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sexta-feira, 4 de março de 2016

A Experiência V: A Evacuação!


Desactivação da Base Alienígena em Marte: a emanente mas inglória destruição de todos os recursos.

Rejeitando-se um ventre materno, por mais inóspito, inseguro ou anómalo que este tenha sido, é sempre uma dor calada, sufocada, que nos invade o peito e nos grita o quanto somos apátridas ou mesmo párias de um local ou de todo o Universo. Ou de vários. Ou de nenhum.

Saber-se merecer um lar, uma razão de viver, substancia todo um mundo interno que qualquer ser vivo sabe interiorizar e fazer-se viver ou sobreviver. Penso que foi o que fizemos em Marte. E por mais hostil que este nos tenha sido e recolhido em si, foi aquele amniótico albergue de refúgio e, impreterível condição, que nos fez acreditar ser possível vencer obstáculos e alcançar essa outra vida extraplanetária (e mais tarde exo-planetária). Mas, por enquanto, dentro ainda do meu sistema solar, eu despeço-me do meu berço, da minha génese e da minha civilização, numa eterna angústia de não-retorno, de não-integração, como reincidência condenatória de um qualquer julgamento interestelar. Ou galáctico.

Estou só com os meus pensamentos mas sou vigiada por isso. Debato-me por o esconder, como se fosse possível escondê-lo de Blue; ele, que tudo me prospecta e anuncia, mesmo antes de eu o pensar, compreender ou desbravar de mim. Repartida - ou talvez dividida - de um coração em entrega e rendição, eu vejo-me ser trasladada para o mais profundo nada cósmico sem que algo possa fazer de contrário. Já possuo outro destino, já detenho outra vida; muito para além do meu próprio «eu» deste Universo, no que me vejo rebatida, indo ao encontro desse outro ser que sou eu mas não conheço (como essa outra personagem de pele e imagem semelhante a nós mas numa outra dimensão...) ou conhecendo, não o sei ser de minha pertença - ou ser como eu. Confuso, não é? Talvez. Tal como os episódios da série «Fringe» que  eu pensava ser a irrealidade ou mais exactamente a virtualidade sapiente cosmológica de uns quantos, que, em imaginação à solta, se punham a brincar com o nosso pensamento. Estando longe, muito longe afinal, de estar tão perto da verdade...

1 de Março de 2016
«Olho o horizonte e só vejo lixo cósmico. Lixo que se esbateu da base em explosão desvirtuosa que tudo levou, que tudo exterminou. Desde as máquinas de sustentação, aos módulos de recuperação ambiental ou às estufas refrigeradas por onde alfaces, couves e nabiças se fazem eclodir em leguminosas verdejantes e tão deliciosamente comestíveis, no agora fumo e poeira por todo o Espaço. Mas foi necessário. Até a morte do Cérebro. Foi para isso programado, estipulado e incentivado como pré-anúncio de uma não-vida, de uma não-alma, não gerada e não amada, que se faz explodir ou implodir pelos ares. Sofro por isso. Tal como se o Cérebro fosse de facto uma vida, uma alma, uma simples alma que perto de mim se finasse, ou talvez de mim de se libertasse - mais em lamento do que em levantamento celestial. Ficou tudo incinerado, volatilizado numa não-existência minha e de Blue e até de mister-T e agora de mais um elemento afecto a si. O resto, pereceu. Feneceu como alma já morta, trucidada e desamparada de qualquer vestígio deixado. Choro por isso; afinal, amparou-me a mim, a Blue e a mister-T. Tudo o que é e foi, acabou agora!»

Jamais esquecerei o Cérebro: Fez-me reviver o meu passado, triste é certo, mas algo acomodado ou conformado com o que para trás ficou; e depois este me renovou em esperança de uma nova vida planetária em solos e céus de Blue. Fez-me sobreviver. Fez-me acreditar e, no melhor de tudo, fez-me - ou concedeu-me - gerar outra vida. Dever-lhe-ei sempre isso: ao Cérebro daquela tão estranha base alienígena e, a toda aquela circunstância deficitária -  algo mórbida, reconheço -  de enterro e pujança, tudo numa mesma amálgama estelar sob Marte, sob escrutínios desconhecidos que nos vigiavam e asseguravam a subsistência. E permanência. As minhas lágrimas e o meu mais puro sentimento de dever cumprido acabavam ali (senti eu, no momento...). Ou não.
Já não tenho muito tempo para escrever, mas sei que ainda o faço para que, se algum dia, em algum tempo ou espaço nesta parte da Lua algo ou alguém se invectivar, me possa compreender o que aqui deixei em testemunho e avença de mim. Talvez sejam as minhas últimas palavras...

Na semana anterior...
O Blue voltou. E com ele trouxe uma nave dos Kappa. Pediu-me perdão pelo tempo que levou a reactivá-la, a mesurá-la para que finalmente esta pudesse atingir o objectivo único de à base alienígena de Marte chegar - para depois desta nos levar. E eu aquiesci. Tal como Soror Mariana Vaz Alcoforado (a freira-mártir, ingressa no Convento de Nossa Senhora da Conceição, em Beja, Portugal, por meados de 1640 até 1723 à data da sua morte, enviando ternas e doces cartas de amor ao seu Cavaleiro de Chamilly- francês de sua graça e berço) eu me veja em idêntico sepulcro conventual que espera o seu amado. Eu esperei... e... desesperei!
Mas ele chegou. Tal como prometido. E com ele trouxe (surpresa das surpresas!) uma espécie fêmea igual ao mister-T, ao que este primeiro repudiou e depois encenou em valsas nupciais de acordo com o seu cio de macho tardígrado gigante que é, perante uma fêmea em distante - ainda - compleição de se fazer cortejar. E, ao que mister-T vai ter igualmente que adubar para que esta vergue, para que esta em seus seis membros se possa enredar. Que irónico e que estranho, simultaneamente, o sentir que é através desta espécie animal que poderá haver frutos de uma multiplicação não reiterada, não pedida ou considerada, pelo que não supúnhamos que fosse possível; nem mesmo através dos mais elementares sentidos (dentro ou fora daquela humanidade que eu conheci). Nem mesmo o Blue o admite, mas está feliz, ou parece estar, com a evidente alusão de voltar para o seu planeta, para a sua terra.

A maior das curiosidades é aventar no mais básico de todas as coisas, reconhecer o que em tecnologia e primazia interestelares, a minha população da Terra (desde engenheiros a astrónomos ou astrofísicos) estão tão perto da magnificência quanto o Homem de Deus, ou seja, o terem-se quase infrutiferamente matado a trabalhar para que o Robô Curiosity chegasse a bom porto marciano; no que, em transporte e missão, este levou 253 dias a chegar. Mas mais não se pode pedir: ainda há muito por descobrir, por anunciar.
A tecnologia, sendo-nos útil, também nos pode ser fatal. Daí que tudo tenha o seu devido tempo, no que nesta nave estelar dos Kappa apenas levámos escassas horas a chegar ao outro lado da Lua: ao lado negro, «ao Lado das Trevas», segundo alguns mais polémicos e teóricos conspirativos das coisas desconhecidas na Terra. Sim. Com alguma razão. Aqui se encontram algumas bases alienígenas - encobertas pelas próprias - em vigília e delação sobre abusos que se cometam por parte de entidades estelares desconhecidas ou não afectas à partilha cósmica e, galáctica, de conjunta organização. Como uma espécie de ONU estelar. E tudo o que pensáramos ser extrapolação de mentes mais perdidas, é apenas e tão-só a verdade aqui resumida, sem que o possamos comprovar.

A nave que nos trouxe não iria muito mais longe, pelo que aqui o Blue se infiltrou em aferição e, aquisição, de uma outra que nos deportasse para fora daqui - até ao seu (e agora meu) destino planetário. Não sei o que ele fez mas fê-lo bem. E para minha própria segurança, segundo me confidenciou, no que tive de me manter na nave dos Kappa até ter recebido ordens exteriores (e superiores) que lhe permitiram recolher essa outra nave em segurança e permissão de levantamento de voo. Não me perguntem como. Blue também não o diz, deixando as explicações para mais tarde, no que apenas eu posso diferenciar em quase levitação magnética, electromagnética ou de desconhecida propulsão em afirmação de espaço-tempo inomináveis.
Enquanto a NASA desenvolve foguetões para enviar astronautas a novos planetas do sistema solar, já KIC o faz há muito (entre outros globos estelares do Universo) e que, por voz e realidade de Blue, este me conta há muito interagirem entre si, numa boa vizinhança interestelar de conexão, interacção e planeamento cósmicos que o Homem jamais imaginará existir; mas, a conhecê-lo, jamais se coarctaria de o alcançar...

O que ali fizemos (em Marte) foi inesquecível, mas também fabulosamente intransponível às mentes humanas (ambos reconhecemos), no que só em 2033 nos diziam tocarmos o céu cósmico ou o solo marciano em foguetões de propulsão nuclear ou propulsão térmica nuclear (pesando estes metade do que os anteriores foguetões químicos para a mesma quantidade de pressão). E quanta manipulação foi feita então (de números, datas e mesmo de composição aeronáutica) no que se deduzia de reacções nucleares do Urânio 235. Foi-nos relatado, através de altos e eminentes engenheiros aeronáuticos de que, as reacções nucleares do Urânio 235, seriam agora utilizadas para aquecer o hidrogénio líquido dentro de um reactor, transformando-o em gás ionizado, ou plasma. E por sua vez, este plasma sendo canalizado através de um bocal de foguetão (ou foguete) geraria a impulsão ou força propulsora vertical (de baixo para cima, segundo as leis de Newton). Um impulso maior do que o coice de um cavalo, disse-nos um deles em modos alarves, a sorrir, com todos os seus esbranquiçados dentes artificiais. Acreditámos, extasiados com o que nos iria suceder em total deslumbramento espacial sem memória ou sem homenagem, caso a coisa desse para o torto - afiançaram-nos também - mas sem o expandirem muito, pelo que queriam que acreditássemos piamente nessa inovada missão espacial de nave altamente tecnológica de revolucionária reacção, voo e aterragem.

Copernicus: a nossa nave que supriu tudo, até à data em que foi lançada...
A nave (Copernicus) consistia na carga separada e veículos de transferência tripulados, cada um alimentado por uma fase de propulsão térmica nuclear (a partir do núcleo de 3 motores, cada um capaz de produzir uma pressão de emissão ou impulso de 11.339.82 Kg de força. E assim foi!
A viagem até Marte foi feita em 130 dias e não nos iniciais 100 previstos, mas ainda assim dentro de uma certa «normalidade», uma vez que surgiram vários contratempos que se foram esboroando com a eficiência técnica dos astronautas envolvidos - dentro e fora de Houston, (EUA).
Aquando a longa caminhada até Marte (ainda que mais veloz e ao alcance humano do que grande parte dos engenheiros espaciais nos pronunciaram das mais modernas técnicas propulsivas) - eu e a minha equipa - viemos na confiança-base de tudo ser uma secreta missão de alto gabarito planetário terrestre. E em parte foi. Ainda que a decepção tivesse dado lugar à raiva, muita raiva, pelo que obrigatória e falaciosamente a Inter-exobiology me reassumiu como projecto de laboratório e experiência factual e, documental vivas, sobre o  que ou quem queriam explorar em anatomia humana. Só mais tarde o reconheci; só que era tarde demais para voltar atrás...
Quantos enganos, quantas mentiras ou inverdades que acabam sendo parte do tal grande mistério da Humanidade. E que só aqui o descobri; em Marte, e agora na Lua. Se não fosse tão real, diria que é antes de mais ridículo; e triste, o negar-se a verdade sobre uma intensa e extensa mentira.

4 de Março de 2016
A Invasão dos espaços por outros que se deixam para trás na evacuação liminar que tivemos de fazer, deixou-nos um amargo fel de insolvente destilação de almas que ambos sofremos: eu e Blue. Por muito que tivéssemos de deixar para trás tudo o que ali passámos, não foi sem antes alguma mágoa ou agonia envolventes - e carentes - sobre tudo o que ambos ali vivemos. E esse incoerente sentido de alma, tal como ferrão de abelha, insuflado e doloroso, deixou-nos prostrados como se ambos houvéssemos o estigmatizante «Sindrome de Estocolmo» com quem nos tinha sequestrado e ofendido, ainda que alimentado e suportado todos os ânimos ou desânimos orquestrados. Por ambos.
O mais engraçado de tudo isto, é que Blue nem tenha suspeitado ou sequer suposto, como solitário elemento do planeta KIC em Marte, ter sido o meu único salvador da tão cruel e ignominiosa experiência sobre mim, tal como a infeliz cadela Laika - o primeiro ser vivo no Espaço - lançado pela Sputnik 2, no dia 3 de Novembro de 1957, da base aérea de Baikonur, no Cazaquistão. E que, à semelhança deste triste caso animal no Espaço eu me veja, agora, deste modo.
Segundo se relatou depois por vários órgãos da comunicação social (em particular pela BBC online), a pobre Laika terá morrido 5 a 7 horas depois de ter estado em órbita na cápsula devido ao pânico e ao excesso de calor na nave Sputnik em que seguia. Transformado então em caixão, o Sputnik 2 daria 2570 voltas à Terra, reentrando e queimando-se na atmosfera terrestre, a 14 de Abril de 1958, depois de 162 dias em órbita. Há já quem lhe chame de «Covardia Mundial» e assim foi, se tivermos em conta os poucos ou nenhuns poderes dos direitos dos animais em plena Guerra Fria. Que hoje também não são muito diferentes...

Mister-T e a sua companheira estão agora mais razoáveis de trato e de confidências animais, no que eu observo de maior aproximação de ambos, o que me faz feliz, pois penso que fará bem a mister-T possuir uma companheira para a vida, que não celibatária ou solitária, de sombras únicas de si ou do seu tão corpulento corpo de ursinho-d`água possante, sem nada mais à vista que a si próprio. É bem melhor assim, admito. Parece-me que mister-T irá criar família em breve, por muito que se negue a querer entrar na câmara hiperbárica que entretanto lhe vamos ensaiando para que possa (em futuro breve) utilizar, no transporte e estatização de animação suspensa que nesta nova nave existe em assimetria com as nossas necessidades do foro fisiológico e mental. Nem eu nem mister-T ou a sua recente companheira teríamos hipóteses de sobrevivência, caso estivéssemos sós e na pretensão básica de daqui sairmos em ultra-velocidade (ultra-supersónica) de naves tecnologicamente aperfeiçoadas e, familiarizadas com as múltiplas viagens interestelares do Universo. Os nossos corpos não se coadunam com a refracção ou possível desintegração molecular que entretanto sofreríamos, antes mesmo de termos deixado este meu sistema solar, que não o de Blue. Ele está preparado para tudo isso; nós não. Daí os ensaios deste coloquial sistema de apoio à vida (tão longe do cubículo de alta temperatura e humidade por que Laika passou, vi-me a pensar...) que aqui sustém toda a magna potencialidade em diferencial técnico de nos estabilizar os sinais vitais em espécie de mortos-vivos ou estado de coma induzido, se tal me é permitido fazer esta tão aviltante comparação do foro clínico, com esta performance estática em exíguo compartimento de câmara ardente de féretro humano. Ou o que parece então ser. Só com mais finalidades e sustentação de vida que não morte... acho eu. Terei de aguardar serenamente, e isso faz-me confusão. E não só...
Faz-me arrepios, daí que também compreenda as reclamações angustiadas de mister-T ao não querer aí penetrar, usando da flatulência como arma cimeira sua de nos desmotivar também de continuarmos com essas experiências sobre si e, sobre a sua agora fiel amiga de seis patas e um olho circular. E acabamos por desistir. Até porque mister-T faz de propósito, peidando-se consecutivamente...

Já não somos seres subcinerícius mas parece que esta (cinza) se nos colou à pele, numa fragrância suposta e, maldita, destituindo-nos de todas as nossas funções primárias. E objectivos. É como se a nossa pele transpusesse a subcutânea amostragem por tudo o que em Marte se passou - em exposição e dilaceração - àquela tão arrogante atmosfera de animosidade genética em si. Mas é Blue quem mais sofre com isso, uma vez que foi ele o ser exposto a tudo: às radiações, às fulminantes erupções, às poeiras cósmicas e à ionizante atmosfera local de repercussões ainda não totalmente explícitas. Daí a urgência de continuarmos, de não pararmos, e termos de rumar a outra luz, outros caminhos que não os da escuridão da Lua ou de Marte. E não nos deixarmos soterrar de novo em subreptícia condição de voltarmos às catacumbas dos primórdios de um cosmos amaldiçoado. Ou, amordaçado. Queremos luz, exigimos luz, e só essa ambição nos guia em futuro próximo, a dois ou a três, como Deus quiser e o Uno deixar.

Penso que Blue está em processo reactivo imunológico mas em profusão latente do que se deve estar a passar com as suas células e os seus anticorpos. Mesmo que eu lhe pudesse amainar a dor e os anseios de estar a contrair cancro - usando de imunoterapia activa, injectando-lhe um antígeno, geralmente extraído de células cancerosas - eu não o poderia efectuar. Não sou médica licenciada (que lástima, a minha!) nem cientista que me arrogue nesse direito, ou sequer uma qualquer santa milagrosa que em protocolo médico ou verdadeira magia clínica, lhe pudesse aqui induzir a reacção do seu próprio sistema imunológico. Sabendo eu que as células cancerígenas são formas mutantes das próprias células da pessoa afectada pelo cancro, seria fácil, (talvez, na Terra...) executar-lhe uma medicação biotecnológica (em que se destacam os anticorpos monoclonais, nos tais anticorpos idênticos que são capazes de atacar antígenos de células cancerígenas. Mas tudo isto é obsoleto e completamente imbecil, se se pensar na diferença morfológia e, molecular, da constituição metabólica de Blue. Nem eu sei o quanto ou como o poderia fazer, se tão diferente de mim e dos comuns seres humanos ele é! Como fazer então...? E será que se vai a tempo...?

Ele sofre em silêncio. Por vezes sucumbe, vendo-lhe eu a debilidade e os esforços inúteis que faz por me esconder a sua doença, já exultante sobre o seu azul corpo físico que agora parece mais branco, opaco e sem vida. Temo por ele. De novo. Foi submetido a inacreditáveis condições em Marte, desde a invasão dos Kappa até à reactivação de uma das suas naves no solo marciano e, sob um céu caustico e nada aprazível. As consequências estão agora aqui bem visíveis. Diferentemente de mim, que ainda na inescrutabilidade (mas contrariamente, previsibilidade do que se aguarda em mim) deste meu estado de gestante e de gravidez ainda não anunciada, me vejo a escondê-lo de Blue. Sistemática e, continuadamente, pelo que lhe não quero atormentar mais, ante tantas coisas que ele tem na cabeça para fazer, além a doença que o invadiu como crosta alienígena de um qualquer filme de terror ou ficção científica do mais baixo teor. Mas ficção não é. Blue está doente, e eu não sei o que fazer, na minha mais idiota impotência dos meus humanos parcos conhecimentos. E por muito que a gravidade zero tolere ou amortize a invasão cancerígena (em fase expansionista de metástases), tal se não pode estancar. Houvesse eu uma vacina, um antídoto (à semelhança do que na Terra se faz agora através da extracção de milhares de macrófagos e células dendríticas do paciente com as células cancerígenas) e, mais uma vez, em perturbantes mas também incessantes esforços, lhe traria a cura da moléstia acometida. Mas como já disse, que vacina, que cura será essa, se nem sei de como o seu corpo é feito...? Que citologia apresenta, que circunstâncias cito-patológicas ele defronta...? Que imunidade adquire...? Que genética induz...? Que bioquímica produz...? E que efeitos epidemiológicos trava, consiste ou anula, ante tamanha e complexa anatomia exo-planetária sua que eu nem lhe saberia aprofundar...!? Como o poderei ajudar, como???

E quantas mais perguntas de outras tantas sem resposta há por fazer e responder, tal como este destino agora, de Blue e de mim, de mister-T (e de sua amada tardígrada gigante de terras do nunca sobre Marte) e, sobre toda a perdida essência de um passado que se não quer ver voltar?! Para quando o fim de tudo isto...? Para quando o início de uma nova era, de uma nova vida...? Poderei ter esperança de tal? Poderei sonhar com isso? Ou foi tudo em vão, ou um enorme pesadelo que não ficará para a História, a minha história, e tudo se resumiu a um estouvado e alucinado episódio sem futuro...? Espero bem que não, pois devo-o não à minha vida, mas, a esta outra que já sinto em mim...

Acordarei algum dia deste sonho mau...? Poderei ainda sonhar com um futuro...? Sonhar que serei eu, mesmo que um outro «eu» em igual repartição estelar, ainda que numa outra consolidação tridimensional efectiva ou multi-dimensional prerrogativa (faculdade ou privilégio) de poder ser muitos «eus» e, sentir, que vale sempre a pena acreditar e esperar que o sonho se cumpra...? Será mesmo...? Poderei nisso acreditar...??? Pois que o sonho e o sono hiperbáricos me sejam leves e daqui me levem para longe, muito longe de tudo o que tanto já me fez sofrer... Saberei esperar, saberei acordar e saberei, insistentemente, ser mais do que agora sou...? Pois se já mais sou do que a minha própria vida, muito mais... e o Universo sabe disso! Os outros (Universos) também... e esperam por mim! E eu, vou ao seu encontro, ao encontro de todos eles...

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