Há almas eternas, outras imortais e talvez até mesmo outras confortavelmente emanentes sobre o Universo; cabe-nos a nós descobrir quais as que nós somos, por outras que andam por aí...
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terça-feira, 27 de maio de 2014
A Esperança XII
Planeta Thraeh - Próximo de Altair/Alfa do Centauro A
Poderá existir uma centelha de paraíso onde tudo parece perfeito mas não é? Levitar por entre ondas que não existem num incomensurável mundo virtual de mar, Céu e nada...? Estar apartada de uma parte da família e de tudo no fundo, ainda que saibamos dos muitos esforços para essa reunião? Alcançarei então a plenitude e, a felicidade, se tal vir a suceder mesmo que leve tempos eternos que a esfera estelar me consigna em espera desesperada de não ter Dominus, o meu filho e, Siul, o meu amado Centauro?
O Abraço
É inevitável o confronto e a sujeição a que me vou impor perante os meus filhos. Dizem-me que estão bem e e eu acredito. Quero dar por finda esta maleita incrível de recuos e avanços numa dimensão extraordinariamente confusa e, diletante. Para todos! Não sei como me vão receber ou sequer, se me vão aceitar ante toda esta estranha epopeia ou diáspora pessoal de uma terrestre sua mãe, tão efusiva quanto impulsiva...nos actos e, nas acções cometidas. Nem quase me lembro dos seus sorrisos, das suas investidas de crianças sãs e bem resolvidas com a vida, naquele que lhes foi o único planeta de berço: a Terra!
Sinto frio. Sinto medo. Como mãe terráquea infringi todos os erros, todas as leis e todas as maldições ou defeitos que uma mãe, uma simples mãe não pode cometer em nenhuma fracção estelar: o demitir-se de tal. E eu...fi-lo! Inconsequente e, estupidamente sem olhar para trás, sem me deixar toldar pelos seus inocentes e frágeis momentos de alegria ou temor, aquando para os meus braços vinham em aconchego e protecção de singelo mas mui natural colo materno. Deixando-me corroer pelo ciúme doentio, pela imbecilidade em mim revelada de uma insegurança abstrusa, sentindo que podia fazer tudo, tudo mesmo, até preterir os meus queridos quatro filhos, agora indefesos e...perdidos de mim. E esse, era o meu maior castigo, a minha maior pena, o meu julgamento supremo de uma condenação que eu já fazia em mim. Absolver-me-iam eles de toda essa incongruente tomada de posição, de quando me desloquei para Marte, para o planeta vermelho, árido e funesto de tudo...até dos sentimentos por mim havidos de me deixar dissolver nesse imenso caldeirão do repúdio, da rejeição? E afinal para quê?...Para me ter deixado insolver mais em lamentos, percas físicas e psíquicas; cognitivas e outras que, impossíveis agora são de retorno e...perdão, acredito.
Estou gelada. Petrificada de medo. O pior julgamento da minha vida está prestes a consolidar-se e eu...inextirpável na minha dor de me saber uma terrível mãe, aguardo então serenamente que, a porta dessa evasão suceda, mas Deus Uno-queira, rápida e certeira!
E tal sucedeu. Os meus filhos correram para mim...num abraço terreno, forte e apertado...sublime e inviolável de todas as coisas! E eu fui deles e eles meus! Num abraço de longo alcance, longo e súbito de todas as coisas. Amava-os tanto! Mas tanto! Como pude ter sido tão egoísta ao ponto de os ter deixado por uma coisa de nada...fútil e completamente idiota! Tola, tão tola que fui!
A Adaptação
Ser-se mãe...é ser-se tudo! Recusarmos ou negarmos essa evidência, é assumir uma culpa e uma menoridade a toda a prova. Eu quase o fiz...deitando tudo a perder. Tinha de recuperar agora anos perdidos, anos não absorvidos naquela imensa dor de solidão e afogueamento contrário ao suposto: o ter de ser mãe antes de tudo o resto. Deixar para trás missões, ordenamentos e objectivos particulares ou individuais tanto de recrudescimento como de evolução prefeccionista a nível profissional. Nada disso importava agora. Agora...eu ia finalmente ser aquilo que sempre deveria ter sido sem ter quebrado essa mesma minha promessa - ser uma mãe da Terra! Ainda que esta...estivesse tão longe de mim quanto eu dela por razões que agora me prostravam em conhecimentos holográficos que odiei registar.
Antes disso ainda, coloquei muitas questões a meu filho Anu - que com o seu semblante de adolescente irrepreensível em bigode precoce e olhar cirúrgico - me observava como se eu lhe fosse uma desconhecida, tendo eu de o inquirir se por acaso me acompanharia em missão especial - e individual - na procura de Dominus. Foi pronto e conciso. Disse-me ser solidário e guerreiro sobre esta causa, não só minha mas dele também na procura e resgate - se tivesse sobrevivido ao horrendo holocausto estelar (referi-lhe penosamente) - em que todos teríamos de permanecer juntos e fiéis a essa determinação familiar de não mais nos separarmos, fosse por que razão fosse. Aquiesci em abraço profundo como se lhe quisesse quase arrancar a alma do peito, em enlace sobre a minha. Tiki observava tudo isto em silêncio, registando em si um certo ciúme do que aquele meu primogénito híbrido me devotava. Anu de quinze anos, Tiki de treze - naquela idade do armário terráqueo em que as meninas se escondem, sufocam manias e defeitos seus (que os não há, a não ser na fértil imaginação de uma conturbada revolução hormonal de que são alvo!), para além de uns olhos-água deslumbrantes, uma cabeleira loura que lha caía em cascata pela cintura e uma cara de anjo, a minha filha Tiki era o espelho da beleza, doçura e magnitude máxima estelar, admiti.
Os meus gémeos, os meus bebés maiores como eu lhes chamava, ruborizavam toda uma estranheza sobre mim, em abraços prolongados mas afastados de alguma sublevação ou inquirição sobre o que teria levado a que eu os tivesse abandonado. Temiam até respirar mais forte, se acaso eu lhes tivesse também sugerido tal. Nada que houvesse agora no mundo, poderia de mim afastá-los e eu, deles...senti ferozmente! Estavam com sete anos de idade e já sabiam fazer reprogramações de computação e estudos seus em matemáticas auxiliares de formação e, formatação. Fiquei plena de garbo e orgulho ao vê-los tão expeditos e tão exímios no que demonstravam em qualidade e inteligência superior - comum ao seu pai, Siul, que ainda eu não vira ou percepcionara ali mas, suspirava por abraçar também e, reter nos meus braços.
A Nova Terra: Thraeh
O novo desígnio em solo e céus - meus e, de meus filhos a partir dali - seria Altair, para onde nos levaram de Alfa do Centauro A. Consciencializei de que afinal eu não era assim tão igual a estes - pelo que me incutiram a mim e aos meus filhos de consignação extra-estelar (pelo menos no seu seio de Alfa do Centauro A...), tentando que eu me redimisse de todos os erros em expiação de «pecados» fora dali.
Exumaram-me a alma. Ou quase. Enalteceriam os efeitos agrestes de que poderia sofrer, caso me instasse a querer voltar à Terra nesse momento. Não havia condições, asseveraram-me. Não agora. Teria de rumar com os meus filhos - em espécie de limbo estelar - até Thraeh, um planeta recente, muito novo e muito semelhante ao planeta Terra em atmosfera e consideração solar; magnitude, distância, classe espectral e tudo o mais em consonância ambiental e de sobrevivência humana sem auxiliares cirúrgicos - e outros, de igual bonomia e correlação sustentável em vivência e, permanência. Aquiesci, de novo. Também porque, não me podia sublevar ou revoltar sobre a sua palavra e destino: o que diziam...era lei! Não havia direito a recursos, a contra-posições ou sequer interrogações. Estava sistematizado e...possivelmente, estigmatizado para mim também, considerei. Arcar com a família «às costas» em final feliz e, sobre uma nave espacial emprestada pelos Centauros...era tudo a que tinha direito. Nada mais.
Mostraram-me a Terra. O meu planeta já tinha sofrido tanto! Foi acometido de tenebrosas tempestades magnéticas solares em que, o seu escudo protector e, à sua volta, foi literalmente devassado ficando exposto às radiações solares e a toda a imensa «chuva» de erupções em plasma super-aquecido. De novo, a guerra galáctica não só tinha perfurado o solo terrestre como para além disso, este planeta outrora lindo e vazo de maleitas, estava agora em caos permanente sem comunicações, electricidade e satélites de interacção sobre os mesmos. Lamentei por isso e...chorei. Os Centauros perceberam. Ficaram quedos mas senti-lhes a solidariedade, pois também eles - como veladores e protectores da esfera solar e do grande cosmos - e, não comungando com qualquer tipo de destruição, anuiriam de que de futuro, os esforços para uma maior prestação fosse dada ao planeta Terra - até que este emergisse de novo dos tantos cataclismos em si imputados - de origem natural ou não! E a tudo me foi dado ver. A tudo me foi dado observar em registo póstumo deste meu planeta Terra e.. de outros, iguais em sofrimento e, ingerência de guerra estelar.
Sofri com isso. Muito! De novo a biotecnologia teria de se instaurar e fazer ramificar nestes martirizados planetas em que, as muitas epidemias e factores patogénicos, aí se instavam também em refreamento de todo um maior desenvolvimento orgânico e, geral. As bactérias patogénicas cresciam quase à velocidade da luz - referiam-me - em receptividade ao caos apresentado. Os extremófilos - as bactérias mais resistentes em micro-organismos vindos do Espaço - aferiram-me, na incidência catastrófica dos mesmos - sobre os futuros seres aí gerados e reproduzidos, na proliferação maldita de estirpes patogénicas fatais. Para além de surtos epidémicos generalizados que disseminaria ( ou ia disseminando...) grande parte da população nestes planetas existentes. Triliões de vírus que teriam de ser erradicados e exterminados mas que, levaria tempo para tal, afiançaram-me. Neste exacto momento, a Terra, não era um bom local para se viver, asseveraram ainda. Nem na Terra nem...noutro similar. Daí que, Thraeh fosse uma boa alternativa. Não a única mas...a viável, que em espaço aberto de solo, Céu e atmosfera tinha ficado incólume e inviolável às batalhas estelares e, às mudanças ou tempestades magnéticas solares. Aquiesci, mais uma vez. Eram implacáveis, mas não mentirosos. Os Centauros sabiam do que falavam e eu, só tinha de ouvir. Remeti-me então ao silêncio, perspectivando o meu futuro a curto prazo com os meus quatro filhos nesse desconhecido mas, supunha, belo planeta de reconhecimento e reinício de vida em comum, de vida a realizar...pelo menos, por agora!
Possuía praias, ou seja, havia mar! Havia oceanos, rios, vales, montanhas e Sol! A uma distância regular e coexistente do que existira na Terra. Havia flores, vegetação e ar puro; respirável e oxigenado sem a elevada concentração de dióxido de carbono de muitos outros. Parecia perfeito! Mas...para tudo ser mesmo perfeito, só tendo a presença de Siul e, principalmente de Dominus - o meu filho perdido nas estrelas do cosmos, nas estrelas deste infinito Universo que nos guia e ampara. Depois disso...a perfeição! A sublimação de todos os meus actos - puros ou impuros - em consciência ou vibração maior de uma felicidade havida e sentida por todo o estelar Universo. Que Deus-Uno me acolha e me devolva o que é meu em meu filho Dominus. Para já, em Thraeh...depois, logo se verá! Que Siul me abrace e me proteja a partir de agora, aquando voltar e para si eu me eternizar! Aí sim, serei feliz! E à Terra poder voltar!
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