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segunda-feira, 13 de outubro de 2014

A Tradição Profética


 
Ilustração Alegórica da Visão do Apocalipse

Estaremos perante a alegoria do Fim dos Tempos ou simplesmente na corrente dessa Tradição Profética que, ao longo dos tempos também se foi preconizando entre profetas, sibilas e demais textos deixados para a História? Será que se pode moldar através dos tempos, esses mesmos textos proféticos consoante a época vivida? E que verdade nos contam, no que ambicionamos e desejamos conhecer em visões proféticas de futurismos almejados?

A Tradição Profética
A História Judia é muito rica em tradições proféticas. Têm especial importância os profetas bíblicos, que no Antigo Testamento adquirem cada vez mais elementos do âmbito da cultura e da educação: Isaías escrevia numa lousa, Jeremias num livro, Habacuc numa prancha; Zacarias viu um rolo das Escrituras que voava e Ezequiel teve mesmo de engolir um rolo por ordem de Deus.
Em épocas de grande crise, os profetas incluíam progressivamente no seu repertório visões do Fim do Mundo - assim como muitos temas apocalípticos.
O Sermão Apocalíptico reflecte o medo da perda da tradição num mundo que muda a um ritmo cada vez mais vertiginoso.

Psicologia dos Profetas
A função do antigo profeta era a de traduzir uma certa realidade mítica, anunciando simultaneamente acontecimentos fatídicos. Exortava o povo a conhecer a certeza religiosa que pregava e anunciava o Fim. Mas os avisos e augúrios dos profetas referiam-se todos aos vícios e defeitos da sua época, nunca a um futuro longínquo. O seu propósito era cimentar a unidade de um grupo sobre uma base espiritual. O anúncio da fatalidade iminente era a arma psicológica do profeta para o conseguir.

Apocalipse
Vindas da Índia e da Pérsia, as ideias sobre uma catarse do Fim dos Tempos viajaram até ao Próximo Oriente, onde se misturavam com as tradições locais.
O Antigo Testamento está repleto de textos apocalípticos que tinham uma grande importância para a Igreja. Do Novo Testamento, pelo contrário, apenas se conservou um livro profético - o Apocalipse de São João de Patmos - onde se relatam catástrofes universais com intensas descrições gráficas que viriam a marcar o padrão do registo profético. Aliás, não é coincidência que os adivinhos dos nossos dias se sirvam desses modelos para as suas próprias profecias.

Profetas Conselheiros
Na Antiga Grécia, os profetas eram conselheiros dos soberanos. A sua missão consistia em resolver problemas numa sociedade cada vez mias complexa, mas as suas profecias não se consideravam certezas indiscutíveis, mas sim sugestões que o soberano podia aceitar ou rejeitar como preferisse.
Os Profetas eram conselheiros dum alto nível hierárquico espiritual porque se pensava, sobretudo, que conheciam a verdade oculta das coisas.

As Sibilas
A primeira referência às mulheres profetizas - as chamadas Sibilas - encontra-se em Heraclito (550-480 a. C.): «A Sibila fala com a boca delirante, sem rir, sem maquilhagem nem mirra, e com a ajuda divina penetra com a sua voz nos milénios.»
Originalmente, Sibila terá de facto sido uma mulher com dotes proféticos. Posteriormente foi dado de uma forma geral às mulheres adivinhas o nome de «Sibilas» e, estas converteram-se nos protótipos da Arte Profética.
As suas qualidades eram universais e estas mulheres-pitonisas gozavam de grande prestígio em todas as culturas. Eram especialistas em várias técnicas de profecia. A Sibila de Delfos - estreitamente ligada a Apolo - era caracterizada pelo delírio.
A Sibila de Tibur era por vezes representada com uma tigela cheia de água, onde via as imagens visionárias. As mais famosas foram a Sibila, Herófila do Helesponto e a sua rival, a Sibila da Eritreia - que viram cumpridas várias das suas previsões.
Adquiriu igualmente grande importância a Sibila de Cumae - no Sul de Itália - mas também nos chegaram notícias da existência de Sibilas na Frígia, na Líbia, na Pérsia, no Egipto e na Caldeia.

Cícero e os Textos Proféticos
Aquilo que escreveu o tribuno romano Cícero (106-43 a. C.) acerca dos Livros Sibilinos pode-se aplicar à maioria dos textos proféticos de todos os tempos: «O autor situa-os habilmente, de modo que tudo o que acontece pode dar a sensação de ter sido previsto por ele, já que faltam dados concretos sobre pessoas e épocas. Simultaneamente protege-se utilizando um discurso pouco claro, de forma que os mesmos versos podem ser válidos para diversas épocas e circunstâncias. Mas esses versos não são obra de uma pessoa demente e isso vê-se na sua estrutura. São mais o fruto da arte e da aplicação do que da excitação e, da emoção interior.»

Livros Sibilinos
Reza a lenda que uma senhora idosa ofereceu ao rei romano Tarquínio - o Soberbo (534-509 a. C.) - alguns livros proféticos. O rei recusou-os e ela queimou um dos livros e ofereceu-lhe os restantes pelo mesmo preço. Quando ele voltou a recusar, ela queimou outro. Mas o preço não se alterava. Eventualmente, o rei comprou os outros três livros. A anciã era a Sibila de Cumae e desde então os chamados Livros Sibilinos foram guardados no topo do templo de Júpiter Capitolino.
Os sacerdotes apenas os podiam consultar com a autorização do Senado, o que apenas acontecia quando se observavam sinais premonitórios. Em 83 a. C., os Livros Sibilinos desapareceram num incêndio num templo.

Oráculos Sibilinos
Não se devem confundir os Livros Sibilinos com os chamados Oráculos Sibilinos - uma compilação de profecias gregas anónimas redigidas em hexâmetros - algures entre os séculos V e VI.
De um total de 14 Livros, ainda se conservam 12, em cujos textos se misturam conteúdos helenísticos, judaicos e cristãos e onde predomina a temática apocalíptica.
O jogo de artifício profético típico dos Oráculos Sibilinos consistia em exagerar acontecimentos históricos e, apresentá-los como factos irremediáveis do futuro. Deste modo serviram de modelo para toda a Tradição Profética Ocidental - encontrando assim muitos imitadores.
Toda esta temática apocalíptica ainda hoje se faz sentir, nos muitos falsos (ou verdadeiros) profetas ou sapientes destas novas ciências que predominam na actualidade sob influências astrais ou desígnios de outras vertentes - búzios, conchas, cartas, etc. - em que se retratam estas mesmas previsões, premonições ou simples profecias destes novos tempos. Seja como for, o Homem procura sempre saber do seu futuro, mesmo que este lhe seja completamente inacessível em conhecimento e raciocínio lógico do seu ser em processo evolutivo na Humanidade a que pertence. É legítimo que assim seja e audaz que assim se insista, sem que com isso absorva toda a sua vida presente, no que se não deseja em submissão ou alheamento do que no presente a si requer. Anuindo que muito ainda haverá a conhecer e a estudar sobre estas matérias em origem e profundidade desta Tradição Profética, apenas se nos impõe acrescentar que, a bem da Humanidade, o Homem possa fluir, tendo ou não previamente conhecimento do seu próprio futuro. Que assim seja então!

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