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segunda-feira, 28 de abril de 2014

A Filosofia Zen


Imagem de meditação Zen

"Antes de o teu pai e a tua mãe te trazerem ao mundo, como era o teu rosto original? Saberás como é o barulho de uma mão a bater palmas?"
                                                                           Koans: Ensinamentos dos Mestres do Zen

Zen - O Caminho Íngreme
No século VI d. C., um monge vindo da Índia ou da Pérsia de nome Bodhidharma (cerca de 470-543) introduziu o budismo Mahayana na China, onde o Tauismo chinês integrou os seus ensinamentos, dando origem ao sistema budista Ch`an. No século XII - data da sua chegada ao Japão - passou a chamar-se Zen. As palavras Ch`an e Zen são traduções do conceito sânscrito «dhyana», que significa «concentração da mente» ou «imersão na meditação».

Simplicidade Radical
No Zen, com uma forte componente de meditação intensa, aprende-se uma espécie de contemplação do ser verdadeiro (Kensho, Satori), que conduz a um despertar total.
Ao contrário do budismo Tibetano com os seus inúmeros elementos mágicos, esta doutrina insiste na inutilidade dos rituais religiosos. No Zen, só a experiência da iluminação, o despertar, é importante. Algumas escolas Zen chegam mesmo a rejeitar os volumosos textos sagrados do Budismo, que consideram um desvio. O «caminho íngreme», que pode chamar-se assim porque procura o conhecimento espontâneo e não o fatigante caminho dos pequenos passos, aspira à experiência súbita da realidade escondida atrás das ilusões. Até a meditação e a reflexão podem ser desvios do essencial, da verdade.
A ideia fundamental do Zen, é a libertação de todas as ligações com a realidade exterior e, interior, de modo a alcançar-se a unidade do ser. O caminho directo para se atingir este objectivo está sobretudo na prática do «Zazen», (estar sentado em recolhimento).

Para além da Tradição
O Zen diferencia-se de todas as tradições religiosas, incluindo a Budista. Ensina a realização da perfeição originária de todos os seres, à qual se referiram os grandes sábios e santos de todos os tempos e culturas.
Nesta corrente, os ensinamentos, os ensinamentos transmitem-se directamente de Coração-Mente, para Coração-Mente, excluindo o ensino ortodoxo. Como o pensamento conceptual está envolto em dualismo - tornando impossível a experiência da perfeição originária - a doutrina de Buda é ensinada no Zen «directamente ao Coração-Mente do ser humano» (Jikishi-ninshin).
O «indizível» (Fukasetu) é assim transmitido. A fixação em actos motivados pela experiência dualista do mundo ou no significado literal dos textos sagrados é assim um obstáculo á compreensão da «verdadeira realidade». Diz o Zen que, os textos sagrados, podem ser o dedo que aponta para a Lua, mas nunca a própria Lua!

Koans: Palavras Enigmáticas
Os ensinamentos dos mestres de Zen, são muitas vezes perpassados por actos surpreendentes e enigmáticos; imagens ou histórias paradoxais, chamadas «koans». Uma «Koan» é uma palavra, uma frase ou um conto normalmente desenvolvido em forma de diálogo entre Mestre e aluno, não acessível ao intelecto.
Não pode ser entendido pela razão conceptual e, obriga o aluno a abandonar a sua estrutura mental ou até, a superar o próprio pensamento.
O Mestre de Zen verifica então os progressos dos alunos com a ajuda das Koans como em cima referido no início do texto em perguntas existenciais. Como todas as religiões, o Zen é um sistema que atravessa toda a vida dos seus adeptos. Tal como na meditação se procura penetrar no essencial das coisas, também no dia-adia se tende a reduzir o ser à sua origem, pondo de lado os aspectos materiais. A arte da jardinagem Zen, por exemplo, que tenta representar o natural, o fluir das coisas, é constituída por centros de concentração, estruturas claras para aplanar a mente e, linhas fluídas que simbolizam o fluir da vida.

Os Dez Bois do Zen
O Boi simboliza o «eu» profundo, a verdadeira natureza do ser humano. A versão mais conhecida dessas imagens remonta ao Mestre Chinês K`uo-An Chih-Yuan (cerca de 1150), ilustrando o processo de amadurecimento espiritual para além do pensamento e, da conceptualização.
1 - A Busca do Boi
A busca do «eu oculto» é o início do caminho espiritual, mas o primeiro erro do aluno de Zen: parece que o «eu» não tem nada a ver com o ser de grandes dimensões simbolizado pelo boi. Na verdade, nunca esteve separado dele e só a ignorância lhe oculta a presença. É neste plano que o aluno encontra o seu primeiro obstáculo. Pensa que despertou porque sente o impulso de procurar a sua verdadeira natureza, como se esta fosse qualquer coisa muito diferente e, separada dele.
2 - A Descoberta dos Sinais
O aluno procura a sua verdadeira natureza em todo o lado: nos livros, junto dos Mestres e, no mais profundo da sua mente. E reencontra-se sempre em mil fragmentos que não consegue juntar. Diz o texto que acompanha a imagem sequencial: "O nariz do boi chega ao Céu e não existe lugar algum onde possa esconder-se." Não é o «eu» que se esconde: o aluno mantém os olhos fechados e lamenta-se por não o conseguir ver."
3 - A Percepção do Boi
O aluno apercebe-se por fim dos quartos traseiros do boi. Compreende que, o seu pequeno «eu terreno» e a mente que tudo abarca, não se diferenciam no mais profundo do seu ser. Não se trata aqui da descoberta de qualquer coisa de novo mas sim, do regresso à memória de uma lembrança originária.
4 - A Captura do Boi
As três imagens seguintes ilustram a domesticação do boi. O «eu» deve agora praticar a disciplina mental. De contrário, o boi voltará a fugir, misturando-se na manada.
5 - A Domesticação do Boi
O «eu» descobriu por fim, aquilo que procurava. Mas é-lhe difícil perder o hábito de ordenar tudo em conceitos e, de os descrever. Nesta fase, o processo de amadurecimento é uma luta consigo próprio, até o «eu» se unir com a nova consciência que, no entanto, ainda continua a conservar a sua diferença: o «eu» monta o ego.
6 - O Regresso em Cima do Boi
O ser humano pensa que possui uma mente maior. Mas, como o budismo Zen ensina, esta diferenciação dualista entre o «eu» e a mente que tudo abarca, é a raiz de todo o mal. Enquanto existir, o verdadeiro despertar não é possível.
7 - O Boi Desaparece - O Homem volta a Ficar Só
A primeira etapa da simplicidade da mente a que o Zen aspira, está assim atingida. A distinção entre Eu e Ego desapareceu, só existe ainda a natureza originária, o rosto primitivo. Mas o Zen não acaba nesta fase de desenvolvimento.
8 - O Boi e o Homem Desaparecem
Um círculo vazio, um círculo sem limites, o nada absoluto como fundamento de todas as manifestações. Não ficou nada, salvo a natureza de «buda» de todos os seres. O Homem esquece-se de si próprio e, une-se com a verdade. Mas, para poder esquecer-se de si próprio, primeiro precisa de se conhecer. A não-consciência, não pode esquecer-se de si mesma. Só quando o indivíduo esqueceu, pode desenvolver a sua verdadeira natureza no mundo. Desaparecem as ilusões nas quais enredou os sentidos e, o pensamento.
9 - Regresso à Origem, à Fonte
O aluno de Zen fundiu-se com todas as coisas. A sua consciência transpõe tanto o movimento infinito, como a vacuidade. Já não existe distinção entre interior e exterior, entre a mente não-nascida e, o mundo das ilusões. Um estado de perfeita naturalidade, de libertação do pensamento dualista. O Zen chama «Mushin» («Não-Consciência») a esta consciência que só pode transcrever-se por meio de paradoxos - nomeadamente como uma consciência que não é consciência - uma consciência que existe enquanto consciência inexistente, referindo-se assim ao isolamento da mente.
10 - Chegar à Cidade com Mãos - Distribuindo Bênçãos
A cabaça do gordo e sorridente «bodhisattva» (do ser iluminado), é o símbolo da vacuidade (shunyata). O seu sentido é-lhe dado pela vacuidade que a rodeia. Diz o texto que assim acompanha a imagem sequencial: "A porta do seu casebre está fechada e nem sequer os mais sábios o conhecem."
O seu casebre não só está fechado como desapareceu, tal como ele próprio. E no entanto, está em todo o lado. É visto no mercado, nas quintas, com crianças, homens, mulheres e animais. O iluminado desenvolve assim a sua acção no mundo. Ele próprio enquanto pessoa perdeu toda a importância - apenas permanecem os seus actos de não-mente!

Qualquer um de nós, sequencial ou subsequentemente - consoante nos determinarmos sobre esta mesma filosofia Zen - poderá ascender a esta espiritualidade em caminho íngreme ou não, em concentração e busca igualmente, de todo um novo sentido de vida. Com o fluir da vida, há que encontrar a harmonia e a placitude com que deveremos seguir nessa vida, tanto em nós como em todos os outros com que também nos cruzamos ao longo dessa nossa vida. Basta querer. Fazendo jus a esse estado de perfeição e equilíbrio, deveremos sentar-nos em cima de uma almofada, com as costas direitas, a cabeça na mesma vertical e as pernas cruzadas na posição de lótus: assim se faz a meditação Zen.
Embora derivado do Budismo, este sistema filosófico difere da sua origem nalguns pontos fundamentais: o Zen é, por exemplo, um caminho solitário - porque só o indivíduo é responsável pelos seus pensamentos, palavras e actos.
No Zazen, a meditação Zen, o praticante procura seguir a sua própria respiração - o que lhe permite entrar num estado de profunda introspecção e, sinceridade.
Para tal, apenas se lembrará evocar que: a mente tem asas que voam libertas de qualquer coisa material e imaterial, sobre todas as coisas! A liberdade desse voo, comandado e dirigido por nós, levar-nos-à onde a nossa consciência e coração ditarem. Voem e sejam livres! Despertem e sejam felizes! Amem...e doem amor para sempre. Voem em voos de uma consciência maior sobre toda a matéria e todas as coisas. Libertem-se do jugo terreno da ganância e da ignomínia; da soberba e da iniquidade, para além de todas as coisas. Só seremos felizes se requisitarmos em nós e nos outros, a verdadeira felicidade em total liberdade, plena de piedade e amor incondicional. Por toda essa mesma liberdade e felicidade sobre o Homem em Humanidade crescente, assim seja então. Ad Eternum!

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