Há almas eternas, outras imortais e talvez até mesmo outras confortavelmente emanentes sobre o Universo; cabe-nos a nós descobrir quais as que nós somos, por outras que andam por aí...
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quarta-feira, 16 de março de 2016
A Experiência VI: A Prisão!
Dragon 2 - A Nave Terrestre (prisão espacial de alta segurança). Algures (e em órbita) entre a Terra e a Lua...
"Nenhuma Tempestade tem força suficiente para arrancar um Nome.
Aquilo que carregas irá acompanhar-te sempre,
Fará parte até do teu silêncio.
Repara em Ti,
Repara em quanto do que te constitui, é Eterno e Imortal!"
- Irmã Lúcia -
A Prisão
Ser prisioneira de uma mentalidade fechada, de uma orquestrada deambulação cósmica ou poder sentir que entre um e outro sentido, tal vórtice bloqueado, deixa de fazer também qualquer ou outro sentido que não seja, o sermos traídos pelos da nossa própria espécie. E isso, é o que dói mais; é o que mais me fere como punhal cravado na alma ou assertiva degolação que me coloque prostrada e sem forças, pois que nada já faço - ou sou - em sublevar ânimos que de mim se apartaram.
Estou presa, rendida, e fodida! Quando tudo parece eclodir em voo de águia solta, um «shobo» (arma japonesa) espada shotel ou vulgar catana africana me decepa todas e quaisquer vontades ou assomos de daqui me livrar. Mais em ira do que em ímpetos racionais, eu sou uma Fénix não recauchutada, antes empalhada, inerte e amortalhada, num embalsamento inglório que nem os Egípcios conseguiriam destrinçar. Ou aperfeiçoar, tal o meu triste estado!
Estou no meio do nada; num covil de ogres e estupores que me têm agrilhoada a seus intentos, a seus mandos - e eu nada posso fazer. «Dividir para reinar» ou simplesmente vergar a cabeça, ser subserviente ou imprudente, talvez, a uma tão pouco nobre causa que me faz agonias só de me saber em igual civilização prostíbula que se vende a qualquer preço: a Humanidade!
Era este o meu sentimento, no momento em que fui trespassada pela mais inolvidável circunstância: eu e Blue éramos uns foras-da-lei; da lei judicial galáctica - em delinquência estelar - só por termos invertido os papéis ou subvertido os mesmos sem requisitar opiniões, poderes decisórios, ou outros que não os nossos, única e exclusivamente. Mas isso tinha um preço, e que ambos pagámos caro; caro demais. Não teve graça. Nem brio.
Fomos feitos prisioneiros: Eu, Blue, mister-T e até a sua parceira Lilly (que eu baptizei no momento em que a vi, tão roliça e tão dengosamente impenetrável naquela sua performance anatómica invulgar de tardígrada-fêmea gigante que é) - e tudo nos foi separado; os corpos, as súplicas, ou as manobras de repúdio de tal nos fazerem. E até a composta postura de ambos, de mim e de Blue, em total espanto mas rejeição também de nos manipularem como um Adão e uma Eva inusitados - ou adulterados - sobre o que nos tinham proposto, inicialmente. Fomos assim, deste triste modo, abruptamente retirados uns dos outros, como se houvessem respostas ou silêncios recortados por outras explicações, por outras insinuações de algo de terrífico que tivéssemos feito como lesa-pátria de algum solo ou regra maior estelar. Fomos levados como bois para o matadouro por uma frota armada pretoriana de origem desconhecida. Mas as ordens - militares e precisas - vinham de cima, de uma entidade sobejamente por nós conhecida. A mesma que nos levara até Marte. Blue sempre o soube; eu não. Só depois o reconheci, na retaguarda (e não vanguarda) do que jamais me seria revelado, se não fosse Blue tê-lo feito, contrariamente às ordens sobre si impostas.
Todas as naves a mando da Space 132/ YXY (existindo, eram irreais ou como se nunca houvessem sido planeadas, fabricadas ou sequer implementadas, pelo que só um limitado número de altas patentes o reconheciam). Blue sabia-o. Tinha um grau diferencial que jamais eu alcançaria (em conhecimento e autorização sobre todas estas actividades em órbita da Terra ou da Lua) e mais tarde em Marte, pelo que me confessou. Fora induzido, programado e imputado sobre essas actividades, imperando nele a responsabilidade de o não divulgar. Talvez tenha sido este o seu erro maior. Confidenciou-mo, e agora pagaria por tal. Senti-me culpada. Senti-me deveras mal por isso, mas já não havia nada a fazer. Teríamos de ambos o admitir como a mais pesada pena capital. Eu não sabia o que estava a suceder com Blue. Nem podia. Só mais tarde ele mo disse, mo relatou em palavras que não poderei esquecer; não nesta vida. Ou noutra qualquer...
Tribunal Marcial Estelar
«Há planos para vós. Mas infelizmente violaste-los todos. Como o lamentamos. Sois parte de um Todo que jamais se deveria revoltar, pronunciar - ou sublevar - em oposição de nossa e vossas leis, ou subestimar o tanto que para vós vos tínhamos outorgado em planeamento galáctico - e mesmo interestelar. Fostes incauto. Imprevidente. Absurdamente indistinto aos seres inferiores!»
«Sois parte de um Todo que jamais aceitará renunciar à mais pioneira obra do nosso tão Grande Mestre que ditou as leis do Uno. Jamais as saberás! E lamentamos por isso. Mas não há remissiva ou perdão para a quebra do vosso silêncio e, da vossa incúria, em submeter ao conhecimento terrestre essa homilia que vos foi consignada através das Grandes Ordens do Mestre - sabeis disso e da pena em que incorreis. Estais ciente da vossa abissal irresponsabilidade, e imprecação.
Não poderemos fazer nada mais por vós, do que, vos restabelecer e enfim regenerar vosso tecido orgânico, mas, com o único intuito, direcção e destino de, terdes de acabar a missão previamente - ou precocemente, neste caso. Sereis levado até vosso planeta (só!) e sem ordens de para trás voltar, olhar, ou prevaricar - como já o fizestes com graves prejuízos e acervo danoso em face ao Grande Uno. Não é novidade que tal vos seja dado em sorte. Desde o início que sabíeis de vossa condição e missão estelares nesta galáxia. A Via Láctea ser-vos-à negada em reentrada ou recondução; e se o fizerdes, as consequências serão fatais, sabe-lo bem.»
(O silêncio é sepulcral. Blue quase nem respira, perante uma assembleia judicial estelar que há muito, advogando a sua própria causa, o condena sem apelo nem agravo, recurso ou defesa alguma que lhe valha a dúbia certeza ou, breve instância, de dali poder sair - em inocência declarada ou liberdade adquirida). E a missiva oral continua em pungente ordenação estelar:
«Entorpecendo, revolvendo ou distorcendo o que vos era pedido, envolvendo-vos com uma outra parte de um ser civilizacional inferior, menor, ou de um seu mundo inferior, destes azo a a todas as altercações ou disputas estelares sobre o que não vos era permitido fazer. A Interestelar História não se compagina com a história humana, na qual, sendo nós intervenientes, não seremos novamente candorosos ou irreflectidos, sobre o que ela nos conta - e reporta - sobre os maus resultados ou convénios aí registados dessa hibridação que, como bem sabeis, deu genésicos fluidos, seres, e comportamentos muito perturbadores. E dos quais nos não orgulhamos, em analítica amostragem do que se não deve fazer, do que se não deve instar ou instigar na civilização humana ou qualquer outra.
Não tornaremos a deixar que tal se remeta - na Terra, ou em qualquer outro sistema planetário, dentro ou fora desta galáxia onde nos encontramos. Não nos é permitido conceber descendência híbrida. Não nos é referenciado replicar a génese humana com uma outra, nem conceptualizar gerações de duplas hélices, de duplos genomas. Não temos poderes universais para o fazer. As leis são muito claras e vós sabei-lo. Explícito é o Uno: Impedimento absoluto! E assim o será, ou assim o deveríeis ter incrementado, sem ultrapassar ou cometer ilícitos sobre essas mesmas leis do Uno.
A Experiência não poderia ser tocada, manipulada ou alterada por outros. O que fizestes, audaciosa mas erraticamente, subverte tudo o que inicialmente tinha sido suposto e nesta imposto. Nada mais a acrescentar.»
Por licitação da Assembleia Estelar vos pronuncio:
«Não somos injustos, criminosos ou implacáveis, mas, segundo as Leis do Grande Uno, tereis de abarcar com as mesmas: As Regras e Leis do Grande Mestre! As que jamais se podem quebrar! E quando assim o fazem, os prenúncios são inevitáveis. Os vórtices estelares estarão abertos para vós, mas só em cumprimento de partida e de não retorno. Por muito que vos possa condoer ou apelar à nossa clemência estelar, nada poderá ser reversível, pelo que o Grande Uno já sobre vós emitiu que se fizesse, que se cumprisse. Lamentamos por vós, mas nada mais podemos fazer. Sabemos que nada disto vos é imune, mas essa, é a única condição que de vós se não poderá extrair ou este Conselho absolver, comutar - ou extirpar - em vossa condição de elemento sábio de Kicyrius. Podeis retirar-vos. E que o Uno esteja convosco: Hoje e sempre!»
Aqui, o Direito Penal Estelar cumpriu-se de facto: Blue foi remetido ao exílio. Não podia ficar, retornar ou regressar, como lhe foi ostensivamente dito sem qualquer abertura ou fresta de lei galáctica que ele pudesse aventar sobre o vir-me buscar, o voltar para mim, o fazer-me consigo levar em créditos nunca por si avançados sobre o seu Grande Mestre, o seu Grande Uno que nada nem ninguém jamais poderiam contrariar. Se isto não era estar completamente fodida, digam-me lá então o que era... eu, que não sou de palavrões, mas o garrote de forças maiores me fez ser tão comum e tão pouco comedida com meus terrenos princípios educacionais, que só me apeteceu, nesses cerrados momentos de presídio, tê-los mandado (a todos) à merda! Pronto, já disse. Mas ficarei por aqui, ou o Grande Uno mandar-me-à meter pimenta na língua...
E se os meus dias nessa compartimentalizada prisão foram de autêntico suplício (não pelas suaves e higiénicas condições havidas mas, pelo obscurantismo do que eu já previa fazerem sobre Blue) para ele, Blue, foi muito pior - do que posteriormente me confessou. E, apesar de não ter oportunidade de o saber, sentia-o, como verdadeiras e ardentes chagas de Cristo sobre o meu peito. Daí que me inventasse em mil rezas, em mil orações por mim evocadas, endeusadas, sobre os maus augúrios que temia sobre mim e sobre ele, recaírem. Apelei a todos os Santos, a todos os Deuses; os de hoje e os de antigamente. A todos enviei pedidos de reforços audazes sobre o que não tinha poder para decidir ou mudar. Temi pelo meu destino, mas mais por Blue, e até pelos tardígrados gigantes, que nunca soube para onde os levaram em gritos angustiados de também se verem um do outro separados. Uma lástima! Uma autêntica lástima extraplanetária!
Ainda que essa Assembleia Estelar fosse composta e, oriunda, por elementos de terras distantes, interestelares, os que me seguraram naquela masmorra suspensa e orbital sobre a Terra e sobre a Lua, eram de origem e nascimento como eu: humanos. E isso, foi horrível. Compactuavam, comandavam e (soube mais tarde), até lideravam certas causas galácticas entre eles. Há muito que na Terra disto se suspeitava sem haver grandes certezas - na teoria da conspiração/interacção entre terrestres e seres inteligentes (de várias espécies, etnia/cosmogonia, ou efectivas diferenças de outros sistemas solares do cosmos). Agora, tinha a certeza de tudo isso, mas nada me valia sabê-lo. Pior ainda, descobri-lo assim, num nepotismo exacerbado de uns sobre outros, em xenofismo cósmico, ou mesmo sobre certos e enviesados justicialismos estelares - tão exóticos quanto macabros - alguns deles, sobre leis, regras e princípios, como se houvessem mais tábuas de mandamentos que não os da Terra, os de profetas bíblicos, que tão bem os cristãos terrestres conhecem. E, por esse facto, havia que os seguir. Que os determinar. Ou não haveria futuro para quem assim o negasse, disse-me mais tarde Blue. Acatei. A partir dali, já não era só uma questão de ética terrestre (ou terrena) de ser humano do género feminino que eu era, mas, cidadã estelar de outros mundos, outras considerações.
Primeiro revoltei-me. E disse os piores disparates e impropérios dentro e fora do cubículo metalizado, asséptico e uniformizado em que me colocaram. Depois, desmotivada e lavada em lágrimas terrenas, sucumbi a todas as impotências geradas e, agora goradas, de dali poder fugir.
Além os humanos que me seguiam em silêncio, sob olhares ou observações pormenorizadas mas alheadas de mim, eu senti o cutelo da justiça além a Terra, além tudo, sobre mim, sobre a minha cabeça. Tal como Maria Stuart da Escócia, pensei. E não gostei do que senti.
A parvoíce ali instalada de toda aquela hegemonia platónica de uns sobre outros, deles sobre mim, fizeram-me ter a noção ou a consciência perfeita do grão de areia cósmica que eu era (mais uma vez!) por os saber senhores do mundo, governantes de outros mundos e outras mentes não-humanas. Ainda que a minha cosmovisão pudesse ser falhada - ou frustrada pelo que ainda não entendia - sabia bem o quanto poderia ser pernicioso o grande poder dos que se julgam donos do mundo, de vários mundos, quando, talvez, nem um simples quintal lhes deveria ser arremessado. Desde as piras sacrificiais dos povos antigos (Incas, Maias ou outros), utilizando crianças que enregelavam e assim morriam, mastigando coca e maconha, mastigando o medo e as vísceras que entretanto congelavam em acelerado processo de hipotermia no alto das montanhas, fazendo os deuses apaziguarem-se, fazendo os deuses acalmarem-se, ante a fúria dos ventos e dos mares na tempestade terrestre que sempre os seus seres viventes viam, aquando estes sacrifícios não lhes eram amistosos. Que deuses eram estes afinal, que pelo sangue e pela morte, sossegavam ânimos e desânimos, sem quebranto ou piedade sobre os humanos...??? (perguntei-me) E ainda hoje o não sei. Nem mesmo percorridos outros mundos, poderei sentir justiça nessas ancestrais práticas de sofrimento e só lamento. Quem o pede assim...? Quem o exige assim...? Serão deuses - ou monstros - que nenhuma convenção galáctica quer ou deseja inserir em si...? Como gostaria que «eles» me respondessem a essas dúvidas; dúvidas que nem Blue me desfez...
E o que dizer dos grandes ensinamentos, os da Terra, que me foram dados, arremessados e tanto empolgados como as mais litúrgicas ou sacrossantas regras universais a seguir; estariam todos enganados? Ter-se-iam todos confundido, dos bíblicos aos sânscritos...???
A Bíblia, Bhagavad Gita, o Alcorão, os Upanixades, o Talmude, o Livro de Mórmon - ou mesmo os Vedas - que magia foi (ou será) esta então, que tantos ensinamentos, tantos deslumbramentos nos aferiu sem que o tivéssemos soltado de nós como alma que voa, como alma que se liberta...? Se todos estes livros, estas escrituras antigas de inspiração religiosa, teológica ou de grande sabedoria (em conhecimento, instruções, regras, direitos e deveres do Homem) nos não ensinaram nada, qual a razão de ainda hoje se lerem, visitarem e revisitarem? E se deuses eles foram ou serão, o porquê de ainda hoje se não instituírem como a grande voz - a única voz - do mundo, em que outros seguem e outros lideram, sem destituições ou condenações de uns serem mais inferiores e outros mais superiores...? E qual destes eu serei... se ainda hoje o não sei...?!
As Confissões...
E por muito que me debatesse em meras filosofias de vida ou ritualização de uma angústia sem precedentes, sobre aquele tugúrio estelar de formação terrestre, mais haveria por desvendar: Blue disse-mo. Ainda antes de rumar ao seu mundo. Ou pensar que partiria sem mim...
Blue considerou relatar-me todo o sucedido e confessou-me amores não perdidos, antes reassumidos por mim, por uma sua luta sobre o meu destino ou o meu futuro caminho interestelar. E assim me revelou de seu amor em palavras e sentidos, mais sentidos do que ditos por palavras. Deu a resposta aos deuses, aos seus deuses, que o viram humildar-se mas não humilhar-se, proferindo o que da sua alma lhe saía:
«A Vossa Experiência - ou aquilo a que vós chamais de «experiência» - na incidência do elemento terráqueo que em Marte se definiu como ser humano vigente, ser civilizacional do planeta Terra, como fêmea, em género e assimetria particular de adaptação e evolução dos espaços no cosmos, é a minha Outra Face da Lua: a que brilha, a que exulta luz e cor, matéria e energia, e mais do que isso, é o meu correspondente pulsar cardíaco e cerebral, que já fazem parte da minha existência - ainda que não da minha vivência, em Kicyrius. Ela... é... «A Minha Lua».
«Parte do que sou, agora, sou parte dela, dessa meia-lua que comigo partilha o som e o sentido cósmicos de toda a minha vida. Não abdico. E não desisto. Se o meu destino for a morte física, que o seja. Não quero que me regenerem o corpo físico quando incesto o vazio interior em ablação do que já não possuo. A vossa «experiência», é agora a minha resistência. Fazendo-vos reverência ao Grande Mestre que comigo sempre trago, solicito que aqui me deixem permanecer. Não quero restauração anatómica molecular... deixem-me à minha sorte e destino galácticos. Cumprirei o que me é devido, por justiça marcial estelar, exemplar com o que me definiu como ser de honra, serviços, e prestação honoríficas ao meu planeta Kicyrius que jamais pretendi desonrar ou manchar por idêntica mácula.»
«Vou confrontar a minha realidade. Assumi-la-ei perante vós, perante o Grande Uno, que tudo aceita. No entanto, sem contudo vos desrespeitar sob estas mesmas leis de vossa eminente assembleia estelar, vos apelo à consagração e, à permissão, de me deixarem desactivar na missão que aqui me foi solicitada. E por muito que tudo por vós e em vós respeite, tenho a citação de proferir que jamais tribunal galáctico algum ou qualquer lei marcial estelar me poderá arrancar de mim o que então vivi e, senti. Mais do que uma experiência, é a indefectível anuência de, em mim reconhecer, esse outro ser, essa outra manipulada e biológica vida de vossa pertença sobre Marte. Há muito que o destino me foi traçado. Levá-la-ei sempre comigo, a ela, à que vós designeis de «experiência», àquela que então salvei e que não sacrificarei se for esse o vosso desejo. Mas peço um último ensejo de despedida. Partir ou morrer, caberá a vós esse meu destino, porquanto me deixem um último olhar... mesmo que o não compreendam, é apenas esta a minha reiteração como minha última missão. Irei, agora, às vossas galácticas ordens. Que o Uno esteja convosco! Hoje e sempre!»
A afirmação metafísica de que nós, seres humanos, não somos os criadores da nossa própria realidade, no que se resume à tão inebriante Física Quântica, fez-me recordar quão ínfimos, inseguros e neutralizados seres podemos ser, em face à estonteante magnitude estelar da qual muito poucos ascendem em conhecimento. Sabe-se que, «Tudo o que é Observado, é afectado pelo Observador», segundo esta mesma teoria que na Terra apregoávamos como a quinta essência dos elementos. E, sabendo nós, terrestres - ou vulgo comuns terráqueos para os demais seres estelares - de fora desta (Terra) em sapiência-mor de que tudo pode ou não ter um fim, eu, à beira de uma ataque de nervos ou de uma crise esquizofrénica de índices elevados de agressividade, vi-me perante a urgência de sobreviver às mãos de quem me queria estrangular. Não literalmente, mas na prática, de igual submissão, função e desenvolvimentos. Quase enlouqueci. Mas aguentei-me. Só Deus sabe como...
Tudo o que sei hoje, foi-me relatado por Blue (pelo que hoje posso divulgar em escrita minha) mas que ainda me dá arrepios de pensar que estive perto, muito perto de um abismo estelar, do qual só eu me lançaria, só eu me estatelaria - sem o Blue - ou outro alguém que me valesse.
Blue, esteve às portas da morte. A Imunoterapia activa foi um factor determinante na sua recuperação; algo que eu nem suspeitava existir em rapidez e eficácia subatómicas em todo um complexo - e quiçá estranho ADN - e de todo o seu sistema genómico.
A desenvolvida tecnologia médica de antídoto milagroso fê-lo recuperar as cores (azuis), que tão saudável compleição ele dispunha do que anteriormente lhe conheci; mas isto, muito depois de toda esta outra punção selvática e de emoção à flor da pele que ambos sofremos, em divisão mútua, cada um para seu lado. Talvez tenha sido outra experiência deles, supus, e possivelmente não estaria longe, pelo que me foi perceptível reconhecer que tudo, ali, era uma suma e pontificada experiência - biológica e não só! Era, ou foi, tudo uma sequência do que entidades estelares nos reverberaram sem que o soubéssemos ou rebelássemos, ante a supremacia desta hegemonia estelar.
Fomos fortes e fomos unos, como Uno o será deste e doutros cosmos, deste e doutros Universos, assim mo disse Blue, assim falaria, no que relembrei Friedrich Nietzesche no seu livro: «Assim falava Zaratustra». Devaneios meus... de uma terra minha que já não o é...
Tudo foi e tudo é. E, como dizia a minha saudosa e grande amiga de leitura e devoção, amiga que nunca conheci pessoalmente - Irmã Lúcia - ao afirmar peremptoriamente:
«Repara em quanto do que te constitui, é eterno e imortal!» - No que em meu interno senso lhe aceno de dentro da minha alma, e lhe confio segredos igualmente eternos e imortais. Sim, hoje sei-o; esta terráquea, ser inferior, ser do mundo inferior da Terra, sabe o que é ser-se Eterno; sabe o que é ser-se Imortal! Quanto eternos ou imortais forem os nossos sentidos...
Mas sou mais, muito mais! Sou tudo o que não conseguiram fazer de mim, subtraindo-me a emoção, o sentir, a paixão, a espera e a rendição àquele amor maior de ascensão eternas. Esperei por Blue, só Deus sabe como esperei, dentro daquela sufocante cápsula infernal do Dragon 2 - a nave espacial terrestre em que muitos dos seus comandos (homens e mulheres como eu) - não entenderam, não compreenderam ou não quiseram amortecer na minha tão intensa dor, o pousio da sua solidariedade ou cumplicidades humanas, vendo-me para ali despojada de tudo; até da dor de ver meus semelhantes serem mais cruéis, obtusos e abstrusos na dimensão ou tridimensão inócuas de me verem presa e subjugada a outras leis que não as suas. Tal como gente colonizada de outrora (na Terra) que se vendiam por umas moedas de nada, mais fraqueza do que prata, em soldo de outros tempos, em solvência ou indigência de benefícios seus, ante o seu colonizador, quase sempre déspota, quase sempre tirano de poderes conquistadores. Tempos esses, finitamente iguais aos actuais, senti.
Mas ordens maiores vieram e eu fui solta; liberta de todas as amarras, pensava eu. Eu, que libertina e ousadamente solta em prantos de alegria e desatino que só eu sei, ah, como sei, me vi despertar.
Mas foi fraca a minha alegria e efémero o meu entusiasmo. Havia moeda de troca... ah, como eu era ingénua... para acreditar que nada se pede em troca, que nada se reflecte em nós...
Mas não podia voltar para Blue; foi essa a condição. Fingi aceitar, fingi acatar, pois só queria que ele vivesse, se não para mim, para o seu mundo distante, a muitos milhares de anos-luz da minha igualmente longínqua Terra para onde já não poderia ir, revelaram-me. Mesmo que liberta, teria de viver sob a égide da convenção galáctica que tinha poder ou posses territoriais sobre a Lua e sobre Marte - ambos os espaços de sua guarda e vigília. Se Marte tinha sido o pior planeta hospitaleiro, que dizer do satélite artificial da Lua sem pretensas de se poder respirar ar puro, ar leve, sem se ser domado e sugado pela gravidade espaço adentro...? Que fazer então...?
Esperar, só esperar, sabendo de antemão que nenhum deles se vergaria às minhas lágrimas, ou à minha singela condição de gestante de um filho de Blue - algo que criteriosamente comigo guardei como segredo em Caixa de Pandora, que só eu sabia em que situação. Por muito que eles o suspeitassem também, não lhes dei esse prazer. Sabia bem os perigos dessa confissão. E aguardei. E um dia, um belo dia em que não vi o Sol nascer mas este brilhou para mim, Blue, tal como Pirata das Caraíbas ou guardião-mor e salvador de sua prisioneira donzela e amada qualquer coisa, me veio buscar. Eu, que já nada esperava da vida, mesmo que esta já mexesse bem dentro de mim...
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