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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Uma Falsa Verdade!

 

Crianças Felizes: o mito - ou a falsa verdade - de que crianças aparentemente felizes e, de vivências cordatas com uma infância igualmente feliz e harmoniosa, nem sempre possuem uma boa saúde mental. Ou seja, ter tido indubitavelmente uma Infância Feliz e Segura, não ilegítima de todo uma futura perspectiva de se desenvolver nessas crianças uma doença do foro psiquiátrico mais tarde.

Quem o afirma são os investigadores da Universidade da Austrália Meridional (University of South Australia - UniSA) que complementam através do seu mais recente estudo que, uma infância feliz e segura, não é sinal de segurança ou mesmo de protecção em face à possibilidade de se vir a desenvolver uma doença mental.

De facto, já não existem segredos que nos levem a não saber o que faz as crianças serem verdadeiramente felizes. Existir o equilíbrio entre regras e brincadeira é talvez o mote certo de uma educação que tem, acima de tudo, de possuir uma estratégia de rigor (não espartano mas de compreensão e respeito) em que haja hábitos e comportamentos fiéis de comer, dormir, estudar, sociabilizar e brincar como prioridades latentes do que é ser ou ver crescer uma criança.

Rir, chorar, gritar ou simplesmente amuar são sinónimos da saudável comunicação entre pais e filhos ou mesmo parceiros de brincadeira. Deixar evidenciar a sua personalidade é antes de mais um conselho, dando-lhes oportunidade de fazerem opções e tomarem decisões para que, em futuro próximo, elas possam saber gerir não só o seu tempo mas todas as circunstâncias de vida que se lhes deparem.

Terem auto-confiança; serem ouvidas e nunca demitidas de poderem também elas exprimir a sua opinião, dizerem e sentirem que fazem parte do agregado familiar e que a sua intervenção é importante, fará eventulamente destas crianças um futuro adulto mais consciente e mais forte em face a tudo o que a sociedade moderna hoje lhes exige. E, o Mais Importante de Tudo, sentirem-se amadas!

Existir tempo de qualidade no seio familiar é fundamental, sendo que não havendo fórmulas mágicas ou a família perfeita, se poderá ser existencialmente feliz nessa espécie de imperfeição que todos exibimos, mesmo querendo fazer o melhor. 

Escutar as crianças assim como valorizá-las e incentivá-las no que para mais apetência têm ou para aquilo que mais desejam desenvolver é vital! - seja o sentido crítico, o raciocínio lógico, a empatia, a capacidade de tolerância à frustração, etc. - pelo que irá fomentar na criança a sua identidade e auto-estima que nunca devem ser subestimadas ou negligenciadas caso se venha a notar alguma quebra de entusiasmo, isolamento e mudanças de humor.

As crianças Não São Propriedade do Adulto; dos progenitores ou dos educadores.  Na Convenção sobre os Direitos da Criança (UNICEF)  - adoptada pela Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) em 20 de Novembro de 1989 (e ratificada por Portugal em 21 de Stembro de 1990) - «As crianças devem receber a protecção e a assistência necessárias para desempenhar plenamente o seu papel na comunidade.

Reconhecendo ainda que, a criança, para o desenvolvimento harmonioso da sua personalidade deve crescer num ambiente familiar, em clima de felicidade, amor e compreensão;

Considerando que importa preparar plenamente a criança para viver uma vida individual na sociedade e ser educada nos ideais proclamados na Carta das Nações Unidas e, em particular, num espírito de paz, dignidade, tolerância, liberdade, igualdade e solidariedade (...)».


Ser Feliz: o sonho de todos nós na garantia máxima de também sermos saudáveis e perfeitos tanto física como psicologicamente. No entanto, as sombras permanecem. Segundo os especialistas nada tem esse garante de que, ter uma infância feliz, seja de facto o sinónimo de se poder chegar à idade geriátrica, à velhice, sem a mácula de qualquer doença, física ou mental.

Infância feliz ou infeliz...

Não vale a pena prolongar-se a questão sobre a felicidade ou infelicidade juvenil tendo em conta que os fracassos, os acidentes de percurso ou os eventos traumáticos gerados na infância podem deixar indeléveis marcas negativas no processo de crescimento. 

Sabe-se também de que, uma infância difícil, e sem muitos dos parâmetros já apresentados sobre não só a felicidade das crianças educadas em ambiente harmonioso mas igualmente desprovidas de qualquer trauma, é um factor preponderante no aumento da probabilidade da Doença Mental.

O que não se sabia ou à priori se suspeitaria era de que, Crianças Felizes, ou sem qualquer referencial traumático poderiam estar identicamente em risco. Para esses casos teve de haver resposta, nos casos de crianças e adolescentes com evidentes perturbações emocionais, necessitando de diagnóstico e de processo terapêutico.

Em casos pontuais mas dignos de uma maior referência, vigilância e cuidados a prestar, assumiu-se então nas Ciências Médicas a especialidade chamada «Pedopsiquiatria» - especialidade que aborda as dificuldades emocionais, do comportamento e da socialização das crianças e adolescentes, sempre em articulação com as famílias.

A Pedopsiquiatria é no geral, a especialidade médica (existente em Portugal desde 1984) que se encarrega de identificar e acompanhar as dificuldades sentidas pela criança ou adolescente a nível emocional. Esta especialidade também se define como preventiva

(Em Registo: A Pedopsiquiatria articula-se frequentemente com outras especialidades médicas e com outros técnicos das áreas da saúde e da educação com o objectivo de identificar e, se necessário, modificar os factores que poderão estar a interferir negativamente no desenvolvimento intelectual e psico-afectivo da criança ou do adolescente.)

Voltando à investigação da University South Australia / UniSA, realizada em parceria com a University of Camberra (Austrália), resumiu-se de que esta descoberta - que faz parte de um estudo publicado na «Current Psychology» -  examinou como as experiências se relacionavam a diferentes vias de desenvolvimento e, como elas, podem efectivamente estar associadas a problemas do foro mental.

Considerando que Experiências Positivas e Negativas na Infância se manifestaram como ansiedade ou mesmo outros transtornos mentais na vida adulta, os investigadores dizem-nos agora acreditar que essa é a nossa capacidade de nos adaptarmos a cenários inesperados que podem estar de facto a influenciar a Saúde Mental.

Na Austrália, quase 50% da população sofrerá de doença mental nalgum período da sua vida, enunciam os investigadores deste estudo. E isto, na incidência de 314.000 crianças dos 4 aos 11 anos de idade (quase 14%) que eventualmente sofrerão de transtorno mental. Nada de boas notícias, acresce-se dizer.

Os gastos nacionais recorrentes com os serviços relacionados à Saúde Mental são estimados em cerca de 9,9 biliões de dólares americanos, ou seja, cerca de 400 dólares por pessoa.

Embora o estudo tenha reafirmado que as pessoas que tiveram experiências adversas e, imprevisíveis no início da vida, e que apresentavam sintomas elevados de problemas de saúde mental (incluindo Depressão e Paranoia - esta última uma perturbação mental assinalada por ilusões e ideias paranoides de grandeza, ciúme ou persecutórias), também se descobriu que crianças que cresceram em ambientes estáveis e de apoio, corriam o igual risco de apresentar sintomas de ansiedade na idade adulta.

A Investigadora-líder e candidata a um doutoramento - a Drª Bianca Kahl da UniSA - afirma que este estudo destaca assim a natureza indiscriminada da doença mental, revelando também as importantes  percepções sobre os potenciais factores de risco para todas as crianças.

"À medida que a prevalência de problemas de saúde mental se expande, é também imperativo que estendamos todo o nosso conhecimento sobre essa condição muito complexa e variada."  (Anuncia a Drª Kahl) Mas diz mais em explicação sucinta:

"Esta pesquisa mostra que as condições de saúde mental não são determinadas apenas pelos eventos do início da vida, e que uma criança que é criada num lar feliz pode crescer e vir a ter um transtorno mental. Certamente, faltam aqui alguns factores para a compreensão de como, o nosso ambiente de infância e as experiências da  primeira infância, se podem traduzir em resultados de saúde mental na Idade Adulta."

A Drª Bianca Kahl reporta então em jeito de conclusão: "Suspeitamos que são as nossas expectativas - sobre o nosso ambiente e a nossa capacidade de nos adaptarmos a cenários em que as nossas expectativas não estão sendo atendidas - que podem estar a influenciar as nossas experiências de angústia." E resume em reflexão: 

"Se, como crianças, aprendermos de como nos adaptar às mudanças e aprendermos também de como lidar com as coisas quando essas coisas não acontecem do nosso jeito, então podemos estar numa posição bem melhor para responder ao stress e a muitos outros factores de risco para problemas de Saúde Mental." Termina dizendo expressamente: "Testar essa hipótese é o foco da nossa próxima pesquisa!"

(Estudo publicado na revista científica «Current Psychology», 2020, com o título «Testando um modelo de história de vida de psicopatologia: uma replicação e extensão»; e redigido na Science Daily de 7 de Fevereiro de 2021, por dados fornecidos pela University of South Australia.)

Os autores do estudo são: Bianca L. Kahl; Phillip S. Kavanagh e David H. Gleaves. Para todos eles os meus sinceros parabéns não só pelo espírito de equipe mas, acima de tudo, por jamais desistirem de procurar a verdade por mais dura ou cruel que esta seja.

Por vezes «Uma Falsa Verdade» acaba por nos ser uma dura realidade ou, nalguns mais fatais casos, uma sentenciada mortalha se a não soubermos aceitar ou, prevenir, caso se venha a demonstrar clinicamente que estamos aptos ou sujeitos a uma doença mental que nem sequer suspeitávamos. 

Há que estar atento às nossas crianças e não só, pois muito há ainda por fazer, por realizar - e eventualmente diagnosticar - caso os sinais se viabilizem nesse sentido. 

Prevenir é o acto mais ágil e seguro a seguir, definindo-se terapêuticas e procedimentos, uma vez que só assim se beneficiará de todos estes estudos, estas descobertas em prol de uma melhor e mais longa saúde mental. 

Por favor não queiram mais Falsas Verdades, mesmo que elas vos sejam inicialmente mais afáveis (ou simuladamente beneplácitas) na alma do que no corpo... sentindo que nada mais de valor terá que a nossa consciência que nos dita termos de encarar a realidade, confiando na Medicina, confiando na Ciência, e em todos os desenvolvimentos biomédicos hoje apresentados e revelados ao mundo.

Sejam felizes e saudáveis. Sejam atentos e seguros que, por muita felicidade havida, haverá outra tanta para desfrutar se soubermos ser precavidos e expeditos; na saúde e na doença, como reza a prédica matrimonial de estarmos e ficarmos bem em todas as horas em todos os momentos. Cuidem-se e sejam de facto felizes! Muito felizes de corpo e alma!

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