Há almas eternas, outras imortais e talvez até mesmo outras confortavelmente emanentes sobre o Universo; cabe-nos a nós descobrir quais as que nós somos, por outras que andam por aí...
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terça-feira, 25 de agosto de 2020
Uma Nova Ameaça
Oragotango de Sumatra do grande grupo dos Primatas. (Imagem: Maxime/Aliaga): Uma das espécies mais ameaçadas de extinção do planeta devido à óbvia desflorestação e mitigação do seu habitat, fazendo recear que dentro em breve nada reste desta outrora farta população que, também vulnerável à infecção por SARS-CoV-2, ditará a redução - ou mesmo a extinção - desta e outras espécies de Primatas.
Vulnerabilidades (humanas e animais)
Até agora, o nosso único alvo ou objectivo comum global foi o de encontrar uma vacina ou um tratamento que ponha fim a todas as nossas humanas angústias de sofrimento e morte provocados pelo ainda acintoso COVID-19 que prolifera no mundo como praga sarnenta - e, para a qual, ainda não há panaceia ou acalmia (mesmo que nasçam todos os dias de forma algo trôpega e azougada as notícias que nos dão conta da evolução dessas ditas vacinas que em tempo recorde (?) se esparramam nacional e internacionalmente em acordos de saúde pública).
Preocupamo-nos assim em defender a nossa antropológica e quase totalitária existência sem que, há que acrescentar, tenhamos a hombridade de olhar com maior deferência para as outras camadas da população animal que, idêntica e infelizmente, sofrem dessa mesma potencial e fatídica ameaça por SARS-CoV-2.
Quem o afirma são os investigadores da Universidade da Califórnia, em Davis, EUA, que após a dissertação científica realizada sobre a análise genómica desta espécie - na análise do ACE2, o principal receptor que o SARS-CoV-2 utiliza para se ligar e entrar nas células, em 410 espécies de vertebrados - nos revelam agora que muitas delas são efectiva e potencialmente susceptíveis à Infecção pelo Novo Coronavírus.
Os estudiosos incluem também «Uma Série de Espécies em Perigo e Ameaçadas de Extinção» - principalmente Macacos e Primatas do Velho Mundo.
Este recente estudo que foi publicado na revista científica «Proceedings of the National Academy of Sciences» no dia 21 de Agosto de 2020, considera também que haja igualmente a revelação de potenciais hospedeiros intermediários e modelos-animais para o vírus.
A União Internacional para a Conservação da Natureza resume de forma pragmática esta análise, afirmando que «Cerca de 40% das espécies potencialmente susceptíveis ao SARS-CoV-2 são classificadas como "ameaçadas", pelo que podem ainda ser especialmente vulneráveis à transmissão Humano-Animal».
Confrontados assim com a inegável ameaça das chamadas doenças zoonóticas e da subsequente transmissibilidade que estas assumem do Homem para o Animal, os cientistas admitem que todas estas novas e actuais informações recolhidas sobre este estudo, venham de futuro a dar frutos numa concentração de esforços objectiva e contínua.
E, para que de futuro também, de acordo com o que enaltecem, se possa planear atempada e adequadamente as medidas necessárias de não-contágio, de não-transmissão, mantendo animais e seres humanos numa igual plataforma de saúde, segurança e bem-estar.
Em 2018, há sensivelmente dois anos portanto, que a secretária executiva do Secretariado da Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU, Cristiana P. Palmer, alertou que a perda da Biodiversidade era um «assassino silencioso» e uma ameaça tão séria quanto a Mudança Climática.
Acredita-se que sim. Até porque, muitos têm sido os tristes e nefastos exemplos que nos chegam da Indonésia - e da criteriosa informação do Greenpeace International - que nos afiançam que os fornecedores do óleo de palma (assim como a empresa indonésia receptora deste produto) foram e, continuam a ser desde há muito, os grandes responsáveis pela destruição de quase 25.000 hectares de habitat dos Oragotangos.
"Se algo não for feito para diminuir rapidamente as ameaças à conservação dos últimos remanescentes da floresta, poderemos ver a descoberta e a extinção de uma espécie num curto período de tempo." (As alegações finais dos investigadores num artigo publicado na «Current Biology», aquando se deu a enfática descoberta de uma nova espécie de Oragotango em Sumatra, de seu nome «Tapanuli» ou «Pongo Tapanuliensis»)
Oragotango de Bornéu (Indonésia): uma das espécies em risco e que, desde há três anos (2017), um grupo de Conservação Ambiental tem vindo a alertar para a devastadora desflorestação/desmatamento (quase um quinto da floresta que se estimou em cerca de 340 hectares de área florestal de Samboja Lestari, em Kalimantan Oriental) que serve de santuário aos Oragotangos na parte indonésia do Bornéu. E que foi ultrajantemente ocupado e, danificado, ameaçando os esforços de reabilitação de uma espécie sob ameaça de extinção.
Como se isso já não bastasse, esta espécie vê-se agora perante um outro ultraje: o do SARS-CoV-2. Que fazer então?... Investigar, investir e contribuir para que mais esta tragédia animal não suceda, sobre esta e outras populações de animais que se encontram actualmente sinalizados como de alto risco em que se incluem Mamíferos Marinhos, Baleias Cinzentas, Golfinhos nariz de garrafa ou mesmo Hamsters chineses...
Vasculhando o Genoma
Em termos biológicos, «A Genómica» é o conjunto de disciplinas relacionadas com o Estudo dos Genomas e as suas muitas aplicações na terapia génica ou genética (na terapia de inserção génica ou terapia de inserção de genes), na biotecnologia, etc. De grosso modo, pode dizer-se que a genómica é um ramo que estuda o Genoma Completo de um Organismo.
Foi o que fizeram então os nossos investigadores e reputados cientistas da Universidade da Califórnia, em Davis (UC Davis), envolvendo uma equipe internacional em colaboração entre si, propondo-se a analisar e a comparar dados; neste caso sobre a tal Análise Genómica para assim poderem comparar o principal receptor celular do vírus em humanos - a enzima conversora da Angiotensina-2 ou ACE2 - em 410 espécies diferentes de vertebrados, incluindo pássaros, peixes, anfíbios, répteis e mamíferos.
Esta ACE2 é normalmente encontrada em muitos tipos diferentes de células e tecidos, incluindo células epiteliais no nariz, boca e pulmões. Nos seres humanos, 25 aminoácidos da proteína ACE2 são muito importantes para o vírus se ligar e ganhar desta forma a entrada livre nas células.
Os investigadores utilizaram então essas já mencionadas 25 Sequências de Aminoácidos da proteína ACE2 e a modelagem da sua estrutura da proteína prevista - juntamente com a proteína Spike SARS-CoV-2 - para objectivamente se poder avaliar quantos desses aminoácidos são encontrados na proteína ACE2 nas diferentes espécies.
Joana Damas, a primeira autora do artigo e pós-doutoranda associada na UC Davis, legitima de modo explicativo: "Estima-se que os animais com todos os 25 resíduos de aminoácidos correspondentes à proteína humana correm um maior risco de contrair SARS-CoV-2 via ACE2. Prevê-se que o risco diminua, quanto mais os resíduos de ligação da espécie ACE2 diferirem dos humanos."
Harris Lewin, o principal autor do estudo e distinto professor de Evolução e Ecologia da UC Davis, nos Estados Unidos, arremessa: "Os dados fornecem um importante ponto de partida para a identificação de populações de animais vulneráveis e ameaçadas em risco de infecção por SARS-CoV-2. Esperamos que inspire práticas que protejam a saúde humana e animal durante a pandemia."
Espécies em Extinção: Primatas mas não só. Muitas outras espécies sucumbirão se nada se fazer de contrário; se nada se desenvolver no sentido de protecção e conservação das espécies. Em relação aos Primatas, a dura e cruel estimativa é a de que, mais rapidamente do que supúnhamos ou desejaríamos, muitas destas espécies só possam ser observadas em zoológicos ou reservas naturais. Existe o perigo iminente - em risco elevado - de muitos destes animais não conseguirem sobreviver ao SARS-CoV-2.
Risco Máximo!
Desde há alguns anos que o alerta tem vindo a ser dado sobre a iminência de se perder grande parte destas populações de animais; especificamente as dos Oragotangos no Bornéu e na ilha indonésia de Sumatra, em números de densidade populacional drasticamente menores desde 1970. Classificados como em risco ou em vias de extinção, urgiu proteger estas espécies na Indonésia e na Malásia.
A «Borneo Orangutan Survival Foundation» - uma das várias organizações dedicadas à protecção da espécie (detendo uma concessão por cerca de 60 anos de cerca de 86 mil hectares de floresta no Bornéu) - tem vindo a fazer com muito esforço mas grande empenho a reabilitação destes animais.
No entanto, os ambientalistas estão pessimistas, prevendo que nas próximas décadas uma grande parte das florestas (e habitat natural destes primatas), já tenha sido igualmente extinta, tendo sido convertida em terreno agrícola.
Infelizmente, o até há pouco «Santuário de Oragotangos de Samboja Lestari» situado na Indonésia (Ásia) não foi o suficiente para que outras populações (humanas) se recusassem a invadir este território, criando de novo a incerteza ou... a certeza de um maior risco sobre estas espécies.
O Gorila das Planícies Ocidentais também está em perigo! Ou o Gibão de bochecha branca do Norte, tal como os Oragotangos de Sumatra, prevendo-se assim que várias espécies de primatas possam estar em risco máximo de extinção pelas causas já referidas.
Mas não só. O período é crítico e o perigo espreita: Existe um Risco Muito Alto de Infecção por SARS-CoV-2 via o seu receptor ACE2 nestes animais. Este recente estudo acentua-lo sem complacência.
Muitos outros Animais têm sido sinalizados como de «Alto Risco» (mamíferos marinhos, baleias, golfinhos e até hamsters). Outros (animais domésticos), apresentaram um «Risco Médio», como por exemplo: gatos, ovelhas e demais gado. Cães, cavalos e porcos apresentaram «Baixo Risco» de ligação de ACE2.
Como isso se relaciona com a Infecção (ou mesmo o grau de risco da doença se poder determinar) é algo que para já terá de fazer um longo caminho, asseveram os investigadores, havendo a necessidade de se fazerem mais estudos, estudos futuros, para que se possa determinar com todo o rigor possível toda essa correlação; todavia, os dados de infectividade agora registados e até aqui conhecidos, mostram que essa correlação é alta.
Em Casos Documentados de Infecção por SARS-CoV-2 em Visons, Gatos, Cães, Hamsters, Leões e Tigres, o vírus pode estar a usar os receptores ACE2 ou podem até usar receptores diferentes de ACE2 para assim obter acesso às células hospedeiras.
De acordo com os investigadores da UC Davis «Uma Menor Propensão para Ligação» pode traduzir-se em menor propensão para a Infecção - ou uma menor capacidade para a infecção se espalhar num animal ou entre animais, uma vez estabelecida.
Por causa do potencial dos animais contraírem o «Novo Coronavírus dos Humanos» - e vice-versa - instituições tais como o Zoológico Nacional e o Zoológico de San Diego, nos Estados Unidos, que contribuíram com poderoso material genómico para o estudo aqui referido, fortaleceram programas com o intuito da Protecção Animal e Humana.
O co-autor do estudo Klaus Peter Koepfli, investigador-sénior da Smithsonian-Mason School of Conservation e ex-biólogo conservacionista (ambientalista/ecologista) do Smithsonian - do Centro de Sobrevivência de Espécies e Centro de Genómica de Conservação (Conservation Biology Institute) - reproduz em jeito de conclusão:
"As doenças zoonóticas e, como prevenir a transmissão de humano para animal, não são um novo desafio para zoológicos e profissionais de cuidados com animais. Esta nova informação vai permitir-nos concentrar os nossos esforços num plano que adequadamente possa manter os animais e os seres humanos seguros."
Os autores do estudo recomendam de forma peremptória o uso de muita cautela contra a «Interpretação Exagerada» (ou abusiva) dos riscos apossados pelos animais e assim previstos com base nos resultados computacionais, observando-se então que - Os Riscos Reais - só podem ser efectivamente confirmados através de dados experimentais adicionais. A lista de animais está registada aqui, aferem os investigadores.
Esta Pesquisa vem mostrar assim que o ancestral imediato do SARS-CoV-2 muito provavelmente foi derivado ou teve como origem-base uma espécie de Morcego.
Descobriu-se aliás, que os morcegos apresentam indefectivelmente um risco muito baixo de contrair o Novo Coronavírus, por meio do seu receptor ACE2 - o que se torna consistente com os dados experimentais reais.
Ainda não se sabe se - Os Morcegos - transmitiram ou não e de forma directa o novo coronavírus aos humanos; ou se ele passou por um Hospedeiro Intermediário. Contudo, o estudo apoia legitimamente a ideia de que um ou mais hospedeiros intermediários estiveram envolvidos neste processo.
Estes agora recentes dados irão permitir revelar de forma sucintamente clara aos investigadores, quais as espécies que podem ter servido como hospedeiros intermediários na Natureza, sendo estes dados uma preciosa ajuda ou auxílio reforçado para que se possa controlar, de futuro, um próximo surto epidemiológico (ou de grave infecção) causado pelo SARS-CoV-2 em populações humanas mas também animais.
(Em referência - os autores adicionais do estudo são: Marco Corbo, da UC Davis Genome Center, USA (EUA); Graham M. Hughes e Emma C. Teeling, da University College Dublin, na Irlanda; Kathleen C. Keough e Katherine S. Pollard, da UC San Francisco, USA (EUA); Corrie A. Painter, Nicole S. Persky, Diane P. Genereux, Ross Swofford, Kerstin Lindblad-Toh e Elinor K. Karlsson, do Broad Institute of MIT e Harvard, Cambridge, no Massachussetts; Michael Hiller, do Institute Max Planck de Biologia Celular Molecular e Genética de Dresden, na Alemanha (UE); Andreas R. Pfenning, da Carnegie Mellon University, em Pittsburgh na Pensilvânia (EUA); Huabin Zhao, da Universidade de Wuhan, em Wuhan, na China; Oliver A. Ryder, do Instituto de Pesquisa e Conservação do Zoológico de San Diego (UC San Diego), nos Estados Unidos; Martin T. Nweeia, da Harvard School of Dental Medicine em Boston, e do Smithsonian Institution, em Washington DC)
A Pesquisa realizada neste estudo foi coordenada como parte da Organização Genome 10K, que inclui o Bat 1K, Zoonomia, o «Vertebrate Genomes Project» e o «Earth BioGenome Project».
(As informações genómicas para o estudo também foram fornecidas pelo GenBank do National Center for Biotechnology Information; pelo «Frozen Zoo» do San Diego Zoo, nos EUA, e pela Smithsonian`s Global Genome Initiative (GGI), também nos EUA. Este trabalho foi financiado pela Robert and Rosabel Osborn Endowment.)
Estando em causa a biodiversidade do planeta e, consequentemente, a extinção de grande parte destas espécies aqui referidas - entre muitas outras que não conseguimos ainda aflorar e desvendar no seu todo, imersas que estão por todo o planeta em áreas muitas vezes inexploradas (de plantas e animais incrivelmente belos e profundos de uma coexistência que nem imaginamos sequer) - está e estará ainda por algum tempo, a sempre presente ameaça de outros perigos, outros vírus, que não apenas os cimentados ou firmados pela mão gananciosa e caprichosa do Homem.
No entanto, e muito pior do que uma qualquer Alteração Climática, como também aqui foi registado, estará a potencialidade desta nova virulência, deste novo coronavírus que a todos apanha, humanos e animais.
O SARS-CoV-2 (causador do COVID-19) não escolhe. É aleatório entre os seres humanos, mas também por entre os animais com maior ou menor incidência de grau de risco. Cabe agora aos cientistas cuidar dos nossos animais e das investigações a eles adjacentes sem desprestigiar ou desconsiderar a situação desses seres sencientes que apenas pretendem viver em paz e equilíbrio no seu habitat natural.
Haverá por certo outra ameaça, outra contingência, ou uma outra epidemia (que não pandemia desejamos todos...) sobre um ou mais vírus em ameaça latente de toda uma fragilidade humana que ainda não conseguimos debelar. Ou evitar. Nem nós nem os animais em transmissão directa dos surtos que nos atacam ou das guerras bacteriológicas e virais com que entretanto temos de lidar.
Para os animais é certamente «Uma Nova Ameaça» como o foi e está a ser ainda para todos nós. Contudo, há que acreditar que a maior ameaça que poderá surgir no planeta não são nem serão nunca as determinações, tal como espaciais missões, que continuamos a estudar, a investigar e a conseguir erradicar (no caso dos vírus) na melhor de todas as hipóteses.
Uma Nova Ameaça só chegará - para humanos e animais - se nos deixarmos desistir e contribuir assim para uma outra extinção: a da nossa própria sobrevivência, desgarrada e descontinuada de todas as outras espécies que connosco partilham o planeta Terra.
Sejamos justos e honestos: façamos reviver a fauna e a flora que perdemos e os deuses ser-nos-ão igualmente justos; de contrário, penaremos todos em larga e conflituosa prisão sobre aquela grande e fortificada ameaça de sermos todos extintos por nossa própria culpa e punição.
Mas quero acreditar que não. E que um dia voltaremos a ser merecedores de tudo em nosso redor... sem ameaças... sem amarras... e com o poder científico cimeiro de também nós, humanos, já não sermos nem podermos ser ameaça para mais ninguém. Muito menos para os animais!!!
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