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segunda-feira, 22 de abril de 2019

Em Busca da Consciência

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Consciência/consciez: a impressionante qualidade da mente nas várias e abrangentes qualificações no ser humano que se evidenciam pela Subjectividade, Auto-consciência, Senciência, Sapiência, além da capacidade/racionalidade de compreender a relação entre si e um ambiente. Todavia, a consciência é muito mais do que isso «em brilhos do espírito, correntes do entendimento, mistérios e filosofias» como diria Fernando Pessoa. Que seríamos nós sem consciência...? Nada, supostamente.

                                                           O Ser Em Consciência

René Descartes - o eminente filósofo francês - definiu-o na sua máxima que ainda hoje lidera como «Cogito Ergo Sum» (Penso, logo existo), na ideia de que o simples acto de pensar sobre a própria existência prova uma existência, sensorial e inteligente, que realiza o pensamento. Mas será de facto assim???

Sendo um conceito ainda hoje muito difícil de definir em termos latos ou taxativamente absolutistas com o que a mente ainda nos reserva de tantos mistérios e outros tantos enigmas por descodificar, a Consciência tem-se resumido em termos mais ou menos harmoniosos com o facto de, ao estarmos acordados ou em sintonia com o que nos rodeia - ou cientes do que se passa à nossa volta - termos simultaneamente senso de nós mesmos.

Sendo também e ainda uma temática não completamente resolvida ou exequível em termos científicos ou mesmo líricos - pelo que muitos Filósofos e outros investigadores da mente advogam ser um tema ainda não totalmente transponível e não raras vezes intrinsecamente incognoscível - que o ser humano tenta buscar um novo conceito que determine a consciência como um fenómeno natural. Tão natural quanto a consciência o permitir!...

No reino da Neurociência os progressos têm sido visíveis em relação à consciência; na sequência e desenvolvimento de uma verdadeira ciência do «eu», além o que muitos defendem, tal como o neurocientista português de relevo mundial António Damásio, que a descreve como «vários eus; ou um «eu», que está literalmente presente nas nossas mentes em todo o momento»

E a tudo isto a Consciência envolve e, estimula, sendo sempre muito mais no total do que a soma das partes, como se diria em termos da Psicologia, mas que também se assume noutras áreas. São elas:
A Filosofia da Mente, a Psicologia, a Neurologia e a Ciência Cognitiva.

Todas a explicam na perfeição, ou assim tentam, mesmo que, paralelamente, tenhamos de buscar ainda mais longe para entendermos na totalidade o que é de facto esta poderosa e ainda tão misteriosa «Arca da Consciência» em que todos estamos envolvidos e praticamente despidos de outras inconsciências ...

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Os Mundos da Consciência: os «eus» que a Neurociência explica que possuímos, mas também de que «massa» ela é feita ou constituída. (Dualismo de Substância e Interacção de mente-corpo; a Consciência Fenoménica; Materialismo Reducionista; Consciência Reflexiva ou Psicológica de ordem superior; Habilidade Linguística; Passado e Futuro e por último, a Auto-consciência).

De Descartes a Damásio há pelo menos «a consciência» de que sem ela não se teria direito «E acesso à felicidade ou à possibilidade de transcendência» segundo as próprias palavras do eminente médico neurologista e neurocientista português António Damásio.

O Fascínio de se ter Consciência
Segundo a concepção de António Damásio, o médico neurologista e neurocientista português que trabalha no estudo do Cérebro e das emoções humanas - exercendo como Professor de Neurociência na Universidade do Sul da Califórnia (EUA) que nos diz:

"O fascínio e o momento em que sentimos ter consciência, está relacionado com o facto de estarmos acordados pela manhã com o objectivo de retornar a nossa mente consciente; e que recuperadas as nossas mentes com um sentido completo, há um completo sentido da nossa existência. No entanto raramente paramos para contemplar esta maravilha (e deveríamos de facto fazê-lo, reconsidera), porque sem termos a possibilidade de ser conscientes, não teríamos qualquer tipo de conhecimento sobre a nossa humanidade."

Sem consciência, Damásio é peremptório na narrativa «Não há nenhum tipo de conhecimento sobre o mundo. Não teríamos dores, mas também não teríamos alegrias. Não teríamos acesso ao amor, ou à capacidade de criar», o que seria porventura algo muito aborrecido e obviamente pouco sustentável em termos evolutivos e distintos em relação aos animais, do que nos distingue destes e da sua não-consciência, apesar de serem igualmente sencientes como nós, humanos.

Do Fascínio ao Mistério, Damásio especifica que «Desde a Génese da Filosofia - e certamente ao longo da História da Neurociência - este tem sido um mistério que sempre resistiu à elucidação, gerando por sua vez Grandes Controvérsias» Sublinha ainda:

"Existem de facto muitas pessoas que pensam que nem deveríamos tocar-lhe (na temática da consciência); por algo que não deve ser resolvido. Não acredito nisso e penso que a situação está a mudar. Você pode não encontrar uma consciência nos nossos cérebros (em termos físicos), mas podemos começar facilmente a abordar a questão, podendo também começar por ver o contorno de uma solução"

O professor António Damásio realça ainda as maravilhas da avançada tecnologia já existente ou para o ser humano disponível tais como a Tecnologia da Imagiologia (das quais Hanna Damásio, sua mulher e parceira no campo científico reproduz em laboratório na imagem, clarificação e reconstrução de um cérebro vivo), havendo posteriormente uma espécie de supervisão de observação da superfície cerebral; além o realce das articulações reais, das vias, e todas as linhas coloridas que correspondem a Feixes de Axónios - assim como a melhor visualização das fibras que unem os corpos às Sinapses.

Voltando ao conceito sobre a Consciência: O que é de facto uma mente consciente...? Damásio explica-nos que «Antes de tudo, é uma mente que é um fluxo de imagens mentais. Imagens que podem ser padrões sensoriais ou visuais - ou ainda as imagens auditivas como são as minhas palavras. Este fluxo de imagens mentais é a minha mente!»

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O Professor e Neurocientista Português António Damásio (TED/2011) aquando uma palestra intitulada «Em Busca de Compreender a Consciência». Tem várias obras publicadas de máxima referência neste domínio. São algumas delas: «Lesion Analysis in Neuropsychnology» (1989); «The Feeling of What Happens» (1999); «O Mistério da Consciência» (2002); «Ao Encontro de de Espinosa» (2003); «O Erro de Descartes» (1994); «A Estranha Ordem das Coisas» (2017).

Os Nossos «eus» segundo Damásio...
Este digníssimo professor e autor de várias obras publicadas sobre a Mente e as Emoções, mas também sobre a Consciência - e tudo o que nestas está imbuído, envolvido e inerente numa maior compreensão sobre este assunto - que acaba por enfatizar a existência de «eus», ou seja, os vários e existentes «eus» dentro de uma mente consciente em cada um de nós. Diz o professor:

"Nós somos donos das nossas mentes. E temos a percepção de que cada um de nós isso vai experienciar (...). Por isso, para cada uma mente consciente, temos um «eu» dentro da mente consciente. Portanto, um mente consciente, é uma mente que contém um «eu». (...) Então, o que é necessário para abordar isto...? Número um: Como é que as nossas mentes se reúnem no cérebro; Número dois: Como é que os «eus» são construídos...

Existir um Mapeamento Neuronal também é de máxima importância, segundo Damásio. E isto, na visualização digital de painéis onde existem elementos que podem ou não estar iluminados.

O Professor clarifica que todos possuímos uma Rede de Neurónios que nos capacita uma formação de imagens que nem sempre podem estar correctas (uma vez que uma simples Alteração Mecânica na nossa experiência mental, pode distorcer por completo a informação, por exemplo, da retina para o córtex visual). O professor tenta pormenorizar então:

" O Mistério da Mente Consciente está a diminuir um pouco porque temos uma noção geral de como criamos estas imagens. Mas, e em relação ao «Eu»?...  O «Eu» é realmente o problema elusivo (esquivo). Como é que podemos ter um ponto de referência, esta estabilidade, que é necessária para manter a continuidade dos «eus» dia após dia?... Há que produzir uma solução para este problema. É o seguinte: Nós geramos Mapas Cerebrais do interior do corpo, e utilizamos-los como referência para todos os outros mapas."

Resumindo um pouco a longa palestra do professor, ele resume-nos que «Existem três níveis do «Eu» a considerar: O Proto, o Núcleo e o Autobiográfico. Os primeiros dois são partilhados com muitas outras espécies (que saem em grande medida do tronco central); O Autobiográfico é assim uma espécie de ervas. Os Cetáceos e os Primatas também têm, em certa medida, um «eu» autobiográfico (assim como os cães domésticos), acrescenta» Mas continua a dissertação:

"O «Eu» Autobiográfico é constituído com base nas recordações passadas e, nas gravações dos planos que foram feitos - é o Passado vivido e o Futuro antecipado.

O Autobiográfico conduziu à Memória ampliada, ao Raciocínio, à Imaginação, à Criatividade e à Linguagem. E daí resultaram os instrumentos da Cultura - religiões, justiça, comércio. Tal como Artes, Ciência e Tecnologia.

É no âmbito dessa cultura que podemos realmente obter - e esta é uma novidade! - algo que não é inteiramente determinado pela nossa Biologia. É desenvolvido nas culturas. Desenvolve-se nos índices colectivos do ser humano. E esta é, claro, uma cultura na qual se desenvolve um tipo de controle sócio-cultural"

Por último, a Razão: «Porque é que isso é importante? Porque é que é tão importante o Córtex Cerebral e como funciona?... (Insta por sua vez o professor Damásio à plateia completamente rendida à sua enorme e fluída sapiência no mundo da Neurociência). Depois de inspirar um pouco, dá por finda a palestra exibindo os seus dotes da palavra e de homem inteligente que é, sob uma plena resposta que deixa já saudades:

"Por três razões. Mas em Primeiro, uma curiosidade: Os Primatas são extremamente curiosos e os humanos acima de todos (risada geral na sala). E se estamos tão interessados, por exemplo, no facto de que a Anti-gravidade está a puxar as galáxias para longe da Terra, porque não deveríamos estar interessados no que está a acontecer com os seres humanos?!..."

"Em Segundo: Compreender a sociedade e a cultura. Deveríamos olhar para a forma como a sociedade e a cultura - nesta regulação sócio-cultural - são um trabalho em curso. E finalmente o médico. Não esquecer que as piores doenças são doenças como a Depressão, a doença de Alzheimer,  ou mesmo o abuso de drogas"

O professor António Damásio remata dizendo: "Pensando em AVC`s que podem devastar a vossa mente, ou deixar-vos inconscientes, haja um dia hipótese de as erradicar de forma eficaz e aleatória (às doenças), utilizando esses meios para maior eficácia se soubermos como funciona. Porque existe uma razão muito boa para além da curiosidade que justifica o que estamos a fazer - e que por conseguinte justifique o termos algum interesse no que se passa nos nossos cérebros."

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Da Teoria da Consciência à Devolução da Consciência. Tudo passa no crivo tecnológico através dos estudos e das teorias que por vezes são postas em prática com muita sabedoria e franco progresso. As estimativas estão em alta e os êxitos acumulam-se.

Na Caça à Consciência
Muitos investigadores em particular nesta última década têm investido tudo ou quase tudo na desenfreada perseguição aos neurónios; ou seja, no que com eles possa estar efectivamente ligado ou conectado com esta realidade da Consciência no Ser Humano.

Nessa demanda, muitos investigadores começaram a ter evidências sobre experiências efectuadas nesse campo, tentando descobrir neurónios ou comportamentos específicos que estão ligados a experiências conscientes.

Recentemente, investigadores nesta área, cientistas de grande gabarito portanto, descobriram uma área do Cérebro que actua como uma espécie de «interruptor» para o cérebro,; e isto, numa determinada região cerebral que é estimulada electricamente - região essa de seu nome «claustro». Neste procedimento, o paciente fica imediatamente inconsciente.

Os investigadores Christofe Koch e Francis Crick (este último, o biólogo molecular que ficou famoso ao ajudar a descobrir a estrutura de dupla hélice do nosso ADN), já haviam proposto de que esta região poderia integrar informações entre diferentes partes do Cérebro.

De acordo com Koch, a Neurociência precisa de uma Teoria da Consciência que explique o que este fenómeno é em concepção e funcionalidade, além de que tipo de entidades o possuem.

Muitos estudos não explicam ainda com toda a exactidão possível - ou na expressiva verdade absoluta -  se a consciência está presente ou não, como por exemplo no caso de pacientes com lesões cerebrais, na condição animal, ou mesmo sobre computadores da última geração; quânticos e outros.

A Inteligência Artificial comanda os maiores receios nessa área, sendo que muitos neurocientistas asseveram uma IA não poder nunca ter sensores, algoritmos ou um software tão poderoso que alguma vez possa alcançar a Emoção. Quanto à «Sensação» os cientistas já não são tão radicais, pelo que últimas invenções criaram essa potencialidade. Vejamos o que o futuro nos dirá...

Tecer uma complexa Rede de Informações dos Sistemas Sensoriais e processos cognitivos no Cérebro (em particular no caso de anomalia, utilizando-se  a estimulação eléctrica, sendo possível medir-se o grau de integração) é uma razão para os cientistas estarem optimistas. Os estudos comprovam que se está a avançar muito nesta área. É nisto que se baseia por grosso modo a Teoria de Informação Integrada.

Outra Teoria - Espaço de Trabalho Global - que sugere que, a Consciência, funciona um pouco como a memória de computador que pode inclusive lembrar e, manter, uma experiência após ela ter sido executada.

Bernard Baars, neurocientista do Instituto de Neurociências de La Jolla, na Califórnia (EUA), desenvolveu esta teoria baseada num conceito antigo de Inteligência Artificial (IA) chamado de «quadro negro» - um banco de memória que diferentes programas de computador podem ter acesso.

Para Baars, o acto de Transmissão de Informações no Cérebro a partir deste banco de memórias é o que representa a Consciência.

A Teoria do Espaço de Trabalho Global e a Teoria da Informação Integrada não são mutuamente excludentes, afirma Christof Koch. «Neste momento, ambas podem ser verdade», admite. Se uma tenta explicar em termos práticos se algo é consciente ou não, a segunda, procura explicar como funciona a consciência de forma mais ampla.

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O Despertar da Consciência: após 15 anos em coma, um paciente com um diagnóstico muito complicado, apresentando graves danos cerebrais, respondeu a estímulos. Perante a atenção dos médicos e a verificação de todos os dados clínicos que se mantinham há década e meia sem nenhum sinal, o paciente conseguiu finalmente mover a cabeça e os olhos. Milagre...? Não. Apenas mais um feito de grande sucesso no Mundo da Neurociência!

Voltar a ter Consciência...?
Em 2017, o mundo foi presenteado com a fabulosa notícia de que um paciente em estado comatoso há cerca de 15 anos havia dado sinais de alguma mobilidade (cabeça e olhos que se moveram ligeiramente), em evidentes sinais de consciência após ter recebido Estímulos Eléctricos no Sistema Nervoso. E, como já se referiu, após ter estado imóvel e em sustentação de vida artificial durante um longo período de tempo, derivado de um brutal acidente de viação. A notícia dessa reversibilidade veio encher de esperança a comunidade médica, como é óbvio.

Depois de 15 longos anos em Estado Vegetativo, este paciente do sexo/género masculino, receptivo agora à nova terapia - chamada de «Estimulação do Nervo Vago» que conecta o cérebro à maior parte dos órgãos vitais - teve um sopro de vida. Ou de reflexo.

Esta terapia que consiste num pequeno dispositivo e que foi implantado na região-tórax do paciente, teve a capacidade de monitorizar e estimular movimentos e sensações no mesmo. A cirurgia de inserção neste doente demorou cerca de 20 minutos em intervenção rápida de certa forma.

Foi isto que foi redigido e publicitado na revista científica »Current Biology», tendo então desafiado grande parte da Comunidade Científica pelo que amplamente rejeitara até aí de, não haver até ao momento, qualquer esperança para pacientes nestas situações - no Retomar da Consciência - após 12 meses em coma na generalidade dos casos.

Em processo seguinte de vigília e monitorização constantes sobre este paciente que se manteve em estado desperto, mantendo os movimentos oculares, sensações e consciência - surpreendendo-se de início ao confrontar-se com a sua médica assistente que o auscultava - o seu estado clínico tornou-se mais moderado. Ou seja, foram evidentes as significativas Mudanças da Actividade Cerebral, anuíram à data os médicos algo entusiasmados.

Mesmo paralisado e sem conseguir falar, respondeu positivamente aos estímulos exteriores que os médicos lhe impunham. Este processo já havia sendo utilizado em quadros de Epilepsia e Depressão, ambas com efectivo êxito, mas nunca num quadro tão extremo quanto o de um paciente em estado dito vegetativo, asseguraram. Neste momento, este tipo de estimulação é já praticada em pacientes com quadros clínicos menos profundos ou alvo de maior preocupação.

"Muitos médicos acreditam que pacientes em Estado Vegetativo são incapazes de retomar a consciência, e que estão apenas e unicamente à espera da morte. Isso não é verdade, existe agora uma possibilidade", afirmação de Steven Laureys, da Universidade de Lyege, na Bélgica (Europa), apesar do seu não-envolvimento neste estudo de há dois anos. Contudo, realçou ainda:
"A Estimulação do Nervo Vago pode ser um novo tratamento em potencial!"

Seja qual for a qualificativa que lhe dermos ou, que em pertinente adjectividade lhe outorgarmos também a especificidade - em todas as áreas em que a Consciência se manifesta - haverá sempre que aludir e, sentir cumprir, que este é um mundo ainda tão misterioso quanto fascinante, mesmo nas palavras e no conceito actualmente desinibido e expresso pelas maiores sumidades da Neurociência.

Como diria Jean-Jacques Rousseau: «A Consciência é a voz da Alma; as paixões são a voz do corpo»
Quem poderá desmentir Rousseau...? Eu não, porque a minha consciência não mo deixa e a minha alma também não!!!

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