Há almas eternas, outras imortais e talvez até mesmo outras confortavelmente emanentes sobre o Universo; cabe-nos a nós descobrir quais as que nós somos, por outras que andam por aí...
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segunda-feira, 24 de julho de 2017
Memórias do Mar (II)
O que a História nos conta do que os mares nos escondem - e reservam - ante toda uma misteriosa conformidade do que o Homem pode e a natureza marinha nos acolhe, ante também toda a beleza envolvente que se não deixa admoestar perante os uivos dos lamentos dos que já se foram...
«De Veneza chegaram agora cartas. Um português me escreve agora que as naus d`especeria (especiaria), que os venezianos lançaram nova que lhe vinham, fora tudo bulra (burla, engano ou fraude) e que nam (não) havia especeria nem naus por onde Vossa Alteza deve crer que a Índia está bem guardada. Escreve-me este que todas as cartas que vem de Constantinopla falam da grande armada que o turco faz pera (para) a Índia».
1531, Flandres: carta de Dom Pedro de Mascarenhas de Bruxelas ao Rei de Portugal.
(Gavetas, 1964, tom. IV, p. 113 - História de Portugal de José Mattoso)
Havendo a coerência e talvez persistência dos que acorrem ao chamamento do mar ou, à procura do que então lhe ficou submerso na quantidade disforme do que este recolheu em si, em tesouros e em bem graças (de moedas de ouro a artefactos valiosíssimos), o Homem atendeu-se e submeteu-se à mais cruel capitania da sua vida: A ambição desmedida de enriquecer pelo que outros desmereceram e deixaram petrificar no fundo do mar.
À medida que os níveis dos Oceanos e das águas interiores do Planeta se foram alterando - pela força da Natureza ou mais recentemente pela acção do Homem - e os mares e os rios se transformaram em vias de comunicação, os homens foram deixando testemunhos da sua passagem nas profundezas das águas: de pinturas rupestres a povoações submersas (passando obviamente, pelos naufrágios), segundo Mónica Bello nos relata sobre os Enigmas da Costa Portuguesa.
Mas mais há e haverá certamente. Desde o esbulho territorial ao marítimo; e isto, ao longo dos séculos no intento e na consideração política das nações que se debatiam ou esgrimiam entre si, sobre a potencialidade dos mares e de suas riquezas.
A Expansão dos Impérios alada aos caprichos da Natureza (com influência inevitável das alterações climáticas) veio pôr a nu - ou a descoberto - certas e determinadas realidades que se supunham enterradas/sepultadas há muito no mar; de entre elas, as irrefutáveis provas dessas tão imponentes rotas comerciais que as gerações passadas edificaram - e para as seguintes identificaram - como um dos mais gloriosos eventos marítimos do passado, não fossem os piratas, os terríveis corsários de outros intentos, outras manigâncias (mais coercivas e de grande violência) de roubar, violar e usurpar o que outros detinham por «similares» roubos, extorsão ou estupro a outras terras, outras gentes...
Do Império Atlântico quinhentista à razia nacional de umas quantas traineiras em actividade piscatória ou, na versão moderna da era actual do século XXI (esta menos aventureira mas mais eloquente e voluntariosa), numas quantas fragatas portuguesas da Marinha Portuguesa que se prontificam (em tripulação e armada portuguesas) a recolherem os exilados/migrantes/refugiados da Síria, Afeganistão, Iraque, Eritreia e outros tantos que se fazem ao mar para fugir à fome e à guerra, sem tesouros, sem nada de seu...
O que a História nos conta...
Segundo nos relata José Mattoso, o prestigiado historiador português, no seu livro/enciclopédia da História de Portugal - O Império Atlântico - advogava-se por uma Conjuntura Política Internacional, com a ascensão dos Países Baixos do Norte e da Inglaterra, sobretudo a partir de 1573, redistribuindo assim a configuração do mercado mundial.
A Pirataria Moura, bem mais grave e depredadora que a francesa ou inglesa, obriga a um recolher do grande comércio. Mas, com essa redefinição, e em que Lisboa perde sobejamente, os pequenos portos e de um modo relativo ou até pontual, mostram-se mais activos num ritmado jogo de balancé, segundo alguns extractos. (Cortesão, 1940; Mauro, 1960, pp. 491-492). É que a Economia do Império Atlântico, ao contrário da do Oriental, não passava obrigatoriamente pelo filtro das estratégias dos organismos centrais da coroa.
A Colonização do Brasil, ao contrário da exploração quatrocentista da África - ou depois quinhentista da Ásia - não teve, de início, a participação directa do Rei. Este reserva para si e apenas, os direitos do pau-brasil, o estimado corante que acabou por dar o nome à terra nova que Pedro Álvares Cabral avistou em 22 de Abril de 1500 (...).
Mattoso afere ainda de que, O Comércio Régio, no entanto, com dificuldade se consegue manter no almejado domínio monopolista. E reforçam-se reestruturações tonteantes, que se iniciam por 1560-1570, com outras formas menos centralizadas. Até espacialmente!
Mantendo o exclusivo do Grande Comércio Oriental, mas erguendo-se outros portos (como de partida e de chegada dos tratos atlânticos), a posição relativa de Lisboa monopolista enfraquece-se; mas nem por isso alguma outra cidade se lhe aproxima...
Da Antiguidade para os nossos dias (2015): Atlântida e os seus mistérios... artefactos e minérios agora encontrados sob o destino ou segredo dos deuses que nos contam de outras histórias...
Recuando no tempo...
Uma equipa de mergulhadores italianos descobriu de uma embarcação naufragada há cerca de 2600 anos (ou mais exactamente há 550 anos a. C.) - na região de Gela, a 300 metros dos seu porto, no sul da Sicília, ou seja, nos mares de Itália - 39 barras de Oricalco (orichalcum), mineral lendário ou mítico que, segundo Platão, se encontraria em vasta profusão sob a terra ou sob o mar de minas perdidas dessa tão esplêndida terra denominada: Atlântida.
«Nada similar jamais havia sido encontrado», convicta afirmação de Sebastiano Tusa da agência marítima local ao Discovery News. Acrescenta em tom efusivo mas conhecedor:
« Nós conhecíamos o Oricalco (ou orihalcon) de textos antigos e de alguns objectos ornamentais». De acordo com Tusa, a descoberta chama a atenção para a importância da cidade no cenário económico e cultural do Mediterrâneo, da época. Remata dizendo: « O achado confirma que cerca de um século após a sua fundação em 689 a. C., Gela veio a se tornar uma cidade rica, com oficinas de artesanato especializadas na produção de artefactos valiosos». Concorda-se com tal.
O que Tusa não soube explicar mas os especialistas mais em pormenor e concordância admitiram posteriormente, foi, de que se trataria de uma liga metálica semelhante ao Bronze, obtida através da reacção entre os minérios de Zinco (15-20%), Cobre (75-80%) e Carvão, além pequenas quantidades de Ferro, Níquel e Chumbo (por rigorosa tecnologia realizada através da fluorescência de raios-X).
Todavia, a sua composição, bem como a sua origem, continuam incertas ou ainda por identificar devidamente, uma vez que os analistas científicos ainda em debate, não chegaram propriamente a uma conclusão definitiva ou assaz convergente sobre essa sua origem. Esperemos então pela confirmação do que se tratará efectivamente este tão misterioso ou lendário mineral que tantos coloca em sua análise e aprofundamento.
Arqueólogos em escavação na ilha de Al Hallaniyah, em Omã (foto gentilmente cedida pela Blue Water Recoververies, BWR). Nau de Vasco da Gama descoberta, em Omã, há cerca de 20 anos; mas só agora se sabe desta e, ao que se presume por actuais averiguações, tratar-se-à de uma nau da frota de Vasco de Gama, o tão famoso navegador português, aquando a sua segunda viagem à Índia, na ilha de Al Hallaniyah, no sultanato de Omã.
A Polémica!
No primeiro texto apresentado, inferia-se tratar-se de uma nau de Vasco da Gama de sua pertença e nome: Esmeralda. Até aqui, tudo bem. O que se segue é que já não condiz com as últimas aferições do que entretanto todo um processo evolutivo de argumentação e esclarecimento se lhe sucedeu (ou que em maior registo se foi debatendo); porém, também em maior confusão mas também maior trato, segundo os especialistas.
Segundo a publicação do International Journal of Nautical Archaeology sobre o espólio recuperado, sublima-se então: Existe a principal hipótese que os materiais identificados pertençam à nau Esmeralda, muito embora se reconheça que estão ali documentados dois naufrágios, em 1503 (numa referência directa à nau São Pedro, embarcação que também faria parte da frota de Vasco da Gama).
Estes dados estão presentes no artigo desta publicação, que são da responsabilidade de David L. Mearns, director da BWR (empresa britânica de salvados marítimos em associação com o Ministério do Património de Omã) , de Bruno Frohlich, antropólogo da Smithsonian Institution e ainda do arqueólogo, David Parham, da Universidade de Bournemouth, no Reino Unido.
Segundo o que dita o jornal Público, estas duas naus eram comandadas por Vicente e Brás Sodré, tios do tão bravo navegador português, Vasco da Gama, e que, num pequeno esquadrão de 5 embarcações com um objectivo preciso (por obra, missiva e graça d`El-rei e Senhor Dom Manuel I) de se dedicarem a combater os muçulmanos na costa do Malabar (e à entrada do Mar Vermelho), assegurando o controlo do comércio de especiarias.
Ignorando as instruções do Rei, passaram eles, os irmãos Sodré, ao saque total dos navegantes árabes por aquelas zonas. Actuando como verdadeiros corsários, a pena capital foi divina, senão justa ainda que cruel, tão cruel quanto os actos impunes que entretanto eles fizeram, não se apiedando das suas vítimas que degolavam e mandavam ao mar, ficando-lhes com os tesouros, as riquezas.
A ganância tem limites e a tempestade pôs freio então a esta: os irmãos Sodré morreriam sob os escombros do saque e da malfazeja vida que até então levaram, naquele fundão de baía amaldiçoada ou de justiça aplicada, segundo alguns.
Esquadras que imperavam e, ultimavam, quem afronta lhes fazia; até mesmo indo contra ordens e seguimentos por palavra e lei de seu rei. Tesouros que o mar esconde mas outros descobrem em ordem e palavra de outra lei, outra grei, e quiçá de outros senhores...
Debate e análise...
Luís Filipe Vieira de Castro, da Universidade do Texas, não corrobora desta tese, do espólio ser de pertença da nau afundada, Esmeralda (ainda que admita ser plausível a sua história assim como os artefactos encontrados serem da primeira metade do século XVI).
Vieira de Castro enaltece ainda: «Não creio que se possa identificar o navio, como não se pode identificar a Nossa Senhora dos Mártires, em S. Julião da Barra (Oeiras, Portugal). Mas esta colecção de artefactos bem estudada (pronunciou o investigador ao Público), pode contar mil histórias fantásticas, não só sobre Portugal». Mas vai ainda mais longe no ímpeto verbal:
«Faz-me pena ainda andarmos dentro deste paradigma das nacionalidades. A Expansão Portuguesa é uma história de cosmopolitismo», reverte este professor sob a égide dos muitos estudos por si efectuados (navios ibéricos do século XVI), no que também classifica o achado, associado ou não à frota de Vasco da Gama, como, extraordinário!
Opinião igual tem José Virgílio Pissarra, historiador naval e investigador do Centro de História da Faculdade de Letras de Lisboa, em Portugal, que admite sim, que eventualmente se pode tratar das naus dos irmãos saqueadores Sodré mas não da aferição do espólio à nau, acrescentando ainda que é insustentável (do ponto de vista científico) quem o possa afirmar com toda a certeza, uma vez que se encontram dois navios naufragados nessa mesma zona.
No entanto, Pissarra reconhece: « A confirmar-se que o espólio saiu das naus dos Sodré, podemos dizer que nunca antes se tinha localizado um naufrágio da armada de Dom Manuel I, no Índico!»
Este autor de uma tese de mestrado sobre esta armada - José Virgílio Pissarra - reverbera que na fase inicial do comando de Vicente Sodré, a frota era ainda pequena (de apenas 5 navios, passando para 200, só em 1530). Refere peremptoriamente que:
«É a Primeira Armada Europeia com um destacamento transoceânico. É algo de realmente novo!»
Sem haver provas conclusivas de que o espólio encontrado pertence à nau Esmeralda num manancial de 2800 objectos capturados, Pissarra pontua também de que os achados revelados de balas com inscrições em «VS», podem ser identificados como «AS» e não VS, de Vicente Sodré, de leituras ou interpretações erradas... no que sugere não se tratar efectivamente das naus correspondentes aos irmãos corsários Sodré de proveitos próprios - em desordem ou desmandos seus - pela palavra e leis a eles dadas de seu rei Dom Manuel I, Rei de Portugal.
Manufracturados ou não no século XVI (todos estes materiais agora recolhidos) - podendo terem-no sido no século XV, segundo Tânia Casimiro, arqueóloga e investigadora da Universidade Nova de Lisboa, Portugal - e que estudou muitos dos materiais deste espólio, há que se ser cauteloso na análise e na conclusão.
Em relação ao artigo publicado por elementos e responsáveis ou associados ao BWR, existe a garantia oficial de que todos os artigos/artefactos resgatados e por eles recolhidos serão mantidos numa Única Colecção Coerente (seja lá isso o que for...) e que será - obviamente - de futura propriedade do Ministério de Omã, numa também futura exposição no novo Museu Nacional de Omã.
Há ainda a registar que, foi este mesmo sultanato de Omã quem financiou e incentivou o trabalho de investigação, aparte ou excepção das bolsas que David L. Mearns recebeu da National Geographic Society e da Fundação Waitt.
Como Omã não rectificou a Convenção sobre a Protecção do Património Cultural Subaquático da UNESCO (em 2001), ficámos a saber, nós - portugueses - que o acesso ao sítio do naufrágio depende da sua cooperação, mesmo sendo um navio com pavilhão português.
E mais se inquiriu, através do Ministério dos Negócios Estrangeiros em email enviado ao jornal Público, sobre a suposta eventualidade de, um dia, em futuro próximo, se poder fazer uma exposição de todo esse espólio (ou de parte do acervo, o que já não era mau de todo...), em Portugal. A resposta foi unânime mas também, de certa forma, pusilânime ou de uma impotência atroz, afirmando-se:
«Dado o estado em que se encontra a investigação científica, será prematuro especular sobre o espólio encontrado». Em bom português, dizemos nós, todos os portugueses, estamos conversados. Mais uma vez, se viu imperar a sensatez geo-estratégica de não se ferirem susceptibilidades ou inconformidades de ordem suprema, de ordem tangivelmente exo-política - igual ou tão mítica quanto os naufragados navios e seus achados por esse mundo fora.
Vasco da Gama, o nosso maior navegador português! Nasceu em Sines em 1468/69 e faleceu em Cochim, na Índia, a 24 de Dezembro de 1524.
O Nosso Grande Vasco da Gama!
Vasco da Gama descobriu o caminho marítimo para a Índia (onde chega a Calecut, em Maio de 1498) na sua viagem inaugural, conhecida como «A carreira da Índia», indo numa frota exemplar da caravela Bérrio, nau de São Gabriel - esta, capitaneada por ele, Vasco da Gama - e a nau São Rafael. E isto, quase 10 meses depois de ter deixado o Reino (o quase equivalente a uma nossa futura ida a Marte nos dias de hoje...).
Mas, como em tudo na vida, há que o dizer (não escolhendo nós família), e Vasco da Gama deparar-se-ia com os mesmos dislates e contradições de muitos de nós, a ter de limpar o seu nome por vias de seus apaniguados e aparentados tios piratas, que a nação e o Reino de Dom Manuel I, haviam ofuscado ou quiçá conspurcado com tamanha ambição desmedida e fraco poder de decidirem por eles, no saque a na abastança de outros reinos, outros senhores...
Em todas as famílias raia a maldição, a insensatez ou a perdição de ir contra quem manda e coordena; neste caso, os seus tios, os tão ingratos irmãos Sodré que tudo aviltaram e tudo pagaram com a própria vida. Maldição, ou justiça feita ante tamanha ingratidão e deslize...?
A Lisboa dos Descobrimentos e que, actualmente, nos enche de orgulho (mas também estranheza e insubmissa vontade) de lhe não sermos menos do que uma ténue ou leve mestria do que outrora foi - em sumptuosidade e riqueza de caravelas abertas ao mundo - de rotas comerciais desempoeiradas e fantasticamente empenhadas em progressão de domínios marítimos e, colonização de ilhas, por parte dos portugueses.
O Comércio Ultramarino
Lisboa é o Porto, Lisboa É o Mar Oceano! Quem o afirma não se confunde com esta outrora realidade dos Descobrimentos Portugueses. E se Vasco da Gama tão bem lhe soube cuidar, melhor houvera saber incorporar em toda a linha de navegação de tantos mares, tantos oceanos por si já navegados. Depois de limpa a sua imagem (que nunca houvera estado suja ou prenhe de algo infesto, terá dito o sue rei...) Vasco da Gama impera-se em novas rotas, dele e de muitos, em ouro, malagueta, marfim e escravos africanos nos fins do século XV.
Depois de iniciada a conquista, navegação e comércio da Índia, as exóticas e ricas especiarias, as raras drogas das partes do mundo Malaio-Indonésio, mais tarde as louças e sedas da China.
Vinha já o açúcar da ilha da Madeira, das ilhas de Cabo Verde (pouco) e de São Tomé, depois as generosas quantias produzidas no Brasil, que dá ainda o pau de de tinturaria e o tabaco.
Antes de, o Príncipe Dom João tomar conta da Expansão Comercial Portuguesa, a coroa tivera arrendado o comércio africano. Das condições do contrato, fazia parte a progressão do reconhecimento do Litoral Africano. Com esse reconhecimento avançou também o resgate de mercadorias.
Portugal instala-se nesse cavalgamento de espaços diferentes e neste alargamento de uma Economia-mundo a outros horizontes que, vão assim caracterizar a alvorada da Modernidade, segundo o historiador José Mattoso.
«Em nenhuma parte do mundo, e muito mais no Oriente, se negocea (se negoceia) sem os presentes irem diante», prosápia e esclarecimento de Bõtaibo (nome estropiado de Mõçaide) - o mouro tunisino de relevante papel no no primeiro contacto entre os seus velhos conhecidos portugueses com o senhor de Calecut (Castanheda, 1979, livro I, cap. XIX, p. 53).
Navio-galeão San José, na costa do Caribe-colombiano (Cartagena das Índias): naufragados os destroços (há cerca de 300 anos), incumbe-nos a persistência de o divulgar, no que seria um galeão, uma nau frutuosa de grande ou valiosa riqueza em si.
De pertença ou origem espanhola, este galeão - San José - continua ainda hoje em batalha metafórica; ou seja, em sequência (e talvez sequela) verbal e política com os britânicos, nessa guerrilha política na aquisição e, pertença agora a quem de direito, em avolumada carga de ouro e pedras preciosas.
Achados que se perdem no tempo...
Naus que se afundam, homens que naufragam e morrem, tenham sido pelas mãos dos Sodré quer pelas de Malik Ayaz, Governador de Diu - e principal adversário dos portugueses no Gujarate - tudo se perdeu então. Essa perca era de todos; as das almas e as das embarcações, estas perdidas para sempre, no que houveram sido as mais bem preparadas, as mui aladas para o combate naval que lhes não deu saída mas afundamento, para sempre, nas suas mui parcas vidas de marinheiros e homens de bem, por outros que o não eram, acredita-se.
E desses achados agora que é feito? E que nós, portugueses, raiámos e demos mundos ao mundos, nessa tão eloquente mas também já tão estafada ou inútil frase-cliché de termos sido grandes e, hoje, tão pequenos e tão omissos quanto a mais pequena bactéria (ou microbiológica qualquer coisa) que nos faz ser, em subserviência e quase demência, uns seres abjectos de força nenhuma, de querer algum ou de vontades cimeiras que nos levaram a outras terras, a outros ideais, em tempos perdidos que não achados como os de agora - os de ninguém ou de alguém que se faz passar por nós; e isso é triste, muito triste, digo-vos eu de aquém e além-mar.
Afinal, Nós, Portugueses, temos uma Alma Velha de outros tempos e outros afagos, sentidos e afectos, como se diz agora; mas somos novos (descendentes dos cristãos-novos e outros...) e sempre acreditámos que algo pode mudar; que algo vai mesmo mudar... seja hoje, seja sempre... Oxalá tal se cumpra, por nossa bênção de terra e mar!
Arqueologia Subaquática, no rio Arade, Portimão (Portugal). Rio Arade (Algarve): o que o mar nos reporta em lições e aprendizagem de tudo o que neste se insere e acoberta de tantas naus, tantos sonhos agora depositados no conhecimento dos homens, dos que querem saber mais, atingir mais.
Atlântida, ou apenas a extensa língua oceânica...?
E se tudo não fosse um mar de magia, de glórias de outros tempos, ser-nos-ia a História recontada de uma outra forma, uma outra alegoria que seria, de futuro, tudo aquilo que outros homens já viram...!
Quando alguns afirmam serem os despojos de Atlântida e outros, mais comedidos, o lançam sobre outras idades, outras geografias ou mesmo outros tempos de navegação/civilização romana e outras (das tantas que por cá já tivemos e que por cá exibimos) que nos são, agora, os mais fiéis testemunhos de uma terra que já foi mar, oceano - e tudo o mais - e agora se descobre em maravilhosa condição subaquática dos não menos maravilhosos homens-peixe (na arqueologia subaquática) que tudo evocam...
Naus de Colombo, «O Velho»
Algarve (1476): Em finais de Agosto, reza a História, ou princípios de Setembro de 1476, quatro navios genoveses - e um flamengo - dirigiam-se de Cádis para a Flandres, quando, ao largo do cabo de Santa Maria, encontraram uma forte armada navegando sob bandeira portuguesa.
Doze navios pertenciam a Colombo - o Velho - corsário genovês que, já por várias vezes tinha prestado serviços à coroa de Portugal; os restantes (entre 3 e 5, não se sabe ao certo), estavam sob o comando de Pêro de Ataíde (o mesmo que, em 1503, posteriormente então, terá ficado à frente da frota reduzida a 3 embarcações, ordenando que se recuperasse toda a carga possível e se queimassem os destroços visíveis das naus, aquando a tal tempestade fatal aos irmãos Sodré, ainda que Brás tivesse sobrevivido a Vicente mas falecendo pouco tempo depois) na história aqui anteriormente referida mas de futuro anunciado para Ataíde, sem que ele o soubesse de antemão...
Tornando a 1476: Esta Armada Portuguesa, comandada (e combinada) por Pêro de Ataíde devia correr e proteger os mares do Algarve contra Castela, já que, mais uma vez, ambas as nações se encontravam em guerra. Às cinco naus estrangeiras, no entanto, de nada valeu mostrarem o salvo-conduto do rei de França, aliado de Portugal contra Castela.
Para Colombo, o corsário, era suficiente a suspeita de que as naus iam ricamente carregadas, para se lançar ao ataque. Quatro navios da armada combinada abalroam então duas naus genovesas e a nau flamenga, pondo-se as restantes duas em fuga.
Rezam as crónicas que o combate nos navios foi feroz, com arremessos de pedras, lanças de fogo e combates corpo a corpo. Mas, no calor da batalha, ninguém reparou que as sete naus - empurradas pelo vento - acabariam por ficar encostadas umas às outras. Bastou que uma delas pegasse fogo para que este alastrasse às outras, acabando por se perder todos os navios.
Na tragédia terão morrido cerca de 2000 homens, entre Genoveses, Flamengos, Franceses e Portugueses. A maior parte deles afogados, uma vez que a costa se encontrava demasiado longe para se salvarem a nado.
Reza a lenda também de que um dos que terá conseguido chegar a terra, agarrado a um bocado de madeira, foi Cristóvão Colombo, que iria embarcado na nau do seu parente Colombo, o Velho.
Como no caso de tantos outros navios naufragados na costa portuguesa, também neste não se sabem mais pormenores sobre a localização exacta da batalha ou, a carga que os navios abalroados transportavam.
Curiosamente, Quirino da Fonseca, no seu livro: «Os Portugueses no Mar», refere que, nesse mesmo ano de 1476, Pêro de Ataíde terá morrido o decurso de um combate contra quatro navios genoveses ao largo do cabo de São Vicente, perdendo-se numerosas embarcações na sequência da explosão de um barril de pólvora. O que se sabe, é que Pêro de Ataíde, o verdadeiro, terá falecido em 1504, no Índico (Moçambique) no decurso da viagem de regresso ao Reino (Portugal) que nunca chegou a vislumbrar.
O eterno espólio português, descoberto agora, sobre naus e navios da Armada Portuguesa na estonteante e rica época dos Descobrimentos. Naus afundadas por ventos e marés, naufragadas por canhões ou invasão de corsários e tantas outras intempéries e não só atmosféricas, que levaram a que tudo se perdesse de seu rumo e destino. E que destino será agora esse, por tantas mãos desejadas???
Império e Impérios
Segundo ainda José Mattoso, no sua epopeia bibliográfica que reverteu nos mui elaborados livros sobre a História de Portugal, terá afiançado a todos nós portugueses, em cunho e conhecimentos, de que apesar dos ataques que Holandeses e Ingleses nos desferiam um pouco por toda a parte (e isto, extensível até meados de 1620), conseguimos sobreviver.
E, de tal forma o fizemos, que nos chegavam produtos dos reinos e senhorios ultramarinos, que atraíam «navegações de todos os Reinos»: da Galiza e Biscaia, de França, Flandres, Inglaterra, Dinamarca, Polónia, Alemanha e outras partes, trazendo pão, carnes e queijos principalmente.
Do Mediterrâneo, vinham navios da Andaluzia e demais Espanha, Itália e Grécia (ou mesmo de África). Mas o grande comércio ainda era o que tinha como origem a Ásia e, crescentemente, o Brasil (o açúcar) e a África atlântica (escravos).
O Império Comercial Português, começado em fins do século XV pela África a sul do Sahara, depois do auge oriental, redefinia-se então como atlântico (Cortesão, 1940, p.70).
O que se autentica aqui, é que um dia fomos poderosos - e ricos! Parca fortuna de quem não sabe guardar na História esse ou esses Impérios perdidos...
«Flor do Mar», a actual réplica da antiga nau de Afonso de Albuquerque, sitiada hoje no Museu Marítimo de Malaca, na Malásia. O que outros intentam (no bom sentido) e os seus esquecem... na infelicidade sempre presente de, outros fazerem jus à nossa História Portuguesa, e nós, o negligenciemos... dizendo então à boca fechada, que somos pobres, demasiado pobres para reinventar a nossa história marítima perdida...
Império ou Impérios...?
Império e Impérios, cujas configurações e espaços sofrem modificações estruturais a uma escala agora mundial. A Economia-mundo é um conjunto de actividades convergentes e, conflituais, que sofrem modificações e também crises. Ainda hoje assim é, admite-se.
Segundo explana Mattoso, algumas dessas modificações e crises são tão profundas que só se resolvem na busca e assentamento de diferentes espaços, resultantes de expansões e contracções (Godinho, 1978, pp. 247-280), o que se legitima actualmente até em relação ao Espaço; ou seja, ao próprio Universo...
De Dominações Económicas e Políticas,, que mudam de sentido e de mãos. Que afectam os preços correntes como a vida das pessoas, na generalidade. Que abrem para profundas perturbações como para enquistamentos sociais. Não há um factor ou factores previamente determinados que permitam a arrumação e, predeterminação da conjuntura. Nem a regularidade das crises cíclicas vai além de uma tendência. Mas, a Economia-mundo, vai-se construindo sempre através de crises, que, uma vez resolvidas, geram consequente ou ciclicamente também, numa periodicidade tendencial.
Não se pode colocar um fim neste texto, sem se aludir ao que José Mattoso reitera sobre «Império e impérios» sem antes confidenciar aqui que, o Capitalismo Mercantil, ao articular realidades e espaços económicos diversos, faz com que se repercutam a uma escala antes impossível as alterações - e flutuações - que antes apenas afectavam confinadas economias e sociedades relativamente estáveis.
O Mundo mudou e nós, com ele, infere-se. Segundo a História de Portugal de José Mattoso, o Mundo mudou, porque agora há mais mundo! Daí que a célebre e mui portuguesa frase, eclética sim mas sempre verdadeira nos nossos portugueses corações de tantas almas - as de ontem e as de hoje - «dar mundos ao mundo» não seja de todo em vão, mesmo, para as gerações futuras do que hoje se descobre e ramifica desses antepassados e dessas economias-mundo de que Mattoso fala.
«Lançam-se os primeiros e ainda imprecisos delineamentos da Modernidade. À escala do espaço do Planeta, que entretanto se fora descobrindo e construindo». Assim é. Sabemos-lo todos ou quase todos; ou até aqueles que fingem esquecê-lo!
Padrão dos Descobrimentos na evocação do maior feito português! Em fundo, um dos nossos mais emblemáticos monumentos de eleição em homenagem aos Descobrimentos - A Torre de Belém (Lisboa) - que concerne uma das mais belas peças arquitectónicas da nossa Nação-Estado.
Algo que nos lembra - ou relembra - um grande passado histórico da circum-navegação marítima; além as almas que por esse mar ficaram, do corrosivo escorbuto às ratazanas que lhes roíam os pés e as mãos, aquando definhavam razões ou outras sensações de maior (não fora a loucura imediata, as febres, as náuseas e os vómitos certeiros de agonia imensa) e o suicídio não que seria desonra, tal o débil estado mas consciência de outro (Estado como nação a defender) desses homens mártires sob as mais rudes condições havidas no mar.
Ser Português e ter uma alma de sal...
Por mares nunca antes navegados, por terras nunca antes desbravadas, somos nós portugueses, a maior de toda a perdição - que não rendição - a outros ventos, outras marés, e até outras glórias de outras galés. Bebemos lágrimas de sal e de conduto nunca havido; choramos por quem perdemos mas sorrimos por quem nos dê honras e outras lisonjas de aquém ou além mar, pois que fomos pioneiros e hoje somos apenas aventureiros de outras migrações, outras obreiras verdades de cruzarmos o mundo...
Somos o que somos; somos o que fizeram de nós em esventre de um passado recente ou de um futuro distante que tudo pode, que tudo maneja e tudo volteja consoante as brisas, as correntes, ou as dementes insinuações de que somos pobres, fracos e imprecisos, depois de lestos colonizadores e maus perdedores de terras que nunca foram nossas.
Somos uma nação de muitos mares, muitas oceanias e porquanto assim seja (do que já foi) ser-nos-à, talvez, uma outra, ou mais afortunadas vitórias de outras histórias de almas devassadas, amortalhadas quem sabe? mas justiçadas agora, mesmo que expostas ou não no fundo do mar.
Somos almas que se afogaram mas que nadaram mundo fora; que se deixaram engolir pelo infortúnio das ondas e desse sal, amargo e sem glória, de nos termos sufocado e orgulhosamente enfunado sobre outras que se finaram. Mas somos almas boas, sãs, e com algum decoro ainda de, sentirmos que valeu a pena, pois que, como diria o poeta, a alma não nos é pequena, e nisso, todos estamos de acordo.
Seja num turismo exacerbado ou naquela legítima hospitalidade que nos identifica como povo simpático e de bem acolher ou receber, hoje e sempre, seremos aquele mesmo povo que um dia se abriu ao mundo, franqueando a razão de existir, libertando esse voo ou essa ânsia de ser mais, procurar mais, ser por ser, apenas isso, seja onde for, como for, deixando-se noutros mundos entrar; aqui e lá, onde houver mar e terra por encontrar.
Portugal, no mapa, é mais, muito mais do que o seu registo de quem o vá procurar; cabe-nos a nós agora, portugueses, no-lo mostrar - ou Cristóvão Colombo jamais se perderia - não fosse este seu percurso, seu berço e alquimia, ainda que muitos o neguem e digam ser genovês, catalão ou português (espião e ao serviço de Suas Majestades, os reis portugueses que não os de Castela, os católicos), para onde Colombo se dirigiu em avença de «procurar» ou descobrir as Índias, sabendo serem as Américas... mas isso é uma outra história que Memórias do Mar evocará, se esta terra, este mar, e esta minha língua de Camões assim o permitirem... Até lá!
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