Há almas eternas, outras imortais e talvez até mesmo outras confortavelmente emanentes sobre o Universo; cabe-nos a nós descobrir quais as que nós somos, por outras que andam por aí...
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sábado, 8 de março de 2014
A Terra Celestial
Vulcão Herdubreid - Sudoeste da Islândia
Terá sido a residência dos deuses, na Islândia - em terra mítica de Asgard - a terra celestial por onde viajaram os poetas antigos que compuseram a «Edda»? Terá sido neste lugar que deuses e seres celestiais vieram repousar das suas muitas actividades estelares?
Asgard - o Castelo dos Deuses Germânicos
Asgard, o castelo dos deuses - Helheim, o mundo inferior - a ponte que conduz ao Reino dos Mortos, os esconderijos dos demónios e os castelos dos gigantes, tudo isso existe na realidade. Os autores das velhas lendas germânicas associaram as descrições de espaços físicos a locais realmente existentes. O cenário dos mitos dos deuses germânicos situa-se bem longe do território continental da Europa, nos mares setentrionais do Oceano Atlântico, já perto do círculo polar Árctico: na ilha vulcânica da Islândia.
Até bem ao século XIII da nossa era, esta ilha constituiu o último bastião das crenças germânicas, onde mesmo depois da introdução do Cristianismo, o mundo fantástico e as velhas tradições se mantiveram vivos.
Em 1230 surgiu na Islândia a «Edda», uma colectânea de mitos nórdicos que constituiu uma das primeiras grandes obras da Literatura Mundial. Fala dos deuses e deusas dos povos germânicos, do deus-pai Ódin e de Sleipnir, o seu cavalo branco de oito patas, de Thor - o deus do Trovão - de Baldur - deus do Sol - do ardiloso Loki, que sempre semeia a discórdia em Walhalla - a residência dos deuses - e, de Freur, o deus da Fertilidade.
Vocabulário Alemão nas Sagas
Muitas palavras do léxico da língua alemã tiveram origem na Edda. É do nome da deusa dos mortos, Hel, que resulta a palavra «Holle» (Inferno), o deus Donar (também conhecido por Thor) deu origem a «Donnerstag» (quarta-feira) e Freya, a deusa do Amor, apadrinhou «Freitag» (sexta-feira).
Também expressões como Walhalla e Walkure (valquírias) foram retiradas desta colecção de lendas, organizada pelo poeta islandês Snorri Sturluson (1179-1241). Nas suas descrições das aventuras míticas sobre o início do mundo e o seu fim, sobre as tragédias e comédias que envolvem a vida dos habitantes de Walhalla, apercebemos-nos que não são grandes as diferenças em relação às vidas dos seres humanos na Terra.
No Encalço da Edda
Para Walter Hansen (n. 1934), um especialista na Edda da cidade de Munique, esta colecção de lendas constitui uma espécie de roteiro pelos locais já esquecidos por onde se movimentaram os deuses germânicos. Numa tentativa de combinar mitologia e geologia, encontrou numa região remota e desabitada da Islândia, aquele que deve ter sido o local onde Hermodhr - a mensageira dos deuses - entrou a cavalo para o mundo inferior com vista a recuperar Baldur, o deus do Sol assassinado. Para além disso, Hansen atravessou o Gjoll - o lendário rio que demarcava a fronteira com o mundo inferior - e encontrou a ponte que dava acesso ao tenebroso Reino de Hel - a deusa dos Mortos - ponte essa que se formara pela súbita precipitação de uma torrente de água, proveniente de uma cascata sobre um monte de lava incandescente.
"As lendas são resultado de um desafio lançado pela paisagem, pelo fascínio que esta exerce sobre o Homem", explica-nos Walter Hansen. "Cada mito está intimamente ligado a um determinado local. Estou convencido de ter conseguido achar Asgard, a residência dos deuses, na Islândia, a terra por onde viajaram os poetas antigos que compuseram a Edda.
A Paisagem como uma Inspiração
A afirmação parece plausível, já que de resto também o mito sobre o deus romano do Fogo - Vulcano - está ligado ao Vesúvio, um vulcão que já provou ser bem capaz de cuspir fogo.
O telhado refulgente de neve do castelo divino de Asgard ergue-se diante dos olhos do viajante, quando este avista o vulcão Herdubreid, situado no Sudoeste da Islândia - cujo cume consiste numa extensa plataforma coberta de neve. Também o trono de Ódin, Hlidskjalf - que se ergue ainda mais no Céu - aí pode ser visto, tal como surge descrito na lenda.
Muitos outros lugares místicos se revelarão ao visitante atento desta ilha, se este comparar as descrições contidas na Edda com as paisagens naturais da Islândia.
Os mitólogos estão convencidos de que, aqueles que tiveram a oportunidade de ter Asgard diante dos olhos, atingiram um marco importante na sua vida terrena, já que tiveram o privilégio de contemplar o Céu ainda vivos!
Yggdrasil - A Árvore Divina
Yggdrasil, a árvore do mundo, um freixo gigantesco que na Edda é descrito como sendo uma árvore do destino, um símbolo do devir e, da decadência do mundo. Quase todas as culturas possuem as suas árvores sagradas e, a noção de «uma árvore do mundo» que não se limita apenas à Islândia. As árvores crescem e movimentam-se, sussurram como os seres humanos e servem de abrigo a muitas espécies de animais.
O aspecto mais misterioso de tudo isto é que, na altura em que a Edda foi escrita, não havia na Islândia quaisquer árvores que pudessem ter servido de inspiração para Yggdrasil, pelo que se é levado a pensar que talvez a lenda tivesse sido trazida para a ilha por imigrantes.
Certos mitólogos acreditam que com esta árvore, a Yggdrasil, pretendia-se descrever a Via Láctea que todas as noites se tornava visível no firmamento.
A Islândia é assim o local «exacto», onde supostamente todos os deuses germânicos residem (ou residiram...) na sua epopeia celestial na Terra. Os locais onde estes seres divinos se reuniam e exerciam o seu governo, poderão com efeito ter uma existência real nas paisagens fantásticas da ilha. Quem empreender uma viagem de descoberta através da Islândia com a Edda - a dita colectânea de lendas mitológicas - na sua mão, notará semelhanças espantosas entre a realidade e ficção transmitida pela tradição. O que, para muitos de nós, poderá ser certamente o zénite global em sentimentos intensos e, uma certa espiritualidade intemporal. Exortando essa mesma contemplação - para quem observar Asgard - enunciando-se assim iluminado na confluência da paisagem em miríade de cor e beleza, onde ventos e sons vindos do Céu se fazem ouvir, sussurrar e ecoar nos terrestres como uma espécie de eterna oração sobre tão magnífica terra sua. Terra celestial ou terra de deuses na Terra, saberemos um dia se de novo nos visitarão, se de novo desta farão o seu pousio, a sua paragem em repouso, a sua renovada residência em Céu e Terra para além dos tempos. Que assim possa ser. E a nós venha o conhecimento, a ousadia de sabermos mais e continuarmos a ser o seu território humano eterno. A bem dos Deuses! A bem da Humanidade!
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