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quinta-feira, 8 de maio de 2014

A Esperança IX


Sírio B  - Distância 8,6 (anos-luz) da Terra  

Até onde irão os meus limites? Até onde deixarei que me manipulem e isolem do resto do Universo e de toda a magnitude espectral em que me prostram? Terei forças para suportar o peso e a dimensão desta pena capital que me inflamaram como doença virulenta e espúria em mim? Até quando sustentarei esta amargura de solidão, degredo e completo exílio em que me encontro numa zona de ninguém...?

A Trasladação
Planeta Sírio B - Classificação espectral AI V Magnitude aparente: (-1,5)
Sinto-me a colapsar à semelhança de uma qualquer «Supernova» ou estrela desmantelada, desintegrada do seu núcleo em toda a sua totalidade. Sinto-me a explodir em catástrofe anunciada do que incutem em mim sobre um vazio imenso, latejante e não exultante que me depõe como simples amiba, inconsequente.
Perdi o brilho, o ânimo e...a reiteração de me impor em direitos e avenças de elemento a respeitar no Universo. Sinto-me um desperdício estelar! Estou a submergir num intenso e profundo «buraco negro» ou resquício de estrela de neutrões sendo expelida para o espaço perdido, em remanescente de nada!
Fui trasladada e de certa forma transposta para uma outra área, um outro círculo visceral, acredito, de uma outra estrela, um outro planeta em satélite vigiado, sintetizado e conectado com o planeta-mãe Sírio B.
Levaram-me de Prócio B para Sírio B. E isso, não me soou a melhorias; bem pelo contrário. Vi-me ser ridiculamente requisitada por uns e outros como manobra política estelar ou simples ogre do Espaço sideral em que me situo agora. Da estrela anã-branca de Prócion B - que senti mais próximos mas não piedosos por qualquer comutação de pena ou exílio sobre mim - mas que agora, revia de novo em nova civilização militarizada e de ordens expressas desse exílio se manter, sem que eu pudesse expressar algo que não fosse a minha dor de alma e, o meu enorme ventre que já me ia criando mossa e pernas inchadas.
A cidade-prisão até parece mais aberta e, fluída no ar que se respira ou na atmosfera menos pesada de opressão e regras a cumprir, mas nem por isso me deixam ter as alegrias nefandas (segundo «eles«), de me poder perder em sonhos de voltar a ver Siul e os meus quatro filhos. Sou-lhes um estorvo; uma consequência nefasta e inorgânica (quase) que se fez viver através da reprodução e vivência de quatro elementos híbridos não-específicos, não-autorizados, não-consistentes com a perfeição estelar. É tudo uma grande merda em que estou metida até ao pescoço, sinto! Que fazer para sair disto...? Que fazer para fugir, para acabar com este sofrimento extenso no espaço e no tempo em que me vejo reduzir a nada?...

A Permanência
Se algo tinha de diferente em Prócion B, eram os «sete anões...». Aqui, não tenho nada. Ninguém! As celas são mais abertas e ostensivas de uma certa liberdade, fingindo eu que sou uma terráquea mais solta, mais livre do que indubitavelmente, não sou! Quase tenho saudades da presença liminar dos meus sete vigilantes de Cygni B, aqueles pequenos seres cinzentos e de olhos enormes que me velavam o sono e as carências havidas. A ternura de Alioth - no que lhe senti como se emoção houvesse em si de cada vez que me via chorar...- ou da solicitude de Megrez - aquando lhe tentava explicar o meu ponto de vista em presídio injusto -, da fiabilidade demonstrada de Alkaide, por nunca me ter sancionado as regras que por vezes alterava (e sobrepunha à minha vontade); da atenção circunspecta de Phekda ao visionar-me o já proeminente ventre de vida a despontar, a germinar; da doçura de Merak como pertença de algo feminino em si, no que me era perceptível constatar do seu trato comigo; da preocupação existencial de Dubhe - aquando eu lhe remetia questões pertinentes sobre a justiça estelar e suas imposições implacáveis sobre os mais fracos, os do mundo inferior, os da Terra. E, finalmente, o mais distante de todos mas não menos o precursor de toda a assistência permanente sobre mim no comandante de todos eles (supus), Mizar. Como me faziam falta agora...mais que não fosse, para me deleitar com as suas manobras inúteis em mim de me fazerem sorrir, de me fazerem ser menos infeliz nesse vácuo espacial de gigantesco negrume em que me assistia sem fim à vista. Até que o ultimatum veio. Cruel, veloz e sem recurso a nada. A opção era quase inexistente e inexequível para onde quer que me virasse. Cingiam-me a eternidade; a quase imortalidade se abdicasse de Siul e dos meus quatro rebentos híbridos. A única benesse era restabelecer a ordem estelar e o bom funcionamento de tudo, deixando-me ficar com este quinto filho e, após tudo isso, o único em redor de mim. Não havia por onde fugir; nem à cela nem à severa imputação condenatória de perpétua insinuação e vivência sobre o meu existencial futuro estelar. Repor-me-iam na Terra. Reporiam tudo, em avença de consolidação e reposição impostas e seguidas por mim se eu aceitasse tais desígnios dos sistemas de Alfa do Centauro, Prócio B, Sírio B, Cygni B e até mesmo incrivelmente da Estrela de Barnard que aqui tem o nome de Blize C. Estes últimos - os mais pacíficos mas também sempre os mais neutros - vêm-se erradicar de intenções ou soluções que lhes sejam mais adversas não criando assim putativos inimigos estelares, daí que se abstenham de tudo ao seu redor. Ninguém me defendia. O recusar, limitava tudo: até mesmo a existência e continuidade da Terra, afiançaram-mo. E eu...nada podia fazer!

A Sentença
Eu estava condenada! Nem sequer tinha havido qualquer tipo de defesa sobre mim em poder judicial de tribuna ou de púlpito menor. Nada! Tinha prevaricado das ordens e leis do Universo - asseveraram em ataque cerrado - e como tal só tinha de arcar com as consequências. E quando lhes determinei da razão pela qual me tinham enganado com a fortuita e mui breve visita e passagem lúdica de Siul pela Próxima do Centauro comigo, apenas aferiram de que estava já tudo delineado para que assim fosse, como se aquele momento me houvesse sido a última refeição antes da condenação à morte. A tudo ouvi. A tudo respeitei, pela mágoa havida e inserida em mim como punhal no peito, de só me restar aquele filho em mim que já dava pontapés e se mexia como que asseverando também da sua sublevação, da sua resistência do que faziam em mim, sua mãe. O parto estava próximo e como tal, não os queria irritar ou sequer tentar enganar - pois sabia que o não conseguiria e isso ainda me restituiria mais a cumulativa infelicidade - daí que, corroborasse fielmente das suas ordenanças e, imputações, do que não desejava ver ainda mais acirradas e cruéis, se acaso se determinassem a levar de mim a única coisa que me restava: este último filho de Siul.
Como me odiei, Deus-Uno! Por muito que tentasse, não tinha alternativa. «Eles» tinham-me vencido pela insistência e cansaço como investigação acérrima de policiais e detectives na Terra. Aqui...não foi preciso tanto. Usando do potencial e extrapolado amor terreno meu - por um planeta Terra que se tentava reerguer do declínio presente havido - auguravam-me de que se não aceitasse as suas ordens, limitariam em extinção (e desta vez, completa!) à minha amada Terra. Nas quatro forças fundamentais. a Interacção Nuclear Forte, a Interacção Nuclear Fraca, o Electromagnetismo e a Gravidade. Começando por esta última, a Gravidade ou a falta desta na Terra, o meu amado planeta desligar-se-ia, fragmentar-se-ia! E todas as outras lhe seguiriam em igual destruição, catástrofe e catarse completa na Terra (revelar-me-iam em quase jocosa situação premente!) - Que fazer, meu Deus-Uno? Que hipóteses teria eu de reverter esse Apocalipse terrestre?
Mas continuariam a sua explanada alocução de devassidão e erradicação da Terra: esta seria aniquilada pela anti-matéria! A unidade simétrica de fusão e colisão da Força Nuclear Forte com a Força Nuclear Fraca, libertariam uma energia tal que a Terra explodiria literalmente! Ou...ainda pior! Destruída pela Transformação da Terra em Matéria Estranha! A minha amada Terra ficaria uma autêntica papa não-comestível e deveras insubstituível, aquiesceram em total mordacidade e eloquência estelar! Como os odiei, meu Santo e Todo-Poderoso Deus-Uno! Estavam a ganhar terreno sobre mim, sobre as minhas potenciais e derradeiras defesas únicas em espaço e amor terrenos também, do que eu sufragava insistentemente em mim pela minha terra de berço, nascença e escassa vivência até aí. Não podia deixá-los acabar com o meu planeta! Não podia...ainda que isso me levasse a arrancar a alma de mim de não mais ver quem amava, senti no momento. Mas a cereja em cima do bolo viria então, com a finalização de toda esta prorrogativa (ou maldita!) ferroadela - ou estaca final no peito - de punição e submissão na Terra: a suposta Transição de Fase do Universo! Falaram-me de Mundos Paralelos e eu...parva de todo, a ouvi-los, a «beber» o que me diziam, a sorver aquela maledicência estelar de Confederação Galáctica como um Julgado não de Paz mas de horror total de conotação demoníaca, de imposição inquisitorial - mais uma vez! Que ódio, Deus-Uno! E Ele, me perdoasse por tal sentir. Que poderes eram aqueles, senti amargamente, para me punirem de tal forma? Que necrófagos eram estes, seres ditos bem aventurados de sistemas solares, de galáxias e de todo um Universo que deveria ser uno e complacente com a dor dos mais fracos...e ali, sem contemplações de espécie alguma na homilia assente de me humilharem ainda mais, de me sacrificarem ainda mais, elaborando teses malditas de eliminação total da minha amada Terra. Seria possível tamanho horror...? Tamanha maldade?
Era sim! Quase o provaria. Em particular naquelas palavras não ditas, telepáticas e avessas ao meu sentido de vida, ao meu sentimento de simples e mera terráquea que era na subversão dos factos e, dos argumentos: a colisão dos Mundos Paralelos que me mostraram na evidência dos factos apresentados e, em tela surpreendente de destruição maciça de toda a Terra! Quase desmaiei. Quase morri de consternação, aflição e surpresa terrífica de ver e constatar, o quanto poder estes seres estelares tinham sobre o meu planeta e...sobre grande parte do Universo. Malditos sejam, apregoei! E amaldiçoei-me por isso também. Praguejar, insultar e hostilizar não me lavariam a lugar algum...e «eles» sabiam disso. Tristemente...para mim! Estava condenada! Apesar de tudo...antes eu do que a Terra que já sofrera tanto! Minha amada Terra...meu amor Siul...meus lindos e amados filhos...Anu, Tiki, Alia e Silus...os meus amores, algures em Alfa do Centauro!...Que a Força da minha Alma esteja com todos eles! E que neles permaneça para sempre!

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