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quarta-feira, 14 de outubro de 2020

elF2a: Um mui especial jogador!

 

A Consolidação da Memória e os seus dois distintos processos nas redes cerebrais. Impactantes e por demais motivantes, as insígnias pelas quais agora os cientistas se movem, desenvolvendo no combate terapêutico novos alvos de medicamentos em relação às doenças como Alzheimer e Autismo que envolvem, por vezes, complexos e martirizantes processos alterados de memória.

Ainda que a pandemia por COVID-19 nos continue a ensandecer (e muitas vezes desfalecer) sobre algumas das muitas esperanças havidas sobre vacinas imediatas ou curas milagrosas que surjam no mercado e nos façam retomar a vida de antigamente, há que planear e continuar a fomentar outras experiências, outros estudos e investigações biomédicas, sobre outras especificidades e concessões que igualmente nos preocupam a nível biológico, celular e molecular.

E por muito que estejamos solidários com as dores de Donald Trump (que parece ter sido bafejado com um sopro de Deus) ou mais recentemente o meu mais bravo guerreiro futebolístico português de seu nome Cristiano Ronaldo a quem o SARS-CoV-2 também alienou em circunstância ainda por explicar, a vida assume outras proporções que nos diligencia termos a obrigação - e quase a total depuração - de referenciarmos outros quadros clínicos. 

Quadros esses, que convém de igual forma analisar e buscar maiores soluções e tratamentos sobre padecimentos humanos, por vezes muito críticos e de grande sofrimento, que atingem grande parte da população mitigando a sua qualidade de vida e bem-estar.

Daí que os cientistas estejam atentos e nunca desistentes sobre essa outra realidade do mundo mnemónico humano em que por vezes nos vimos confinados - e algumas vezes adulterados - em memória que se esboreia e não franqueia como nos juvenis tempos em que tudo era liberdade de pensamento e soltura de sentimento.

Um estudo publicado na revista científica «Nature» no dia 7 de Outubro de 2020 com o título «elF2a controla a Consolidação da Memória por meio de neurónios excitatórios e de Somatostatina» é disso revelador. Outros chamam-lhe «Novo jogador-chave na memória de longo prazo» (Science Daily), pela qual é descrita a Memória de Longo Prazo ser controlada pela síntese de proteínas em células inibidoras.

Em resumo do que foi editado por investigadores da McGill University e outros investigadores e professores associados de outras instituições/universidades, declarou-se publicamente ter havido a descoberta que, durante a Consolidação da Memória, existem pelo menos dois processos distintos que ocorrem por sua vez em duas redes cerebrais também elas diferentes - As Redes Excitatórias e Inibitórias.

De acordo com os especialistas, os Neurónios Excitatórios encontram-se envolvidos na criação de um traço de memória, e os Neurónios Inibitórios bloqueiam o ruído de fundo, permitindo assim que o apendizado de longo prazo ocorra.

Esta equipe de pesquisa multi-institucional, liderada pelos reputados professores da McGill University Nahum Sonenberg e Arkady Khoutorsky, pelo professor da Universidade de Montreal Jean-Claude Lacaille, no Canadá (Université de Montréal) e pelo professor Kobi Rosenblum da Universidade de Haifa, em Israel (University of Haifa) - autores-sénior do artigo publicado na Nature - também descobriu que, cada sistema neuronal, pode ser efectiva e selectivamente manipulado para controlar a «Memória de Longo Prazo».

Esta Laboriosa Pesquisa, que por conseguinte responde a uma questão de longa data sobre quais os subtipos neuronais que estão envolvidos na «Consolidação da Memória», explanará também as potenciais implicações para com Novos Alvos de Medicamentos para doenças tais como as de Alzheimer ou mesmo o Autismo; em ambas, a idêntica envolvente de processos alterados de memória.

Para já, há que contemplar os autores do estudo. São eles: Vijendra Sharma; Rapita Sood; Abdessattar Khlaifia; Mohammad Javad Eslamizade; Tzu-Yu Hung; Danning Lou; Azam Asgarihafshejani; Maya Lalzar; Stephen J. Kiniry; Matthew P. Stokes; Noah Cohen; Alissa J. Nelson; Kathryn Abell; Anthony P. Possemato; Shunit Gal-Ben-Ari; Vinh T. Truong; Peng Wang; Adonis Yiannakas; Fatemeh Saffarzadeh; A. Claudio Cuello; Karim Nader; Randal J. Kaufman; Mauro Costa-Mattioli; Pavel V. Baranov; Albert Quintana; Elisenda Sanz; Arkady Khoutorsky; Jean-Claude Lacaille; Kobi Rosenblum e Nahum Sonenberg. 

A Evolução da Neurociência: Memória, Circuitos e Consciência. Estes são os três grandes motores de estudo e investigação por parte dos neurocientistas que, embora os dados já recolhidos sobre o nosso cérebro, admitem haver ainda muito por explorar sobre o mesmo.

"Os estudos sobre a memória fizeram progressos mas, ainda estamos muito longe de compreender o que sucede aquando nos voltamos a lembrar. Apesar dos grandes esforços, ainda compreendemos de forma vaga o que está a acontecer quando o visualizamos (...)."

O Neurobiólogo e historiador Matthew Cobb na sua ilustre obra «The Idea of the Brain» redige como tudo isso é ainda hoje insuficiente, apesar das muitas inovações e descobertas aferidas através das simulações de computador, visualizações por scanner e outras tantas práticas em referência reveladora do que o nosso cérebro é e, executa, mas igualmente e ainda nos esconde de si...

Em Busca dos Neurónios

Voltando ao nosso estudo inicial reportado na Nature, há que aludir a uma certa e determinada busca por parte dos investigadores da McGill University e demais participantes de que, havia a necessidade premente de encontrar esses tais neurónios envolvidos na «Consolidação da Memória».

Como as Memórias de Curto Prazo (que duram apenas algumas horas) se transformam em Memórias de Longo Prazo (que podem hipoteticamente durar anos...) os cientistas dizem ser sobejamente conhecido ou reconhecido há décadas, que esse processo denominado «Consolidação da Memória» requer a síntese de novas proteínas nas células cerebrais. Todavia, até agora, não se sabia quais os subtipos de neurónios que estavam ou não envolvidos neste processo.

Para Identificar quais as Redes Neuronais que de facto são essenciais na Consolidação da Memória, os investigadores nesta sua experiência utilizaram para isso pequenos roedores (camundongos) transgénicos para desta forma poderem manipular uma particular via molecular - de designação científica elF2a - nos específicos tipos de neurónios.

Esta particular via molecular já havia demonstrado desempenhar um papel fundamental no controle de formação de «Memórias de Longo Prazo» e, na regulação da síntese de proteínas nos neurónios. Além disso, sabe-se de que investigações anteriores também já haviam identificado essa elF2a como peça fundamental para com doenças do foro neurológico na perspectiva do neuro-desenvolvimento; ou seja, nas doenças neurodegenerativas.

"Descobrimos que a estimulação da síntese de proteínas via elF2a em neurónios excitatórios do Hipocampo foi suficiente para aumentar a formação da Memória e a modificação das Sinapses - os locais de comunicação entre os neurónios."   (Diz em revelação o Dr. Kobi Rosenblum)

"No entanto, curiosamente, também descobrimos que a estimulação da síntese de proteínas via elF2a numa classe específica de neurónios inibitórios - interneurónios de Somatostatina - também foi suficiente para aumentar a Memória de Longo Prazo, ajustando assim a plasticidade das conexões neuronais."   (Afiançou por sua vez o Dr. Jean-Claude Lacaille)

"É fascinante ser capaz de mostrar que estes novos jogadores - neurónios inibitórios - têm um papel importante na Consolidação da Memória. Supunha-se, até agora, que a via elF2a regulava apenas a memória por meio de neurónios excitatórios."   (Acrescenta também a não menos prestigiada investigadora associada no laboratório do Prof. Sonenberg e a primeira autora do artigo, a venerável Drª Vijendra Sharma)

Em apoteótica mas claríssima conclusão, o Dr. Nahum Sonenberg remata: "Estas novas descobertas  identificam a síntese de proteínas em Neurónios Inibitórios, e especificamente em células de Somatostatina, como um novo alvo para possíveis intervenções terapêuticas em doenças como a doença de Alzheimer e o Autismo. Esperamos que isto ajude na concepção de tratamentos preventivos e de pós-diagnóstico para todos aqueles que sofrem de distúrbios envolvendo déficits de memória."

Há que registar que esta pesquisa foi financiada pelo Centro de Pesquisa de Desenvolvimento  Internacional do Canadá (IDRC) em parceria com a Fundação Azrieli, os Institutos Canadianos/Canadenses de Pesquisa em Saúde (CIHR) e a Fundação Científica de Israel (ISF) para KR e NS, JCL - apoiado por uma concessão do projecto CIHR e a Cátedra de Pesquisa do Canadá em Neurofisiologia Celular e Molecular.

Descoberto que foi este extraordinário e mui especial jogador-mor de seu científico nome «elF2a», só nos apraz regozijar tão veemente proeza e feito espectaculares nos domínios da neurociência em especificidade na área da Neurofisiologia Celular e Molecular que tanto tem ainda para nos presentear.

Se temos ou não uma mais pormenorizada ideia do cérebro, é coisa que subjectivamente caberá a cada um de nós aferir ou mesmo individualizar em maior ou menor conhecimento. Segundo o autor do livro «The Idea of the Brain», o já célebre Matthew Cobb: "A nossa ignorância actual não deve ser vista como um sinal de derrota, mas como um desafio."

Concordamos. Em parte. Pelo muito, ou o outro tanto que há ainda por experienciar, vivenciar e supostamente comungar em quase homilia global de compreensão e discernimento sobre o que se passa verdadeiramente no nosso cérebro.

Cérebro este, que age espontaneamente e se exponencia como poderosa e extremosa máquina cerebral que tudo comanda, organiza e executa em perfeita rede mistral de uma também extraordinária energia de neurotransmissores, sinapses e afins que nos identificam e conduzem até ao destino físico final e quiçá espiritual. Enigmático sem dúvida, mas acima de tudo fascinante!

Havendo hoje este mui especial jogador (jogador-chave) elF2a como segmento imprescindível para o conhecimento da verdade no campo aberto de toda uma equipe que trabalha e produz para um objectivo final que é o da descoberta de Novos Tratamentos para certas doenças, então o resultado será sem dúvida de... Vitória! 

A Ciência começa todos os dias um novo dia. Com estes mui especiais jogadores e outros tantos que entretanto se venham a descobrir na glória de um campeonato mundial científico que a todos absorve e contemple - nas doenças que se minimizam e nos padecimentos que se redimem - chegaremos de facto à meta desejada, ao resultado esperado, de onde indefectivelmente sairemos todos vitoriosos. Bom jogo então. E que ganhe o melhor! E que o melhor seja pelo Bem da Humanidade!!!

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