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terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

População Terrestre I (Vida e Morte)


Ilustração da Morte: o mais temível e eremítico rosto da implacável ceifeira.

«A Morte é um tempo de paragem (ou decisão) num infinito ciclo de evolução e faz parte da ordem natural. Nós, Humanos, não somos mais do que um instante da vida eterna.»
                                                                                                       - J. P. Bayard (1993) -

Se o tempo nos dá a noção da continuidade, a escassez que deste provém à medida que se nos encurta a longevidade ou a esperança de nos socorrermos de qualquer tipo ou forma de imortalidade, dá-nos a plena consciência da tão curta passagem pela vida. Mas, quereremos nós, seres humanos, continuar a lutar perante essa inevitabilidade existencial e, factual, sabendo dos nossos limites e da nossa impotência para tal? Quereremos prolongar o tempo de vida na Terra, ad aeternum...?

Se nada é imutável e tudo se transforma (no «nada se perde e tudo se transforma»), segundo as leis e convicções físicas de Lavoisier, Einstein ou mesmo Carl Sagan - que acreditava igualmente tudo ser relativo e muito mais além do que os nossos olhos alcançam na dimensão cósmica - existindo essa continuidade entre a matéria (ou massa) e a energia; entre o físico e o espiritual, por que não aceitar essa implacabilidade da devoluta morte em pontual experiência de uma maior consciência?

Será que, havendo essa possibilidade de se adiar a morte ou mesmo compaginá-la sobre outras vidas, outras experienciadas emoções, famílias, conhecimentos e evoluções constantes, nos seria mais confortável - ou razoável - aceitar esta mesma morte que mais não é do que uma breve e ténue fronteira, margem ou elevação, entre o que se já conhece e o se teme no vácuo do desconhecido nada...? E, podendo até ser um longo processo reversível nos séculos vindouros, que se almejará com isso, se se pretender ser imortal, etereamente eterno ou alma vagueante mas com um corpo físico, carnal, que entretanto se desmembra? Saberemos conviver com essa realidade? Seremos todos - um dia - seres viventes post-mortem sem disso nos apercebermos? Querê-lo-emos ser...? Penso que não, mas posso estar errada.


Planeta Terra: população terrestre - demografia e ambiente das espécies.

Estudos Populacionais
A População - o número de organismos vivos numa determinada área - e o Ambiente estão intimamente ligados.
A compreensão do modo como os efectivos flutuam permite aos Ecologistas identificar o fluxo de energia através do ecossistema e, por conseguinte, o efeito de toda uma população sobre as restantes.
O Estudo do número de organismos de uma População - e do modo como se altera e responde ao ambiente - chama-se: «Ecologia das Populações».
O Estudo dos altos e baixos periódicos na dimensão de uma população, chama-se: «Dinâmica das Populações».

A Dimensão duma População de pende sempre de muitos factores diferentes. A competição pelo alimento e pelo espaço, a incidência de doenças, a predação (ou actividade dos predadores) e o clima, contam-se entre os mais importantes.
Uma População Aumenta, quando o número de nascimentos excede o número de mortes e diminui se as mortes excedem os nascimentos. A dimensão também muda quando alguns indivíduos deixam essa população ou nesta se integram.

A Natureza exige assim um determinado equilíbrio na dimensão das populações. Se for demasiado pequena, a espécie pode ser incapaz de se reproduzir em quantidade suficiente, podendo eventualmente extinguir-se; se for demasiado grande, a resistência ambiental pode limitar os efectivos, eliminando então os indivíduos através da fome, da doença ou de outros variados meios.
Os seres Humanos inventaram uma gama surpreendente de métodos para tentar controlar o Ambiente, mas nem por isso deixam de estar sujeitos ou submetidos a essas naturais leis da Natureza!


O tempo de uma vida: o seu início e o seu fim; nascimento e morte.

Sobreviver: da infância à velhice...
A Renovação factual de toda a População é crucial para a sua estabilidade e, sobrevivência, a longo prazo. Para que uma população se mantenha estável, todos os casais de indivíduos (seja qual for a espécie) têm de sobreviver em média até á Idade Reprodutiva, produzindo dois descendentes numa estatística assim equilibrada no que já se referiu de certa ambivalência - e correspondência - com a Natureza, nessa mesma dimensão das populações.

A Dimensão duma População é assim determinada pelo número global de nascimentos e de mortes. No entanto, não é apenas o número de mortes que importa, mas também o tempo de vida, em particular no caso de um número significativo de animais poderem morrer ainda antes da Idade Reprodutiva.
Todas as Espécies possuem um tempo de vida finito: há uma idade em que todos os indivíduos terão morrido num interminável ciclo de vida e morte intransponíveis. No globo terrestre.

Nos Seres Humanos, o tempo de vida médio nos países desenvolvidos é de cerca de 75/78 anos, no caso do género masculino e de 82/83 para o género feminino. Em Portugal há a estimativa recente (de 2014) que explana que no caso masculino (homens) esta média se fixe nos 76, 91 anos e no feminino (senhoras) de 82, 79 anos. Vive-se mais intensamente - e melhor, com mais qualidade de vida - numa assistência duradoura mais digna e mais feliz de uma mais prolongada esperança de vida.


Cineasta Português, Manoel de Oliveira (1908-2015). Viveu 106 anos!

«Prefiro o paraíso pelo clima, e o inferno pelas companhias!» - Paradigmática frase pronunciada em vida pelo não menos carismático cineasta português, Manoel de Oliveira.

Estatísticas demográficas
Antes da década de 60 (do século XX), as estatísticas demográficas apresentavam um gráfico diferente, no que as condições ambientais, climáticas ou as preocupações com as mesmas não eram tão profundas como as de hoje; e isso, reportar-se-ia de futuro, logicamente, na qualidade de vida dos cidadãos. Para além de uma melhor subsistência de vida financeira e social, assim como uma criteriosa selecção da cadeia alimentar mais saudável e, mais regulamentada, e mesmo na indústria farmacêutica (em evidentes sucessos que contribuíram para essa melhoria), no que veio melhorar consideravelmente a saúde e bem-estar da população, prolongando-lhe a vida. Contudo, e ainda em relação à população humana, registava-se até ao século passado elevados índices de mortalidade infantil, que se tentou reduzir potencialmente com todos os cuidados de saúde pré-natal que entretanto se assumiram por todas as instituições clínicas e hospitalares.

Quanto à idade adulta ou sénior de população mais idosa (que muitos temem chamar de «velhos») - registando-se um decréscimo da mortalidade devido a melhores condições sanitárias e de saúde pública - observou-se que certos indivíduos (afortunados!) viviam mais tempo, podendo inclusive chegar aos 110 em anos em quase limite ou excesso de pós-vida útil. O que é um contra-senso, pois cada vez mais se pretende estender esta longevidade com saúde e bem-estar, se possível, em franco uso de todas as capacidades físicas, mentais ou cognitivas dos indivíduos que atinjam esses limites.

Como no caso particular do realizador de cinema, o já mui saudoso Manoel de Oliveira (1908-2015), cineasta português que chegou à bonita idade de 106 anos! Aqui fica a minha sentida e mui reverenciada homenagem a quem até ao fim da sua linha de vida física, morreu como viveu: a trabalhar, rodando um seu último filme.


Cabras-Montesas: uma espécie sempre em risco de sobrevivência...

Sobrevivência das outras Espécies
Em Outras Espécies, as mortes podem distribuir-se de forma mais ou menos equilibrada em todos os grupos etários.. Pode tal facto dever-se à predação (ou factor predatório) por parte de animais maiores ou a vulnerabilidade a condições climáticas rigorosas ou ainda à carência efectiva de alimentos.
Noutras ainda, a Imortalidade Infantil pode ser muito elevada, de modo que poucos indivíduos atingem o tempo de vida máximo.

No caso das Cabras-Montesas que vivem sob condições climáticas adversas e em permanência de picos elevados - e íngremes de escarpas e ravinas montanhosas - a sua existência é de risco elevado. Passam a maior parte do dia a escalar essas vertentes montanhosas em busca de pasto, muitas vezes saltando de escarpa em escarpa.

Embora sejam animais muito ágeis, têm acidentes com frequência - em particular as mais velhas, que vão perdendo com o tempo a coordenação de movimentos ou visão, assim como as mais jovens que ainda não são saltadoras exímias. Por esta razão, há uma perda constante na população caprina devido a estes factores. Algo que também se passa com as pequenas aves em que nenhum período das suas vidas é mais arriscado do que outro em situação quase sempre vulnerável.

O factor climático de temperaturas extremas também contribui para essa diminuição populacional das espécies, uma vez que o tempo rigoroso pode, efectivamente, matar uma elevada percentagem da população de uma só vez!
Nas espécies de grande longevidade - como os Elefantes - a mortalidade infantil é baixa e a descendência tende a ser menos numerosa mas muito mais equipada para essa sua sobrevivência.
A Taxa de Sobrevivência Total nestes paquidermes é por este facto bastante elevada até à idade da velhice, quando começa subitamente a cair.


Tartarugas Marinhas no enlaço conjugal de uma vida a dois de grande longevidade...

Estratégias para o êxito reprodutivo
Os Animais desenvolveram diferentes estratégias ao longo do tempo para garantir o êxito reprodutivo, dados os limites desse seu tempo de vida e do seu ambiente.
A Maioria dos Peixes apresenta uma elevada taxa de mortalidade, sobrevivendo poucos até à idade adulta. As Fêmeas que sobrevivem até à reprodução tendem a pôr vários milhares de ovos de cada vez, para assim consubstanciarem e fazerem propagar a sua espécie. Não cuidam dos ovos, deixando os jovens entregues a si próprios. Os ovos desprotegidos ficam assim à disposição dos seus muitos predadores, mas, como o seu número é extensivelmente elevado, alguns sobrevivem.

Se os Peixes fizessem posturas menores com mais frequência, provavelmente os predadores comeriam todos os ovos. Algumas Espécies de Peixes possuem épocas de desova específicas, altura em que se reúnem muitos indivíduos que põem em conjunto milhões de ovos.

No caso das Tartarugas - animais aquáticos - as fêmeas fazem as posturas em terra. Vão para a praia na maré baixa e escavam grandes buracos na areia onde depositam os seus ovos. Cobrem-nos com areia, após o que regressam ao mar.
Os Ovos eclodem algumas semanas mais tarde, normalmente coincidindo com a maré-alta. As tartaruguinhas emergem então da areia (as acabadas de nascer) e empreendem a sua primeira viagem para o mar. É um espectáculo único!

O grande número de Pequenas Tartarugas que surgem em massa atraem muitos predadores, tais como as Aves, que as perseguem ferozmente e as matam. Muitas delas. Sabendo-se ser inevitável, aqui o espectador comum que somos todos nós (aquando o vislumbramos no momento), confrange-se ante esta atitude comportamental das espécies mas que, naturalmente, é a Natureza a fazer-se cumprir. Dai que, somente alguns poucos recém-nascidos possam assim completar essa sua bela e inicial viagem de um regresso ao mar que, apesar de ainda não conhecerem, lhes está na intuição de aí pertencerem.

Os que sobreviverem têm efectivamente boas hipóteses de chegar até à velhice... se não forem arremessados por redes de pescadores ou ainda por outros tantos perigos marinhos que os mares e oceanos lhes escondem...


Incubadora neonatal: a urgência de se salvar vidas que nasceram prematuramente!

A Sobrevivência Humana
Sabe-se que nos animais maiores - e de maior longevidade - em especial, os Mamíferos, podem adoptar estratégias diferentes às já referidas nos Peixes ou Tartarugas.
Outras Espécies, outros animais, produzem por vezes uma descendência pouco numerosa, mas todos recebem cuidados intensivos - alimentação, protecção, e «lições» de sobrevivência - durante toda a sua juventude. Tomando activamente conta da sua descendência até que esta seja capaz de sobreviver por sua conta e risco, como é vulgar dizer-se. Os pais ou progenitores aumentam desta forma as possibilidades de sobrevivência dos seus filhos/crias.

É este o caso, em particular, dos seres humanos. O Homem, na global aferição e designação do mesmo em homens e mulheres desta civilização planetária que dá pelo nome de Terra, tem de cuidar dos seus filhos durante pelo menos 10 anos. Sabe-se todavia que, a taxa de sobrevivência neste caso, já não é uniforme. Em vez disso, tem vindo a ser altamente influenciada por factores exteriores à Natureza. Toda ela: a planetária, e a da Humanidade!


Assistência neonatal para recém-nascidos prematuros: a mecanizada ou tecnológica logística hospitalar na salvação dos pequenos seres humanos em sustentação e suporte-vida.

A Urgência de se salvar vidas...
Nenhuma espécie dispensa cuidados mais intensivos  aos descendentes do que o ser humano. Esta circunstância da natureza global é complementada pela Medicina Moderna que - quando está disponível - faz aumentar a taxa de sobrevivência.

Os Recém-Nascidos mais débeis da maioria das Espécies simplesmente não sobrevivem; mas sabe-se que, neste mundo moderno que agora se vive (felizmente!) existem as medidas necessárias em logística clínica própria para o efeito: as Milagrosas Incubadoras! Estas cuidam e protegem os seres humanos prematuros até estes poderem sobreviver, ou seja, tornarem-se independentes e autónomos como o fazem todas as outras espécies.

Na actualidade, existem serviços e protocolos físicos (por certo muito bem equipados) nas unidades hospitalares e, clínicas, no desafio cada vez mais premente de se salvar vidas. Como tal, urge que se invista neste processo, que se sabe não ser fácil para países de menores recursos financeiros, mas que, se deve contudo insistir num maior financiamento - que compensará a nível futuro - pelas vidas que estão jogo e que assim se salvam.

Incubadoras microprocessadas, monitores multiparamétricos, respiradores modernos, óxido nítrico e demais produção medicamentosa afecta a este circuito neonatal, que convém reproduzir à escala global por todos os hospitais e centros onde hajam estes tão meticulosos e vitais serviços prestados à criança recém-nascida. É isso que nos diferencia das outras espécies na Terra.


Salvar uma vida, é salvar o mundo! Humanizar é preciso; prevenir é essencial!

Mortalidade Infantil
Os Países Ricos - e com boa assistência médica -  apresentam taxas de mortalidade infantil baixas, ampliando a esperança de vida da sua população. A Mortalidade Infantil nos países pobres é uma quase hecatombe (por ser 3000% mais elevada) reduzindo drasticamente a esperança média de vida da sua população. O que, a curto ou a médio prazo, irá trazer graves consequências na diminuição da população em níveis demográficos reduzidos. Se as populações envelhecerem e houver mais óbitos que nascimentos, ou estes se derem mas existir a tal mortalidade infantil elevada, nada recrudesce nem floresce no planeta. Ou seja, há o sério risco de, localmente, haver certas regiões densamente habitadas e outras desertas de pouca ou nenhuma densidade populacional.

Se a China ou a Índia se traduzem por um exponencial factor de nascimentos e, subsequentes desenvolvimentos, em certas regiões ou países (como Portugal, que está a envelhecer de forma assustadora, sendo já mais os óbitos que os nascimentos) revelar-se-ão num futuro próximo, países sem gente. Países a um passo, muito pequeno, da morte (ainda que o seja em metáfora anunciada, há que ter cuidado e tentar assegurar novas gerações ou novas implementações para que tal não suceda) - o que cabe aos seus governantes.


Experiências post-mortem: a estranha realidade numa percepção de consciência «e vida» após a morte.

«A Morte, não é a maior perda da vida - a maior perda da vida, é o que morre dentro de nós enquanto vivemos.»                                                                             -  Pablo Picasso -

Morte. o que é de facto...?
A Morte: essa tão infalível certeza de que nenhuma espécie escapa - pelo menos até aos dias de hoje, se não subjectivarmos (ou extrapolarmos) na dimensão do que muitos nos querem fazer crer de descobertas, inovações e multi-experiências de congelamento de órgãos, cérebros, e uma posição anímica inexequível com a realidade. Para além das aditivas associações laboratoriais cinegéticas,  de funções criogénicas ou de sustentação hiperbárica, animação suspensa - ou outras que entretanto surjam sem que as possamos analisar convenientemente, isto é, se não quisermos dar o corpo à medicina ainda antes das nossas ondas cerebrais se terem finado...

No mundo moderno que agora se vive, a Morte trocou o lar familiar pela azáfama de um serviço hospital, impessoal, mecanizado, desumanizado, medonho e... interdito, segundo palavras de Abílio Oliveira, engenheiro informático do ISCTE, em Lisboa, Portugal, tendo feito o seu mestrado em Psicologia Social, reportando-se ao tema em questão no seu livro: «O Desafio da Morte».
«Expõe-nos uma incapacidade inata para controlarmos o nosso destino, numa sociedade que nos instiga ao prazer e à glória efémera e onde mais importa parecer do que ser. Por isso, assiste-se a uma relativa recusa do luto e criam-se novos ritos funerários, na tentativa de prolongar uma farsa».


A Morte: será o Fim... ou apenas o princípio de uma longa descoberta...?

Medo da Morte ou da Vida que se não viveu?
A. Oliveira alude, tal como J. Ruffié, no seu livro: «O Sexo e a Morte» (1987):

«Só a Morte nos abre as portas da Eternidade». - Talvez seja. Mas teremos de esperar para o saber.
Por muito que a tenhamos de encarar, enfrentar e consciencializar que dela não podemos fugir (à morte) ser-nos-à sempre trágica, cáustica ou morbidamente associada à mais negra ceifeira, pútrida caveira ou visão ectoplásmica do mundo das sombras  e das trevas que ninguém quer seguir; nunca!
No fundo, por mais consciência universal que se tenha desta, ou da extremada educação cultural que tivermos obtido na vida, há sempre que distintamente reconhecer o quão difícil é, abdicar do que se conhece deste mundo, por esse outro inatingível de mudança irreversível.

Existe a eterna pergunta (esta sim, eterna) de que, poder-se-à abraçar a morte, temendo esta - terrífica e abrasivamente - se não se recear ostensivamente viver? Não será antes a deformidade dessa opção, dessa oclusa concertação do que se não viveu e temeu usufruir, sorver e amar em vida, que tal traduz? Se se viver mal, morre-se mal. Ou tudo faz para que isso aconteça. Oliveira ainda remete no seu livro:
«Conseguirá enfrentar a morte quem passou o seu tempo a fugir da vida?»

Sabendo nós que grande parte da Humanidade não consegue encarar a vida que possui como o melhor bem ou jóia sideral que na Terra influi, então nunca saberá a verdadeira maravilha que lhe foi ofertada e, imputada, antes ou depois da sua própria morte!


Há sempre um túnel, uma luz, ou a esperança de se continuar a «viver» para lá do que a nossa consciência ou entidade espiritual nos conduziu em vida.

«Quer queiramos quer não, nós, humanos, estamos presos aos nossos semelhantes e às plantas e animais do mundo inteiro As nossas vidas estão interligadas.» - Carl Sagan (1998) -

A mais longa sombra da Vida...
O nosso relacionamento com a sombra da vida tem sofrido alterações ao longo dos séculos. Sabemos que a Morte nos é um grande mistério, mas a Vida também o é! Não vale um milésimo de segundo do nosso tempo a perder-nos sobre considerações filosóficas ou perturbantes dogmas retrógrados, se tivermos a noção exacta de que, a Morte, é simplesmente uma outra fase da Vida - mesmo quem tenha vivido experiências de post-mortem em que se vê trasladado para uma infinitude cósmica ou ainda antes sob os auspícios de uma alucinação neurológica ou cerebral.

E que, segundo alguns dos mais eminentes neurocirurgiões da nossa praça planetária, é inferida pelo que se «vive» ou reproduz em ondas cerebrais Alfa, Beta, Teta, Delta e Gama (além as quânticas...) que num estado de semi-consciência ainda se revelam nessas imagens e experiências, pelo que asseveram tratar-se (do que observam sob os parâmetros científicos dos encefalogramas) de fenómenos naturais na transposição de uma ainda réstia actividade cerebral. Ainda que, ao invés dessas teorias de optimização neurológica em réstia dessa sumida actividade cerebral, se tente aludir a mais, sentindo que a consciência se mantém - ou a espiritualidade que certas religiões aventam de resultar, simplesmente, dessa outra vida que vamos além encontrar.

Existe algo de muito forte e, inexorável, que se tem de tentar imbuir o nosso espírito ou essa nossa consciência, de que existe de facto vida para além da vida ou vida além a morte, consoante os predicados e anuências culturais (ou de plausível explicação) que individualmente exortemos em nós. Além as crenças ou a religiosidade de cada um.
Uma sociedade que se tornou mais discordante - e descrente - naquele vertiginoso ritmo de vida de fuga para a frente, nada mais tem a dar aos seus cidadãos se não a conformidade obscura até, de identificar a morte com o fim de tudo, o ponto final, o nada! Mas será de facto assim...? Suspeita-se que não. Sendo a espiritualidade independente da experiência ou crença religiosa, todos nos devemos regozijar pela pertença desta em todos nós, Humanidade. E tentar segui-la à nossa maneira, ao nosso gosto e, ao nosso enorme desejo de sentirmos que sim, poderemos mesmo ser imortais...


Assistência na Morte: cuidados paliativos e outros. A forma digna de se morrer com um sorriso e um amparo clínico, familiar ou rodeado por amigos, sem que a solidão, a dor - e a mágoa - espreitem por qualquer fresta possível...

Códigos Vitais
Existe hoje na sociedade global desta era contemporânea que se vive, a ideia de certos códigos de honra, vitais para a vida e para a morte. O debate é intenso e há já países ditos muito avançados ou desenvolvidos que praticam actos impunes e, oficialmente legais ou legislados nesse sentido, para que haja uma morte assistida (ou suicídio assistido) que dá pelo nome de: Eutanásia, que no grego quer dizer: (eu + thanatos) ou seja, Boa Morte.

Hoje em dia, atenta-se contra a própria vida - ou tenta-se programá-la - num manancial de regras e conceitos de direitos e deveres dos cidadãos em face à sua vida e morte. E assim se começou esta diáspora que vai desde os Testamentos Vitalícios, aos documentos devidamente autenticados, legais, e identificados, sobre o que se quer ou não deixar à Medicina Legal. Ou à doação de órgãos para outros pacientes em lista de espera sobre órgãos de transplante; e que, em caso de morte cerebral dos visados, se infere. Mas isto, se o seu estado não for deficitário (ou de visível falência múltipla de órgãos) em aproveitamento hospitalar e cirúrgico nesses outros pacientes para quem é essencial estas doações. E estas benesses do foro íntimo de cada um.

Os Testamentos Vitalícios, que se compõem da autorização ou desautorização de cumprimento protocolar hospitalar que se insta na reanimação (ou não reanimação) do paciente em paragem cardio-respiratória (ou outras anomalias, passando sempre pela utilização de fibriladores ventriculares) visa sobretudo reiterar - e fazer instituir - a prática e a ordem dada pelo paciente, respeitando-se esta. No fundo, é uma forma de liberdade, direitos e sentidos ditados pela lei, do que se quer ou não doar, sob uma maior consciência e altruísmo sobre o seu corpo em face a outros que, porventura, dependerão de si «post-mortem» para que vivam.

 
Cuidados Pliativos na rede de cuidados continuados dos hospitais.

Cuidados Paliativos: solidão ou afecto...?
«Solitude» traduz em latim e em termos religiosos, a experiência de ser uno com Deus. De Lhe estar próximo, de Lhe ser o seu mais cordato e afectuoso amigo.
A Solidão, como a Ansiedade ou a Culpa, já faz parte do léxico popular ou da integrante e endémica condição humana de toda e qualquer excomunhão de mil pecados em que estar só, é uma doença tão mortal ou terminal quanto esta de se estar desacompanhado, incompreendido ou ignorado.
Estar só e sem amparo, viver na solidão, amanhecer ou deitar-se com ela, é o mesmo que apodrecer em vida, naquele brilho ou viçosa compleição de outrora que se já não tem, mas, também não justifica e muito menos glorifica ou dignifica quem a vive; muito menos quando se padece de alguma enfermidade e se deixa morrer os últimos segundos de uma esperança ainda havida...

Tocar numa mão amiga ou pairar sob um olhar reconfortante, alegre ou simpático, é talvez o que temos de melhor nesta vida, se quisermos rir ou chorar, despertar ou encerrar os olhos perante uma vida que de nós se despede. Estar em paz, prontos para partir em serenidade e alguma felicidade (ou pacificação) será talvez o último dos trunfos que concedemos à vida que vivemos.

Há ainda um outro percurso que na gíria nos incomoda mas acaba sempre, invariavelmente, por nos dar um certo crédito de, o não se desligarem máquinas de sustentação de vida, aquando ainda se produz esta ou, se tenta desesperadamente agarrar a um fio que seja desta mesma vida; vida esta que se esvai a nossos olhos, em pacientes que se estabilizam mas, artificialmente, sobrevivem (ou subsistem...) como vegetais e não como seres viventes de independência e autonomia efectivas. E isto, sobre todos esses sistemas de sustentação de vida como ventiladores e outros aparelhos associados à manutenção e suspensão do paciente. Há que referir também, o grande avanço e passos de gigante que se fez no investimento humano e médico-científico na área dos Cuidados Paliativos. Saber-se morrer em dignidade é, talvez, o passo maior que o Homem já deu; ainda maior do que aquele que levou o Homem à Lua, supostamente. Acredito piamente nisso.

Prolongar no tempo o que este já nos não dá, é antes de mais criar a completa opacidade sobre o que jamais se desanuviará em vida que já não o é - nem pode ser numa solução descabida. Todavia, interromper esse ciclo, criando outras medidas de inconformidade de mortes assistidas, isso já é um outro debate, por demais polémico que tem sempre muitos seguidores e, opositores, no que aqui nem tento relativizar, pois é uma consciência individual (muito para além de religiosa).
O que perfaz num sector muito sensível da Humanidade (de uma ou mais sociedades) a noção do que se está a lidar neste campo com algo muito complexo e, sobre o qual, se terão de arranjar soluções convenientes e viver - ou conviver - com os seus velhos, idosos, séniores ou pacientes em fim de linha vital ou terminal, segundo algumas patologias degenerativas ou oncológicas de que sofram. A velhice é um bem ou um mal que todos teremos obrigatoriamente de passar. Disso ninguém tem dúvidas!

Será mesmo o Fim da linha...? O Fim da nossa vida???

Seremos, todos, Fénix renascidas...?
Não sei se algum dia o Homem atingirá esse Nirvana expansionista e progressista do que sempre almejou - e nunca liderou - no actualmente regressivo ou reduzível de toda uma população vigente que se chama Humanidade; para além de todas as outras espécies do planeta que consigo privam. Não sei mesmo. E lamento isso.
Mas sei que gostaria muito mais, certamente, de que a Humanidade se voltasse também mais para uma energia vivificante e de simples alegoria feliz e de bem com a vida; e não, sub-titular e ardilosamente subreptícia de outros valores, sobrelevando convénios e, afins, sob parâmetros esconsos invocando a morte. Todos por lá passaremos, todos por lá rumaremos a outros mundos, outros sentidos sem olhar para trás.

A nossa civilização renega a Morte e envergonha-se de morrer. Cedendo aos impulsos subconscientes ou à pressão social, não reflectindo sobre esta ou privando-se de sentir os mais excelsos desígnios como o sentido da vida e do sagrado, esquece-se de tudo o resto: em suma, o que é de facto importante de se viver bem e com saúde, amor e confiança em si e nos outros.

Vivenciando as emoções sem constrangimentos, não nos fechando ao mundo que espreita lá fora sem dormências ou inactividades, apatias, mentiras ou ilusões, mas inversa e estruturalmente a enfrentarmos - ou defrontarmos essa vida - com uma maior alegria, partilha, experiência, afecto, legitimidade, autonomia e independência.  E no fim de tudo isso (anulando qualquer ou outra mais feroz e vil força centrípede que se regurgite de nós em sentimentos negativos), seremos então luz, cor e energia em luminosidade centúria que não crepuscular... ou, daquelas malditas trevas de além os tempos, sobre degraus passados que jamais queremos que nos sejam devolvidos. Há que homenagear a vida, correr para ela, degustá-la, digeri-la e, saboreá-la, e não mitigá-la ou pior, desprezá-la do que ela nos deu.

«Qualis vita, finis ita (tal vida, tal morte)...
Na encruzilhada de pensamentos, sentimentos e actos que invadem o nosso quotidiano, deparamo-nos sempre com as inusitadas bifurcações, nas quais, por vezes, não sabemos qual o trilho a seguir. Mas haverá por qualquer deles, a sensitiva percepção de que temos de ser solidários, respeitosos, íntegros e seres evolutivos em conhecimentos e cumprimentos dos mais adversos aos mais portentosos desafios. Enfrentar a Morte tem de ser igual ou idêntico ao encontro com a vida e, como Humanidade que somos, tentarmos reaproximarmo-nos com a nossa essência e com o que mais digno existe na Natureza.

Não sei se a Morte é de facto uma realidade interdita ou o vislumbre da tão almejada ou predestinada eternidade como admite e defende o engenheiro, psicólogo e escritor Abílio Oliveira, mas sei que, no mais profundo do meu ser, me obstino a sentir que a Morte é o Fim. E que neste curto ou longo percurso desta nossa indivisível Terra - de um Todo Cósmico por onde todos andamos e fazemos parte do Tudo que nos é o Universo - alcançaremos a paz e a universalidade de saber e, sentir, que a Morte é apenas o começo...

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