Há almas eternas, outras imortais e talvez até mesmo outras confortavelmente emanentes sobre o Universo; cabe-nos a nós descobrir quais as que nós somos, por outras que andam por aí...
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domingo, 20 de agosto de 2017
Memórias do Mar (VI)
Réplica de Nau Quinhentista fundeada em Vila do Conde, Portugal. O que nos resta da História dos Descobrimentos em enganos e lamentos, deturpações e outras sonegações, que tantos outros cometem por interesses vários de nunca se saber de toda a verdade...
«Assim fomos abrindo aqueles mares, que geração alguma não abriu.»
- Luís Vaz de Camões -
O grande paradigma forjado de verdade, do não menos grande paradoxo de quem de facto descobriu a Austrália, sendo para muitos de nós, talvez, um dos maiores mistérios se não a grande verdade oculta, para muitos escondida e devassadamente penhorada, de muitas outras razões que se perdem na História...
John Bull (James Cook) ou Cristóvão de Mendonça, eis a questão. Aprofundada e sobejamente analisada por alguns (em particular, o australiano Kenneth Gordon McIntyre, no seu impressionante livro: «A Descoberta Secreta da Austrália») em que se demonstra documental e copiosamente todas as argumentações possíveis na autenticidade desta descoberta ter sido de origem, ordenação e coroa portuguesas. E de um reino, de Dom João III que tudo sabia mas não dizia.
E se alguns o contradizem, muitos ainda que se não demitem de evocar uma verdade que só deles é, apenas estará, porventura, a camuflar essa mesma verdade, adiando-a, procrastinando-a sem qualquer empenho ou salvação, pois que, tal como o azeite, acabará por à tona sempre vir... seja lá em que mês, ano ou século forem... Um dia o saberão!
Mais que peleja ou mais que inveja, na posse desapegada do que foram esses homens por esses mares fora e de lá não voltaram, por outros que ficaram, sobre a terra e sobre o mar - da costa australiana - e mais tarde a Lisboa rumaram sem nada confessarem, sem nada deixarem escapar de tão belas praias que ninguém jamais houvera visto, houvera tocado ou assim desejado, em tão mar azul ou em tão vasto território...
Austrália ou continente australiano em toda a sua pujante geografia e posição capital extraordinária na Oceania. Território extremamente extenso, sendo recortado pelo Trópico do Capricórnio.
O silêncio por um tratado...
Austrália: como não ter sido descoberta pelos Portugueses...? Como não reconhecer historicamente o que há muito se apela e desdobra em provas documentais - reias e fidedignas - de toda uma diversificada e factual aferição sobre o que, em tempos idos, na era quinhentista, os portugueses influenciaram sem que nada se soubesse então?!
E o porquê deste silêncio amórfico, quase patológico, agora que são passados cinco ou seis séculos após tão novos factos e artefactos da passagem dos portugueses por uma terra que antes de ser de Sua Majestade, a rainha Isabel de Inglaterra, seria a de um outro rei, seu amigo de longa aliança? E destes novos tempos em novas averiguações e, conclusões, o porquê da não inversão dessa tão ignóbil e irreversível pugnação de ter sido James Cook o seu descobridor...???
Se fomos até Goa e Macau, Moçambique e Timor e além mais, da China ao Japão, por que razão não teríamos alcançado o continente australiano, ali tão perto, ali tão soberbamente inviolado, pejado de todas as coisas imberbes, naturais, caprichosas de serem tomadas, desejosas de serem faladas, ainda que não tão devassadas quanto o foram as Índias Ocidentais da época; por que teriam os portugueses negligenciado aqueles ventos, aquelas marés, que os levaram até essa outra terra desconhecida...???
E se não fosse por ensejo ou fastio (ou outros mais arqui-desígnios geo-estratégicos políticos em alto secretismo, em alta confidencialidade, de se não tomarem terras que lhes não fossem prioritárias ou licenciadas por outros reinos, como o de Castela) desse nosso rei e senhor, El-Rei de Portugal, Dom João III (1521-1557) o ter sabido, o ter investido, mas nada desse local se ter sabido então.
E tudo teria sido mais limpo, mais transparente como as águas desses mares e dessas costas australianas, não fora o ter-se tomado de juras e cumprimentos por, um mui rigoroso e veemente tratado - Tratado de Tordesilhas - definindo-se meridianos e pertenças e tudo ter ficado, depois, turvado e mal explicado ou apenas sonegado a quem de direito. E de quem seria esse direito...???
E que juras foram essas, sobre a honra dos reinos e sobre o Papa de então e todas as coisas fiéis, mandatadas de palavra e coroas - portuguesa e espanhola (entre os reinos de Portugal e Castela) - no célebre Tratado de Tordesilhas, assinado indelével e inexcedivelmente em 7 de Junho de 1494, das duas partes; ou rectificado em 2 de Julho de 1494 por Castela. Ah, se se soubesse no que mais tarde se emparedava de tanta polémica, de tanta mestria (ou somente secretaria, de ganhos e aforismos), de séculos vindouros em verdade escondida, em mentira havida...
Mapa de então. Mapa da Austrália ou Mapa de Dieppe, ou seja, um dos que fazem parte de um grupo de Mapas mundiais franceses do século XVI, que retratam uma grande massa terrestre entre a Indonésia e a Antárctica (denominada então «Java la Grande»).
Austrália: A Teoria da Descoberta Portuguesa!
Banhada ao sul e a oeste pelo Oceano Índico, a noroeste pelo mar de Timor, e a leste pelos mares de Coral e da Tasmânia, qual o motivo ou força maior (supostamente por imposição e alvitres reinantes de um rei português sobre suas razões de cariz geo-político de Portugal sobre Castela) que terá feito calar esta descoberta...???
Insta-se para já, segundo esta reverenciada teoria da Descoberta Portuguesa da Austrália, que terão sido - Os Portugueses! - os primeiros navegantes a terem descoberto este distante e mui distinto território da Oceania, assim como os primeiros europeus a visitá-la por meados de 1521 e 1524 (e muito antes da chegada do navegador holandês, Willem Janszoon, em 1606).
A presença de colónias portuguesas no Sudeste Asiático a partir do início do século XVI (em particular sobre a região portuguesa de Timor), torna-se por demais evidente - ou mesmo vinculativas as ideias e as certezas - de que foram os portugueses os descobridores da Austrália; tanto nos relatos encontrados como nas evidências do que por lá deixaram; e isto, numa zona de aproximadamente 650 quilómetros da extensa costa australiana, por meados de 1513-1516.
Várias antiguidades, relíquias e muitos artefactos foram então encontrados ao longo dos séculos nas costas australianas; factos e artefactos que incentivam os historiadores e mesmo alguns arqueólogos marinhos/subaquáticos a designarem-nos como salvados de origem portuguesa em registo irrefutável de navegantes e naus deste reino sobre este imenso continente (que continua, ainda hoje e, enfaticamente, a acreditar numa imbecil meia-verdade ou jocosa mentira sobre quem foi verdadeiramente o seu descobridor...). Mas um dia tudo se saberá, acredita-se!
Réplica da caravela Vera Cruz. Caravela das épocas quinhentista/seiscentista (século XV e XVI), que ainda hoje nos fazem sonhar por tão belas serem, mesmo que frágeis e pouco consistentes com o que o mar lhes aguardava. Fortes os marinheiros de então, heróis sem nome mas de grande coração e encorajamento, ou nada se teria descoberto (mas não revelado) sobre terras que de outros eram...
Impere-se a Verdade!
«Assim fomos abrindo aqueles mares, que geração alguma não abriu.» - Luís Vaz de Camões.
A citação é do nosso maior cronista ou escritor, poeta e trovador Luís Vaz de Camões que tudo nos ensinou, fazendo visualizar os tão grandes feitos portugueses de aquém e além-mar através dos Lusíadas, a sua mais icónica obra que é também de todos os portugueses e do mundo. Mas esta citação em particular, está agora bem patente numa inscrição sobre um padrão português que foi oferecido pelo Governo de Portugal, à cidade australiana de Warrnambool.
Inaugurado a 25 de Fevereiro de 1990, ao som de danças e cantares folclóricos portugueses, ele é a face mais visível de uma lenda que diz ser português o casco de um navio avistado e, seco, na baía de Armstrong, há quase 200 anos - a oito quilómetros de Warrnambool, no estado de Vitória, que tem como capital Melbourne, na Austrália.
Tal descoberta provaria ainda que, os Primeiros Exploradores Portugueses Europeus a chegar a estas costas australianas, teriam sido sem sombra de dúvida, os Portugueses, no início do século XVI. Para quando a rectificação ou verdade histórica reposta? A quem cabe tantos interesses que se não saiba da verdade...? E porquê???
O Padrão de Warrnambool, oferecido em 1990, pelo Governo Português de então.
A Investigação de McIntyre
O Australiano - Kenneth McIntyre é o grande defensor da tese que atribui a descoberta da Austrália a uma armada de três navios portugueses comandada por Cristóvão de Mendonça e que aqui terá chegado por volta do ano de 1522. A árdua e séria investigação de McIntyre prova, acima de tudo, que nada está confinado a uma só verdade, pois que tem o mérito com toda a honra e análise, reiterar que os Portugueses foram os descobridores deste grande continente.
Admite assim que, oficialmente, o capitão português terá saído de Malaca (provavelmente em finais de Dezembro de 1521), para demandar a ilha do Ouro. Um paraíso onde se dizia que, os indígenas, trocavam panos por grandes quantidades do precioso metal amarelo e que as crónicas situavam cerca de 500 milhas a sueste de Sumatra. Contudo, a verdadeira missão de Mendonça seria altamente secreta, consistindo sim em descobrir mais terras, já que havia dúvidas quanto ao meridiano de Tordesilhas a oriente...
Para o investigador australiano (assim como para alguns portugueses), parece praticamente impossível que os Portugueses se tivessem contentado em parar por Timor. É quase tão mau quanto - metaforicamente ou não - o morrer-se na praia... Ou seja, sem que estes tivessem havido a habilidade, mesura ou intuição pouco audaz de se não fazerem atravessar as 285 milhas de mar que os separavam da Austrália. Reza a lenda que terá sido um desses navios que encalhou nas areias da baía Armstrong...
Inscrição nesta lápide de pedra em registo da passagem dos portugueses pela Austrália: «In 1847 There were found on this site in Limeburner Bourchier`s kiln fifteen feet below the surface of the ground the Geelong Keys (...)».
O que por tradução mais abrangente se pode concluir de que no ano de 1847 foram descobertas evidências (15 pés de forno, encontrados sob a superfície, ou abaixo, no chão) as chaves de Geelong (...)».
Apesar de não distinguível em toda a sua mensagem, esta inscrição revela o quanto está presente nos australianos a referência sobre o capitão português - Cristóvão Mendonça - que ali terá chegado por volta do ano de 1522. E, além do mais, a premente ou quiçá pertinente questão sobre a verdadeira origem (que além os tempos se vem conjecturando mas sem a primazia de se apresentarem novas referências ou conclusões, insinua-se) sobre se, os australianos têm como origem os ingleses, os portugueses ou quem mais...???
Nau quinhentista (réplica): Terá sido assim a nau perdida da lenda ou verdade esquecida sob os mares da Austrália, no «navio de Mogno» que um dia se avistou e depois se tornou a perder...? Quem o saberá dizer...?
A lenda do «Navio de Mogno»
O «Navio de Mogno» é assim conhecido pelo baptismo de fogo do seu descobridor, o capitão baleeiro John Mills que, entre 1843 e 1846, inspeccionou os seus restos por duas vezes; pena é que não houvesse na época uma análise mais profunda - em registo e em decoro científico - pois que hoje não seria mera especulação ou lenda-fantasma este navio ter de facto existido...
Nessa sua demanda de averiguação pessoal sobre aquele navio, John Mills, ao tentar cortar um bocado de madeira do casco, a lâmina do seu canivete partiu-se, levando-o a registar deste modo e por suas próprias palavras o seguinte: «As madeiras do navio, tanto na cor como na dureza, não parecem ser muito diferentes do mogno...».
Até 1880, os restos do «Navio de Mogno» foram avistados mais de quarenta vezes - 27 das quais oficialmente registadas, o que perfaz um manancial sobejamente fiel de testemunhos e factos que assim o comprovam. Sabe-se também que, a partir dos documentos entretanto estudados e criteriosamente analisados, se provou que as descrições coincidiam quanto ao tamanho do casco, posição e tipo de navio.
O «Navio de Mogno» ter-se-à vislumbrado por meados de 1843-1846 pelo capitão baleeiro John Mills; todavia, não havendo imagens ou esboços que o defina, só a nossa imaginação o poderá atenuar, no que em imagem actual de destroços de um navio igualmente sem grande sorte ou destino, restabeleceu assim a margem para o relembrar sem outra margem para tal assegurar...
O que o Mar nos devolveu...
Em meados de 1847, a cerca de centena e meia de milhas dali, por onde se observou os restos do «Navio de Mogno», na baía de Port Philip, foram encontradas cindo chaves, entretanto desaparecidas, e que se estimou terem mais de 3 séculos! Outros o afirmam em 15 chaves, como o aqui registado e já referenciado na lápide em que se distingue o nome do capitão Cristóvão de Mendonça; ou ainda, uma outra, em comemoração e homenagem aos Descobridores Portugueses, em Warrnambool, no estado de Vitória. Como Austrália nos parece agora tão pequena ou tão próxima de nós, portugueses...
E se os mistérios não acabassem aqui, poderíamos acrescentar ainda que mais haveria que a História nos esconde em solicitação e muita investigação por certo. Mas há que o dizer também de que, pura e simplesmente, a História (dos navegadores) se não redimiu de outras lendas, outros contos que o não são, mas, apenas verdades enterradas em lugares por onde andámos e há muito fomos...
E sem mistério, ou parte dele desvendado, poder-se-à encimar que a Presença Portuguesa foi rainha e beleza, foi cimeira e pioneira, foi tudo o mais que se possa imaginar naquelas paragens, já que, os Ingleses, só chegaram àquela baía apenas em 1802!
Em relação ainda ao «Navio de Mogno», por finais do século XIX, o casco naufragado acabou por desaparecer, mas a lenda manteve-se bem viva, transformando-se então num ex-líbris da cidade.
Uma das atracções de Warrnambool é a réplica de uma nau em tamanho natural, plantada mas mui avantajada de sua total beleza, em frente do restaurante McDonald`s. Sabe-se que, a entidade responsável pelo turismo local, não teve assim qualquer dúvida em aproveitar o «Navio de Mogno» para fomentar as visitas à cidade e aguçar dessa forma a curiosidade tanto de visitantes como de historiadores que teimam em querer saber mais sobre as suas origens. Premeia-se tal!
Réplica do hipotético mas mui verosímil agora, Navio de Mogno actual, navegando em águas australianas para gáudio e boa-ventura de quem nunca se esquece das suas raízes...
Em busca do «Navio de Mogno» perdido...
Em 1992, terá sido anunciado um prémio de 250.000 dólares para o felizardo que encontrasse os restos do famoso navio, numa estonteante e quiçá fantástica (mas soberba também!) caça ao tesouro em busca do navio perdido. É certo que a corrida não se fez esperar; no entanto, o mistério persiste.
Há quem diga que o navio se encontra enterrado na areia, numa profundidade de 12 metros, mas também há quem defenda que ele se encontra no mar, uma vez que nos últimos 100 anos, este conquistou mais de 70 metros de orla marítima em invasão territorial desmedida.
De qualquer maneira, as buscas continuaram. Ao que parece, na zona já foram abertos mais de 400 buracos. Vazios, infelizmente.
UNESCO: o que então se determinou sobre os caçadores de tesouros não seus...
Mergulhar à luz da Lei!
Sabendo-se que os Estados-nação são sempre por ordem, regra e lei os proprietários de todos os bens adquiridos sem proprietário conhecido, uma vez que localizado e capturado por qualquer mergulhador - profissional ou não - esse património marítimo ou subaquático não será seu. Sendo que, terá obrigatoriamente de o comunicar à estância aduaneira ou órgão local do sistema de autoridade marítima, com jurisdição sobre o local do achado (ou a qualquer outra autoridade policial ou directamente ao Instituto Português de Arqueologia, no caso de Portugal).
Tendo-se trabalhado arduamente na elaboração da Convenção para a Protecção do Património Cultural Subaquático (aprovado em Novembro de 2001, em Paris, durante a 31.ª Conferência Geral da UNESCO), houve a necessidade de se aprovar um conjunto de normas internacionais, tendo por objectivo a salvaguarda da exploração comercial do património submerso, tendo em conta também as pilhagens, o saque e toda a avassaladora circunstância dos «caçadores de tesouros».
Todos os artefactos encontrados ou património cultural, histórico e arqueológico que estejam submersos, em águas territoriais nacionais mas também internacionais, registam um código mundial encimado pela UNESCO com o objectivo e finalidade da protecção dos mesmos. Uma destas normas impede, em absoluto: «Toda e qualquer comercialização nos seus países, assim como a entrada de objectos ou artefactos exportados ou recuperados ilegalmente». E isto, em todos os países subscritores da Convenção.
Outros haverá que tentam, por todos os meios, prevaricar e tentar passar alguns destes artefactos, no que o policiamento à escala planetária terá de ser feito e bem conduzido, ou então de nada valeram estas meras intenções...
Muito há ainda por fazer, segundo altos responsáveis do CNANS (Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática, de Portugal); no entanto, ter-se-à caminhado no melhor sentido para que de futuro mais países possam aderir - até pela razão da sua própria preservação de achados subaquáticos não lhes serem igualmente pilhados ou devassados nessa contenda.
A «simples» aprovação deste documento, todavia, é considerada pelos investigadores como uma das principais conquistas que marcaram o final do milénio (do século XX para o XXI), assim como, um importantíssimo instrumento-guia para as futuras políticas sobre Património Cultural Subaquático.
Aplaude-se tal! E, tentando que o mesmo germine nos países que ainda possam não ter subscrito esta Convenção, o venham a fazer, a bem de uma mais saudável e íntegra recolha de bens culturais - e no fundo da global cultura patrimonial de todos nós - do que ainda dorme nos nossos mares. Assim seja!
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