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quinta-feira, 11 de setembro de 2014

A Imemorável Guerra


Esquadra da Força Aérea Americana - F-16 na Guerra do Golfo (1991)

28 de Janeiro de 1991 - Tempestade no Deserto - Hora Local: 5, 15m.

O ar quente e húmido que se fazia sentir na atmosfera recolocara-os em excitação premente numa exsudação terrível mais do espírito do que do físico, afiançando-lhes uma eminente missão. Em iminência também. A definição do alvo nem sempre era uma constante, criando neles - naqueles últimos dias (desde o célebre e inicial dia 17 de Janeiro) - a veemente perseguição do inimigo em percurso do deserto e, das muitas montanhas áridas e secas em busca de qualquer coisa que mexesse...qualquer coisa!
Nas últimas duas semanas tinham-se induzido na procura de objectivos, a que vulgarmente chamavam de voos (trooling) ou voos-giros. Ele, Jack Kenneth - Tenente Coronel - Oficial Superior da Força Aérea Americana em serviço (ou no activo) no Golfo Pérsico. E, na Missão: Tempestade no Deserto. Ele, e mais uns quantos. De seus nomes: Horne, Trevor, Anson, Bagley e Denis. No que ainda todos, por certo, conseguiriam ouvir das últimas palavras do seu General Aaron Bauer:
"Observem rapazes...o nosso «Tigre de papel» (Saddam Hussein) continua a mover os dados, só que agora a diversão é junto desta Pirâmide em Ur. Os satélites mostraram-nos uma certa actividade por lá. Parece que têm por lá estacionados 2 Mig-21. Que lhe importa a ele que rebentemos com a histórica terra de Abraão, datada de há milénios...muito antes de Cristo,,,ah?! É por isso que vamos ter de ser subtis...a menos que não haja alternativa. Fiz-me entender???
 - Perfeitamente, meu General! - Aquiesceram todos, no que se distinguiria Kenneth com a sua voz assertiva e forte de quem nada teme; nem mesmo os trovões bélicos do lado do inimigo. - Boa sorte, rapazes, acrescentaria o seu superior, no que todos igualmente corresponderiam em cumprimento militar: "Yei, Sir!"

Qualquer que fosse o alvo em movimento - blindados ou camiões - teriam irremediavelmente um fim, por racionalidade acentuada de se hipoteticamente tratarem de apoios logísticos ao inimigo. Não raras vezes se detectavam movimentos fora do comum em transporte de equipamentos militares, através de camiões cisternas jordanos. Daí, nada se descurar ou negligenciar em suspeição de menor ou maior interesse no terreno. Tudo tinha de ser questionado e devidamente inspeccionado com olhos de lince!
O alvo estava definido. Ainda que, houvesse em Kenneth, essa mesma intrigante ou leve premonição suspeita de que, algo de errado ou de menos positivo se auspiciasse no ar. Se o imprevisto sucedesse...ele estava lá! Sempre! A sua equipa era a melhor. Nada podia falhar! - Sentia. Quantos outros raides e acções militares por eles já haviam passado (anuiu em si); esta, seria apenas mais uma...cicatrizou na alma.
Seguidas as instruções criteriosamente indiciadas pelo Alto Comando Militar, sob vigília e coordenação do Comando Central, os Águias Delta rumaram até Ur. O alvo foi avistado. Iniciou-se então o objectivo. - Tudo perfeito. perfeito demais...considerariam. Alvos atingidos e missão cumprida. Só o silêncio imperava, numa atmosfera pesada de extinção terrestre de fumo e nada mais.
Sabia-se de antemão que o silêncio nunca era de ouro, ou seja, nunca era fiável. Todos reconheciam na força inimiga, estratagemas e meandros pouco claros de camuflagem e, engodo...no que se tinha de estar alerta e, efectivamente muito atento, a qualquer anomalia presente. As forças contrárias (as de Saddam) colocavam folhas de alumínio debaixo de disfarces arbóreos ou seca vegetação, iludindo assim os radares; faziam fogueiras debaixo de placas de metal para que, os sensores infravermelhos das bombas inteligentes, se confundissem com motores em combustão e, por fim, chegavam a criar focos de fumo para os pilotos contabilizarem como atingidos, alvos que o não tinham sido. Não obstante, o inimigo poder ou não ser o melhor apetrechado, o mais bem equipado, mas era sem dúvida - ou tentaria ser - o mais esperto. Consegui-lo-ia...?
Esta última pergunta depressa foi respondida, pela apreensiva e já costumeira actividade de bastidor que os Iraquianos faziam. Uma força atacante vinda da retaguarda, perseguiria os F-16 americanos numa acção conjunta de armadilha exposta pelos anteriores Mig-21 jazentes no solo e agora abatidos.
 - Vamos Bagley, vamos mostrar-lhes como trabalhamos em serviço...! Vamos enfiar-lhes pelo traseiro acima aquilo com que nunca sonharam! - Gritaria Horne para o seu esquadrão, em laivos de combatente superior de hierarquia vigente e sua, só sua, lançando de seguida um guincho de vaqueiro texano de berço, coração e aprumo!
 - A postos meninos!...- Clamaria Ansen. Creio que eles nunca «comeram» disto...! Nem correram o que agora lhes vamos ensinar à boa maneira americana...vamos afogueá-los até à exaustão!!!
 - Kenneth, estás-me a ouvir...escuto! - Perguntaria Trevor, excitado com a alocução dos outros. Kenneth, cuidado, há um «saddam» atrás de ti. Tenta desviar-te, e mete-lhe no cu um supositório daqueles! Nada como um belo fogo, para acalmar a chama da impotência...!
 - Alvo extinto! Daqui Kenneth, tudo operacional. Horne...escuto. (Silêncio). E de novo Kenneth insistiria: responda se me está a ouvir...? - E de novo, o silêncio. - Ansen, Trevor, indiquem-me a visibilidade...Horne não responde...
 - Escuto Kenneth. - Depois um intercalado e sufocante silêncio...- avistámos...Horne ou...o que sobra dele...lamento, Kenneth.
 - Vamos dar cabo destes Filhos da Puta!!! - Afirmaria de dentes cerrados e mente nublada Denis - até aí, circunspecto à situação corrente numa peculiar interiorização sua. A partir dali, foi o mais fervoroso na causa-efeito de uma baixa militar ou quiçá recompensa individual, na perca do seu colega de equipa.
 - Cabeça fria, Denis. Poupa o «brinquedo»...! Os gajos não merecem que nos enfiemos neles. Nem mesmo pelo Horne...- admitiu Trevor, o mais racional e frio de carácter. E agora...vamos a eles!
Os lances dos Jactos em movimentos de guerra mais se assemelhavam a danças guerreiras - de Águias e Falcões - no liminar debate sangrento por um Céu ardente, um Céu que não era seu...um Céu que traria morte e dor, muita dor...para a qual, nunca ninguém estava preparado!

Centro de Operações Militares - No Centro Operacional das Forças Aliadas e, Norte- Americanas, o General Aaron Bauer comandava as hostes. Expediam-se medidas, gráficos, coordenadas e toda a espécie de função militar em prospecção à distância, rectificando, alterando ou simplesmente anunciando as últimas tomadas de posição aéreas em alcance e determinação sobre os seus homens na linha da frente. Assolavam-se vitórias, ainda que, com baixas desnecessárias...admitiria Bauer.
 - Águia Delta, responda. Diga a sua posição.
Do outro lado, no espaço aéreo do inimigo em vertiginosa correria pelos céus, perdia-se Ansen, não em coordenada mas em desvelo de resposta e, responsabilidade para com a Torre de Controlo e Comando. Esta, insistiria na chamada, instando a que houvesse comunicação, interjeição ou qualquer tipo de interacção entre o piloto e o Comando. O General Bauer que se mantivera até aí de certa forma calmo e seguro, começava agora a dar sinais de alguma preocupação, fechando os punhos em gesto de quem se assume líder, mas invicto de uma luta iminente - em refracção de um gesto muito seu, aquando as coisas davam para o torto - inflectindo depois em voz mais precisa, no que o íntimo lhe ditava de algo se ter transcendido às suas ordens no retorno e, recolha dos seus homens.
 - Repito, Águia Delta 3, responda. Diga a sua posição!
Ansen que até aí se mantivera silencioso, responderia com efeito à chamada do Comando e, do seu superior, em respiração algo sufocada e voz pouco vibrante:
 - Aqui, Delta 3, respondo. Vou em perseguição de um Mig 23...o radar indica-mo na retaguarda. Vou no seu alcance...escuto.
 - Delta 3, aborte essa missão! Já!!! Volte para a Base. O alvo foi eliminado! Clarifique a sua posição, aguardo.
Ansen esperaria uns segundos, poucos, para que desligasse a rádio de comunicação com o Alto Comando. Foi possuído por uma força inexplicável e, completamente absorta, que o tomava todo em ofuscação dos ensinamentos e reiterações militares. Já com este mudo e, em anulação efectiva de qualquer contacto seu, diria para si: "Desculpe-me meu General, mas este é meu! Só meu! - E afastou-se no Céu, em perseguição contínua do que para além deste havia - na desobediência e total ou parcial inconsciência, sobre as consequências futuras dessa sua sublevada tomada de posição em que, levando nas mãos uns milhares de dólares de propriedade aéreo-militar, ninguém lhe valeria em defesa sua, caso deitasse tudo a perder. Ou seja, caso fosse o seu jacto a ser abatido.
 - Aqui fala o Comandante Bauer, escuto. (Sempre que ficava nervoso utilizava o termo «Comandante») Depois, dirigindo-se à sua frota, remeteria: - Recolham à Base, com excepção do Águia Delta 5. Consegue ouvir-me...?
 - Águia Delta 5, responde. Confirmado.
 - Águia Delta...Coronel Kenneth, escute por favor...vá em perseguição do Delta 3. Desligou a rádio, fazendo-nos perder o controlo da sua situação. Está muito em jogo...os Mig-23 que perseguia - estamos em crer - são possuidores de armas químicas. Temos informações consistentes disso. Pensamos que o Águia Delta 3 tenha sido atraído por estes em distância até às montanhas. Tudo indica para esse facto, embora não saibamos a finalidade. Está-me a ouvir...Delta 5?...
 - Afirmativo, Sir! Irei de imediato!
 - Mantenha-se em contacto, Kenneth. E...cuidado... - arrogaria Bauer em legítima defesa, preocupação e mesmo uma certa intimidade para com os seus homens por quem daria a vida, caso este os tivesse acompanhado na dura missão em céus iraquianos. - E...traga-o de volta!
 - Trarei, Sir! Aguardarei ordens. - E desligou a rádio de comunicação, indo em perseguição ou alucinação (sentiu-se ouvir) em busca de um Ansen desmedido e, irresponsável também! - Merda Ansen, tinhas de estragar tudo...!!! - Anuiria em fúria, dos ventos que para longe o levaram.

Não foi difícil detectar o presumível F-16 de Ansen, assim como os outros três que o cercavam. Refugiavam-se em acrobacias estivais - ou festivais - como se através destas o quisessem confundir, não dando margem para qualquer tipo de resposta por parte de Ansen.
 - Sai daí, Bob...sai já daí! - Ia gritando Kenneth, mais para si do que para este seu colega de voo, que nada ouvia nem parecia sentir, no perigo que se lhe adivinhava.
Foi então que um dos Mig tomando a dianteira se lhe colocou na mira, dando uma imagem perfeita no radar de Kenneth, de alvo preferencial.
Kennetn, de dentes cerrados e mente fechada, foi certeiro no alvo, abatendo-o de imediato com um só e profuso míssil. - Bingo!!! - Exclamara em total euforia.
De seguida, o segundo forasteiro Iraquiano que, querendo dar resposta à baixa do seu companheiro de Alá, se viu exultar também numa actividade ímpar de míssil direccionado a Kenneth, que falharia o alvo. De imediato um segundo míssil, mas desta vez de Kenneth que ripostou, vendo o seu opositor estrebuchar em valsa de fuga e arremesso, explodindo depois no ar, projectando-se em mil fragmentos no solo iraquiano. Um Mig abatido, é um Mig de glória...sentiu-se dizer.
Faltava um. O terceiro. Aquele que, em macabra ou derradeira condição, se imputaria de encontro a Ansen, espalhando um enorme clarão no ar - na sua frente - de fogo e estilhaço que, Kenneth, sentiu como um fogo em si ateado. Ansen tinha sido eliminado. Foi aí que Kenneth, sentindo por último uma agonia e raiva tais por este quase suicida iraquiano, que, em jactância e fulgor seus, se admitiu vingador ou apenas justiceiro pela morte do seu colega e amigo, Bob Ansen. Atingiu-o então - em assertiva pontaria - numa das asas. - Toma lá disto, Espertalhão da Merda!!! - Vitoriava-se.
Kenneth mal se tinha refeito da afronta e um outro, indesvendável e não-detectável no seu radar (sem que soubesse porquê) acertar-lhe-ia também...fazendo-o ejectar-se do cockpit em fracção de segundos...ou nanosegundos....imemoráveis!
                                                                       Extracto do meu livro: " Voos de Paixão"

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