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quinta-feira, 14 de novembro de 2013

A Abdução

O Genoma humano foi uma troca? A concepção havida no Espaço uma prioridade? Haverá filhos meus no Universo que nunca conhecerei? Estarei a enlouquecer...? E se tudo não tiver passado de um simples sonho?...

 


1979 - Planeta Terra/Orion

Eu tinha 19 anos; a mesma idade com que a minha avó se casou no belo ano de 1919, um ano após a Primeira Grande Guerra de 1914-1918. Ainda possuo o seu retrato numa imponência sua muito austera e, pouco feminina. Não sorria, parecendo que mostrar emoções (mesmo que houvesse o beneplácito das mesmas pelo dia em questão do seu matrimónio com o meu avô) seria fraqueza, seria luxúria e possivelmente leviandade. Não lhe reconheci a felicidade no rosto mas soube posteriormente de que foi muito feliz nessa sua união em que concebera nove filhos, dos quais dois morreram cedo, precocemente. Dela, ficou-me os genes abençoados ou não, de ser uma mulher de força e guerreira do seu espaço e, do seu casulo familiar. Nunca lhe cheguei aos calcanhares, que é o mesmo que se dizer, nunca seria como ela foi em persistência, exuberância e fortaleza endémica da matriarca que era.

Mas voltemos a 1979: um ano complicado. O bom e o mau em coabitação tenebrosa num maniqueísmo doentio por entre as várias nações do mundo. Um acidente na central nuclear norte-americana de Three Miles Island em Harrisburg na Pensilvânia em 28 de Março desse ano que levaria à retirada de todas as crianças e mulheres grávidas existentes num raio de oito quilómetros. No Império Centro-Africano, numa manifestação de estudantes do liceu, mais de uma centena é massacrada: na repressão terá estado implicado pessoalmente o «imperador» Bokassa a 17 de Abril. Em 22 de Agosto, no Irão, uma mulher é executada por adultério, enquanto o seu cúmplice recebe cem chicotadas. A 14 de Outubro, a Amnistia Internacional apresentaria uma lista de 21 países onde as crianças eram torturadas. Estas, as coisas más. As boas...é galardoada com o Prémio Nobel da Paz, a albanesa Madre Teresa de Calcutá e na Universidade de Mineápolis, nos Estados Unidos, fez-se a primeira transfusão de sangue sintético.
Quanto à tecnologia, uma notícia boa e outra má. A boa: os cosmonautas soviéticos V. Liakhov e V. Riumine regressariam à URSS após terem permanecido 175 dias no espaço, e isto a 19 de Agosto desse ano de 1979. A má: o laboratório espacial norte-americano Skylab, que pesava 775 toneladas, despenha-se ao largo da Austrália em 11 de Julho, também deste fatídico ano de 79.

Talvez por esta última ocorrência ou não (não sei dizer) a minha vida mudaria. Não lembro exactamente do dia, da hora ou do momento pontual em que aquela luz incidindo em mim, me fez transportar para um mundo ou, uma dimensão que eu não julgava possível atingir. E muito menos, quando se tem apenas dezanove anos de idade. O Céu estava estrelado, disso recordo-me. Um aroma adocicado a flores gaseado numa atmosfera nocturna toda esta dócil e sem perturbação de espécie alguma que não fosse o cantar das cigarras e um ou outro som mais agreste ao longe, do fogo pirotécnico que estalava no ar pelas muitas romarias circundantes à aldeia dos meus avós. Tudo normal. Até que a luz se aproximou de mim, mais e mais e eu, sem latejar sem fugir, sem reacção que não fosse aquela «paixão submissa de uma entrega em hipnose total» deixei-me levar. O que recordo a partir daí...é nada! Até há uns anos atrás, após quase trinta anos dessa data. E o que recordo, é tão intenso, profundo e inconcebível que levaria outros tantos para o redigir ou expressar por palavras. Mas vou tentar.

Estou numa nave. Cinza, metalizada, branca. Olho em frente e tudo é mecanismos que não conheço. Os guias, os que me seguem e conduzem nesse espaço limitado onde estou, olham-me circunspectos. Não há maldade, hostilidade ou sequer a mais tangencial agressividade para comigo. Não me sinto incomodada, antes surpresa e até mesmo curiosa pelo que me defrontam (ou confrontam) necessitar fazer através de mim. São gentis. E bonitos. São muito altos de estatura e feições nórdicas uns quantos, outros são do tipo aleitado e de porte muito esguio e também estes me circundam, vigiam, e sinto que dão ordens de entre eles em relação a mim. É tudo muito estranho mas não há perguntas, não há hesitações, apenas o cumprimento de algo que já estaria predestinado em mim, sinto-o. Não me aflijo. Entrego-me. Se sou cobaia ou mero elemento de estudo, não sei ainda mas confio. Eu ouço-os mas não através dos lábios. É perceptível a língua sensorial de entendimento e correlação entre eles e depois também para comigo. De seguida, uma névoa, não sem antes eu lhes perscrutar igualmente as intenções e...os olhos. São fundos, brilhantes mas dóceis, numa compreensão telepática que me faz sentir afável e não revoltosa como seria de esperar. Aglutinam-me a dor. Não a sinto. Anestesiam-me, ao que julgo mas consigo ainda ter a percepção da análise fisionómica que começam a fazer em mim. Primeiro: testes sanguíneos, intrusão no plasma sanguíneo terrestre, oiço-os comentar. De seguida: extracção de óvulos; manipulação genética, aperfeiçoamento da espécie e suposta reprodução futura. Por fim: testes neurológicos. Destes, a visualização de: ondas cerebrais, memória, locomoção, fala, prontidão aos estímulos de dor, ambiente, sucção e libertação. Parte cognitiva: retenção da memória, do conhecimento, de contenção e expulsão dessas mesmas memórias em actividade cerebral remota ou imediata. Finalmente, o descanso. Os olhos pesaram-me e eu...deixei-me levitar no que supus ser um sonho aberto em sono pleno mas, sem agitação ou tumulto refractário do que estava a viver, além o que podia ou não imaginar fora do meu âmbito terrestre, único local por mim conhecido até à data.

Abdução, (ou violação íntegra...) na pessoa anímica, metabólica e psíquica que eu era como simples terrena do género feminino e que mal deixara ainda a púbere adolescência. Não tive consciência de nada. Acordei no dia seguinte na minha cama. É certo que levei dois dias a recompor-me sem saber a causa, limitando-me a considerar ter apanhado uma gripe de Verão (as piores, segundo alguns médicos) e que me fariam reter em casa, nauseada e meia moribunda, sentindo um certo desequilíbrio físico e talvez mental...não sei. Na época, considerei que devia estar a abusar não de tranquilizantes ou ansiolíticos (pois não os tomava) mas de qualquer outra maleita juvenil de festas, bebidas ou simplesmente horas mal dormidas. O que era plausível pois não me recordava de nada. Até há década seguinte...luzes, vibrações, memórias pontuais, tremuras, alucinações, pesadelos, febres e demais patologias em consequência dessa ou dessas abduções, reconheci. Passado o susto, recriaria a vivência dia a dia e não me fragilizei mais até por que não valia a pena, fundamentar mais esse desequilíbrio para o resto da minha vida. Havia que estudá-lo, dissecá-lo e fragmentá-lo como se faz a uma ave no laboratório de ciências, aquando aulas de estudo de outrora. Foi o que fiz. Apaziguei maus espíritos e almas, outras almas que me ergueram, conduziram e vivificaram, ainda que eu não lhes tivesse dado licença ou permissão para isso...

Após 1954, as abduções no ser humano tornaram-se uma constante. Houve trocas «militares» de abduções por tecnologia. E o que à priori nos parece horrível demais para ser verdade, torna-se simbólica, usual e mesmo compassivo de se tornar no futuro próximo, uma singularidade cómoda para todos os intervenientes nessa troca de favores. Nós somos apenas «peões» de pouco préstimo e direitos adquiridos pois há muito que os deixámos de ter e possuir em cada um de nós. Recentemente, já não são tão invasivos, inquisitivos ou mesmo admoestadores como até aí, julgo. A nível cerebral ou por vias de uma acintosa repercussão de consequências nocivas na parte neurológica do ser humano, começaram então a usar «pinças cirúrgicas» ou seja, a ser mais meticulosos em rigor específico sobre as mentes humanas que, a serem apagadas em amnésia temporal e factual - reconheceriam mais tarde, talvez - em errónea interpretação, estes virem a recordar os mesmos. Daí as luzes, as alucinações, os pesadelos e, os pequenos fragmentos da memória e que, em mnemónica acentuada, se faria emergir então. Psiquiatria, distúrbios mentais, inadaptabilidade e demais repercussões anómalas vigentes, onde - no espaço terrestre - continuariam as suas simples e módicas vidas quotidianas.

A minha experiência metafísica ou «simples» sonho terá contribuído em parte para esta minha fluente e acirrada maquinação - em consistência e determinação - para o estudo e investigação sobre «eles», os extraterrestres que não alienígenas. O que concluí: pactuam - orientam - determinam - certificam - autenticam - concluem. E essa conclusão é feita em extrema exactidão sobre o ser humano em intromissão e verdadeira autonomia licenciada, certificada e autenticada como já referi. Essa autonomia é-lhes fidedigna, assumem-no com toda a rectidão e consciência extraterrestre que os assiste também num poder supremo e superior a si também, seja no nosso globo terrestre, seja no universal. Cépticos ou não desta verdade, ela é apenas uma: não estamos sós, nuca estivemos e não estaremos de futuro. Com abduções ou sem estas. De preferência sem estas, digo-vos eu. A bem do que resta da Humanidade, assim seja!

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