Há almas eternas, outras imortais e talvez até mesmo outras confortavelmente emanentes sobre o Universo; cabe-nos a nós descobrir quais as que nós somos, por outras que andam por aí...
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segunda-feira, 7 de abril de 2014
A Alquimia
Símbolos Alquímicos
"Apenas o caos pode dar à luz uma estrela."
- Friedrich Nietzsche (1844-1900) -
Será possível a existência de uma pedra filosofal - o elixir da vida - que rejuvenesce e cura pessoas, alcançando com sucesso a transformação do metal e, do Homem?
A Alquimia - O Caminho da Alma
A palavra «alquimia» é frequentemente associada a místicas figuras medievais que trajam de preto e que, realizam experiências químicas perigosas com vista a descobrir, por exemplo, o segredo da eterna juventude. Na verdade, quando na Idade Média a Alquimia vivia o seu período áureo, já a sua história se desenrolava havia vários séculos. Os primórdios da Alquimia deverão ter sido vividos por volta do século II da Era Cristã no Egipto. Nessa altura, era ainda encarada como uma «Ciência Natural», como base fundamental de descobertas químicas e médicas. Já só na «sombria» época medieval é que a Alquimia se tornou uma arte igualmente sombria, uma Ciência Oculta.
Influência nas Ciências Naturais
Mediante a intervenção do alquimista na Natureza - já em tempos remotos da História da Humanidade - se iniciou um projecto que tinha como objectivo melhorar a Natureza e que, constituiu o fundamento de todo o pensamento futuro em termos de Ciências Naturais.
As Ciências Naturais devem à Alquimia importantes avanços nelas registados, pois foi esta a precursora da Química moderna. Toda uma série de conhecimentos exactos dos metais e, de ácidos minerais, a composição do álcool e a introdução de descrições quantitativas para auxiliar a fabricação de medicamentos por receita - todos estes - foram e são efectivamente ainda nos dias de hoje avanços que daí resultaram, dessas investigações medievais.
A História e o Mito
O primeiro alquimista de que há registo histórico foi Zósimo de Panópolis, que viveu no século IV d. C. Foi nesta época que surgiu uma carta que revela ensinamentos de Alquimia e que se intitula: "Ísis ao Seu Filho Hórus", texto esse que serve de marco cronológico para documentar a origem egípcia da Alquimia.
A sacerdotisa Ísis afirma aí ter recebido os seus conhecimentos sobre este tema de um anjo chamado Amnael, como recompensa por uma relação amorosa mantida com ele. Em manuscritos historicamente mais antigos é frequente surgirem anjos caídos a revelar segredos divinos. Estas traições surgiam como consequência da prestação de um favor sexual por uma mulher. Nestas lendas mantém-se bastante bem vincada a noção de pecado; não é por acaso que a árvore e a serpente são motivos simbólicos caros da Alquimia.
A Busca da Perfeição
O alquimista parta do princípio de que neste mundo tudo se encontra direccionado no sentido de alcançar o seu estado mais perfeito e que, a Natureza, está constantemente em progresso rumo à perfeição. De acordo com este princípio, também todos os metais, com origem numa mesma matéria-prima, ambicionam e demonstram uma tendência para se transformar em ouro. O ouro está em todas as coisas, mas presente sob a forma de diversas misturas ou em quantidades diversas - do mesmo modo que a centelha do Espírito Divino se manifesta com diferentes graus de vigor, consoante se trate de pessoas espiritualmente mais ou menos dotadas. Tal era a opinião dos alquimistas.
No ventre da Mãe-Terra, o minério vai amadurecendo lentamente. Se dermos à Natureza o tempo necessário, esta acabará por transformar todos os metais imperfeitos em ouro. O objectivo do alquimista era acelerar este processo gradual, intervindo sobre ele.
Maturidade Espiritual
Do mesmo modo que tudo na Natureza ambiciona a perfeição, também o ser humano - do ponto de vista espiritual - está direccionado no sentido de alcançar o seu estado mais perfeito. Esta condição de igualdade entre o desenvolvimento de Natureza e, o ser humano, era um factor determinante do pensamento dos alquimistas. Com a transformação e, enobrecimento dos metais, deveria - segundo eles - operar-se também a transformação e melhoramento do ser humano. Para o verdadeiro alquimista nunca se tratou meramente de conseguir fabricar ouro, mas antes, da espiritualização de tudo aquilo que houvesse caído. Partia-se do princípio de que, inicialmente, o espírito caíra sobre a matéria e que ambicionaria devolver esta a um estado puramente espiritual.
O importante psicólogo suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) afirmou que a busca da perfeição a nível espiritual e, físico, constituía o verdadeiro objectivo do alquimista. Com o ouro extraído da matéria negra como a mais provável possibilidade de se obter a maturidade da matéria, deveria também registar-se um amadurecimento do cientista oculto, até se atingir o mais elevado estado espiritual.
Etapas do Processo Alquímico
Um processo alquímico compreende 4 etapas: «Separação, Nígredo, Albedo e Rubedo».
A Separação equivale ao reconhecimento do «eu» e do mundo exterior. Na fase do Nígredo, é criado o estado inicial da matéria, o caos. No âmbito do processo espiritual, pretende-se aqui fazer referência à dissolução da pessoa que se era anteriormente. Nenhuma ascensão ocorre sem descensão. Daí que Friedrich Nietzsche (1844-1900) viesse mais tarde - com toda a sua incomparável concisão - a dizer o seguinte: "Apenas o caos pode dar à luz uma estrela." O alquimista fala alegoricamente da morte como condição necessária para o renascimento. Era aqui também feita referência à morte da pessoa que o próprio alquimista era. Imagens simbólicas mostram alquimistas a serem cozinhados em caldeirões ou cujos corpos são retalhados.
O «Casamento Químico»
A partir do ponto mais baixo pode ter início a ascensão. Através da chamada «lavagem», o processo conduz ao Albedo e por fim, sob a forma de ouro ou de Sol (Rubedo), é atingida a grande obra. Na fase entre o Albedo e o Rubedo, deverá ser levada a cabo uma difícil reunião de opostos.
O branco e o vermelho são descritos como «Rainha e Rei». Carl G. Jung via neste simbolismo, a parte da alma de cada indivíduo com características do sexo oposto, algo que cada um possui e que deve fazer combinar com a totalidade, de modo a poder atingir a realização pessoal.
Na Alquimia surgem nesta altura as imagens simbólicas do «casamento químico» - uma outra expressão para designar o processo de iluminação - e dos hermafroditas, seres de ambos os sexos, símbolos da reunião dos opostos e, do nascimento de um homem transformado.
O Valor Simbólico do Mercúrio
O mais importante produto utilizado nas operações alquímicas era - para além do sal e do enxofre - o mercúrio, essa misteriosa forma metálica de consistência ambígua e à qual eram atribuídos poderes rejuvenescedores. O mercúrio pertence simultaneamente ao reino do líquido e do sólido, tratando-se de um metal com reduzido grau de solidez e dureza. Daí que fosse um intermediário por excelência entre estes dois e, entre todos os contrastes, características essas que importava modelar por meio do processo alquímico.
É associado a Mercúrio - o deus-Mensageiro que empunhava o caduceu alado com duas serpentes entrelaçadas em sentido ascendente: um símbolo do elemento terreno que se eleva para o mundo espiritual.
Mercúrio é para o alquimista, aquele que conduz através das consciências que paulatinamente se vão modificando.
A Pedra Filosofal
Para se alcançar com sucesso uma transformação do metal ou do ser humano, foi a partir do século XII introduzida uma substância de características especiais, «lapis philosophorum», a pedra filosofal.
Esta enigmática substância é também conhecida como «quinta-essência», grande elixir ou «filius macrocosmi» (filho do grande mundo). Para os alquimistas, a pedra filosofal era vista como um elixir da vida - algo que contém a matéria primordial de todas as coisas e que, possui a capacidade de dissolver tudo o que existe nas partes que o compõem. Por acção dela pretendia-se rejuvenescer e curar pessoas, bem como transformar metais comuns em ouro. Como símbolo do início da transformação da matéria e, simultaneamente do estado - pouco antes do despertar da consciência - era utilizada a serpente grega «Ouroboros», uma figura semelhante a um dragão que morde a própria cauda.
Era então comum ver-se em frontispícios de livros antigos - em revelação frequente e através de símbolos alquímicos - o segredo da referida pedra filosofal que, a ter existido de facto nos deslumbra por tamanha reverência de poderes imensos. Na Natureza e, nos homens. Muito haverá a pesquisar por certo, nas muitas descobertas e revelações do foro alquímico que os seus fundadores e empreendedores desde tempos imemoriais alcançaram. Fazendo jus a esses estudos e sentidos sobre a transformação de ambos, só nos resta então contemplar tão magistral obra e conhecimentos de outrora, revigorados na actualidade.
A bem de todo esse conhecimento, verdade e consciência humanas, assim continue a ser. A bem da Humanidade!
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