Maio sob a ponta inferior do falo, verá o Sol levantar-se diante de si em linha recta. Até à presente data, o gigante também tem servido para outro tipo de rituais: mulheres, cujos relacionamentos atravessam uma crise, percorrem a figura na esperança de melhorar a relação; outras ainda, vêm antes do casamento pedir para serem abençoadas com muitos filhos.
O Homem de Wilmington
A origem e o significado do segundo gigante inglês, cujos contornos se mantêm lavrados no solo exibindo as camadas de cré por baixo desde há centenas de anos, são um mistério. O «homem comprido de Wilmington» junto a Eastburne, no Leste do Condado de Sussex, evidencia formas corporais atléticas imponentes, mas nenhum traço facial. Dado que o corpo também não apresenta características que permitam identificar o sexo da figura, esta poderá ter sido concebida como esboço genérico de um ser humano. Para além disso, a figura segura um bastão com 73 metros de comprimento em cada mão, não tendo sido ainda possível confirmar as especulações que afirmam que ela já teria segurado uma foice e um ancinho, não desmentindo assim as que asseveram que teria sido um líder guerreiro com armas.
Correcções Metódicas
Certo é que, na sua longa história, estas figuras majestosas foram sofrendo alterações. Nos duzentos anos que precederam a Primeira Guerra Mundial - pelo menos todos os sete anos e seguindo um ritual tradicional - a população rural restaurava tanto os gigantes como o cavalo branco de Uffington no dia do solstício de Verão. De acordo com um costume antigo cuja origem é ainda desconhecida, a relva e as ervas daninhas que iam crescendo eram então retiradas das figuras com muito cuidado. Estes trabalhos de restauro estavam ligados a uma cerimónia em que, por debaixo do cavalo, os aldeões deixavam rolar enormes rodas de queijo ribanceira abaixo. Esta tradição poderá ser o que resta efectivamente, de um antigo ritual de fertilidade numa possível variante das rodas de fogo pagãs que, os adoradores do Sol da época pré-cristã, atiravam para o vale como dádiva ao Sol.
A maioria destes costumes caiu entretanto no esquecimento, de modo que as influências atmosféricas e a relva vicejante - em breve - poderão tapar por completo os contornos das figuras de cré, à semelhança do que já acontece com o cavalo vermelho de Tysoe. De resto, com a ajuda de aparelhos próprios, os arqueólogos conseguiram determinar de que o terreno à volta das figuras também foi por várias vezes manipulado no Passado. Não é contudo possível haver essa reconstituição, se houver partes das figuras que se perderam ou se lhes foram acrescentados bocados que aí não pertencem.
Labirintos como Locais de Culto
Estas figuras na paisagem inglesa podem ser estudadas no contexto das estruturas anelares, semelhantes a circunvalações da época pré-histórica que se encontram espalhadas pela região. Recentes suposições de que os referidos taludes circulares seriam fortalezas foram entretanto corrigidas.
Com quilómetros de comprimento, o Maiden Castle, junto a Dorchester, não muito distante da costa sul inglesa, apresenta várias entradas labirínticas que, do ponto de vista militar, não fazem qualquer sentido. Alguns estrategos calcularam que, para defender esta construção fortificada, seria preciso um exército de duzentos e cinquenta mil homens. Os historiadores contrapõem que aí seriam celebradas várias festas exuberantes, as quais ligavam a vida rural com os costumes religiosos, assinalando pontos importantes no decorrer do ano - tais como, o primeiro dia de Maio - no solstício de Verão, quando começava a época da colheita ou, o solstício de Inverno, enquanto renascimento da luz.
Muitos são os argumentos a favor da tese que aponta para que as fortificações da Idade do Ferro (século VIII a. C. - século IV d. C.) servissem como locais de culto, pois os labirintos tinham em tempos remotos um importante significado mitológico: funcionavam como alegorias dos «erros e deslizes da vida» e do «caminho através da eternidade».
Hércules ou Nodens?
O mais provável é estas figuras enormes, situadas nas colinas da Grã-Bretanha, serem de natureza sagrada e estarem intimamente ligadas à vida humana: podem simbolizar a fertilidade, o nascimento e a morte, a mudança das estações e a obra dos deuses, bem como lendas e mitos antigos. O Gigante de Cerne poderia eventualmente representar o deus celta Nodens, venerado antes da invasão romana, em 43 d. C. É ainda possível que os ocupantes romanos tivessem querido introduzir na Britânia pagã o semi-deus Hércules, visto que já seguiam um culto bastante difundido em torno do antigo herói, filho do deus-pai Zeus. Hércules, travara ainda no berço, uma luta contra duas serpentes, sendo a sua vida após isso, recheada de inúmeros outros feitos heróicos.
Quanto aos labirintos - um deles, localizado em Doddington Moor, no Condado de Northumberland - servindo como locais de culto ou não, são até hoje considerados como locais de uma interioridade extrema num debate sempre acesso sobre a circunstância e proveniência dos mesmos. Serão de facto alegorias dos erros e dos deslizes da vida mas certamente também - e, muito mais do que isso - o tal caminho através da eternidade que, a ser verdade, nos remete para uma outra questão: serão estes labirintos, a configuração certificada no terreno de uma nossa transposição de corpo e alma em vida eterna para além de todas as coisas? Mostrar-nos-ão assim os nossos antepassados, a verdadeira essência e alegoria do que aqui andamos a fazer, a transpor, a aperfeiçoar? Se tal se considerar, seremos então mais felizes e muito mais condescendentes com o porvir de toda uma vida consistente e não banal do que julgamos em nós. Assim seja então, a bem de todos!
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