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sábado, 14 de fevereiro de 2015

A Noite de São Valentim


Amor ou Despudor numa Noite de São Valentim

Serei como todas as mulheres que se despem de corpo e alma só para poder tocar numa ponta de...Céu? Estarei errada se disser que todas as mulheres apenas querem um suave toque - mais na alma do que no clítoris - e, sobre todas as coisas, terrenas e não terrenas? Haverá a suspeição e mesmo a sublimação maior de um corpo entre outro corpo, que não seja na mais pura certeza do Reino dos Sentidos ou num outro Império que não o da Terra? São Valentim terá sido disso testemunha ou somente um peão eclesiástico das forças maiores do Universo, na junção de dois corpos, duas almas terrenas? Ascender-se-à a um clímax extraterreno (ou extraterrestre), no que um dia nos impuseram - a nós, humanos - na sublevação dos sentidos e, quiçá, das emoções? Poder-se-à limitar esses sentidos a uma mera condição física - e abstracta - da reprodução e não apenas do desejo limite, do desejo havido sobre todas as coisas? Será isso...pecado???

A Noite de Todas as Coisas...
Esperei por ti. Demais. Esperei anos. Séculos! E continuaria a por ti esperar se me  tivesses dito que para isso teria de penar outros tantos anos de incerteza - e vã esmorecimento - do que me fez recordar de ti. Tão só. Como só fiquei. Acima de todas as coisas...
Não gostei de esperar. Envelheci: no corpo e na alma! Demoraste! Muito! Amei-te como louca, como leoa no cio...como mulher sem alma que se entrega ao primeiro que por si passa e fica só...depois.
Não mereceste isso. Não mereceste nada de mim. Mas eu não consigo esquecer-te; não consigo sentir que te estou a perder de mim e torno a errar, e torno a esperar...por ti! Valerá a pena???
Vieste para mim, como vêem todas as coisas perenes, fúteis e destruidoras em vendaval de noite estanque, de noite frutuosa sem margens férteis de ti...ou de mim. És um eunuco na vida, que não sabe pedir, que não sabe dar, que não sabe sequer de si. Tu és assim e eu...bem, eu sou a coisa mais pecaminosa do mundo por apenas te desejar assim...perdido em mim!
Estou nua. Nua de mim, nua do mundo...e até de ti! Não tenho frio mas anseio pela busca do teu corpo no meu e que, tu fazes em mim, como ladrão de ocasião de ruinosas explorações devassas, e não concedidas por mim. Vilipendias-me todo o ser e eu deixo...substituindo-me na mera condição de tudo ser sem nada ficar para trás, no que te consigno em mim de: «Em mim...tudo! Sem mim...Nada!»
Não existem horas, não existe nada, para além do momento em que chegas. Despes o casaco, despes o disfarce (mau) que há em ti, de me não quereres na evidência total da tua entrega, da tua rendição...ao meu corpo, à minha alma e até ao meu sexo, que te coloca numa posição de mendigo, de carente, de sem-abrigo - que no meu colo vê o seu cais, o seu recolher em estandarte erecto que me penetra...esventra e seduz, mais na alma do que no ser! E eu deixo...no que nem mil «Sombras de Grey» nos fariam revolver, pelo que em erotismo vigente, tu e eu pudéssemos ser, mesmo sem sombras, névoas ou simples penumbras em esteio ou permanente pousio...sobre teu corpo e meu!
Revolvo-me em mil acções de te ver meu. Sustenho-me na vontade de te tocar, de te morder...de te fazer meu. E tu impacientas-te. E eu sorrio, dengosa mas densamente, como flor aberta que se não deixa tocar, só pelo simples facto de apreciar esse momento...esse indelével momento de todas as coisas em que te vejo enrubescer por me aflorar e...pertencer! E este momento é meu! Só meu!
Espalhas-me champagne no colo do abdómen - que os humanos dizem ventre ou regaço (em tempos idos) - lacerado, amassado, congestionado de todo o prazer que pressente nele...sem que efectivamente me tenhas tocado com um dedo sequer. Lambes-me os seios como se me sorvesses a alma, vertendo-me o desejo intenso (e recíproco) de uma sensação estratosférica que nem sei descrever. Gemo. estremeço de desejo, sentindo as minhas «Mil e uma Noites» de ímpar excentricidade e desejo...muito desejo de ti! De te ter em mim, de te ver penetrar, induzir, morrer no fundo...em mim. Seria só erotismo se não fosse algo mais...se não fosse a lânguida certeza de te saber em mim, de te saber meu escravo em corpo e todos os outros sentidos ainda por inventar. És meu prisioneiro, és meu guerreiro...és meu e só isso conta!

Todas as Noites serão...Noites de São Valentim!
Ruges! De desejo. E eu oiço. E vejo como estás sedento de mim e me queres num todo. Mas, parte de mim, não é teu nem meu...é só de algo que eu nem sei explicar, definir ou...descodificar.
Sou uma massa informe em corpo de mulher. Sou um ser que ninguém conhece: sou assim...só para ti! E tu...tocas-me finalmente. E eu emudeço, recebendo-te em mim. Sou um ser fervente, crepitante, exultando de todas as minhas forças como caverna escondida do mundo em vulva orgástica de toda uma Terra que mexe, que roda, que gira e circula em nós, e nos vê ser seus súbditos - frágeis e simples amantes que somos, dando-nos finalmente a permissão para todos esses sentidos vivermos.
Grito. Abocanho-te. Sugo todos os teus poros como tu os meus em devastadora intempérie de uma química só nossa: no que a paz se não finda por uma simples conquista ou submissa aquietação - tua e minha - sobre uma cama que não existe, um leito que não nos ampara mas amortece na queda de todos os limites, de todos os jogos de poder e, sedução. Beijas-me os olhos, os cabelos, o ventre, a púbis e todos os sentidos do meu corpo que, agora, menos frémitos de desejo suplica, retendo-me numa calmaria doce mas enganosa, de uma louca atmosfera sexual que os humanos proliferam em si (e mais tarde) recolhem em vida. Sou um vulcão! Sou uma cratera aberta...sou um ventre-mãe da Terra, que te acolhe e seduz no meu leito eterno quente e penetrante, retendo todos os fluidos do teu corpo como rio que desagua no mar, como enchente de uma Atlântida perdida sob um outro mundo: o nosso mundo!
Sou o teu Sol, dizes-me e eu acredito. Verto em ti os raios dourados do meu cabelo, assim como a intumescência dos meus seios que nos teus se fazem incrustar, emparedados numa acoplagem perfeita de ti e de mim, no que eu - enfeitiçando-te em mim - me enuncio voraz, louca, insana e tudo o que mais queiras de mim! Sou tua! Completamente tua! O teu Sol (que reafirmas eu ser-te) é luz, é cor, é toda a ejecção de massa coronal em ti..no que isso te possa fazer de bem ou de mal...
Sou uma estrela em ti! Sou um buraco de verme...dizes-me a sorrir, provocando-me na analogia cósmica do que eu sou em ti e tu...tão longe de mim, nem sequer adivinhas o que eu possa ser em ti: destruindo-te, perseguindo-te, amaldiçoando-te! Mas não o quero. Sou humana! Serei...?
Vim de outro mundo. Ou foste tu que para mim vieste e eu nem dei conta? Sou de muito longe...de tão longe que nem o saberia descrever-to e tu nem me acreditarias. Sou perfeita. Sou bela, muito bela e talvez até...inteligente. Mais do que devia; mas menos, muito menos do que o que me é pedido pelos meus irmãos estelares que aqui (na Terra) me dizem para acompanhar, seduzir, caminhar e por fim...amar? Será que sei o que isso é? Será que já sou mais humana? Será que me deixam em paz (finalmente) todos os meus parceiros planetários, se lhes disser que me apaixonei por um terrestre...? Será que me vão deixar ser morta, terrena e idiota...como são todas as mulheres que amam na Terra? Ou serão «eles», os idiotas, que me não deixam explorar todos estes Reinos de Sentidos havidos de...um homem e uma mulher? Será que me é permitido ir mais longe...?

Eternas são as Noites de São Valentim...e todas as outras!
Estás frio, meu amor. Porque estás tão frio? Ainda há pouco me amavas, revolto em mim, extasiado em voz, em chama, em ardor, em essência humana de ti...porque deixaste-te morrer em mim???
Que fiz eu de mal? Que fiz eu meu Senhor do Universo, para que tanta mágoa eu possa assim sentir, não o tendo já em mim? Que poderes são estes que te levaram de mim...? Que poderes são os teus, que te não deixaram ficar em mim? E porque terá sempre tudo de ser assim...mortificado, alterado, crucificado sem quietude, sem bonomia e...sem complacência - tua e minha - de sermos um só???
Eu não sou um ser do outro mundo. Não sou! Sou apenas...uma mulher que sofre...na Terra! Tenho de persistir, tenho de continuar - ou todos perecerão neste planeta! Não posso deixar...não, depois de saber como é o amor! E como explicá-lo? E como pronunciá-lo ou reproduzi-lo aos meus irmãos estelares...? Aferir-me-ão que estou doente, que estou afectada, que estou contaminada ou contagiada com a bactéria mortífera dos humanos que mais não é do que a existencial - e terminal - verdade e sequência de uma imortalidade perdida. Há muito! E esta...irreversível, corrosiva e fatal, ser-me-à também nociva se acaso eu persistir com esta teimosia de me fazer ser humana. Porque quero ser inferior num mundo inferior (asseveram-me em inquirição persuasiva ou coagida de meus maus ou escondidos intentos), e eu digo-lhes na minha inocência cósmica que, não sou «deles», não sou de mim, se não for humana...pois que de um já sou, de um que já partiu há muito de mim: o meu grande amor na Terra! E «eles» riem-se de mim. Já nem me questionam ou atormentam pelos desejos havidos em carne e osso, crânio ou metabolismo geral de que sofro agora...como os humanos!
Estou só! Tão só! Quero voltar a amar. Mas amá-lo a ele...que já não existe, que já faleceu. E eu apelo às forças maiores que mo devolvam, que mo voltem a entregar, que mo voltem a deixar viver só para mim...numa simples e bela noite de São Valentim!
Perdi-me. Por ele...e até por mim. Perdi-me de tudo e de todos. Já nem sei quem sou. Ejecto-me nas forças do Universo e faço pertencer-me como elemento estelar que sou...e apelo de novo ao Senhor de Todas as Coisas que me dê de novo o fulgor do que já senti, do que já admiti em mim: ser o amor de alguém! E «Ele» respondeu-me: «Serás humana, serás terrestre se  deixares a tua alma voar, crescer e solidificar numa imensa rocha, expelida num pulsar cósmico de Todas as Coisas! Abre-te para o Universo e serás feliz, colhe o fruto da tua bênção e serás vida! Anda...sente e possui, o que este caminho estelar te oferece e nunca mais dirás que estás só! Assim como eu sou a Essência de Todas as Coisas, tu serás o teu caminho, a tua luz, o teu corpo e a tua alma na vida que para ti escolheres...basta acreditares e verás!»
Hoje...é Noite de São Valentim...e ele vai vir para mim, eu sei que vai! Estou viva de novo e ele também. Só para mim! Os sentidos vão ser nossos, só nossos, e eu irei eternizá-los em mim. O meu amor é da Terra e eu...sou de todas as coisas, num mundo que não é mais meu. Mas que deixei para ele, só para ele. Iremos amar-nos num amor que não acabará mais - ele e eu - na Terra ou fora dela, pois que o Mundo lá fora é tão grande, tão vasto e tão belo que não chega para o nosso tão grande amor! Agora...fazendo um amor terreno (ambos) eu serei a sua supernova que se estilhaça e reduz a nada ou...a um brilho eterno que não pára mais e ele, o meu amor, será o que eu quiser...nos meus braços, no meu ventre...no meu galáctico querer infinito de múltiplos universos, onde espalharemos tudo o que aqui, na Terra, aprendemos: que o Amor...está acima de todas as coisas! Até mesmo...de uma ou muitas belas e intensas Noites de São Valentim! Na Terra...ou por todo o Cosmos - onde todos nós pertencemos!
Feliz Noite de São Valentim para todos! Humanos e não só...

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