Há almas eternas, outras imortais e talvez até mesmo outras confortavelmente emanentes sobre o Universo; cabe-nos a nós descobrir quais as que nós somos, por outras que andam por aí...
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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014
A Montanha Sagrada
Canyon de Chelly - Arizona - EUA
"Não te aproximes daqui. Tira as tuas sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é uma terra «santa»" (Êxodo 3, 5). - Disse Deus a Moisés -
Montanhas Sagradas - Morada dos Deuses
Os povos primitivos sentiam-se particularmente atraídos por determinadas montanhas. Estas pareciam possuir singulares poderes, vendo-se nelas pontos de ligação aos deuses e, às forças celestiais, através dos quais estes últimos estabeleciam o contacto com os humanos.
Talvez as montanhas sagradas tenham sido os primeiros elementos a ser destacados do mundo quotidiano, passando as pessoas a ter de aproximar-se delas respeitosamente.
A Montanha da Criação
Na Califórnia, na zona de fronteira entre os EUA e o México ergue-se o monte Cuchama, «o local elevado». As populações indígenas julgavam que esse monte teria sido formado de um modo misterioso, com o fim de os humanos nele poderem entrar em diálogo com os deuses. Chamam-lhe também « A Montanha da Criação». Ainda hoje no local onde o Deus-Celeste e a Mãe-Terra realizaram a sua sagrada união se manifestam as divindades, fenómeno esse que só é dado a ver aos que o conseguem contemplar com «O Olho do Coração», como os índios norte-americanos dizem.
A Montanha da Revelação
Nas montanhas sagradas foram feitas revelações, e profetas receberam a inspiração divina. Foi no monte Sinai que Moisés dialogou com o Deus dos Judeus e que dele recebeu as tábuas com os mandamentos gravados. Também o profeta Elias subiu a um monte para aí poder falar com Javé.
O mais importante dos sermões de Jesus foi dado nem mais nem menos do que num monte e, foi igualmente num monte que, se deu a transfiguração de Cristo. O Anjo Gabriel deteve Maomé no monte Hira e, pediu-lhe que aceitasse e assumisse o seu papel de profeta.
Morada dos Deuses
Um motivo bastante frequente das mitologias de todo o mundo, diz respeito ao facto de os deuses fazerem dos montes mais altos a sua residência. Os mais conhecidos serão porventura o monte Olimpo, do deus grego Zeus, e o monte Kailasa, do deus hindu Shiva. Para os hindus, o Kailasa é o monte mais sagrado de todos, destino de muitas viagens de peregrinação.
Também os indígenas que habitam a Sibéria possuem montes sagrados. Para os Iacutos é o monte Dzokuo, para os Altaicos é o «Monte de Ferro», o monte Temir Taixa, cujo cume chega a tocar o Céu.
O pico de Adão - um monte no Sri Lanka - é para os hindus, muçulmanos e budistas, igualmente sagrado. Uma forma côncava na rocha no cume desse monte é pelos muçulmanos vista como sendo uma pegada de Adão; já os budistas a consideram pertencente a Buda, ao passo que os hindus a atribuem a Shiva.
Meru - A Montanha Sagrada
Uma montanha sagrada é, por assim dizer, um espelho do cosmos. Na mitologia indiana, o monte Meru é tido como a morada do deus celeste védico Indra: consideram que está no centro do Universo e, no seu cume, encontra-se a cidade dourada de Brahma. No seu sopé ficam situadas as oito cidades dos Lokapalas, os guardiães divinos, que reinam sobre os pontos cardeais e suas subdivisões. Debaixo do monte ficam os sete mundos inferiores. No último deles - e o mais profundo - vive uma enorme cobra chamada Vasuki. É ela que suporta o peso do monte Meru e, dos outros mundos acima.
Tai Shan
Já há 4000 anos, o lendário Imperador Shun, deverá ter oferecido sacrifícios em honra do Céu e da terra no monte Tai Shan (que quer dizer «monte elevado»). O Tai Shan é o mais importante dos cinco montes sagrados do tauismo. Para chegar ao templo situado no cume do monte, os peregrinos têm de enfrentar a escalada de um total de 7000 degraus. Ao longo do caminho encontram-se as moradas de diversas divindades, a quem os seguidores do tauismo prestam homenagem.
Montanhas-Templos
Com zigurates na Mesopotâmia ou com pirâmides erguidas noutras paragens - obras arquitectónicas que pretendem imitar montanhas - pretendeu-se chegar mais perto dos deuses. Também as pirâmides reflectem o cosmos. Os seus degraus representam a organização do próprio Céu em diferentes níveis; a planta quadrada representa os quatro pontos cardeais. Os Astecas e os Maias colocavam os seus templos no cimo das pirâmides, à semelhança das moradas dos deuses, situadas no cimo dos montes sagrados.
Glastonbury Tor
Em Glastonbury - onde as lendas em redor do Rei Artur se mantêm bem vivas - ergue-se uma colina conhecida como Glastonbury Tor. Aí deverá em tempos ter existido uma fortaleza pertencente ao Rei Artur, bem como a entrada para o mundo inferior, Annwn. Na Idade Média foi por monges erigida uma igreja nesta colina sagrada e que, mais tarde, terá sido destruída por um tremor de terra. Nas proximidades, encontra-se uma árvore sagrada. Supõe-se então, que nesse dito local deverá José de Arimateia ter atirado o seu cajado à terra e, este último, terá desde logo começado a lançar raízes à terra e a florir. Deste cajado insuflado de vida resultou então o Glastonbury Thorn, uma árvore de aspecto singelo que todos os anos continua a gerar novos rebentos e assim acrescenta uma pitada de veracidade à lenda.
Torres que ascendem aos Céus
Não eram apenas as pirâmides que pretendiam imitar os montes, cujos cumes alcançavam a morada dos deuses como já foi referido. Existe também os «gopurams», os mais impressionantes elementos da arquitectura de templos do Sol na Índia. Trata-se de torres que, à semelhança de uma pirâmide, se erguem nos céus em plataformas cada vez menores, mas que estão exuberantemente repletas e ornamentadas com cenas da mitologia hindu. Em certos gopurams é registada a própria composição do mundo. os animais no nível mais baixo, seguidos dos seres humanos; acima destes os seres celestiais e, por fim, os deuses.
No canyon de Chelly, no estado americano do Arizona, ergue-se uma agulha rochosa a 244 metros de altura, a chamada Spider Rock. De acordo com a mitologia dos índios Navajos, trata-se de Tsé Náashjéé ii (a sagrada fiandeira), uma das mais importantes divindades dos Navajos. Foi ela quem ensinou a Humanidade a fiar. Nas canções dos Navajos - como acontece na Canção da Terra - são feitas referências à sagrada fiandeira: "Sou realmente seu filho. Não há qualquer dúvida que sou um filho da Terra!"
Mitologia ou verdade anunciada através dos tempos, o certo é que ainda hoje elaboramos uma determinada mística de energias e poderes ocultos sob essas montanhas sagradas que, em todos os níveis do globo, se reportam na autenticidade devida de local ascético dos deuses. E nós, simples e passageiros terrenos que somos, só o poderemos enaltecer olhando o Céu, observando e sentindo que não estamos sós na previdente vigília e, cuidados, desses deuses em permanente obséquio da Humanidade na Terra! E, que para sempre assim seja!
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