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quinta-feira, 31 de julho de 2014

A Sabedoria Divina


Retrato de Jacob Boehme (Bohme) - Filósofo, Místico Luterano Alemão

"O fundo escuro é o aspecto mais secreto de Deus (...) - O Abismo Insondável! No espelho virgem da sabedoria, o Divino reconhecer-e-à e «imagina a partir do abismo insondável de si mesmo (...) e impregna-se de imaginação vinda da sabedoria (...) como uma mãe que não dá à luz» (cf.p. 388)      
«À volta da madrugada vermelha, o dia separa-se da noite / e cada um é identificado pela sua natureza e força: porque sem oposição nada é revelado / não surge nenhuma imagem no vidro transparente / se a outra face não for obscura (...)» (G. Gichtel)                       - A Aurora -            Jacob Boehme (Theosophical Works)
                                                                                                                            (1682) - Amesterdão

Jacob Boehme e a Teosofia
Certa manhã, um modesto sapateiro da região de Lausitz, de seu nome Jacob Boehme (1575-1624), reparou num reflexo de luz sobre um prato de estanho pendurado na parede, uma experiência que veio desencadear uma verdadeira «visão interior».
Compreendeu então que a luz não poderá ser vista sem a existência de um fundo escuro. Esta descoberta conduziu-o a uma série de tomadas de consciência, acerca da existência de Deus e da sua criação.
O Mal e o Bem condicionam-se mutuamente e apenas podem coexistir numa unidade superior. É precisamente em Deus que os princípios do Bem e do Mal radicam.
Deus e o Diabo não são, pois, princípios independentes um do outro.

A Teosofia de Boehme
O acto de reconhecer a presença de Deus de um modo místico e intuitivo, recebe o nome de: Teosofia (Sabedoria Divina).
A teosofia de Boehme baseia-se em episódios místicos por ele experimentados em estados de consciência alterados. Ao concentrar toda a sua atenção na observação de um objecto, o seu espírito tornava-se receptivo a percepções visionárias. No seu conhecido primeiro escrito, «Aurora oder Die Morgenrote im Aufgang» (Aurora ou o Arrebol em Ascensão), de 1612, desenvolveu a sua doutrina dos três princípios que se encontram presentes na origem da divindade e, do ser humano: "Escuta, ó ser humano cego, tu próprio estás em Deus em ti e, se viveres de modo sagrado e sublime, assim serás o próprio Deus."

Os Três Princípios
Os princípios contraditórios revelam-se sob a forma do terrível «Fogo da Ira» de Deus e na dócil «Luz do Amor» do Filho. O terceiro princípio é a vontade unificadora, sem princípio nem fim, que não é boa nem má, que produz o Bem eterno e que corresponde ao Espírito Santo.
Boehme chega à conclusão de que o elemento destruidor contém em si as possibilidades do elemento criador e vice-versa. A tomada de consciência deste princípio é por ele chamada de: renascimento.

O Mito Andrógino
Johann Georg Gochtel (1683-1710), discípulo de Boehme, desenvolveu as teorias enunciadas pelo seu mestre.
Os pontos de vista de Boehme acerca de, a Humanidade ser originalmente dotada de características andróginas, encerrando assim em si mesma simultaneamente uma totalidade masculina e feminina - foram aqueles que mais o impressionaram.
No Paraíso, um ténue aspecto corpóreo envolvia harmoniosamente as características masculinas e femininas no ser humano. Mediante o pecado original de Adão, essas subtilezas perderam-se - as diferenças acentuaram-se. A partir de Adão desenvolveu-se a dualidade dos sexos. Segundo Gichtel, este perdeu a sua qualidade angélica.

Centros de Energia
Certas ilustrações de um livro de Gichtel, intitulado «Eine Kurze Eroffnung und Anweisung der drei Prinzipien im Menschen» (Uma Breve Revelação  e Indicações acerca dos Três Princípios do Ser Humano), onde são fornecidas indicações para a realização de exercícios espirituais práticos - são bastante curiosas.
Surge aí a representada a localização  dos centros de força ocultos no ser humano, representação essa que exibe semelhanças extraordinárias com os «Chacras» - os centros de energia do corpo humano na tradição indiana.
Charles Webster Leadbeater (1847-1934), um dos fundadores da Teosofia Anglo-Indiana, foi um dos primeiros a notar e a chamar a atenção para o paralelismo entre as descrições de Gichtel e a teoria dos Chacras.

Jacob Boehme publicou numerosos escritos acerca da Teosofia. Em 1619 surgiu «Die drei Prinzipien gottlichen Wesens» (Os Três Princípios da Divina Essência) e no ano seguinte, Vom dreifachen Leben des Menschen» (Da Vida Tripla do Ser Humano). As calcografias da época, foram retiradas de um livro de George Gichtel, «Eine Kurze Eroffnung und Anweisung der drei Prinzipien im Menschen» - como se já referiu anteriormente - em «Uma Breve Revelação e Indicações acerca dos Três Princípios do Ser Humano, de 1696. Estes mostram, da esquerda para a direita, uma representação simbólica dos três princípios do ser humano de acordo com Jacob Boehme: no ser humano reflectem-se o Espírito Santo (testa), Jeová (abdómen) e ao baixo-ventre corresponde o «mundo obscuro», sendo todo o conjunto iluminado por Jesus, Filho de Deus (coração).
Na «Practica», as costas do ser humano são representadas como um ser divino e iluminado, onde o Mundo do Ar reúne em si as forças do Mundo da Luz e, do Inferno (baixo-ventre).
Finalmente, no «ser humano renascido», a serpente da danação surge completamente esmagada pois traz Cristo no coração.

Jacob Boehme teve grande influência sobre as gerações de filósofos que se seguiram. Boehme defendia entre outras coisas, a necessidade da existência de opostos como um dos princípios fundamentais da Criação. Só na diferença se pode autenticar - talvez - o desenvolvimento e a evolução humanas.
Assim sendo apenas resta acrescentar que, por gerações vindouras e esclarecedoras em maior e mais abrangente pensamento teosófico, se possa autenticar estas mesmas referências iniciadas por Boehme. Teosofia ou Sabedoria Divina no que a nossa razão, consciência e conhecimentos possa ditar. A bem da cultura teosófica  e do que num todo possamos deter em nós e, a favor da Humanidade, assim seja!                  

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