Há almas eternas, outras imortais e talvez até mesmo outras confortavelmente emanentes sobre o Universo; cabe-nos a nós descobrir quais as que nós somos, por outras que andam por aí...
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quinta-feira, 28 de março de 2019
Morte Encefálica
Morte Encefálica/ME (morte cerebral/Brain Death): o fisiopatológico conhecimento actual que determina, fiscaliza e certifica em termos clínicos, a Morte. Somente determinada aquando ocorre a irremediável lesão do Encéfalo - na representação de um estado clínico irreversível, em que as funções cerebrais (telencéfalo e diencéfalo) e do tronco encefálico estão indefectivelmente comprometidas - é então declarada a Morte Encefálica.
"A Morte, essa que todos havemos de viver um dia, a que fere os nossos próximos ou os nossos amigos, talvez seja o que nos leva a não nos contentarmos em viver à superfície das coisas e dos seres, o que nos move a penetrar na sua intimidade e na sua profundeza."
(M. Hennezel - «Diálogo com a Morte», 1997)
Vivemos numa sociedade intensamente necrófoba, alicerçada e rodeada por todas as acumulações materiais - e por vezes ficcionais - de títulos e honras, medalhas e préstimos sem préstimo algum se encarados pela morte. E que não raras vezes se juntam numa inorgânica profusão em asséptica mistura que nos gera também alguma confusão de não sermos «nada» - ou não levarmos nada connosco - quando o poder da morte se nos abeira e arranca aos tropeções os folguedos da vida.
Não somos imortais. Não fisicamente. E isso aflige-nos, se endossarmos a certeza de sermos belos, perfeitos e incólumes em toda essa performance biológica e anatómica digna de deuses. Mas nem sempre é assim. Há quem se sinta feliz e condignamente ressuscitado em resplandecência e alguma luminescência se, de acordo com a lei da reencarnação, tudo voltar à vida sobre um outro corpo, uma outra vida e uma «mesma alma».
Em termos filosóficos tudo isto pode ser questionável; em termos religiosos também. Fica-nos então o que a Medicina descodifica - e identifica - com os seus códigos deontológicos e aparatos técnico-científicos de se considerar um indivíduo morto ou não.
O contexto institucional da Morte nas sociedades modernas é tão mórbido quanto o acto de morrer. Só ou acompanhado, a morte não distingue a sofisticação ou a depauperação do leito e da classe, a sabedoria da ignorância, o génio do insano, o feio do bonito, o exemplar ou cristão do profano.
A Morte é sombria. E fria. Lúgubre e pérfida e, tal como proferiu um dia António de Lobo Antunes, o psiquiatra e escritor português de grande relevo: "A Morte é uma Puta!"
Morte Encefálica (cintolografia/cintigrafia/gamagrafia): o actual e eficaz método de diagnóstico por imagem da Medicina Nuclear. Estes exames de imagem têm por objectivo a identificação dos vários diagnósticos sugeridos, tais como: tumores, metástases ou mesmo a progressão da doença inserida no paciente. A tecnologia envolvida e, desenvolvida por este meio, veio conquistar assim um campo maior sobre a certeza do diagnóstico requerido, compondo um rastreio que se impõe mais rigoroso.
Interditar a Morte: o impossível!
Sendo um dos mais antigos mistérios da Humanidade - a Morte - é-nos dada a conhecer como uma fase terminal de todos os nossos sinais vitais em anunciada meta da qual ninguém pode fugir ou escapar. Daí que embora algo desconfortáveis, tenhamos todos a conformável acessibilidade a aceitá-la (ou talvez e apenas a tentar compreendê-la), se envolta na subjectividade racional e científica e não, em carência ou emocional inflexibilidade, rejeitá-la taxativamente como se tal fosse possível.
Em termos clínicos, os investigadores e especialistas aferem de que a Morte Encefálica é hoje uma clara evidência desse estado, na irreversível e irremediável constatação da lesão central nervosa que efectiva a Morte legal, clínica e/ou social.
Para definir a morte são necessários três pré-requisitos: Estado de Coma (com causa conhecida e irreversível); Ausência de Hipotermia; Hipotensão ou distúrbio metabólico grave; Exclusão de Intoxicação Exógena ou efeitos de medicamentos psicotrópicos.
A Morte Encefálica baseia-se na concomitante presença do estado comatoso sem resposta ao estímulo externo, segundo referem os médicos. Mas também na inexistência de Reflexos do Tronco Encefálico e Apneia.
O Diagnóstico é assim composto e estabelecido por dois exames clínicos, com um intervalo de no mínimo 6 horas entre eles (por protocolo hospitalar com a referência de serem realizados por profissionais diferentes e não vinculados à equipa de transplantes). Os médicos neurologistas têm a última palavra na sequência e após os exames realizados e de todos os protocolos realizados.
Segundo estabelecem estes cânones profissionais, é obrigatória a comprovação - por intermédio de exames complementares - que se registe a ausência no Sistema Nervoso Central de perfusão ou actividade eléctrica; e ainda do metabolismo.
Morte Encefálica significa «morte» tanto em termos legais como científicos. É essencial, prioritário e mesmo eticamente estabelecido de que, todo o Profissional de Saúde (especialmente o médico assistente), esteja familiarizado com o conceito de «Morte Encefálica», para que a aplicação da tecnologia na sustentação da vida seja benéfica.
Sustentação de vida essa - individual e socialmente comprometida - e não somente como indiciadora ou motivadora de uma qualquer intervenção inadequada, extensão do sofrimento e angústia familiar; ou mesmo o prolongamento inútil e artificial da vida.
De referir ainda de que - O Exame Clínico Neurológico - é universalmente a base do diagnóstico de ME (morte encefálica). O paciente sob suspeita de ME deve ser - sempre! - examinado de forma precisa, seguindo uma rotina invariável. O neurologista deve cumprir o protocolo estabelecido e requerer através dos exames realizados a conclusão aferida sobre o paciente.
O Estado de Coma e Morte Encefálica: dois temas diferentes! No primeiro caso este estado pode ser reversível no paciente; no segundo caso não. A ventilação mecânica instituída nos anos 50 do século XX - associada ao suporte básico e avançado de vida - veio dar ânimo e acordo científico a um maior prolongamento de vida; ou seja, permitiu-se de forma mais abrangente e eficaz a capacidade de se expandirem os cuidados de saúde aos pacientes mais graves.
Diferenças entre a Morte e a Vida...
O surgimento do método científico observacional e a sua utilização na construção racional da explicação médica do «Ethos» (meio), da «Vitae» (vida) e, consequentemente, do fim da vida (morte), foram essenciais e marcantes no desenvolvimento da Ciência Ocidental. Quem o afirma é o neurocirurgião Eric Grossi Morato, do Serviço de Neurocirurgia do Hospital das Clínicas UFMG, de Belo Horizonte, no Brasil.
O Doutor Morato (também instrutor do ATLS - «Advanced Trauma Life Support») afirma de modo peremptório de que, a nível histórico, essa referência institui-se como «Essa herança helénica que permanece na concepção do real e do possível. A mesma explicação simples, autonómica, simpática e aristotélica, que atrelava as emoções humanas a um músculo involuntário torácico, continua hoje enraizada no conceito da morte definida pela cessação das funções cardiopulmonares.»
As Diferenças: O Estado de Coma é caracterizado pela ausência de consciência, provocado ou causado por uma mui grave perturbação do funcionamento cerebral reversível ou irreversível, devido a traumas, acidentes vasculares cerebrais, distúrbios metabólicos, envenenamento ou asfixia. O Coma Induzido é geralmente administrado pelo médico sob condições estritamente específicas através de rigorosa medicação.
O Prognóstico de um Paciente que se encontre em Coma depende em muito das causas e da duração da enfermidade/patologia ou agente/factor patogénico que o provocou. A idade do paciente assim como a sua ficha clínica de antecedentes também exercem influência neste estado. Existindo vários níveis (escala) de consciência, o paciente pode oscilar entre estes níveis ou a morte encefálica.
Pode inclusive permanecer num Estado Vegetativo persistente (de larga duração), no qual o cérebro mantém as suas funções automáticas mas nenhuma actividade voluntária por parte do paciente.
Um paciente em Coma pode respirar mesmo depois do ventilador que o assiste lhe ser retirado, verificando-se a actividade cerebral e o fluxo sanguíneo no cérebro.
Em termos vulgares (para um melhor entendimento no cidadão comum), no estado comatoso o paciente pode então respirar sem o auxílio do ventilador e/ou ter actividade cerebral e fluxo sanguíneo no cérebro; no caso de morte cerebral, mesmo havendo batimentos cardíacos e os movimentos respiratórios se observarem presentes (assim como a temperatura corporal que se mantém regular), nada é indicador de que o paciente esteja de facto vivo.
Todo este estado inalterado no paciente conduz muitas vezes a uma enorme infelicidade e, sofrimento, mas por parte dos familiares que nem sempre compreendem esta situação; em particular de quando esta se verifica arrastada no tempo.
(De facto, nunca ninguém nos prepara para a visualização da morte... nem tão-pouco para o que ela se traduz em total despojamento ou consideração para com a nossa dor...)
ME/Morte Encefálica: a completa e irreversível perda das funções encefálicas. Em seguimento e procedimento instituídos após essa declarada morte cerebral, cumpre-se então um protocolo específico - determinado por legislativa assumpção que é singular em cada país - significando a morte do indivíduo na concepção ética, social, religiosa e científica.
Em Portugal, seguindo-se o estabelecido no Reino Unido (que reconhece dois exames clínicos alinhados), pratica-se um protocolo específico (Lei nº 22 de 29 de Junho de 2007, na directriz da Lei análoga do Parlamento Europeu) que determina legalmente a morte do indivíduo.
"A Morte Encefálica é a perda da função do cérebro e do tronco encefálico, resultando em Coma, ausência de respiração espontânea e de todos os reflexos do tronco encefálico. Os reflexos medulares, incluindo os reflexos tendinosos profundos, de flexão plantada e retirada, podem estar preservados. Não ocorre recuperação." (Kenneth Maiese, chefe de serviço do Departamento de Neurologia e Neurociências, da Rutgers University, em New Jersey, nos EUA)
Morte Encefálica
De acordo com o doutor Kenneth Maiese o conceito de morte cerebral evoluiu porque: "Os ventiladores e as drogas podem manter indefinidamente as funções cardiopulmonares e outras funções corporais, apesar da interrupção completa da função cerebral. Portanto, a definição de Morte Cerebral (e a interrupção total da função cerebral integrada, especialmente a do tronco encefálico), tem sido amplamente aceite - do ponto de vista legal e social - na maior parte do mundo."
Diagnóstico: Determinação (em série) dos critérios clínicos; teste de apneia; EEG (algumas vezes) e/ou exames de imagem de AVC - acidentes vasculares cerebrais; Hipotermia (-35º) que deve ser aumentada lentamente para 36 graus positivos. E, se houver suspeita de estado epiléptico, deve ser feito EEG. (Testes sucessivos por 6 a 24 horas são tipicamente feitos nas directrizes, para determinação de Morte Cerebral em pacientes com mais de 1 ano de idade).
De registar que por vezes, o EEG ou testes de Perfusão Cerebral, são usados para confirmar a ausência de de actividade cerebral - ou fluxo sanguíneo cerebral - e assim, fornecerem as evidências adicionais aos membros da família do paciente em causa.
Em geral este exame ao paciente inclui: Avaliação da Reactividade da Pupila; Avaliação dos Reflexos Oculovestibulares, Oculocefálicos e Corneanos.; Teste de Apneia; (às vezes) EEG ou Testes de Perfusão Cerebral.
Prognóstico: Segundo o doutor Maiese "Após a confirmação da Morte Cerebral, todos os tratamentos de suporte cardíaco e respiratório são encerrados. A suspensão do suporte ventilatório resulta em arritmias terminais. Podem ocorrer reflexos motores medulares durante a apneia terminal; incluem arqueamento do dorso, rotação do pescoço, enrijecimento dos membros inferiores, e flexão dos membros superiores - conhecida como «sinal de Lázaro»."
(Emocionalmente pode ser um espectáculo avassalador e por demais aterrorizador, sem contudo infligir dor no paciente em morte encefálica. Para os entes queridos que assistam a esta última cena hospitalar, o que se pede é que mantenham a compreensão devida para o acto, mantendo-se calmos. Evidentemente que nem sempre isso sucede, o que é compreensível, na minha opinião)
O Doutor Kenneth Maiese costuma alertar para o seguinte facto: «Os familiares que desejam estar presentes durante o desligar do ventilador, devem ser obviamente alertados para a ocorrência desses movimentos e reflexos» (Kenneth Maiese, MD, Member and Adviser, Biotechnology and Venture Capital Development, Office of Translational Alliances and Coordination, National Heart, Lung and Blood Institute; Past Professor Chair, and Chief of Service, Department of Neurology and Neurosciences, Rutgers University, EUA.
ME (morte encefálica ou cerebral): as possíveis causas. São muitas. Todos os dias os acidentes, as diversas situações quotidianas com que nos deparamos, acontecem. Existem e preenchem os hospitais (por vezes) como a última morada de quem mais nada tem do que um corpo ligado às máquinas sem essência de vida alguma - nem mesmo o despudor do lancinante estertor da morte!...
E é aí que tudo se observa: Tudo o que existencialmente já foi e não é mais; por esse tudo (ou algo) que cerebralmente impossibilita a expansibilidade do crânio, causando compressão e diminuindo a actividade cerebral em factor acrescido e evidente no registo de danos no Sistema Nervoso Central.
Na irreversibilidade desses danos, fica sentenciada a nossa condenação à morte que já ocorreu mas, apenas os médicos sabem, depois de aferidos os testes corrigidos...
As causas que levam a esse último e agreste caminho são várias: Traumatismo craniano; Falta de oxigénio no cérebro; Paragem cardiorrespiratória; Hemorragia/derrame cerebral ou Acidente Vascular Cerebral (AVC); Edema ou Inchaço cerebral; Aumento da pressão intracraniana; Carência de glicose no sangue; Tumores; e não raras vezes também por Overdose (por excessiva adição de psicotrópicos/estupefacientes)
A Morte Hospitalar
Nascemos e morremos. Em grosso modo é isto. Quase sempre num hospital, que, muitas das vezes, é o nosso último reduto que nos vê como seres vivos em despedida dessa mesma vida.
Por muito impessoal, mecanizado, desumanizado e medonho que seja essa instância hospitalar ou mesmo interdita guarita onde nenhum de nós se quer refugiar, a nossa incapacidade é total para tal contrariarmos ou demovermos quem quer que seja para nos acudir; para nos fazer fugir dessa nossa desgraça pessoal de não termos forças nem para gritar a nossa última vontade.
Segundo Bayard escreveu em 1993 no seu livro «Les sens caché des rites mortuaires - Mourir est-il mourir?», é a vida que dá sentido à morte; é a morte que culmina uma história e glorifica a vida. Diz ele: «A Morte é um tempo de paragem (ou decisão) num infinito ciclo de evolução e faz parte da ordem natural. Nós humanos, não somos mais do que um instante da vida eterna»
E assim é. Pelo que, hipoteticamente, todos podemos vir a ser considerados pacientes em risco ou nessa tão crítica plataforma clínica de nos serem observados os sinais vitais - e todas as já referidas e anteriores diligências de exames reais que se fazem segundo o que foi previamente estabelecido - para se saber se se está ou não em morte cerebral.
Ninguém está isento nem ausente sobre este protocolo; e a vida mais não é do que uma morte anunciada desde o dia em que nascemos!...
O término: depois de verificada a Morte Cerebral ou Morte Encefálica o que resta? As doações de órgãos, se a legislação permitir e o corpo não rejeitar - o dos vivos. O processo de doação de órgãos nem sempre é fácil ou de acordo com a ideologia religiosa de cada um. Eticamente existe um protocolo que é estabelecido de acordo com o que cada país remete e reverte sobre essa questão.
(Depois de mortos somos espoliados dos órgãos sãos. Altruísmo ou somente a exigente vontade na urgência de órgãos para transplante...? Seja como for, acredito sempre que será por altruísmo!)
Em Portugal - segundo especifica um relatório dedicado ao tema sobre a doação de órgãos do Serviço Nacional de Saúde Português - «Podem ser dadores de órgãos todos os cidadãos que não se inscrevam no Registo Nacional de Não-dadores (RENNDA).»
Afirma-se também neste registo do SNS de Portugal que, nem todos poderemos ser dadores, estando esta causa relacionada com o local e a disponibilidade técnica na recolha de órgãos, uma vez que para tal será necessário que a «morte do paciente» se circunscreva a uma qualquer Unidade de Cuidados Intensivos de um qualquer hospital.
Ou seja, seremos todos eventuais dadores se porventura «morrermos» numa destas prestigiadas unidades hospitalares pelo imperativo factor - humano e clínico - de que só estas unidades podem preservar os órgãos (e as provas necessárias) para a correcta avaliação de cada potencial dador.
O Processo de Doação
Este processo revela-se sempre como um gesto de grande altruísmo. Mas nem sempre é assim. Para isso, a Lei Portuguesa remeteu que só os que o negassem, se dignassem a assinar e a registarem-se como não-dadores. Nada a comentar.
Segundo o «meu» SNS (de Portugal) reporta, existe uma longa lista de espera sobre quem espera e desespera por um Transplante; ou seja, uma doação de órgãos - e tecidos - que são quase sempre a inevitabilidade de uma futura cirurgia e prolongamento de vida.
Nem sempre havendo compatibilidade ou disponibilidade de órgãos para esse efeito (para mais na agravada situação da população portuguesa ser uma das mais envelhecidas da Europa), ser urgente que se tomem medidas no sentido disso reverter.
Nesta sucessão e sobre a reputada legislação Portuguesa todos somos potenciais dadores. Assim sendo, os órgãos e tecidos que podem ser doados são: Os Rins, Fígado, Coração, Pâncreas e Pulmões. Refere-se de que, de um Dador de Órgãos, também podem ser colhidos tecidos osteotendinosos (como osso, tendão, e outras estruturas osteotendinosas); córneas, válvulas cardíacas, segmentos vasculares e pele.
Dadores em Vida: A doação em vida só é possível se se cumprirem todas as condições ou requisitos instituídos para essa prática. E, estabelecidos nesta legislação. O dador tem obrigatoriamente de ser maior de idade (a partir dos 18 anos) e gozar de boa saúde física e mental.
Todos os envolvidos e participantes - do dador-receptor até à Entidade Verificadora da Admissibilidade para Transplante - têm de garantir os direitos havidos de ambas as partes (dador-receptor). Tudo passa por um crivo especializado e uniformizado com o que se pretende: que a doação ou transplante seja um caso de sucesso!
Da morte se faz vida e da vida uma outra que todos esperam em boa receptividade (que não rejeição) e longevidade. Assim seja sempre!
O Reconhecimento da Finitude da Vida: algo que poucos de nós enfrentamos com a coragem e a desinibição devidas (ou adquiridas) pelo tempo que nos resta ou por aquela maior sensibilidade de sentirmos que não somos afinal imortais. Poderemos sê-lo, mas segundo outras circunstâncias filosóficas e metafísicas que ainda nos transcendem ou não entendemos na totalidade...
«Escondemos a Morte como se ela fosse vergonhosa e suja. Vemos nela apenas horror, absurdo, sofrimento inútil e penoso, escândalo insuportável, conquanto ela seja o momento culminante da nossa vida, o seu coroamento, o que lhe confere sentido e valor» (M. Hennezel, «Diálogo com a Morte», 1997, pag.11)
Vencer a Morte
Segundo o autor português Abílio Oliveira no seu livro «O Desafio da Morte: A Morte tornou-se na ímpia invasora que assola a nossa cruzada terrena. Admitimos que só aos outros acontecem contrariedades, mas a indizível expõe-nos sinais, práticas, rituais. O desconhecido desperta-nos curiosidade mas também nos assusta, ao imaginarmos o pior para lá do véu. Pensar em símbolos é bem diferente de dar à Morte um rosto amado - que pode ser o nosso. Ela expressa-se continuamente, mas o nosso olhar distrai-se noutras direcções»
Que dizer de tudo isto...? Talvez só mesmo o doutor e neurocirurgião Eric Grossi Morato (Brasil) para nos fazer voltar à Terra, na sua máxima sapiência da mais inacreditável neurociência para nos também fazer reflectir sobre o «Reconhecimento da Finitude da Vida» ao acrescentar:
"O Reconhecimento da Finitude da Vida significa, naturalmente, o término de todas as medidas técnicas e tecnológicas aplicadas em sua sustentação. Isto representa redução da Distanásia, da angústia que envolve os familiares dos pacientes nessa situação, de gastos com recursos aplicados indevidamente na manutenção artificial da vida, além de possibilitar o aumento da Doação Humanitária de Órgãos (e tecidos) para as pessoas que aguardam nas intermináveis filas por novo órgão."
O Doutor Morato refere ainda com toda a clareza possível de que «A maioria das pessoas entende a ausência de incursões ventilatórias pulmonares ou de batimentos cardíacos, de forma cartesiana, como a iminência da morte. Porém, o que nos faz humanos, é a actividade vigorosa e incessante de triliões de neurónios localizados no Encéfalo. Logicamente, a cessação irreversível dessa actividade encefálica determina a morte humana»
Ainda que existam situações ou condições físicas que determinem a Mimetização de ME (morte encefálica), tais como o Síndrome de Encarceramento (locked-in); O Síndrome de Guillain Barré; A Intoxicação Exógena ou ainda a Hipotermia, estas nunca poderão (ou deverão) mimetizar completamente a ME - a morte encefálica.
Quem assim o afirma é o neurocientista de Belo Horizonte, o doutor Morato que assevera sem contemplações: «Porque o primeiro e mais importante pré-requisito para esse diagnóstico, é reconhecer e documentar a causa do Coma, além de se constatar a sua irreversibilidade»
Sugere ainda de que o Diagnóstico de ME tem de ser levado muito a sério por todos os países e profissionais de saúde envolvidos, sendo fundamental que seja discutido obrigatoriamente em todo o curriculum médico. Em jeito de conclusão o doutor Morato remata:
"A possibilidade de doação de órgãos e tecidos representa, paradoxalmente, diante da angústia e tristeza da morte, a perspectiva de que outras pessoas possam recomeçar e buscar nova vida com qualidade. Por isso, é necessária a familiaridade com os conceitos da ME, na sua correcta e rigorosa identificação. A participação ética de todos os médicos nessa árdua missão, possibilitará o aumento substancial de doações para o Transplante de Órgãos e Tecido!"
Finalizando este já longo texto, apraz-me aqui revelar um «Milagre da ME» ou, o que se poderá chamar de uma espécie de bênção de Deus (para quem é crente); ou mais exactamente um outro facto inédito na Medicina (que a cada dia deixa de ser assim tão inédito ou invulgar) como o nascimento de crianças em mães consideradas e, declaradas, em Morte Cerebral ou morte encefálica.
O nascimento de Lourenço, apelidado de «bebé-milagre» foi um feito inédito em Portugal. Lourenço Salvador trouxe-nos a esperança de uma nova vida por outra que nos deixou. A sua mãe morta manteve-o durante 15 semanas. Lourenço nasceu a 6 de Junho de 2016, no Hospital de São José, em Lisboa, Portugal. A notícia correu mundo e o mundo ficou mais belo por esta esperança de vida. Hoje, dia 28 de Março de 2019 outro milagre aconteceu: nasceu o Salvador!
Bebés-Milagre
Salvador - o mais recente bebé-milagre de Portugal - que nasceu hoje (quinta-feira, dia 28 de Março de 2019) com 31 semanas e seis dias de gestação e vida de uma mãe que esteve 56 dias em morte cerebral. É assim o segundo caso registado em Portugal de uma mulher em morte cerebral a dar à luz.
Lourenço nasceu a 7 de Junho de 2016, no Hospital de São José, em Lisboa, prematuro e com o peso de 2.350 kg. Permaneceu 15 semanas dentro do ventre materno da mãe considerada morta e após o óbito dela ter sido declarado pelas entidades competentes. A progenitora manteve uma gravidez até às 32 semanas.
Em 4 de Julho de 2016, com apenas 29 dias de vida, Lourenço Salvador teve alta da Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais da MAC (Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa) para onde havia sido transferido aquando o seu nascimento hospitalar. Quase como que «Nascido a 4 de Julho» poder-se-à acrescentar....
Quanto ao Salvador, as últimas notícias divulgadas pelos média é a de que se encontra bem «dentro do quadro da prematuridade», segundo o hospital, podendo vir a ter alta dentro de três semanas a um mês.
Ao nascer, Salvador apresentou algumas dificuldades respiratórias que justificaram apoio ventilatório, mas a perspectiva era que pudesse ser extubado a qualquer momento; momento esse que deve ter sido ultrapassado verificando-se agora e a cada instante o processo evolutivo do bebé, segundo os médicos.
"Acreditamos que ele vai ficar bem, mas os médicos ainda não conseguem perceber se o bebé terá algum tipo de sequelas a nível cerebral", as palavras de uma familiar próximo que se mantém cauteloso (segundo o que os próprios médicos lhe confidenciam).
(Confiemos então na Ciência e na destreza médica que rodeia o Salvador; isso, e o seu tão abençoado nome que nos faz sentir que um «Novo Salvador» chegou à Terra com todas as graças do mundo...)
Salvador, é assim o segundo bebé a nascer de uma mãe em morte cerebral como já se referiu. Mede 40 centímetros e pesa 1700 gramas de peso «pelo que são «adequados à sua idade gestacional», segundo informou a directora do Serviço de Neonatologia do Hospital de São José (HSJ), no Porto - Hercília Guimarães.
" A sua evolução é favorável dentro do contexto de prematuridade", registou o director clínico do HSJ, Carlos Lima Alves, numa conferência de imprensa. E ditou ainda: "Esta mãe, mãe do Salvador, não só lhe deu vida como também doou dois órgãos seus para transplante"
Uma equipa multidisciplinar falou então das questões éticas que se levantam sempre nestes casos de uma certa «intervenção sobre um cadáver». Neste particular caso nada se lhe opunha, determinaram.
"Esta mãe nunca se declarou como não-dadora - que seria a única razão que poderia impedir esta intervenção. O pai do bebé queria, a família mais alargada também queria; mas, se a determinada altura tivéssemos descoberto alguma patologia no bebé, não teria sido legítimo continuar com a intervenção, sob pena de incorrermos naquilo a que chamamos «distanásia»." (Afirmações ao Público de Filipe Almeida, o actual Presidente da Comissão de Ética do Centro Hospitalar de São João, no Porto, Portugal)
Nada mais a não ser: «Bem-vindos bebés-milagre!» e que a vida lhes sorria, apesar de irem saber um dia que as suas mães lhes deram a vida; literalmente! Talvez que um dia se lhes juntem e lhes agradeçam tanta devoção, entrega e redenção num tempo que não existe e é apenas uma ilusão, tal como um grande filósofo cristão da actualidade o disse da seguinte forma:
«O tempo não existe. É uma ilusão. Porque mesmo para nós, que estamos no tempo, de uma certa forma estamos também na eternidade. A Vida é já a eternidade que começa. Para Deus, o que existe é o presente, o eterno presente (...) tudo o que não é presente é uma ilusão. A verdade profunda é que o passado, o presente e o futuro formam um só instante» (Guitton, 1995)
Morte Encefálica?... Não. Apenas a científica distinção (ou criativa dissociação do corpo pela alma) que também subleva a Ciência mas a detém igualmente na eternidade do que encontraremos além a vida, além a morte. Para estes bebés-milagre (e para muitos de nós) não há morte encefálica; apenas vida eterna, só isso!
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