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quarta-feira, 30 de abril de 2014

A Ordem de Confúcio


Estátua-Escultura do Filósofo Chinês Confúcio

"Age antes de falar e fala como agiste!"     - Pregação de Confúcio -

Confúcio e Lao-Tsé
O período que medeia entre 700 e 400 a. C. foi uma época de grande produtividade espiritual. Buda ensinava na Índia, Zaratustra na Pérsia e, no reino de Israel, os profetas Jeremias, Ezequiel e Isaías anunciavam a próxima vinda do Messias.

Mestres da Sabedoria
Foi também nestes séculos que viveram os filósofos mais importantes da China: Confúcio e Lao-Tsé. Enquanto a existência histórica de Lao-Tsé não pode ser demonstrada sem margem para dúvidas, sabe-se que Confúcio nasceu em 551 a. C. no Estado Chinês de Lu, actualmente Shandong.
Pensa-se que Lao-Tsé trabalhou como arquivista sob o nome de Be Yang na corte do Imperador em Chengzhou. É a ele que se atribui o «Tao Te King» («Livro da Via e da Virtude»), cuja sabedoria constitui a base da filosofia do Tauismo actual. Os textos que contém são um guia para a felicidade interior, respeito, não-violência, tolerância e serenidade. Lao-Tsé, que tinha muito em comum com Confúcio, incitou o ser humano a pôr o próprio espírito em ordem antes de começar a ordenar o mundo exterior.

Confúcio - O Mestre
Confúcio deixou-nos muitas obras. Os seus cinco livros mais importantes - os cinco King - influenciaram o pensamento e a cultura da China, até aos nossos dias. Para se compreenderem os ensinamentos de Confúcio, é preciso situá-lo na sua época - um tempo de instabilidade política e, económica, durante a dinastia Tcheu (séculos XI a III a. C.).
O reino central ao qual pertencia a província onde Confúcio nasceu, era rodeado por estados vassalos em constante guerra contra o rei. Lutas pelo poder, revoltas e, uma monarquia cada vez mais absolutista, marcaram assim a vida de Confúcio.
Digamos, por isso, que criou mais uma Ordem - que parecia não existir no seu tempo - do que propriamente uma filosofia de vida. Assim, pregou a moralidade, o decoro e a humanidade, virtudes que, segundo a tradição chinesa, caracterizavam as sociedades mais antigas.
Uma das suas pregações dita assim: "Age antes de falar e fala como agiste!" - À pergunta sucessiva: «Existe alguma palavra que traduza uma regra prática para a vida?», Confúcio terá prontamente respondido: "Reciprocidade!" - Ou seja, como professa o Tauismo, «Tudo depende de Tudo!» ou ainda, «Tudo se condiciona mutuamente!»

O Regresso à Ordem
Confúcio não criou nenhuma nova religião. O que estabeleceu foi uma utopia baseada no passado, com a esperança de poder melhorar as condições de vida actuais. Todo o ser devia enveredar por um caminho correcto. Na sua opinião, os estados de desassossego significavam um desvio deste caminho.
Para cortar o mal pela raiz e evitar futuros erros, o Mestre desenvolveu um sistema de preceitos de comportamento e pregou a força dos ritos.

O Mestre Falou
«As Lunyu» («Conversações de Confúcio») são a fonte mais importante e, simultaneamente mais fidedigna, de toda a sua doutrina. Este livro é obra da segunda geração dos seus discípulos, no século V ou IV a. C.
Nele podemos ler ainda hoje, o que o Mestre disse outrora:
* «Aquele que, ao largar sem cessar os seus conhecimentos, é capaz de os ordenar segundo o ritual nunca poderá trair o Caminho.» (LY 12, 15.)
* «Os meus ensinamentos são destinados a todos, sem distinção.» (LY 15, 38.)
* «O primeiro lugar pertence àqueles que nascem com o saber. Seguem-se aqueles que têm de estudar para o adquirir. Vêm depois aqueles que não o adquirem senão à custa de grandes esforços. Quanto àqueles que não têm inteligência nem vontade de aprender, são eles os últimos dos homens.» (LY 16, 9.)
* «Ao povo, deve mostrar-se-lhe o Caminho a seguir, sem procurar explicar-lhe as razões.» (LY 8, 9.)
* «Desde que os governantes se apeguem ao ritual, o povo será fácil de governar.» (LY 14, 44.)
* «O Mestre diz: "Gostaria tanto de não ter fala." - Zigong então, objecta-lhe: "Mas, se não falásseis, o que é que nós, pobres discípulos, teríamos para transmitir? - Assevera o Mestre: "O próprio Céu fala? As quatro estações sucedem-se, as cem criaturas proliferam: Que necessidade tem o Céu de falar?"» (LY 17, 19.)

A calma e a harmonia expressas nos elementos: montanha, água e bosque - retratados em vários desenhos a tinta-da-china, representando paisagens - espelham perfeitamente a tradição confucianista, simbolizando toda a ordem interior. A ética, o conhecimento do passado para se alcançar o futuro em bonomia e clarividência, e toda uma atmosfera de interiorização em consciência e sabedoria, fazem de Confúcio um filósofo específico - ou incomum - no que traduz a sua obra em referência e, seguimento. Pregando a moralidade, o decoro e a humanidade nos homens, Confúcio abrangeria essa própria Humanidade em eloquência muito mais sapiente e seguidora de boas regras no tal Caminho a percorrer na vida.
Quando Confúcio fala em reciprocidade, isso revela também a noção e lucidez do Mestre em pregar e fazer-se seguir sob essas mesmas condições ou Ordem anunciada, do que o Homem deve fazer, agindo em conformidade com essa prática. Em si e, nos outros. Reciprocidade só por si, em palavra e acção, revela a verdadeira essência da vida, numa prática natural de: tudo o que fizermos, ser-nos-à devolvido; em bem e mal! E vice-versa. Todos os actos, todas as situações havidas, ser-nos-ão autenticadas num todo em inter-dependência ou interacção, conectadas entre si em que tudo se condiciona mutuamente. Observamos isso...no nosso dia-a-dia, o que é de fácil comprovação. Só teremos de o seguir, consoante o que reiterarmos então nas nossas vidas de: bom e de mau nestas também! Daí que, a bem da Humanidade e, através dos tempos, assim possa ser!

terça-feira, 29 de abril de 2014

A Esperança VIII


Planeta Prócion B - Enclave Estelar de Prócion B/ Sírio B/ Cygni B

Desistir ou pugnar pela quase incoerente luta de me fazer ouvir, de me fazer ser feita justiça...? Continuar na persistência dos dias e noites que não sinto, ou deixar-me morrer por entre este imenso Universo de ódios, incomodidades e regras hostis a quem sentem inferior? Terei forças, energias inauditas em mim que me façam revoltar, sublevar a tudo e todos e, determinar-me como aquilo que sou, como mulher e...terrestre?

O Degredo
Subjugada à magra condição de nada, vi-me ser levada pelos meus carrascos estelares que, a mando de algo superior, me condenaram a um degredo maior do que o lamento em mim sentido da distância que agora estou de Siul. Não houve palavras nem gritos mais, nem sequer o súplico olhar réstio de quem já nada tem, de quem já nada espera. Foi tudo em vão. Movo-me agora sem deleite ou afeição por entre estas celas de negrume onde me encontro. Estou só e perdida. Novamente! Parece já um estado endémico em mim que me faz ser um corpo celeste ou uma espécie de anti-matéria no Espaço.
Sinto-me vazia. Sinto-me mal. Vomito as entranhas pelo mal-estar súbito que se abateu sobre mim em que o corpo me não dá tréguas do que a mente me inferniza em solidão e, abatimento de alma. Estou infecta de anti-corpos em bactérias vis que já nem sei controlar ante esta minha angústia, quase não dormindo, quase não me alimentando de nutrientes que me façam sobreviver aqui e, de toda esta infactível situação de desperdício estelar que lhes sou. Apenas rumorejo uma luz ao fundo do túnel - como um dia o meu querido Sábio-mor me expressou na linhagem e fronteira de uma outra vida a despontar - o que, aqui, está a suceder; literalmente! Se alguma luz, alguma estrela me brilhou...foi a noção de que não estou só de facto, mas não em companhia exterior, pois aqui neste lugar não existe nada, ou praticamente nada!
Havendo o auspício determinado sobre mim - sem ainda saber muito bem qual a verdadeira acusação e condenação sobre a minha pessoa - vi-me alcançar a maior das prioridades, a maior das prorrogativas, se é que me querem para cobaia (ou saque) e dissecação laboratorial: estou grávida!
Em Prócion já o sabem. Os testes confirmaram-no ao segundo dia de permanência neste escuro e exíguo presídio em que me encontro. Até aqui, eu fora uma pequena partícula à semelhança dos fotões e neutrinos, vagueando num mar de incerteza do que me via ser pungida em desmembramento de alma por todos eles aqui. Tive a noção correcta do que é ser-se abjecto. Tive a certeza do que é sentirmo-nos evasivos e corpos celestes desintegrados no Universo, de quando me asseveraram eu ir aqui apodrecer sem apelo nem agravo, sem nada que me pudesse restabelecer a esperança perdida. Mas, quando tive a certeza também do meu estado físico alterado, pensei: não vou morrer! Vou viver! Vou lutar! E que todos estes filhos da mãe estelares se fodam! Agora quem dá cartas sou eu. Vou ser mãe; de novo! De facto - considerei - devo ser a gaja mais profícua e fértil do Universo...dou uma e fico grávida! Mesmo que...tenha sido uma inesquecível!

Na Cela - O Quotidiano
Por vezes o cárcere pode ser penoso, exaustivo e até melindroso se não tivermos em conta quem nos protege ou sequer fale connosco. Eu não tinha nada disso. Até ao dia em que me fizeram interagir com aquela espécie de sete anões da Branca de Neve dos ancestrais contos infantis dos irmãos Grimm.
Fiquei boquiaberta. Oscilaram entre a amistosa prestação dos seus cuidados sobre mim e, a esquisita deformação apresentada sob o ponto de vista analítico e efectivado em mim, de toda a sua expiável observação, ainda que o tentassem ocultar. Estou a falar de sete pequenos seres; sete seres cinzentos, de olhos grandes e cérebro imenso - pelo que lhes reconheci em percepção, intuição e poder sensitivo - numa miscelânea composta de inteligência, ternura e mesmo afecto para comigo. Algo estranho, muito estranho...senti. Aqueles seres - provindos de Cygni B - já eram conhecidos pela sua permeabilidade de convivência e autoridade mas nunca por afabilidade, daí a minha estranheza total e certa insegurança do que poderiam estar a querer extrair de mim como vulgar terrestre em simbologia e espécimen laboratorial de pesquisa e, dissecação. Parecia ser o meu estado permanente, observei então em mim.
Alioth, Merak, Mizar, Megrez, Phekda, Dubhe e Alkaid de seus nomes estelares - aquiesceram em pronúncio de maior aproximação comigo - tentando aquietar-me, sossegar-me os medos, os temores de me irem retalhar em cama cirúrgica, se acaso fossem esses os intentos deles ou então, usurpar-me aquele feto híbrido em mim, aquele meu filho que ainda não sentindo, já o amava incondicionalmente. Fiquei em pânico!
Eu já tinha superado e sobrevivido a tanta coisa...mas pensar que agora estava nas mãos daqueles crápulas estelares que só me queriam volatilizar, fazer esfumar ou desaparecer num imenso buraco negro em matéria quente ou fria do Universo. Até parecia que da esfera compacta e negra desse Universo, eu passara de simples neutrino em matéria escura exótica, para agora (e para eles...) a reversível matéria bariónica como se a irreversibilidade do interesse deles por mim, se revivificasse de novo e eu lhes fosse novamente, uma parte luminosa como estrela brilhante no meio de um negrume universal.
Os meus antepassados de Nibiru deviam estar a rir-se de mim, agora. Eles, que tão bravos e poderosos foram por meio de trasladação do seu planeta para o meu - agora tão distante...da minha amada Terra - em transformação, colonização e vivência póstuma, eu não lhes dar a merecida homenagem por tão fraca me ver em revolta e sublevação sobre estes meus inquisidores. Há 450 mil milhões de anos que o sinto...como os meus ancestrais antepassados e nem consigo fazer-lhes justiça à tamanha coragem e glória de se terem aventurado por um pequeno mas farto e belo planeta que é, ainda hoje, a minha bela Terra. Hoje sou, talvez, uma pequena poeira da imensa nuvem de matéria, da qual se formou o meu sistema solar em Nebulosa extensa e, linda. Sou antes, um receptáculo do meu feito maior em quinta vez de gravidez anunciada, do que terei de proteger com a própria vida nessa espécie de núcleo estelar em mim que me faz sorrir e ter de facto esperança de que algo ainda possa mudar. O meu Deus-Uno que assim oiça e me afaste esta tamanha vulnerabilidade a que estou sujeita e fria, tão fria quanto o extenso Universo!

O Sonho
Ainda sonho. Sonho com Siul. Que ele me vem sufragar este sofrimento. Que ele me procura e liberta destas amarras judiciais estelares que aqui me querem fazer perpetuar na dor e, no mal-estar, de não ter por perto Siul e, os meus queridos filhos que devem dar mostras de muita preocupação pelo que me tem sucedido nos últimos tempos. Os meus gémeos devem chorar à noite com saudades minhas - para além dos mais velhos que o tentam ofuscar de outras formas - e eu, sentindo essa sua tristeza imparável e, inesgotável nestes complicados tempos, vejo-me ensandecer, enfraquecida, débil e frágil, ante tanta injustiça e tanta separação cruel, só pelo facto de ter quebrado regras e leis universais de não permissão conjugável, de não concepção e reprodução nos lindos filhos que dei ao Universo com Siul. Para mim, a acoplagem perfeita de dois corpos, duas almas distintas. Para eles...a imperfeição, a deformação exacta do que se não deve fazer, do que se não deve realizar. Poderes implacáveis sem dúvida, inexoráveis no tempo, no espaço e na matéria que nos conduz a todos no Universo que no fundo, deveria ser de todos em abrangência e conforto como um grande colo materno de onde todos viemos e, para onde todos iremos um dia!
As minhas noites são piores que os dias, ainda que estes estejam todos envoltos na agonia inexpugnável em que me situo no meio desta fria, branca e incólume cela de pena e castigos inclementes sobre mim. Mas sonho ainda do que recordo do amor que eu e Siul fazíamos, dos seus abraços, dos seus beijos. E nem quando estes ogres cinzentos me interrompem a voluptuosa miríade de recordações - quando de vez em vez me vêem cirandar para observar se está tudo bem comigo - eu lhes concedo o prazer do que revivo em memória e cumprimento deste amor inextinguível, até mesmo além a morte física. Pois que, não há morte!
Siul, é a minha galáxia espiral e eu...a sua galáxia elíptica. Siul é como se me fosse a constelação de Hidra, a minha M 83 em dois braços espirais envolventes e um outro que me ostenta a segurança, agora perdida ou pelo menos... desaparecida nos corredores do tempo. Eu, como espécie de galáxia elíptica, formada e nascida da colisão e fusão da minha espiral Siul, revejo-me triunfal, super-brilhante, tri-dimensional, em poderes só meus, fazendo rebrilhar o meu pequeno núcleo estelar em mim, sobre o que considero ser este nosso quinto filho como estrela maior do Universo. E Siul que ainda nada sabe...invade-me então toda a tristeza incomensurável de todos os mundos, planetas, estrelas e sistemas solares de que há memória, por toda a iniquidade estelar do que me pungem sem que eu o possa rebater. Sustenho-me numa aura amovível e, de certa forma doentia, de um geotactismo impensável até aqui, por uma estranha acção de gravidade que me desequilibra, hostilizando o querer e a vontade. Mas tenho de ser firme. Por mim e...por este novo filho que, Deus-Uno me permita, verá a luz do mundo, verá a luz das estrelas e... será tão lindo e perfeito como os seus outros irmãos que por mim ainda esperam, ávidos da sua mãe. Afinal, há muito que deixei que me invadissem o espaço físico e humano no que já foram meus antepassados de Homo Erectus para Homo Sapiens...e tantas outras manipulações genéticas que já nem dou conta. Mas neste meu filho, não! Ser híbrido não quer dizer, ser malformado em conceptualização cromossómica disforme, arredada de amor, consciência e mesmo perfeição. Ambíguo e disforme é o que os de Prócion B, Sírio B e Cygni B querem - em tríade maldita - fazer de, e em mim. Não posso permitir. Tenho de persistir e continuar. Tenho de ter esperança e homenagear o meu ancestral Enki que a tudo assomou, a tudo revolveu e na Terra, a tudo acorreu em positiva e final consignação do que haveria de fazer eclodir e, renascer, em novos tempos e novos sonhos na Terra. Serei eu digna de continuar essa sua obra, ainda que por amarras e presídios estelares me veja assim tão impotente? Mas não recuarei nem em caminhos percorridos nem em quebrantos ou desmandos de outros, sejam quais forem os estelares que me queiram amordaçar em remissiva vontade de voltar a ter nos braços Siul e os meus filhos. Tenho de lutar. Tenho de ter um poder maior de resiliência inviolável e, inextirpável, do que me faz sobreviver e anuir pela criança que gero em mim. O meu futuro só eu é que o faço! Nem nada nem ninguém mo arrancam de mim! Um dia...que espero breve, o meu Siul vai voltar e vamos todos finalmente ser felizes, com ele, Siul, e todos os nossos abençoados filhos que o Deus-Uno me ofertou em si, no seu seio, no seu ventre universal, no seu infinito e inextinguível Universo de estrelas e planetas tão lindos como a minha bela e saudosa Terra - para onde irei um dia em vida e morte, morte e vida se Deus-Uno permitir. Nesta fúria amarga ou desejo incendiado, consumidor e faminto que é a minha alma na eterna busca do meu outro eu, da minha outra alma, Siul, eu aqui perante Deus-Uno afirmo: és meu, sê-lo-às sempre «ad eternum»! Com Deus-Uno em vigília, permanência e abraço, tão forte, magnânimo e presente quanto o são as minhas lembranças por ti, meu amado Siul! A esperança nunca morrerá...à nossa glória e semelhança do que nos faz eternos na vida estelar! Deus-Uno é testemunha!

segunda-feira, 28 de abril de 2014

A Filosofia Zen


Imagem de meditação Zen

"Antes de o teu pai e a tua mãe te trazerem ao mundo, como era o teu rosto original? Saberás como é o barulho de uma mão a bater palmas?"
                                                                           Koans: Ensinamentos dos Mestres do Zen

Zen - O Caminho Íngreme
No século VI d. C., um monge vindo da Índia ou da Pérsia de nome Bodhidharma (cerca de 470-543) introduziu o budismo Mahayana na China, onde o Tauismo chinês integrou os seus ensinamentos, dando origem ao sistema budista Ch`an. No século XII - data da sua chegada ao Japão - passou a chamar-se Zen. As palavras Ch`an e Zen são traduções do conceito sânscrito «dhyana», que significa «concentração da mente» ou «imersão na meditação».

Simplicidade Radical
No Zen, com uma forte componente de meditação intensa, aprende-se uma espécie de contemplação do ser verdadeiro (Kensho, Satori), que conduz a um despertar total.
Ao contrário do budismo Tibetano com os seus inúmeros elementos mágicos, esta doutrina insiste na inutilidade dos rituais religiosos. No Zen, só a experiência da iluminação, o despertar, é importante. Algumas escolas Zen chegam mesmo a rejeitar os volumosos textos sagrados do Budismo, que consideram um desvio. O «caminho íngreme», que pode chamar-se assim porque procura o conhecimento espontâneo e não o fatigante caminho dos pequenos passos, aspira à experiência súbita da realidade escondida atrás das ilusões. Até a meditação e a reflexão podem ser desvios do essencial, da verdade.
A ideia fundamental do Zen, é a libertação de todas as ligações com a realidade exterior e, interior, de modo a alcançar-se a unidade do ser. O caminho directo para se atingir este objectivo está sobretudo na prática do «Zazen», (estar sentado em recolhimento).

Para além da Tradição
O Zen diferencia-se de todas as tradições religiosas, incluindo a Budista. Ensina a realização da perfeição originária de todos os seres, à qual se referiram os grandes sábios e santos de todos os tempos e culturas.
Nesta corrente, os ensinamentos, os ensinamentos transmitem-se directamente de Coração-Mente, para Coração-Mente, excluindo o ensino ortodoxo. Como o pensamento conceptual está envolto em dualismo - tornando impossível a experiência da perfeição originária - a doutrina de Buda é ensinada no Zen «directamente ao Coração-Mente do ser humano» (Jikishi-ninshin).
O «indizível» (Fukasetu) é assim transmitido. A fixação em actos motivados pela experiência dualista do mundo ou no significado literal dos textos sagrados é assim um obstáculo á compreensão da «verdadeira realidade». Diz o Zen que, os textos sagrados, podem ser o dedo que aponta para a Lua, mas nunca a própria Lua!

Koans: Palavras Enigmáticas
Os ensinamentos dos mestres de Zen, são muitas vezes perpassados por actos surpreendentes e enigmáticos; imagens ou histórias paradoxais, chamadas «koans». Uma «Koan» é uma palavra, uma frase ou um conto normalmente desenvolvido em forma de diálogo entre Mestre e aluno, não acessível ao intelecto.
Não pode ser entendido pela razão conceptual e, obriga o aluno a abandonar a sua estrutura mental ou até, a superar o próprio pensamento.
O Mestre de Zen verifica então os progressos dos alunos com a ajuda das Koans como em cima referido no início do texto em perguntas existenciais. Como todas as religiões, o Zen é um sistema que atravessa toda a vida dos seus adeptos. Tal como na meditação se procura penetrar no essencial das coisas, também no dia-adia se tende a reduzir o ser à sua origem, pondo de lado os aspectos materiais. A arte da jardinagem Zen, por exemplo, que tenta representar o natural, o fluir das coisas, é constituída por centros de concentração, estruturas claras para aplanar a mente e, linhas fluídas que simbolizam o fluir da vida.

Os Dez Bois do Zen
O Boi simboliza o «eu» profundo, a verdadeira natureza do ser humano. A versão mais conhecida dessas imagens remonta ao Mestre Chinês K`uo-An Chih-Yuan (cerca de 1150), ilustrando o processo de amadurecimento espiritual para além do pensamento e, da conceptualização.
1 - A Busca do Boi
A busca do «eu oculto» é o início do caminho espiritual, mas o primeiro erro do aluno de Zen: parece que o «eu» não tem nada a ver com o ser de grandes dimensões simbolizado pelo boi. Na verdade, nunca esteve separado dele e só a ignorância lhe oculta a presença. É neste plano que o aluno encontra o seu primeiro obstáculo. Pensa que despertou porque sente o impulso de procurar a sua verdadeira natureza, como se esta fosse qualquer coisa muito diferente e, separada dele.
2 - A Descoberta dos Sinais
O aluno procura a sua verdadeira natureza em todo o lado: nos livros, junto dos Mestres e, no mais profundo da sua mente. E reencontra-se sempre em mil fragmentos que não consegue juntar. Diz o texto que acompanha a imagem sequencial: "O nariz do boi chega ao Céu e não existe lugar algum onde possa esconder-se." Não é o «eu» que se esconde: o aluno mantém os olhos fechados e lamenta-se por não o conseguir ver."
3 - A Percepção do Boi
O aluno apercebe-se por fim dos quartos traseiros do boi. Compreende que, o seu pequeno «eu terreno» e a mente que tudo abarca, não se diferenciam no mais profundo do seu ser. Não se trata aqui da descoberta de qualquer coisa de novo mas sim, do regresso à memória de uma lembrança originária.
4 - A Captura do Boi
As três imagens seguintes ilustram a domesticação do boi. O «eu» deve agora praticar a disciplina mental. De contrário, o boi voltará a fugir, misturando-se na manada.
5 - A Domesticação do Boi
O «eu» descobriu por fim, aquilo que procurava. Mas é-lhe difícil perder o hábito de ordenar tudo em conceitos e, de os descrever. Nesta fase, o processo de amadurecimento é uma luta consigo próprio, até o «eu» se unir com a nova consciência que, no entanto, ainda continua a conservar a sua diferença: o «eu» monta o ego.
6 - O Regresso em Cima do Boi
O ser humano pensa que possui uma mente maior. Mas, como o budismo Zen ensina, esta diferenciação dualista entre o «eu» e a mente que tudo abarca, é a raiz de todo o mal. Enquanto existir, o verdadeiro despertar não é possível.
7 - O Boi Desaparece - O Homem volta a Ficar Só
A primeira etapa da simplicidade da mente a que o Zen aspira, está assim atingida. A distinção entre Eu e Ego desapareceu, só existe ainda a natureza originária, o rosto primitivo. Mas o Zen não acaba nesta fase de desenvolvimento.
8 - O Boi e o Homem Desaparecem
Um círculo vazio, um círculo sem limites, o nada absoluto como fundamento de todas as manifestações. Não ficou nada, salvo a natureza de «buda» de todos os seres. O Homem esquece-se de si próprio e, une-se com a verdade. Mas, para poder esquecer-se de si próprio, primeiro precisa de se conhecer. A não-consciência, não pode esquecer-se de si mesma. Só quando o indivíduo esqueceu, pode desenvolver a sua verdadeira natureza no mundo. Desaparecem as ilusões nas quais enredou os sentidos e, o pensamento.
9 - Regresso à Origem, à Fonte
O aluno de Zen fundiu-se com todas as coisas. A sua consciência transpõe tanto o movimento infinito, como a vacuidade. Já não existe distinção entre interior e exterior, entre a mente não-nascida e, o mundo das ilusões. Um estado de perfeita naturalidade, de libertação do pensamento dualista. O Zen chama «Mushin» («Não-Consciência») a esta consciência que só pode transcrever-se por meio de paradoxos - nomeadamente como uma consciência que não é consciência - uma consciência que existe enquanto consciência inexistente, referindo-se assim ao isolamento da mente.
10 - Chegar à Cidade com Mãos - Distribuindo Bênçãos
A cabaça do gordo e sorridente «bodhisattva» (do ser iluminado), é o símbolo da vacuidade (shunyata). O seu sentido é-lhe dado pela vacuidade que a rodeia. Diz o texto que assim acompanha a imagem sequencial: "A porta do seu casebre está fechada e nem sequer os mais sábios o conhecem."
O seu casebre não só está fechado como desapareceu, tal como ele próprio. E no entanto, está em todo o lado. É visto no mercado, nas quintas, com crianças, homens, mulheres e animais. O iluminado desenvolve assim a sua acção no mundo. Ele próprio enquanto pessoa perdeu toda a importância - apenas permanecem os seus actos de não-mente!

Qualquer um de nós, sequencial ou subsequentemente - consoante nos determinarmos sobre esta mesma filosofia Zen - poderá ascender a esta espiritualidade em caminho íngreme ou não, em concentração e busca igualmente, de todo um novo sentido de vida. Com o fluir da vida, há que encontrar a harmonia e a placitude com que deveremos seguir nessa vida, tanto em nós como em todos os outros com que também nos cruzamos ao longo dessa nossa vida. Basta querer. Fazendo jus a esse estado de perfeição e equilíbrio, deveremos sentar-nos em cima de uma almofada, com as costas direitas, a cabeça na mesma vertical e as pernas cruzadas na posição de lótus: assim se faz a meditação Zen.
Embora derivado do Budismo, este sistema filosófico difere da sua origem nalguns pontos fundamentais: o Zen é, por exemplo, um caminho solitário - porque só o indivíduo é responsável pelos seus pensamentos, palavras e actos.
No Zazen, a meditação Zen, o praticante procura seguir a sua própria respiração - o que lhe permite entrar num estado de profunda introspecção e, sinceridade.
Para tal, apenas se lembrará evocar que: a mente tem asas que voam libertas de qualquer coisa material e imaterial, sobre todas as coisas! A liberdade desse voo, comandado e dirigido por nós, levar-nos-à onde a nossa consciência e coração ditarem. Voem e sejam livres! Despertem e sejam felizes! Amem...e doem amor para sempre. Voem em voos de uma consciência maior sobre toda a matéria e todas as coisas. Libertem-se do jugo terreno da ganância e da ignomínia; da soberba e da iniquidade, para além de todas as coisas. Só seremos felizes se requisitarmos em nós e nos outros, a verdadeira felicidade em total liberdade, plena de piedade e amor incondicional. Por toda essa mesma liberdade e felicidade sobre o Homem em Humanidade crescente, assim seja então. Ad Eternum!

sábado, 26 de abril de 2014

A Dança do Universo


Espiral da Via Láctea

Qual será a verdadeira resposta na representação cósmica - análoga à espiral da Via Láctea - que, induzindo o ser humano numa corrente permanente do nascer e do perecer, se influi também numa constante alteração, permanecendo ao mesmo tempo imutável?

A Espiral
As espirais são um dos símbolos mais antigos da Humanidade. Podemos encontrá-las tanto em figuras rupestres como em gigantescos túmulos de pedra pré-históricos, em escaravelhos e pinturas fúnebres no Antigo Egipto ou ainda em templos do Extremo-Oriente.
No entanto, o conteúdo simbólico deste motivo ornamental é polémico. É provável que o seu contexto se integre no complexo movimento cíclico do Sol ou, nas fases da Lua e na sua influência sobre a água ou a fertilidade. Assim, a espiral exprime a génese e designa o eterno retorno e o carácter repetitivo da evolução. É sobretudo a espiral dupla que, no âmbito dos seus movimentos giratórios para dentro e para fora, dá azo a interpretações de retorno e renovação, de vida e morte.
Desde a Idade da Pedra, onde quer que surja uma espiral, esta remete para uma renovação da vida, para a fertilidade vegetal e, orgânica. Só assim se compreende a sua posterior utilização em pedras tumulares cristãs de origem Celta. A disposição de pedras em forma de espiral - como por exemplo, os labirintos ao ar livre conhecidos como «trojborgen», no Norte da Europa, próximo de Visby, na Gotlândia - remete para uma função de culto deste motivo, a qual pode ser observada em contexto com o Sol. Enquanto símbolo da fertilidade e do desenvolvimento da vida, vamos encontrar a espiral na zona genital de estatuetas femininas em antigas culturas mediterrânicas. Na arte cristã da Idade Média, a espiral aparece também relacionada com Cristo ou com símbolos cristãos.

A Eternidade da Génese e da Morte
Nos místicos ensinamentos secretos do lendário autor dos chamados «escritos herméticos», Hermes Trismegisto, da Antiguidade Clássica, descreve-se a permuta e o efeito de alternância entre o Homem e o Universo, o microcosmos e o macrocosmos: «assim como em cima, também em baixo», pode ler-se na obra de Trismegisto. A simbologia da espiral parece reencontrar-se aqui, tal como na frase-chave do filósofo grego Heraclito. (c. 550-480 a. C.): «Panta rhei», (tudo flui). Heraclito ensina que, todo o ser se encontra na corrente permanente do nascer e do perecer.

Sem Princípio nem Fim
No formato de uma espiral - quer ela seja tridimensional em forma de parafuso ou bidimensional e plana - não é possível encontrar um verdadeiro princípio nem fim. A espiral continua a girar eternamente - referência essa que, em última análise, também podemos encontrar nas poeiras cósmicas em espiral da Via Láctea.
Através do seu movimento giratório, o enrolar e o imediato abrir de novo, a espiral representa uma ordem aparente, mas para a qual faltam delimitações e regras definidas.
Desta forma, a espiral provoca um sentimento de insegurança ao observador, pois este dificilmente consegue equilibrar a flutuação do simbolismo com a sua experiência na matéria. Assim sendo, a espiral representa também as dúvidas e as perguntas sem resposta do ser humano. Este símbolo ancestral, porém, não fornece respostas; escapa ao entendimento inquisidor, na medida em que - aparentemente em fuga - está constantemente a alterar-se, ao mesmo tempo que permanece igual.

A Dança do Universo
Como uma espécie de dança em que todo o Universo surge, leva-nos a referir também a dança dos Dervixes - membros de uma Ordem mística do Islão - em que, se procede igualmente a uma representação da espiral, nela se exprimindo o movimento celeste de um planeta em torno do seu próprio eixo e, em torno do Sol. Deixando o corpo girar sobre o eixo imóvel do seu próprio coração em movimentos de dança vertiginosos, o Dervixe recria o movimento do Universo em forma de espiral e a própria criação.
Num estado semelhante ao de transe, o Dervixe consegue desta maneira absorver as manifestações do divino, que o conduzem a conhecimentos mais elevados e lhe permitem reconhecer a origem divina.

A Rosa Negra e as Setas rumo ao Superior
Milly Canavero, oriunda de Génova, viveu no início dos anos 80 uma experiência assaz estranha. Debruçada sobre o seu bloco de desenho, estava a preparar-se para fazer um esboço da árvore que se encontrava à frente da sua janela, quando de repente a caneta de feltro que segurava pareceu ganhar uma certa independência. Tudo aconteceu como que automaticamente.
Afinal não desenhara uma árvore, mas círculos que se sobrepunham uns aos outros. Uma espiral puramente interminável, através da qual linhas direitas apontavam para cima como setas.
Depois deste acontecimento, Milly Canavero desenhou milhares destas espirais que, apesar da sua geometria exacta, resultaram diferentes umas das outras. Na base dos seus desenhos, encontram-se muitas vezes estranhos caracteres que fazem lembrar escritos pré-históricos e, como marca ou assinatura, aparece sempre uma pequena rosa negra.
Milly Canavero: "No início, os motivos eram muito simples; entretanto, já são bastante complicados. Qualquer um dos traços e qualquer direcção das linhas, tem em si um significado próprio. A rosa é a vida, a espiral corresponde à evolução do Homem. As setas que apontam para cima, são assim o símbolo para a orientação de todos os nossos esforços no sentido de algo mais elevado!"

Na geometria fractal desenvolvida pelo matemático americano B. Mandelbrot (n. 1924), as formas e manifestações complexas (fractais) são apresentadas sob o nome de conjunto de Mandelbrot.
Quanto às rosas, símbolos manifestamente de morte e renascimento - no que se constitui em alegoria desse processo - ou seja, da própria vida, revelando-nos assim a determinação cíclica de um nascer e perecer como já Heraclito o registara. A disposição das suas folhas (rosa) fazem-nos lembrar da correspondência perfeita com a espiral, daí que não seja de todo inexplícita, esta teoria comum ao Universo de uma sua dança em espiral filosófica, coerente com a própria génese humana em vida e morte. Pela eternidade que nos assiste de todo um conhecimento gestante e germinativo em evolução permanente, apenas se poderá acrescentar de que talvez a Via Láctea nos dê  de facto a resposta em imagem e suspensão do que há muito procuramos em verdade e anunciação do: de onde viemos e para onde vamos...! A bem dessa verdade, a bem de todo esse conhecimento e da Humanidade, assim seja então!

quinta-feira, 24 de abril de 2014

A Esperança VII


Alfa do Centauro - Próxima

Como eliminar a fronteira entre a felicidade e a completa anulação do que em mim fazem, subestimando-me o querer, a personalidade e o ensejo de continuar uma vida existencial e, terrestre? Sendo um mero peão no vasto xadrez de um Universo com mais de 15 mil milhões de anos e outras tantas estrelas perdidas em si, por que razão me consignaram sua escrava, sua prisioneira em peculiar grão de areia que lhes sou?

Ano sideral 3015 - Ano em tempo da Terra - 3060 d. C.

O Reencontro
Finalmente o ar despressurizado das cabines e, toda a leveza de uma atmosfera que eu julgara mortal em mim. Nada a reclamar, tendo em conta o que, cirúrgicamente, me terão afixado e implantado nos pulmões e supostamente na alma. Mas nada me faz quebrar o ânimo, o querer e mesmo o desejo de tê-lo só para mim, aqui e agora! Pousámos a nave - o veículo aeronáutico que nos conduz - até uma praia deserta de Centauro que, pelo conceito terrestre seria composta de mar, rocha e espuma; mas não. Não possui ondas.  Não tem aquele ar indomável ou indómito do que eu conhecera na Terra, em ondas bravias e lindas, ainda que as recorde em projecção cinematográfica e holográfica do que o Sábio-mor nos mostrava em conhecimentos e culturas ancestrais.
A areia finíssima mas azul. O mar, esse, em pousio e ânsias de lago aberto, morno, cálido e da cor do Sol da minha terra de quando se despedia de nós a cada dia que passava, submetido agora em laivos anilados num crepúsculo de dia e noite conjuntos como eu, Aleunam e ele, Siul.
Despi-me do fato e de todos os preconceitos, se é que os havia. O meu corpo, o nosso corpo, era e será sempre o porto perfeito da reprodução e continuação, ainda que em circunstância anómala de criar seres híbridos, seres perfeitos para mim mas...sê-lo-iam para eles? Não me importava com os seus conceitos abstrusos sobre mim. Eu estava ali, e tentava ser feliz. Corri para o mar. Enleei-me neste e mergulhei. Siul precedeu-me e como ave migratória seguiu-me os passos, os intentos e, em espécie de valsa de pelicanos, enlaçou-me com os braços, o olhar e...o desejo de me ter, de me possuir num todo. Os seus lábios azuis que revelariam fragilidades em tremura ténue mas ágil, fazer-me-ia detectar em si, a sua entrega, o seu imenso amor por mim. Os meus lábios, os seios ou a púbis não eram mais relevantes do que as mãos, os olhos ou o tacto em si. Tudo era sentido. Percorria-me o tronco como dorso a lustrar e o peito em leito de rio trasvazado de desejos havidos. Sentia-lhe o mesmo fulgor dos terrestres, em poder e órgão genital de igual repercussão em veemência e acção sobre o meu corpo. A turgescência genésica era total e, em todos os pontos do meu corpo - e mal ele me tinha tocado...onde, penetrando, integrando-se em mim e eu nele, fomos um só em iluminação estelar em solo e ar, terra e mar. Sobre as margens daquele estranho mar, completámos um amor só nosso em voluptuosa dança de vagas marítimas que, ali, se não ostentava. E, em frémitos desesperados por se atingir o clímax - que o já havia em mim - só de o olhar, de o sentir, regurgitámos ambos em pura ascensão corporal e, espiritual. Sem pressas, sem acelerar o inevitável estremecimento de corpos em fogo e água, carne e desejo, fluidos e gemidos num gérmen de todo o querer e, de todo o sentir em prolongamento intemporal. Mas por fim, o êxtase intrépido, louco, balsâmico de dois corpos ávidos um do outro em batalha ardente - quase mortal - em que, o olhar de Siul pungido no meu, se deixou vencer num abraço eterno mas real. Ficámos assim...segundos, minutos, anos ou séculos...pouco importava se, nesse estóico e memorável momento, ambos fomos eternos um para o outro!

A Separação
Não necessitava de recorrer à glândula pineal - o terceiro olho invisível mas não divisível de conhecimento - para que desde logo intuísse que algo de muito grave se fosse passar. Ainda no veículo estelar que nos levaria a ambos à Próxima do Centauro, e já eu reflectia sobre a minha hipotética saída quase abrupta e sem explicação de Alfa do Centauro B. Deixaram-me ir com Siul como passeio domingueiro em perspectiva supervisionada - ou «super-vigiada» - do tanto que eu ainda ocultava sobre manobras futuras e, sobre mim.
Lembrei-me das palavras do meu antecessor e primordial antepassado que, vindo de Nibiru há milénios sobre a Terra, me confessava ainda em memórias que eu detinha: "O Passado lembrado no Futuro como profecia a entender...Deixem o Futuro, do Passado o Julgamento ser!" Que quereria ele dizer com isto? Que nos tínhamos de precaver no futuro, tendo como exemplo um passado que nos foi julgado, sentenciado, condenado a permanecer nas trevas? E isso...sê-lo-ia na Terra ou agora e ali, em solo centáurico?...
Tantas questões, tanta amargura que fui sentindo e nem mesmo de quando olhava sorrateiramente para Siul em cumplicidade e bonomia, pude sentir aquela paz de outrora sobre os campos verdejantes e virgens da minha sofredora Terra em solo e planícies atormentadas pelo dilúvio. Queria poder evocar os grandes espíritos para que me ajudassem na conquista dessa paz mas tal não me era permitido, sentia-o. Mesmo estando no Mundo Médio, das estrelas e da enorme esfera estelar - em que voava literalmente pelos enxames globulares de várias galáxias (e mesmo da M 13 de uma há muito deixada Via Láctea) eu não me sentia segura. Não estava segura. De novo a maldita intuição e...aquele cúspide aperto no peito. Mal conseguia respirar nem sequer soltar de mim, aquela estranha e doentia angústia premonitória.
A certeza veio com a rudeza dos factos. Com a assertiva flecha territorial em solo e espaço do planeta de Siul, na Próxima do Centauro. Armadilha, revulsão hedionda e assaz cobarde. Demasiado horrível para ser verdade!...Eu estava de novo prisioneira. Assim que aportámos na Base capital da Próxima de Centauro, as forças militarizadas aproximaram-se.  Ainda nem a nave «arrefecera» numa aterragem que eu supunha perfeita, e já os desígnios futuros me arrestavam para o que eu mais temia: perder de novo Siul!

O Cárcere
Pior do que ficar só, é ficar com as lembranças, as recordações. E eu retinha-as todas em mim. Os abraços de Siul, os seus beijos, o seu corpo em mim e...todo o seu amor desenvolvido num apanágio de vibração, fantasia e consolidação sobre o que teimava em não esquecer ou, em deixar de sentir. O cheiro da sua pele (não muito diferente da dos terrestres em macio e veludoso toque...de poros e sentidos), o seu olhar penetrante e, confiante, mesmo de quando me levaram de si em gritos, pontapés e rasoeirada de impropérios e vernáculo não muito próprio de mim. Eu estava louca de raiva! De despudor, de tirania, de revolta, de mágoa e... de tudo e mais alguma coisa e clamei aos sete ventos que ali se não sentia: "Cambada de cabrões, filhos da puta! Quem pensam que são...? Não podem fazer-me isto, não podem!...Que querem mais de mim...? Já não lhes chega não me deixarem ver os meus filhos...? Não têm piedade?...(Como se «eles» soubessem alguma vez o que seria isso de, «piedade») Não têm vergonha...tirarem de mim os filhos, as esperanças, as alegrias...? Siul por que os deixas fazerem-me isto, porquê???
Siul era o rosto de um ser quebrado. Impotente e frágil, insolente também - no que então demonstrou em rebeldia e, igual incómodo, e mesmo repulsa de me estarem a separar de si - negando-se a acreditar de que, novamente, eu estaria apartada de si. Mas eram ordens superiores e nem mesmo Siul o podia contestar ou sequer alterar nem que fosse para me ver, só mais uma vez. Fui levada sem pejo nem glória, algemada na alma e no ser, como simplória terráquea daquele mundo inferior que todos eles me insinuavam pertencer. Penso que nunca me perdoaram a ousadia de me ter envolvido com um superior de Centauro. E nem a Siul, o desmando e a inferioridade individual sobre si, que este fez e incutiu por sua vez em mim e, sobre mim, de se ter dado de volúpias e pior, da contribuição estelar em concepção, reprodução e nascimentos subsequentes de quatro crianças mestiças, híbridas - e lindas - mas para eles, simples gnomos estelares, despojos corpóreos de processo de hibridização proibido e, de malformação inquebrantável. E disseram-mo! A uma mãe, a uma simples mãe, igual a tantas outras na esfera do Universo mas que ali, em gesto despudorado e displicente, mo atiraram à cara como a mais nojenta obra estelar em conluio com aquele que eu mais amava, para além dos meus quatro filhos, ausentes de mim. Mas não em mim.
O sentimento vermífero que eu detinha sobre eles, os ditos seres superiores de Alfa do Centauro, era tanto, que me roía as entranhas de tanto ódio, de tanta agonia. Podia matar até. E isso, era-me proibido, eu sabia. Não podia deixar-me levar por tanta maldade e tanta monstruosidade sobre a minha pessoa, só por ter interagido e...amado um ser superior. As hierarquias feriam. E por vezes matavam quem menos o merecia, como parecia ser este o meu caso. Flagelei a minha alma. Perdi tudo, de novo, senti.
Mesmo sendo eu matéria e anti-matéria, em círculos de fotões em produção imparável de pares - como objectivamente se faz no Espaço estelar em colisão destes e vice-versa - eu e Siul manteríamos a nossa chama acesa, ainda que por vezes esta se extinguisse por mão e obra externa à nossa vontade. Mesmo perdendo as estribeiras de humana que sou em verborreia que em nada me dignificou, ainda assim extravasei o que me ia na alma de me terem em presidio - e posterior julgamento - do que eu não saberia ainda e, também em posterior condenação; novamente! Estava derreada. Completamente rendida à minha dor da traição, crime e castigo estelares.
A psicoplegia sentida (desfalecimento psíquico passageiro) revelava-me da tamanha fraqueza havida e do simples grão de areia estelar que eu era para eles, os de Centauro, e todos os outros. Aquele sentimento de incompletude e a perda do sentido real das coisas em patologia ou sintomas psicasténicos, levá-los-ia a medicarem-me por hipnose numa letargia demente. Não manobravam completamente as nossas mentes mas sabiam deveras bem - e mais do que o devido - manipularem-nos as defesas, nas poucas que eu exibia agora sem forças, sem quereres, sem nada! Sentia-me extinta ou perto disso, à semelhança dos meus ancestrais Vrishnis e Andhakas que foram eliminados da face da Terra há milénios - por muitos destes estelares em guerras invasoras nucleares de dez mil sóis sobre o meu (sempre) mártir planeta como algo endémico e não indelével através dos tempos. Quem me valeria...? O meu Deus-Uno? Ouvir-me-ia Ele? Acorreria à minhas veladas e sofridas preces de auxílio? Deixar-me-ia Ele também...? Esperava que não. Já nada tinha a conquistar, senão o medo e o desespero de uma simples humana, mulher-fêmea, mulher terrestre sem nada de meu. Para «eles», uma simples e negligente terráquea mas para Siul...seria ainda a sua amada? Esperaria por mim? Lutaria por mim? Buscar-me-ia depois em Prócion, para onde me desterraram...? Teria forças e vontades de me libertar daí? Continuaria a amar-me, ante tantas agruras, tantos presídios, tantas contrariedades?
Oh meu Deus-Uno, fazei com que Siul me não esqueça em mnemónicas injectadas sobre si que o façam esquecer-se de mim, libertar-se de mim...não deixeis por favor...não permiteis meu Deus-Uno e Senhor do Universo, pois que mais nada nem ninguém tenho a apelar, a suplicar...a rogar eternamente que se faça justiça e me liberte deste cárcere maldito! Meu Pai, meu Deus-Uno, vem pois em meu auxílio e traz-me Siul e...os meus filhos e...a alegria de viver que já se me esvai por entre o corpo e a mente em alma perdida, enevoada, cinzelada de negro. Ajudai-me Deus-Uno...ajudai-me!...

quarta-feira, 23 de abril de 2014

A Mística do Islão


Mesquita de Al Badiya - Norte do Emirado de Fujairah                 Emirados Árabes Unidos

"Quem conhece Deus, ama-O. Quem conhece o mundo, renuncia a ele."
                                                                                      - Hassan al-Basri (643-728) -

"La Ilaha Illa ´Llah" (Não existe nenhum Deus além de Deus) - Serão os «Dervixes Suplicantes» os mensageiros de Deus (ou de cúmplices deuses estelares) que em seu nome e tendo por base o Alcorão e, evocando forças especiais, alcançam o êxtase em poderes fantásticos só comparáveis a esses mesmos deuses? E que estranhos poderes são esses que os Sufis revelam, chegando mesmo a falar-se de ressurreição nos níveis mais elevados?

Sufismo - A Mística do Islão
A partir do século VIII, algumas comunidades ascéticas do Islão tentaram opor-se à perda iminente dos seus valores religiosos. Envergando por isso uma túnica de penitência de «suf» (lã), começaram a pregar o verdadeiro significado dos versículos do Alcorão. Devido ao seu vestuário, em breve eram apelidados de Sufis. Os membros das Ordens Sufis ou simplesmente monges pedintes islâmicos, chamam-se «dervixes», de «darvis» - palavra de raiz persa que significa pedinte. Um dos fundadores do Sufismo foi Hassan al-Basri (643-728), que supostamente afirmou: "Quem conhece Deus, ama-O. Quem conhece o mundo, renuncia a ele."

Uma Vida Impregnada de Deus
A orientação mística do Islão - que os Sufis abraçaram desde o início - conduziu a um conflito grave com a concepção teológica dominante. Ao contrário dos Teólogos Ortodoxos, para quem o importante era a observação dos deveres e leis (sharia) do Islão e, sobretudo, a obediência incondicional a Deus, os Sufis invocavam uma passagem do Alcorão que fala do amor entre Deus e a Humanidade.
Os Sufis, para quem o Alcorão não deve ser entendido apenas no seu aspecto exterior, aspiram muito mais a realizar a mensagem nele oculta nas entrelinhas. Querem que a sua vida seja preenchida com a entrega a Deus, sugerida pelo significado da palavra «Islão» (em árabe, «submissão»). À semelhança dos místicos de todas as religiões, o Sufi aspira a receber Deus. O seu caminho leva a uma vida interior que não é separada de Deus. Para os seguidores desta doutrina, Maomé, fundador do Islão, foi o primeiro Sufi do mundo - pois levou uma vida inteiramente impregnada de Deus.

O Conhecimento Libertador
Levando os seus discípulos uma vida exemplar de ascetismo e adoração a Deus (tawakkul), o Sufismo expandiu-se depressa, apesar de todas as resistências. Os Sufis desenvolveram sistemas capazes de levar a um êxtase progressivo. O objectivo era o «conhecimento libertador» (ma`rifa). Nos passos seguintes atingia-se a extinção do «eu», a permanência em Deus e, a união mística com Ele.

Criação das Ordens
Entre os séculos X e XIV formaram-se várias Irmandades e Ordens que, originaram assim inúmeras obras que descrevem os ambicionados estados místicos e que, expõem a doutrina dos Sufis, por palavras inflamadas. De resto, esta literatura surgiu para mostrar que o Sufismo está inteiramente de acordo com os princípios fundamentais do Islão. Um dos seus representantes mais conhecidos, Abu Bakr al-Kalabadhi (m. 1000), escreveu um texto famoso com o título "Livro de Informações sobre a Doutrina dos Homens do Sufismo" onde apresenta provas de justeza dos ensinamentos Sufis.

Os Dervixes Rodopiantes
Foi uma época em que, o Sufismo, influenciou bastante a arte. Tentava-se uma aproximação do mistério de Deus através da música, dança e poesia. Um dos seus expoentes foi o poeta persa Jalaluddin Rumi (1207-1273) que viveu em Konya (Turquia), onde fundou a Ordem Sufi Mevlevi. Como esta valorizava sobretudo o canto e a dança, chamaram-lhe também «Irmandade dos Dervixes Rodopiantes».
Rumi, dedicou a sua inflamada lírica e folclore ao Dervixe pedinte Xams Tabrizi. Os rodopios dos Dervixes em êxtase, são ainda hoje, o elemento mais conhecido da tradição Sufi. Era através da música e da dança que se invocava o êxtase divino. Para tal, os grupos de Dervixes formavam dois círculos. Depois rodopiavam com os braços estendidos na horizontal, enquanto um deles girava no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio.

Técnicas de Êxtase
As Ordens desenvolveram diferentes práticas religiosas do êxtase (dhikr). Alá, amado príncipe da alma, era invocado num transe gerado pelo ascetismo, privação do sono e dança ao som dos tambores.
Os chamados «Dervixes Suplicantes» cultivavam a recitação conjunta do nome de Deus, da sua profissão de fé ou de uma sura do Alcorão, como forma especial de comunicação com Deus, e davam particular atenção às técnicas respiratórias - nas quais prendiam o ar durante alguns minutos - para depois repetirem durante horas, as sílabas da fórmula «La Ilaha Illa ´Llah» (Não existe nenhum Deus além de Deus) com voz abafada. Seguia-se depois a repetição da sílaba aspirada «Hu» (Ele, Deus). Segundo a lenda, os Sufis que alcançam o êxtase por meio destas técnicas desenvolvem poderes fantásticos. Podem, por exemplo, voar ou ferir-se sem perder sangue; as suas roupas podem arder, deixando-os incólumes. Fala-se até de ressurreição nos níveis mais elevados.

Mestres e Discípulos
O Sufi aspira apenas à união com o amado (Deus), enquanto estado de perfeição. O amor a Deus deve ser cultivado no coração, para que o «eu egoísta» possa ser dominado. Assim, o discípulo é denominado «aspirante». Quem o guia no seu caminho é o superior da Ordem (Xeque), considerado o representante de Maomé e a quem é devida uma obediência incondicional. O discípulo é cada vez mais iniciado no conhecimento, conforme o seu progresso espiritual. Estes ensinamentos ocultos só são acessíveis aos membros da Ordem e, apenas, oralmente. O Xeque é o último membro de uma corrente espiritual (silsila) iniciada pelo fundador da Ordem; no caso de muitas Irmandades, pelo próprio Ali, genro do profeta Maomé, ou mesmo por Maomé.

Fundadores
As primeiras escolas Sufis surgiram no século IX no círculo do lendário místico egípcio Dhu`n-Nun (m. 859), do místico islâmico Bayesis al-Bistami (m. 874) e do filósofo Al-Junayd (m. 909), o primeiro a compilar os textos dos Sufis. As suas obras compreendem sobretudo experiências místicas em estados de êxtase, extinção do «eu» e vida em Deus. Al-Junayd elaborou a partir delas a sua «Filosofia de Extinção em Deus», que teve grande influência na continuação das tradições Sufis.
Eis as palavras com que descreveu o «Ser» na Unidade Divina: " Deus deixa os homens morrerem para poderem viver Nele."
Estas ideias místicas originadas por vivências de êxtase foram recebidas como uma provocação extremista pelo Islão Ortodoxo. Muitas máximas Sufis chegaram a ser consideradas blasfémias.
"Transformei-me naquele que amo. Aquele que amo transformou-se em mim. Somos dois espíritos fundidos num só corpo." - Estas palavras levaram o seu autor, Al-Hallaj, a ser executado em 929.

No interior da Mesquita de Al Badiyah, datada do século XVII e, situada no Norte do Emirado de Fujairah nos Emirados Árabes Unidos, ainda ecoa e reina a mesma harmonia mística que fascinou os primeiros Sufis.
Os Muçulmanos tradicionais - mesmo na actualidade - aproximam-se de Alá em peregrinação a Meca. Oram e meditam sob o desejo e crença de conservarem os valores tradicionais do Islão. O Sufismo actua ainda hoje, aspirando à interiorização da religião, considerando a vida, o caminho para ultrapassar tudo o que separa o homem de Deus.
Deus é de facto um só, independentemente das crenças e ideologias religiosas de cada um. Seguidores ou não de todas estas vontades e experiências divinas, o certo é que ainda hoje nos questionamos sobre o verdadeiro poder e dimensão na Terra deste incomensurável Deus piedoso e, Todo-Poderoso. Pois que Ele nos acompanhe sempre - mesmo nas nossa más escolhas quotidianas - e assim nos possa fazer aprender com os nossos muitos erros terrenos, no longo processo evolutivo do ser humano. Assim seja então e para sempre! A bem da Humanidade!

terça-feira, 22 de abril de 2014

A Unidade dos Opostos


Estátua-Escultura de Lao-Tsé      Monte Quingyuan - Fujian - Região de Quanzhou              China

"Todos os seres transportam em si o calmo Yin e abraçam o agitado Yang. A união dos seus sopros constitui a harmonia." (Tao Te King, livro 2.º, verso 42.)

Sabedoria Transmitida
Para um melhor conhecimento da Filosofia Oriental vejamos esta história bem conhecida nos círculos Tauistas: Pergunta então um discípulo ao Mestre:
"Mestre, porque é o Tau tão cruel? Porque mata, destrói e não ama aquilo que cria?"
responde assim o Mestre: "Quando tens fome, roubas as folhas à planta que as criou com muito esforço. Quando te lavas, poluis a habitação dos peixes; quando caminhas, esmagas muitos seres. Por muito cuidado que tenhas, a tua vida é fonte de destruição."
Remete ainda o discípulo: "Mas não é a Natureza que eu sigo?"
Concilia então o Mestre: "A Natureza do Tau também é destruição. Mas não separa. É!"
                     
Lao-Tsé e os seus seguidores viveram com este espírito; ainda hoje os Tauistas vivem de acordo com estas palavras.

Tauismo - Unidade dos Opostos
No início do século XXI, cada vez mais pessoas dos círculos culturais do Ocidente se mostram insatisfeitas com a sua concepção de vida. Em busca de um fio condutor que as inspire com vista à realização do seu ser, procuram mais do que apenas o sucesso profissional e, a segurança económica. O desejo do bem-estar espiritual e físico leva-as a estudar os modelos do pensamento oriental, antigos e sobretudo, muito acreditados. Além do budismo e do hinduísmo, é o Tauismo que inspira e vai ao encontro dos anseios secretos do homem moderno.

Tudo é Um - O Tau Uno
Enquanto o Cristianismo faz distinção entre corpo e alma, mundo e Deus e matéria e espírito, para o Tauismo é tudo o mesmo. Trata-se de uma filosofia religiosa muito difundida, sobretudo na China - baseada na eleição de um Tau (caminho). É impossível para o verdadeiro Tauista descrever a natureza deste Tau, unidade fundamental - metaforicamente representada pelos opostos Yin e Yang - e responsável pelas situações contraditórias no mundo.
O Yin simboliza a Escuridão, a Terra e o Feminino. O Yang, a Claridade, o Céu e o Masculino. Cada um contém o germe do outro dentro de si. Na concepção Tauista, o Tau-uno e incompreensível, manifesta-se através da interpretação dos efeitos dos opostos Yin e Yang no mundo.

Tudo é Mudança
A Filosofia Tauista baseia-se no seguinte conhecimento: através do Yin e do Yang, o Universo, a Terra e os seres humanos encontram-se num processo dinâmico de constante transformação. A vida na Terra está portanto ligada ao que acontece no Universo e vice-versa.
Tudo é parte de um sistema integral em permanente mudança. Deste ponto de vista, a busca da verdade eterna não tem sentido, pois a vida é mudança. Só quem não tem ambições e se entrega ao fluxo ininterrupto do Yin e do Yang - quem portanto está livre da vontade e do desejo - pode penetrar no mundo oculto do Tau. Diz ainda a Filosofia Tauista: «Quem dá livre curso aos sentimentos, prejudica o espírito; quem se vangloria, esconde a sua realidade.»

O Tau no Quotidiano
Isto não quer dizer no entanto que, o Tauista se deixe conduzir sem vontade. Na sua concepção veio ao mundo com um determinado número de forças que tem o dever de preservar e, eventualmente até, de multiplicar. O que no entanto deve desenvolver durante a vida, é a serenidade e a felicidade no conhecimento da interdependência universal de todos os seres.
Trata-se aqui de fazer as coisas pelas coisas e não, por vaidade pessoal nem para dar nas vistas. Um Tauista quer saber como pode levar uma vida simples, tranquila e natural em harmonia com o Universo. Não quer ocupar o primeiro plano; muitas palavras com pouco conteúdo não pertencem ao seu mundo. Os seus actos são suaves e solidários, nunca intrometidos, perturbadores ou manipuladores.
O seu comportamento é caracterizado pela calma e brandura, compreensão sem palavras, efeito sem acção, ser sem ambição. Só quem não tem ambição e está livre de limitações como o amor, o ódio e a inveja, poderá assim penetrar no mundo secreto do Tau.

O Tau do Amor
Esta noção exprime-se sobretudo no Tau do amor e, da sexualidade. Para os Tauistas, o ser humano nasce abençoado com vários tesouros: «o Ching» (força sexual), o «Chi» (força vital), o «Te» (força emocional) e o «Shen» (força espiritual). A força vital e a sexual podem ser cultivadas, fortalecendo a força espiritual e, a emocional. A sexualidade está assim relacionado com o potencial para o desenvolvimento espiritual.
Nos textos tradicionais, o celibato é um meio comprovado para transformar a energia sexual directamente em energia espiritual. Mas, como este estilo de vida não parecia viável - sobretudo para o ser humano comum - os Tauistas desenvolveram a noção da compreensão perfeita dentro do casal, que conduz ao crescimento espiritual. No âmbito do Yin e do Yang, cada membro do casal entrega aos seu companheiro a parte do outro que existe nele em embrião. Ao mesmo tempo, a união entre o homem e a mulher possibilita uma outra união entre energia masculina e feminina, no que constitui mais um passo na direcção do «verdadeiro eu».

A Cartilha da Sabedoria
As linhas principais do Tauismo encontram-se descritas nos 81 poemas do «Tao Te King», um texto escrito por Lao-Tsé, que deve ter vivido no século IV ou III a. C., embora a sua existência não esteja suficientemente comprovada do ponto de vista histórico.
De resto, além do misterioso Lao-Tsé, o Tauismo não conhece nenhum outro fundador. Os dados sobre outros possíveis pensadores são tão escassos como duvidosos. Os sábios Tauistas pensam que isto é propositado pois, no fim, o que conta na sua filosofia de vida não é a pessoa mas sim apenas o Tau.

Máximas do Tauismo
A Doutrina do Tau: O Tau só pode ser atingido e talvez melhor sentido na tranquilidade ou através da compreensão intuitiva.
De onde venho? Para onde vou? Não existem respostas universalmente válidas. Cada um tem de encontrar a resposta para si próprio.
Morte e vida: A Morte é vista como um regresso à origem e o seu sentido deve ser conhecido à priori. A Morte é o resultado da Vida, sem que sem ela não pode existir.
Contacto com o Tau: Pode conhecer-se e sentir-se o Tau em sonhos. O importante é que o ser humano já se tenha preparado para este encontro.
Natureza: O Respeito pela Natureza é característica de todos os Filósofos Tauistas, que repudiam qualquer atentado violento aos processos naturais.

Tau-Uno em Unidade dos Opostos de Yin e de Yang, Morte e Vida e toda uma Natureza que flui em abundância e crescimento numa coexistência harmoniosa entre as plantas e a água, para além do ser humano. Todas as forças criadoras da Natureza, aliadas a uma energia absoluta e completa nesse ser humano que somos todos nós, iluminar-nos-ia de facto, se soubéssemos respeitar as verdadeiras leis da Natureza e, de todo o Universo. Lao-Tsé, tendo existido fisicamente ou não, reporta-nos para toda essa nossa espiritualidade como humanos, num todo único de forças imensas em unidades conjuntas de sexualidade, vitalidade, emoção e espírito. Sabê-lo-emos merecer? Teremos algum dia consciência exacta sobre a nossa origem, proveniência e futuro augúrio de uma outra dimensão em continuidade e ascensão? Lao-Tsé tentou dizê-lo, argumentá-lo nos seus 81 poemas, por certo. A sua magnânima figura em pedra e escultura bem que o determinam - na gigantesca amostragem do que espiritualmente tentou introduzir nos humanos - e este, talvez, vindo da imensa esfera estelar, querer revelar-nos a todos os seres na Terra que, para além de todas as coisas, seremos sempre imortais quaisquer que sejam as nossas crenças, os nossos ensinamentos e, os nossos árduos ou nefastos caminhos a percorrer na vida.
Penso que Lao-Tsé terá sido uma estrela maior descida à Terra para a divulgação de uma sabedoria e filosofias distintas que, a meu ver, se terá propagado desde há milénios numa certeza porém de nem todos as seguirmos. No entanto, em pureza de espírito e iluminação também ambas creditadas em todos nós, seremos o fio condutor dessa sabedoria e ensinamentos para além dos tempos e que, um dia, todos saberemos finalmente, se Lao-Tsé estaria certo. Daí que ressurja sempre em quase homilia sagrada, que a bem de toda a Humanidade assim possa ser ou continuar a ser. A bem do povo da Terra!

segunda-feira, 21 de abril de 2014

As Quatro Verdades


Jardim Sagrado de Lumbini - Nepal

Será a «Grande Ordem», a lei cósmica a que obedece o nosso mundo, a verdade de todas as coisas em manifestação e fenómeno no que todos desejamos alcançar em «darma» subsequente? Entraremos no Nirvana se seguirmos a mesma via de Buda num caminho «desperto» em postura física e moral mais sãs e, conectadas com o grande ventre materno do Universo?

As Quatro Nobres Verdades
O conhecimento fundamental que foi revelado a Siddharta Gautama (Buda) através da iluminação são as «Quatro Nobres Verdades».
Primeira: Toda a existência é dolorosa e todas as alegrias e prazeres são efémeros e sem valor duradouro.
Segunda: Considerando que o sofrimento tem uma razão, cada elemento da nossa experiência surge em consequência dos que o precederam, num processo cíclico contínuo.
Terceira: A causa do sofrimento pode ser determinada.
Quarta: O sofrimento pode ser eliminado se o ser humano seguir o caminho que Siddharta (agora Buda, literalmente «um desperto») caracterizou como a «nobre via de oito braços», o âmago do budismo, de onde derivam a forma de vida, a postura moral e a prática religiosa dos budistas.

A Via de Oito Braços
A via de oito braços incita o ser humano à compreensão correcta, à decisão correcta, à palavra correcta, à acção correcta, aos meios de existência correctos, ao esforço correcto, à atenção correcta e, à concentração correcta. A compreensão correcta significa o conhecimento das quatro nobres verdades e, da impessoalidade da existência. A decisão correcta refere-se sobretudo, à renúncia dos bens terrenos e à preservação de todos os seres vivos. A atenção ou vigilância correcta é um conceito central em Buda. Refere-se às práticas de meditação, mas deve estar presente em toda a vida do budista, isto é, uma vigilância (smriti) perfeita de corpo, sentimentos e pensamentos.
Buda ensinou a evitar os extremos e, a seguir um «caminho intermédio», o único que leva ao conhecimento, compreensão e iluminação e que, desemboca na extinção, no Nirvana. A via de oito braços, encerra assim o conjunto da doutrina de Buda. É tanto o ponto central dos seus ensinamentos como o Sermão da Montanha o é para os de Jesus Cristo.

Tradição Oral
Os sermões de Buda não foram escritos. Provavelmente falava «magadhi», o dialecto da região onde cresceu. Uma das características dos seus ensinamentos (sutra) - proferidos em forma poética - são as repetições pausadas e frequentes, com o objectivo de ser assim mais fácil recordá-los.
O fundador do budismo confiou aos seus seguidores a missão de espalharem a sua doutrina por toda a terra, para que esta estivesse sempre à disposição de todas as criaturas que sofrem.
Siddharta Gautama criou assim a primeira religião de carácter missionário, cujo sucesso dependia decisivamente do estabelecimento de uma tradição oral, repetida da forma mais fiel possível ao original.

Hinayana
Com o passar do tempo, desenvolveram-se várias correntes doutrinárias, entre as quais o «Hinayana» (pequeno veículo) e o «Mahayana» (grande veículo) são as mais importantes.
O budismo Hinayana abstém-se de especulações metafísicas, considera real o mundo e o sofrimento humano e, ensina que a libertação só é possível, através da vida monacal. O Hinayana transformou-se assim numa religião de elite, pois são poucos os que podem renunciar aos laços terrenos e, familiares.

Mahayana
O Mahayana, mais popular, aponta vários caminhos para a libertação, já que a «natureza de Buda» está presente em cada ser humano, embora a maioria não o saiba. Para os místicos do Mahayana, o mundo dos fenómenos e o sofrimento humano são meras ilusões. A realidade é apenas a origem transcendental, incaracterística e existente por si só, da qual derivam todos os fenómenos. O Mahayana - em cujo ponto central se encontra a compaixão por todos os seres vivos - é uma concepção grandiosa, baseada na realização da piedade e do amor universal. Esta atitude é concretizada no ideal do «bodhisattva» (ser iluminado). Um «bodhisattva» é um ser que seguiu o caminho budista até ao fim, mas que renunciou por altruísmo a penetrar no Nirvana, regressando de livre vontade à roda do renascimento, até à extinção de todos os seres. Os actos de «bodhisattva» são determinados pela compaixão, por sua vez resultante da sabedoria e, do conhecimentos supremos.

O Darma
Imediatamente a seguir à extinção (Nirvana) de Buda, os monges reuniram-se em Rajagriha, onde Ananda - o discípulo preferido de Buda - voltou a proferir os ensinamentos do seu mestre, palavra por palavra.
Foi graças à sua excelente memória, que a «Sutra-Pitaka» (Cesto das Escrituras) - o núcleo da doutrina budista - chegou aos nossos dias. A doutrina de Buda chama-se «Darma» em sânscrito.
Este conceito essencial do budismo é usado com vários significados: um deles é «Grande Ordem», a lei cósmica a que obedece o nosso mundo. Designa também a doutrina de Buda, porque esta proclama a verdade da lei cósmica. Mas o «Darma» também é a manifestação de todas as coisas, o mundo dos fenómenos, pois representa o desenvolvimento da lei cósmica. O crente refugia-se no «Darma» e, alcançá-lo, é o desejo de todos os que se dedicam à prática meditativa budista.

A Revelação
Em 2013 foram feitas descobertas assaz surpreendentes: no Jardim Sagrado de Lumbini, no Nepal, em escavações arqueológicas feitas pelo professor e arqueólogo Robin Coningham da Universidade de Durham, no Reino Unido - conjuntamente com Kosh Prasad Acharya, arqueólogo nepalês - foram detectadas a presença de raízes no santuário de madeira, naquele que se especula já ter sido o local do nascimento de Buda no século VI a. C. e, muito antes do que até aqui se evidenciava em século III a. C.
Segundo os próprios, a prova disso mesmo está reflectida na evidência do que poderia ter albergado uma árvore nesse local pela efectiva presença de raízes de árvores antigas no espaço central do santuário. Foram detectados e, examinados, vários fragmentos de carvão, areia, grãos nos testes de radiocarbono e luminescência opticamente estimulada por parte dessa pesquisa geoarqueológica - para assim estabelecer a idade do santuário e, da estrutura sobreposta de tijolos aí soterrados.
Esta imponente e, importante pesquisa e investigação no Nepal, foi partilhada, autenticada e revelada ao mundo com a cumplicidade e aval financeiro da ONU, UNESCO e Governo do Japão. Para além da óbvia cooperação e participação de várias outras entidades afectas a estas escavações nepalesas. Sendo Lumbini considerado Património Mundial da Humanidade desde 1997 e, visitado por centenas de milhares de peregrinos todos os anos, este local tem suscitado a veneração e respeito por todos os que aí se deslocam em romaria espiritual incomensurável. Há que referir também a Sociedade Geográfica Nacional para a Exploração Global, localizada nos EUA que também participaria nestes eventos e custos para uma verdade a buscar, no que se considera então ter sido, eventualmente, o local de nascimento de Buda no século VI a. C.
O Ministro da Cultura, Turismo e Aviação Civil do Nepal, Ram Kumar Shrestha corroboraria de igual forma em conivência e licenciamento de interesses, tendo assim afirmado: "O meu Governo (Nepal) não poupará esforços para preservar este local de tamanha importância!"
Pois que assim seja, dizemos todos nós, aqueles bem aventurados que querem e desejam que desta forma venha a lume toda a verdade dos factos, acontecimentos e redescobrimento de uma outra realidade em que Buda terá nascido, vivido e eclodido toda a sua sabedoria e luminescência. Não seremos todos «bodhisattvas» ou seres iluminados mas...a bem de toda uma luz interior que nos guia, vigia e ilumina também (acredita-se) teremos a ousadia de nos deixarmos conduzir por esse novo caminho da luz e, dessas tão reais e iluminadas e mui nobres quatro verdades fundamentais sobre o ser humano. Que assim seja então, a bem da Humanidade que somos todos nós!

A Iluminação em Buda


Estátua de Siddharta Gautama - Japão

Será possível que, na existência humana, erradicando os três males fundamentais da voluptuosidade, a ânsia de transformação e a ignorância, o Homem se poderia reconhecer feliz ante tamanha contemplação sem estes males do mundo? Contestando a existência de um «eu», Buda terá tido razão ao propagar a interioridade humana, como um todo no Universo na forma de um espírito absoluto?

Budismo
Enquanto religião, o budismo baseia-se na experiência de um homem: o príncipe indiano Siddharta Gautama (566/563-486 a. C.). Shakyamuni, «o sábio da estirpe dos Shakyamuni», era filho de um príncipe muito rico, cujas origens remontam ao lendário rei Ikshvaku dos Himalaias. Reza a lenda que a mãe de Siddharta, Maya, deu o filho à luz num pequeno bosque florido perto de Kapilavastu.

O Príncipe Protegido
Siddharta Gautama cresceu coberto de todas as riquezas da vida terrena, mas protegido do mundo exterior e guardado atrás dos muros do palácio. O seu pai, o príncipe Shuddhodana, queria evitar que o filho se interessasse pelas questões religiosas, pois fora profetizado que este seria um conquistador ou um iluminador do mundo, o que poderia pôr a sua sucessão em perigo.
Quando teve idade suficiente, Siddharta fundou a sua própria família. Saindo às escondidas do palácio, por quatro vezes foi encontrando sucessivamente um ancião, um doente, um morto e um asceta, fazendo o príncipe interrogar-se se não seria possível libertar o mundo da velhice, da doença e da morte. Estas questões nunca mais o largaram. Um dia, decidiu virar costas à facilidade da sua existência e, deixou o palácio com a idade de 29 anos. Siddharta abandonou todos os seus bens, o pai, a mulher e o filho sem se despedir. Atravessou três reinos com o seu auriga Chandaka. Chegado ao rio Anavama, desembaraçou-se das roupas principescas, rapou o cabelo e prosseguiu o seu caminho a pé, vestido de mendigo.

Iluminação em Bodh Gaya
Siddharta Gautama procurou a verdade durante muito tempo. Encontrou muitos mestres, iogues e filósofos famosos. Por fim, juntamente com cinco companheiros que o admiravam e, que o tinham procurado devido à sua austeridade ascética, chegou à pequena aldeia de Uruvela, situada em frente da actual Bodh Gaya, na margem do rio Niranjana, onde se sujeitou durante 6 anos a dolorosas mortificações e, rigorosas práticas ascéticas. Reduzido a pele e osso, Siddharta reconheceu finalmente que, a verdade não residia na automortificação nem no ascetismo. Compreendendo então que a verdade era um processo interior, sentou-se debaixo de uma figueira com a firme decisão de só voltar a levantar-se quando a reconhecesse.
«Despertou» numa noite de Lua Cheia de Maio, ao cabo de 49 dias de introspecção.

Buda, «O Desperto»
Ao ser iluminado, Siddharta Gautama adquiriu o conhecimento da natureza das coisas, da existência e do «eu» e tornou-se assim um Buda, um «desperto». Alcançou a lembrança das suas formas de existência anteriores, o reconhecimento da encarnação nos outros seres, a sabedoria sobre as «quatro nobres verdades» e, a eliminação dos «três males fundamentais», a saber, a voluptuosidade, a ânsia de transformação e a ignorância. Ao cabo de 7 dias sentado imóvel debaixo da árvore do entendimento (bodhi), o demónio Mara tentou dissuadi-lo de transmitir o seu conhecimento aos humanos. Mas Buda persistiu na sua decisão e, levantou-se por fim do seu lugar, para abrir as «portas do intransitório aos que quiserem ouvir», tornando-se assim um «desperto perfeito» (sammasambuddha).

O Sermão de Benares
No parque de Isipatana, actual Sarnath, perto de Benares, Buda - depois da sua iluminação - voltou a encontrar os 5 ascetas que o tinham acompanhado ao princípio e que, por fim, o haviam deixado devido à sua entrega às práticas de mortificação. Com o célebre sermão de Benares, Buda pôs em movimento a «roda dos ensinamentos». Os 5 ascetas foram os seus primeiros discípulos. Ainda hoje há fiéis budistas que percorrem em meditação - no sentido dos ponteiros do relógio - o grande stupa de Sarnath, o edifício religioso central erguido no lugar do primeiro sermão de Buda.
Na sua prédica, Buda rejeitou a doutrina de um «eu» eterno e imutável. A sua visão da existência era a de uma corrente contínua de transformações e sofrimentos. Desde o princípio que, o ser humano, gira então na roda da encarnação (samsara). O que Buda propôs não foi a substituição da transformação, inevitável, pela noção de um «eu» eterno e, imutável. Pelo contrário, contestou a própria existência de um «eu» - tanto enquanto fundamento interior do ser humano - como enquanto base exterior do Universo, na forma de um espírito absoluto (Deus). Buda ensinou o «não-eu» (anatman).

Que homem foi este então, Siddharta Gautama em iluminação e seguimento de ensinamentos tão contrários e expansivos quantos os da sua dimensão na época. Que terá ouvido, que terá sabido de tão eminente e extemporâneo (ou não) de uma nova filosofia de vida em ascetismo e interioridade incomuns para a sua linhagem real? Terá ouvido os céus, terá sabido reiterar esses novos ensinamentos que em processos estelares lhe terão imputado em novas correntes e novas assimilações de alma? Que alma maior terá sido então Siddharta Gautama que, ainda nos dias de hoje, na actualidade, nos faz respeitar e por vezes seguir nessa mesma interioridade de alma e espírito, de um novo caminho para o ser humano na sua continuada luta de sobrevivência e desenvolvimento pessoal...? Buda ou espécie de deus que, mesmo na idade contemporânea, nos arremessa a certeza de algo iluminado, exterior à Terra em luz, sequência e direcção. E que todos os dias, nos alumia também assim uma maior pureza de caminhos a percorrer. Por toda a eternidade e, em toda a Humanidade!

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Esperança VI


Planeta Alfa do Centauro B

Onde começa a esperança e acaba o desalento, numa nostalgia dormente, demente e, invasora de todos os espaços? Poderei retornar ao meu território, ao meu berço de nascença e criar raízes ou inversamente, submeter-me à «prisão» de outros limites, outros augúrios que não os do meu solo, os da minha terra, dos meus céus e, de toda a minha frenética génese e fragrâncias terrestres?

A Reunião
Existe um limite para o infortúnio e outro para os destinos cruzados e avessos, mesmo entre nós, os terrestres, sempre tão alvo de críticas e sujeitos aos vaticínios dos superiores, dos inteligentes. Reunidos na galáxia de Orion, exigiram a minha expulsão (de novo!) e sobre a qual eu não me podia sublevar nem sequer argumentar da inocência havida de ter sido uma simples vítima de dejectos espaciais em confusão meteorítica e extravasada sobre a minha martirizada Base em Marte. Referiram que todos - os elementos aí afectos em missão e cumprimento do dever - fôramos assaz negligentes, preguiçosos e muito pouco profissionais no que deveríamos ter alcançado com tempo e reiteração funcional no treino e repercussão estelar que todos igualmente havíamos tido anteriormente. Como «bode expiatório» que eu era em única sobrevivente, asseverariam de que eu seria punida por tal. Não me deixaram testemunhar a meu favor em defesa única também do que por mim teria de outorgar, mesmo sabendo dessa inutilidade ou irreversibilidade de opinião e conceito, julgamento e condenação póstumas, pois nada ouviam e nada amorteciam do que eu lhes pudesse invocar em dor, piedade ou clemência. Estava fodida! (Perdoem-me a expressão...os meus antepassados sabem bem do que falo!) Mas sem me deixar enredar em má educação e pruridos galácticos que só a mim doem e perfuram como escavadora em túnel subterrâneo, a minha consciência vai - para além de todas as coisas - para a memória vã dos meus filhos e, do meu amado Siul que tem feito investidas hercúleas, tais como o seu semblante e porte físico, em manobras inimagináveis para me ver perto de si em finalização triunfal do que não me orgulho agora, de momento, em esterco personalizado de mim, do que me fizeram sentir nesta estranha reunião da Confederação Galáctica em espécie de Inquisição ancestral, endemoninhada de bons augúrios, consideração ou sentimentos por mim.

A Fusão
Encarcerada em mil pensamentos e numa só cela descabida de alma e de tudo o que me pudesse libertar, foi com agrado que vi ser-me tolerada a saída precária de uma solução imediata para o que (acreditei) eles não saberem muito bem o que fazer comigo. Punindo-me, estar-se-iam a punir a si igualmente sem grandes misericórdias pelo que sabiam terem sido eles próprios incompetentes ou então pouco indulgentes com a nossa causa, a causa dos que pouco ou nada têm a perder na missão que nos aguardava em Marte. Sabíamos das ocorrências nefastas em que por diversas vezes as Bases eram acometidas, acabando-se o oxigénio e todo o suporte-base de vida aí. E nem era necessário que chovessem meteoros como aconteceu, bastava que se formassem nuvens de poeira cíclicas e tudo se desmoronava. Daí que fossem poucos ou quase nenhuns, os que voluntariamente se reportavam a essas missões marcianas. A única benesse era mesmo e somente, a comutação de penas aplicadas a quem tivesse no seu curriculum passado um historial maior de condenações e antecedentes criminais, tão megalómano quanto a ideia de se perder ou fugir no meio de Marte. E eu fugi. Ou tentei fugir em excentricidade individual e pessoal tão idiota quanto a situação em que agora me encontrava. Até haver a peregrina ideia de me exilarem. Para Alfa do Centauro B.
A fusão havida até agora com este planeta em tríade hiper-dimensional estelar fazia-os imputar em mim a submissão total de um cárcere hediondo e sem meios de fuga. A atmosfera era pesada para mim. Os meus pulmões rebentariam e eu sofreria as consequências se tentasse fugir da cápsula orbital remessa aos foragidos, aos fora-da-lei galáctica e, estelar. Ninguém brincava com os confederais, reverberavam acintosamente. Eu era-lhes pouco. Eu...era-lhes, nada! Não levavam muito em consideração os terrestres, vulgos parasitas ou formigas tontas que nem sabiam qual os caminhos a seguir, após a tão capitosa praga diluviana na Terra. No fundo, riam-se de nós. Era ultrajante, obsceno até. Um dia...haveriam de engolir tudo isso, essa arrogância, esse deleite sumptuoso de quem se diz superior e por vezes capitula e remete aos baixios, aos brejos da sua própria consciência e racionalização. Contudo, havia esperança. Eu não podia gotejar em fraquezas, em destituição de raciocínios lúcidos numa espécie de desidratação doentia que me levasse todas as forças. Eu tinha de persistir e, insistir em mim, a certeza da continuação, negando-me a ser vencida, negando-me a ser só mais um réstio número estelar na imensidão galáctica sem nome e sem alteração! Eu havia de vencer. Pelo menos...estava mais perto. Mais perto ou...mais longe, como o saberia eu, se acaso Siul já não fosse mais meu e tudo não tivesse passado de um belo e simples sonho estelar?

A Libertação
Emagreci. E devo estar tão feia e cavernosa como os meus antecessores de Neanderthal. Possuo os genes do Homos Erectus de há 3000 anos na Terra mas submeto-me agora como se fosse uma amiba sem cor ou querer neste degredo de planeta desconhecido. Não são afectuosos mas também não fazem por ser assertivamente hostis ou quedarem-se por animosidades de quando me vêem ver em análises suas de olhares opacos (e nenhuma transparência) sobre o que verdadeiramente lêem de mim. Apresentam-se sempre como figuras cálidas mas amorfas em me auxiliarem na saída do presídio em que estou. Velam-me o sono e até os pesadelos, pelo que sinto em câmaras ocultas de paredes vítreas e observações minuciosas.
O desânimo está a dar cabo de mim. A esperança de daqui sair também. E esmoreço.
Mas de novo, a luz! Veio em sinal e símbolo máximo de uma soltura de cela, gabinete, cápsula e espaço sideral naquela que seria a mais bela cidade em ilha apresentada e, por mim vista algum dia. E a surpresa foi imensa. Deixaram-me ao ar. Deixaram-me respirar sobre o varandim do edifício capsular em janela de alma aberta ao mundo, aquele mundo desconhecido mas tão belo quanto a coisa mais bela que eu já tinha visto ou vivificado em mim: a liberdade! O cheiro da liberdade! E não morri. Respirei com todas as forças em inspiração e expiração subsequentes como se não houvesse outro momento assim, e o que vi e observei foi fantástico, foi belíssimo, surpreendente e...luminoso: Siul estava na minha frente!
Levaria anos, milénios para reportar o que senti, o que o meu coração e a minha alma me ditaram em complacência e turbilhão conjuntos. Eu era um vulcão, um tornado, um dilúvio de sentimentos! E ele, Siul, direito, erecto, altivo, profuso, real e...belo, muito belo, ainda mais do que lembrava de si em toda a sua pujante figura de Centauro, iluminado e, iluminando-me os sonhos, as certezas agora que não mais fugiria de si, na crença maior do seu amor por mim e eu dele e...tudo o mais em velocidades extremas que não sei aqui relacionar. O seu cabelo afivelado e dourado como um deus, o meu deus...as suas mãos segurando as minhas, a sua face perpetuando-se na minha, os olhos nos meus e...o seu corpo, o seu magnífico corpo sobre o meu, revelando-me tudo sem uma só palavra, um só gesto que não fosse: sou teu! Para sempre!
O mar ouviu-nos e ficou em sussurro. As nossas almas uniram-se como Enki e Ninmah e brilhámos no meio das 200.000 milhões de estrelas de todas as galáxias e fizemos um amor só nosso! Ele, Siul era o meu Shamash, o meu deus do Sol que me irradia fortuna, glória, aventura e...esperança. Que irradia tudo. Agora estou em paz. Agora vou voltar a ser feliz. Agora...tenho esperança, pois Siul é meu! Para sempre!

quarta-feira, 16 de abril de 2014

A Coluna de Fogo


Imagem de Jesus Cristo sobre o Céu e a Terra

Terá o Senhor, em transporte e deslocação, surgido nalguma espécie de nave espacial no que a Bíblia pronuncia de «coluna de fogo»? E que de dia se evidenciava como «coluna de nuvem» para, de noite, reverter em fogo e, em ascensão de velocidade extrema levado assim Cristo pelos céus?

Milagres Bíblicos - Água no Deserto
Actualmente os guias turísticos gostam de mostrar aos visitantes do deserto do Sinai, o rochedo do qual Moisés terá extraído água para o seu povo com a ajuda de uma vara (Êxodo 17, 1-7). É com efeito possível encontrar água sob a rocha calcária porosa, tacteando então em busca de zonas húmidas.
Moisés poderá ter aprendido esta técnica aquando da sua estada com os Midianitas - de acordo com a Bíblia, estes são os descendentes de Quetura, a mulher de Abraão - mas também não é de pôr de parte a hipótese de ele dominar a arte de rabdomancia. Um governador britânico do Sinai, o Major C. S. Jarvis, observou na década de 1930 um grupo de Sudaneses - a camelo - que estavam bastante familiarizados com esta técnica. Supõe-se então milenar, a dimensão e conhecimento desta técnica.

O Mar Ergueu-se como Um Muro
Uma das mais impressionantes imagens do Antigo Testamento é, sem sombra de dúvida, a caminhada que os Israelitas empreenderam através do Mar Vermelho: «(...) e o Senhor fez recuar o mar com um vento forte de Oriente toda a noite, e pôs o mar a seco. As águas dividiram-se e os filhos de Israel entraram pelo meio do mar, por terra seca, e as águas eram para eles um muro à sua direita e á sua esquerda.» (Êxodo 14, 21). Quando os perseguidores Egípcios correram no encalço dos fugitivos Israelitas com 600 carros de guerra, cada um deles com três condutores - através daquele baixio aparentemente seguro - sofreram uma terrível morte por afogamento: «As águas voltaram e cobriram os carros de guerra e os cavaleiros.»

Enigmas por Esclarecer
Na Bíblia não se encontram quaisquer indícios acerca do local exacto em que, a milagrosa divisão das águas do mar terá acontecido. Assim, em edições mais recentes da Bíblia, tem-se optado por substituir «Mar Vermelho» por «mar dos Juncos», uma vez que esta é uma tradução mais exacta de «Yam-sûp» - a expressão existente no original.
A busca dos motivos deste milagre manteve-se até hoje sem qualquer sucesso. Poderá ter tido a sua origem nas histórias contadas em redor da fogueira pelas tribos Israelitas que, possivelmente, terão adornado um episódio de travessia de uma fronteira a ponto de o transformarem numa vitória de proporções épicas.
A Ciência poderá também ter contribuído decisivamente para o esclarecimento de muitos enigmas referentes à Bíblia, mas não deixa de estar por responder a pergunta, acerca de quem foi realmente Moisés. Mesmo que, não haja certezas em relação a isso (uma vez que se especula este poder ser de origem estelar também e fora dos parâmetros terrestres em simbiose total com estes nos seus ensinamentos e, sequência extraordinária de visitas e ordenamentos) - de acordo com as descrições - este homem deverá em todo o caso, ter possuído ampla sabedoria e um carisma igualmente grande, bem como uma inabalável fé em si próprio. Ou, como se já referiu, reconhecer em si qualidades extremas, inteligentes e superiores nesses desmandos e ordens terrestres que por sua voz e mando, assim se enunciou e criou seguidores.

O Senhor em Colunas de Nuvem e Fogo
Não faltam explicações acerca do modo como os Israelitas se conseguiram orientar durante a sua travessia do deserto. A Bíblia (Êxodo 13, 21) apresenta o seguinte: «O Senhor caminhava diante deles; durante o dia, numa coluna de nuvem para os conduzir na estrada, e de noite, numa coluna de fogo para os alumiar, para que pudessem caminhar de dia e de noite.»
Ainda que aceitemos a explicação de que a coluna de nuvem bíblica seria apenas uma coluna de areia, levantada possivelmente até 20 metros de altura por um turbilhão de vento, a explicação para a segunda manifestação do Senhor torna-se muito mais complicada.
Alguns orientalistas são da opinião de que poços de petróleo em chamas poderiam assim ter indicado de noite aos caminhantes, qual a direcção a seguir, no entanto esta é uma explicação que tem mais cabimento nos dias de hoje do que, nos tempos bíblicos.

Em toda esta percepção documental, há que registar os factos determinantes no que sabemos hoje de influências externas ao planeta Terra na interferência e, possível ingerência, de uma ou mais civilizações estelares que assim se terão referenciado na Terra em conluio ou omnipresentes em cada uma das partes. É especulativo, sabe-se, no entanto há que ter em conta de que mesmo para a época ser-se transportado por uma coluna de nuvem (que hoje se especifica em observação mais concludente sobre as naves espaciais, ditas naves extraterrestres que se camuflam por vezes de nuvens...) de dia, e de noite em coluna de fogo, pelo que Jesus se evidenciaria em locomoção «ardente», luminosa e fugaz ou precipitada, consoante os seus desígnios a alguns metros do solo. Regista-se hoje, a idêntica permeabilidade no ser humano em estranheza e desconhecimento mas já mais aberto em mente e revelações científicas, saber de que eventualmente se pode alcançar esta enigmática locomoção aérea através de energias poderosas em propulsão e magnetismo, no que as ditas civilizações inteligentes ainda hoje nos fazem em total deslumbramento ou receio do que não conhecemos também ainda. Para além, de todos os supostos poderes que existencialmente Jesus pudesse emanar igual e superiormente, acredita-se.
Moisés, Jesus e tantos outros profetas, sábios, figuras divinas, celestiais ou simplesmente de descendências estelares, no que lhes foi reverenciado - e ainda hoje não completamente autenticado pelo tanto que também não sabemos ainda, destes poderosos homens - que ficaram na História da Humanidade como deuses ou, em Deus único, de inteligência e absoluta magnificência em Deus Todo-Poderoso. Muitos mistérios ainda estarão por desvendar na eloquência dos tempos e de um futuro por desbravar, contudo, será sempre esta magia de colunas de nuvens e colunas de fogo, que nos suscitará no futuro também a certeza, de algo mais e tão maravilhoso a alcançar; mesmo que não sejamos como Moisés ou Jesus em iguais missões terrenas de divina demonstração. Há que estudar, continuar a aprender, a investigar e...a acreditar de que nesse nosso tão magistral futuro, Deus nos possa confidenciar de que também nós poderemos abraçar esse Nirvana na Terra ou, em qualquer outro lugar - em corpo e espírito - seja lá qual for, o veículo que nos transporte. A bem de todo esse enorme conhecimento em cultura e sabedoria, assim possa continuar a ser. A bem da Humanidade!

A Sarça Ardente


Imagem de Moisés, filho de Israel ouvindo Deus através de uma «sarça ardente»

"Ele olhou e viu , e eis que a sarça ardia no fogo mas não era devorada."  (Êxodo 3, 2)  Bíblia

Que fogo intenso era este, que Moisés viu sobre tal arbusto (sarça) mantendo-se sem arder? Que poderosas energias seriam essas, emanadas em tamanha luz e dimensão? Poder de Deus e luz de Deus ou, o que se reconhece hoje, de uma magnitude superior em tecnologia e propagação de evocação estelar?

Milagres Bíblicos
Desde muito cedo que a veracidade e a credibilidade histórica e científica dos textos da Bíblia foram investigadas. Linguistas e «arqueólogos bíblicos» tentam desde há séculos lançar alguma luz nas muitas passagens do Antigo e do Novo Testamento que, até hoje, se mantêm obscuras.
Durante décadas, um livro de Werner Keller (1909-1980) foi muito questionado e, alvo de polémica, sendo igualmente um campeão de vendas. Admite então: "E a Bíblia Tinha Razão..." - Constituindo assim como que a obra fundamental da laboriosa busca das fontes, daquele que deve ser o livro mais conhecido do mundo. No deserto do Sinai - um dos locais em que se desenrola a acção do Antigo Testamento - estão as raízes do Cristianismo, uma religião que conquistou o mundo a partir dessa região.
Moisés - que acabara de fugir do Egipto com um grupo de compatriotas seus que aí eram mantidos em cativeiro e sujeitos à escravidão - escolhe este lugar para proclamar a sua crença num Deus único. Em tábuas de pedra apresentou aos seus companheiros, no sofrimento, os 10 mandamentos - uma afirmação clara e categórica da vontade de Deus que ainda hoje se mantém válida para os adeptos das religiões cristãs.

400 Anos - Antes de Moisés
Por muito significativo que esse acontecimento possa ter sido, não parece ter sido único. Já a famosa estela babilónica das leis, «O Código de Hamurabi», exposta no Museu do Louvre, em Paris, nos mostra o rei Hamurabi (1728-1686 a. C.), com a sua barba comprida e vestes ondulantes, sentado em frente ao deus do Sol, Shamash. É da mão deste que, Hamurabi, recebe as tábuas de pedra com as leis - pelo menos 400 anos antes de Moisés ter recebido as suas.
A Bíblia não é de maneira alguma um manual de História, devido porventura a muitas incorrecções ou alterações «fabricadas» ao longo dessas muitas traduções e reconversões a que foi sujeita. Existem alguns factos muito importantes em ocorrências imperativas que aí não foram documentadas, o que se nos revela estranho na indução que se fará do que premeditadamente talvez não se desejasse aí impor em verdade.
É de estranhar que não só a fuga dos Israelitas do seu cativeiro, como também a aniquilação do exército faraónico que os perseguiu, não surjam registadas em parte alguma pelos funcionários egípcios - de resto, tão meticulosos. Não deixa também de parecer invulgar que, a caminho da terra prometida, os filhos de Israel precisassem de 40 anos - sabendo-se que a distância que separa o Nilo e o Jordão pode ser atravessada a pé sem grandes problemas em duas escassas semanas.

Autores Anónimos
A maioria dos relatos bíblicos tem mais valor simbólico do que propriamente um valor histórico. Constituem metáforas de acontecimentos não verificáveis por parte dos historiadores. Ainda assim, foi possível decifrar muitos dos enigmas que se escondem por detrás da linguagem ornamentada dos autores anónimos destes textos. Os orientalistas estão de acordo quanto ao facto de, os 40 anos no deserto, corresponderem antes à duração de uma geração naqueles tempos. O número 40 aparece frequentemente na Bíblia e, parece possuir um valor simbólico, uma vez que também o período de jejum de Cristo no deserto demorou 40 dias.

O Óleo que Arde
Também os cientistas contribuíram para o esclarecimento de alguns milagres bíblicos. No Antigo Testamento pode ler-se assim: "Ele olhou e viu, e eis que a sarça ardia no fogo mas não era devorada." (Êxodo 3, 2)
Um especialista em plantas dos tempos bíblicos, o doutor Harold N. Moldenke, director do Jardim Botânico de Nova Iorque, está convencido de que o arbusto que Moisés a arder, se tratava possivelmente de uma espécie que segrega um óleo tão volátil que basta estar o arbusto exposto à luz directa do Sol, para este óleo começar a ser segregado e poder mesmo entrar em combustão, sem que no entanto a planta sofra qualquer efeito. Numa outra alternativa, que visa explicar o episódio da sarça ardente relatado na Bíblia, refere uma espécie de visco chamada «Loranthus acaciae» de cor carmesim, que cresce sobre arbustos de acácias-espinhosas no deserto do Sinai e que, quando iluminada pelo Sol-poente ou nascente, produz um efeito visual semelhante ao acima descrito. Mas, e se nada disto se confirmar? E se algo totalmente diverso se apresentou aí a Moisés no que ainda hoje não conseguimos totalmente autenticar nesse fenómeno de luz, cor a poder ardente numa visualização ímpar nos conhecimentos da Terra?

Surgimento do Maná
Um dos milagres da Bíblia é o pão celestial, que Jeová fez cair do Céu para alimentar o povo de Israel durante a sua caminhada através do deserto. Quando as pessoas viram os alimentos no chão, perguntaram-se: «Man hu?» (O que é isto?) E foi então que, a partir destas duas sílabas, que se terá formado a palavra «Maná». Os especialistas em Ciências Naturais que se debruçaram sobre este assunto, julgam que esta refeição enviada por Deus poderá muito bem ter-se tratado de uma substância  melíflua, segregada por uma espécie de cochinilhas que se alimentam do tamariz - substância essa que engrossa quando exposta às quentes temperaturas do deserto. Após o estudo de certas tradições judaicas, principalmente da Cabala, o engenheiro electrónico britânico George Thornycroft Sassoon (n. 1936) e o biólogo Rodney A. M. Dale (n. 1933) chegaram a uma conclusão diferente: o Maná deverá ter sido uma espécie de alga cultivada numa máquina - semelhantes às algas com elevado teor proteico que, actualmente, servem de alimento aos astronautas.
Os investigadores chegaram mesmo a encontrar nestes escritos místicos um «manual de utilização» do aparelho que produzia o Maná. É num livro intitulado: "Zuta Odisha", parte integrante da Cabala, que o funcionamento dessa máquina terá estar descrito. Esse aparelho conseguiria supostamente produzir 1,5 metros cúbicos de alimento por dia. De acordo com esta fonte, esse estranho aparelho foi guardado num templo em Jerusalém até ser destruído por ocasião de um saque. Sassoon e Dale mantêm em Londres um modelo que foi por eles construído, de acordo com essas instruções e que funciona.

Que se poderá então acrescentar, a não ser a referência máxima de algo de muito avançado tecnológica e habilmente - que só nos dias de hoje convencionamos em utensílios domésticos - mas que, na época, seriam totalmente absurdos ou dignos dos céus, como parece ter sido o caso. Desde a referida sarça ardente, que mais não teria sido do que a projecção eloquente a nível tecnológico ou de grande propulsão (se acaso se tratou de uma nave ofuscada em luz e som...) e, neste último caso, em milagre anunciado na proliferação de pães ou algas vegetativas (possíveis leguminosas consubstanciáveis no que é na actualidade o alimento dos astronautas) e na época reportada, a extrapolada misericórdia de Deus em manifesto imenso, provindo de uma máquina altamente discutível mas de assomos reiteradamente externos à Terra. Beneficência divina ou simplesmente a evidência de tecnologia estelar, o certo é que estes factos aconteceram e multiplicaram-se até mesmo nos dias de hoje em deslumbramento e, consternação. Daí que se conclua apenas, benditos esses tempos de iniciação ou incitação divinas do que seria hipotética e mais razoavelmente, a confirmação estelar de povos e civilizações inteligentes em ancestral e, primordial avanço em face aos povos na Terra. Para cépticos, crentes ou somente ouvintes da palavra e da verdade dos acontecimentos, que tudo nos seja revelado e anunciado como Deus um dia...terá feito a Moisés. E que o seja, a bem de toda a Humanidade!