Há almas eternas, outras imortais e talvez até mesmo outras confortavelmente emanentes sobre o Universo; cabe-nos a nós descobrir quais as que nós somos, por outras que andam por aí...
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quinta-feira, 27 de março de 2014
A Interacção Cultural
Estátua no Templo do Jaguar - Chichén Itzá México
Haveria já - há cerca de 3000 anos - contactos transpacíficos entre os povos das regiões orientais da Ásia e, do Novo Mundo? Que interacção cultural foi essa que deixou vestígios tão semelhantes ou idênticos aos registados entre a civilização Maia e a dinastia Chang?
Antigos Contactos Transpacíficos
O aventureiro Thor Heyerdahl conquistou fama mundial ao conseguir em 1947 viajar por mar do Peru até ao Taiti numa jangada feita de madeira de balsa a que deu o nome de «Kon.Tiki», construída de acordo com velhas técnicas Incas. Com esta experiência pretendia provar que os oceanos não haviam constituido uma barreira para o contacto entre os povos, mas antes um modo de ligá-los.
A Difusão das Pirâmides
Talvez seja demasiado simplista a tentativa de explicar a grande difusão do formato arquitectónico da pirâmide por todo o mundo através da existência deste tipo de contactos transoceânicos desde tempos primitivos. A pirâmide enquanto expressão de um desejo de chegar perto dos deuses e, do Céu, consiste numa transposição da ideia ainda mais primitiva da montanha sagrada de muitas civilizações. Trata-se da realização concreta de uma imagem arquetípica gravada no inconsciente colectivo da Humanidade.
Para explicar o aparecimento das pirâmides em diferentes continentes, culturas e épocas, não tem necessariamente de aceitar-se as teorias propostas pelos difusionistas, os quais partem do princípio de que as mais importantes conquistas da Humanidade foram difundidas através de contactos entre culturas muito distantes.
Intercâmbios Culturais entre a Ásia e a América
Contudo, não deixam de ser por vezes bastante surpreendentes as semelhanças existentes ao nível da escolha dos meios da representação e dos ornamentos, a tal ponto que um certo intercâmbio cultural em tempos longínquos parece ser uma certeza.
Entre os mais veementes defensores desta teoria conta-se o etnólogo e arqueólogo austríaco Robert von Heine-Geldern (1885-1968). Os seus estudos revolucionaram as nossas perspectivas dos progressos culturais registados no Sudeste da Ásia, na Polinésia e nas civilizações antigas da América.
As coincidências existentes entre a arte e a arquitectura do Sudeste da Ásia e, por exemplo, a dos Maias da América Central parecem confirmar a hipótese de que terão existido trocas culturais regulares e, que não se terá apenas registado uma importação unilateral de valores culturais. Heine-Geldern via sobretudo na forte expansão marítima das populações das costas da China e do Vietname, no sentido do Oriente e a mola propulsora para a forte divulgação de determinados objectos e técnicas: tal é o caso do papel e da tinta de escrever, da técnica de dobragem dos livros - que estava em uso na China na dinastia T`ang e volta a aparecer nos códices dos Maias - ou da técnica da impressão sobre fibras têxteis, que também era dominada de ambos os lados do Pacífico.
Na China, também a partir de registos antigos se chegou à conclusão de que os Chineses haviam já descoberto a América. Assim, no «Liang Shu» (A História de Liang) do século VII d. C., conta-se a história do monge Huishen, que na época da dinastia do Sul, viajara por sobre o oceano e descobrira uma terra chamada Fusang, que de acordo com Liang Qichao (1873-1929) seria o actual México. Também nas lendas do «Shang Hai Jing (O Livro das Montanhas e dos Mares) estarão descritos lugares situados no Continente Americano.
Buda e os Soberanos Maias
Encontram-se também outras correspondências interessantes entre alguns motivos budistas no espaço asiático e certas representações dos Maias no México. Numa estela de Quiriguá (Guatemala), o monarca é apresentado com as pernas cruzadas, sentado na posição de lótus. A estrutura colocada em redor do seu corpo como se fosse um ornamento representa o Céu, animado pelos símbolos celestes e respectivos seres míticos. Encontramos figurações comparáveis em muitas construções budistas, como por exemplo, no templo das cavernas de Ajanta, onde o Buda surge retratado com uma moldura muito semelhante em seu redor.
Escritos Chineses no México
Michael Xu, professor assistente de Língua Chinesa e Filosofia na Universidade Cristã do Texas, (EUA), é da opinião que houve um estreito contacto cultural entre a China e a América desde tempos bastante remotos. A sua suposição baseia-se em escavações realizadas na América Central e no Sudoeste dos Estados Unidos, nas quais foram encontrados artefactos com inscrições e símbolos que, apresentavam semelhanças surpreendentes com símbolos gravados em ossos da dinastia chinesa Chang (1600-1100 a. C.)
Michael Xu e Chen Hanping depararam com os mais importantes exemplos deste género numa exposição sobre a cultura Olmeca na National Gallery of Art, em Washington. Trata-se de 15 figuras humanas de jade que observam uma outra figura de arenito vermelho. Este grupo de figuras foi posto a descoberto em 1955 em La Venta, no México. por detrás destas figuras encontravam-se 6 instrumentos de jade, nos quais ainda se percebia a presença de alguns símbolos e inscrições. Na escrita própria da dinastia Chang, podia ler-se nela: "O soberano e os seus chefes militares estabeleceram as fundações de um reino."
Noutros desses instrumentos conseguia distinguir-se a inscrição «doze gerações». Ambos os investigadores avançam a hipótese de estas inscrições se referirem aos 12 reis da dinastia Chang, que reinaram desde a cultura em que Pan Geng transferiu a sua capital de Shandong para Yin. Na opinião de Xu, os símbolos que designam as noções de agricultura, astronomia, chuva, religião, sacrifício, Céu, Sol, árvores e água são praticamente idênticos em ambas as culturas. Colegas seus na China - a quem ele quis mostrar pela primeira vez os instrumentos de jade da América Central - começaram por discordar, argumentando que não estavam habilitados a produzir opiniões acerca de artefactos de culturas estrangeiras. Quando por fim anuíram, quiseram saber em que região da China aqueles objectos haviam sido descobertos. Estavam firmemente convencidos de que se tratava de exemplos de inscrições da dinastia Chang, tais eram as semelhanças.
Dinastia Chang no Novo Mundo
Em relação ao que foi encontrado em La Venta, tratar-se-à efectivamente de objectos rituais que um grupo de apoiantes da dinastia Chang teria trazido consigo ao fugir numa altura em que a dinastia foi derrotada? Michael Xu defende uma tese deveras provocante, segundo a qual, a primeira grande civilização da América Central teria tido origem num grupo de chineses que nos últimos dias da dinastia Chang, teria sido forçado a encontrar refúgio na costa do actual México.
A cultura dos Olmecas deu os seus primeiros passos por volta de 1200 a. C., numa altura em que o Rei Wu vence o último rei dos Chang - pondo assim fim a essa dinastia.
Michael Xu encontrou assim apoio para as suas polémicas teses nos trabalhos da arqueólogo Betty Meggers, do Instituto Smithsoniano de Washington, nos EUA. Os estudos que ela própria desenvolveu revelam também a existência de semelhanças surpreendentes entre a cerâmica encontrada em Valdivia, no Equador, e aquela que foi desenvolvida pela cultura japonesa de Jomon. Daí resulta que tal teria já havido contactos transpacíficos por volta de 3000 a. C.
Michael Xu e Betty Meggers acreditam que barcos provenientes das regiões orientais da Ásia, poderiam perfeitamente ser levados para o Novo Mundo sem grande dificuldade pelas correntes naturais do Oceano Pacífico.
Natural será o desenvolvimento que actualmente se produz também nesta já afirmativa consistência de perfeita interacção cultural entre estes povos tão diferentes e no fundo, tão semelhantes, no que dispomos no momento em todo este estudo e, investigação. Apenas nos cabe dizer que mais haverá nessa elaborada tese de contactos transatlânticos e transpacíficos entre povos de diferentes etnias, origens e culturas. Que assim continue em busca, pesquisa e desenvolvimento sobre o tanto que ainda desconhecemos. Assim seja então!
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