Há almas eternas, outras imortais e talvez até mesmo outras confortavelmente emanentes sobre o Universo; cabe-nos a nós descobrir quais as que nós somos, por outras que andam por aí...
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terça-feira, 7 de agosto de 2018
A Semente do Diabo
(3 - 7 Agosto de 2018): Incêndio na Serra de Monchique, Algarve (Portugal). Começou numa sexta-feira, estendendo-se por mais cinco dias e, até ao momento, sem se ver extinto, semeia o medo, espalha o pânico e faz tudo e todos temer não só pelas suas vidas mas por todo um círculo florestal que há muito alguns diziam já predestinado a ter um fim, um triste fim igual ao de tantos outros nestes últimos anos...
"Tanto bombeiro, aviões, e sei lá mais o quê que anda por aí, mas não se percebe o que andam a fazer..." (afirmação de um simples cidadão anónimo, que, do sítio da Nave Redonda, algures no Barlavento Algarvio, nos confessou de toda a sua ingénua mas despeitada revolta)
A Portuguesa Realidade...
O que de início parecia uma «simples ignição» controlável, passou a ser a total desorientação, desgovernação e total descoordenação entre as Forças de Segurança no terreno (e quem o afirma são várias outras entidades assumidas que o confessam aos jornalistas) e, os muitos agentes da Protecção Civil que não se entendem.
E pior, não compreendem este mesmo fogo que lhes entra pelas narinas dentro e pelo corpo empolado devido às altas temperaturas registadas. Não admitem os erros cometidos nem as pragas ouvidas de quem não quer deixar à sua sorte as casas e os animais, muitas vezes presos e sem guarida seja de quem for, seja de onde for...
Em geral, o Agravamento das Condições Meteorológicas, é o bode expiatório em alibi perfeito para todos os males sobre a Terra. Aqui não foi excepção. Os ventos «malucos» como alguns lhes chamam, deram a volta aos bombeiros numa dança desgraçada e até amaldiçoada de outros deuses ou outros demónios, vá-se lá saber porquê, e que de uma fiada pôs tudo às avessas, criando a confusão total (que já era muita) por aqueles lados da serra de Monchique.
Este triste episódio - idêntico a tantos outros (para quem sempre legitimamente se recordará dos fatais fogos versus inacreditáveis incêndios no norte e centro do país no ano transacto que despoletou numa centena e pouca de vítimas mortais, além dos mais recentes mas sempre trágicos acontecimentos na Grécia que ceifou outras tantas almas), e tudo igual, mortífera e estupidamente igual no combate às chamas, no controlo do fogo e, no auxílio às populações.
Desta vez havia que salvar as pessoas, anotou-se; e à bruta senão ao pontapé (com algumas luxações e aferições ditas aos média sobre a brusquidão e até impreparação destas novas forças especiais de segurança) que levaram de sopetão tudo e todos os que se negavam e recusavam a sair de suas casas.
Primeiro as pessoas. Nada disso está em questão. É meritória e consagrada oficial e publicamente as ordens e regras a seguir pelas forças de intervenção e, de segurança, no terreno acidentado - e neste caso, no ressurgir de novas ignições e novos perigos à população.
Mas, quando tudo está descontrolado sem rei nem roque, como pedir, como explicar, ou como fazer entender essas populações de que está tudo sob controlo, de que as suas casas jamais estarão em perigo, assim com os seus animais, e que tudo não passou de um susto e vai acabar em breve...?! Quem pode assegurar tal?!... Quem??? Os Governantes...? E onde estão eles???
E foi assim que tudo começou... lá do alto, da Serra de Monchique. E de tão alto estar, muitos de nós já nos interrogávamos quem teria sido o vil causador de tamanho infortúnio incendiário, para tão alto subir, para tão alto eclodir (ou fazer eclodir) as chamas de Belzebu ou a tal a fornalha do Demo que tudo agarra com a sua endemoninhada forquilha de uma assentada.
E de uma assentada o que era fumo, apenas fumo negro, passou a ser um vulcão de acendalhas e um excruciante calor que nem mesmo o Diabo suportaria caso aqui estivesse, ouviu-se alguém dizer.
Durante três dias tudo ardeu num controlo descontrolado em análises e comunicados das entidades oficiais que iam, em tom monocórdico e falsamente empreendedor daquele apaziguar à populaça, resignando esta dizendo-lhes: «Está tudo a correr bem, como previsto. Confiem nas autoridades pois elas sabem o que fazem».
E, acima de tudo, para não ferir susceptibilidades cimeiras ou contradições sobre o mais alto emissário da nação, resumia-se uma cómoda e corroborante analogia de que tudo estava de facto a correr sobre rodas. Para emissário ver, e ouvir. Emissário este, que afiançou desde logo com a supremacia de quem sabe estar incorruptivelmente no palanque superior nestas coisas do direito primordial que até está acima de Deus, que: "Agora estamos mais preparados. O País aprendeu a lição. Está tudo a correr bem."
Mas não estava. Não está. Ainda. E se correr bem é não haver baixas humanas, então é porque está tudo bem mesmo.... o que quer dizer: «Está tudo bem, até agora não somos como a Grécia, aqui não há mortos...».
O Fim-de-Semana que deveria ser de folguedo, reunião e confraternização entre famílias e povoados (muitos deles acrescidos no somatório de parentes e familiares emigrados que agora se juntavam aos seus na terra que os viu nascer) foram antes evacuados e espoliados de tudo o que até aí tinham acumulado e vivificado, atafulhado e amado, deixando para trás, deixando à morte, todo o entulho ou riqueza às mãos daquele malfadado fogo das entranhas do Diabo.
E se entranhas ele tinha, mais profícuo e anafado ele ficava (vão pensando as populações), sem que houvesse uma mão de Deus que a casa regasse e o quintal bafejasse de maior sorte do que tudo ardido na volta, sem volta a dar a tudo aquilo em cinza e nada.
O Vento Aumentou de Intensidade, apregoaram os entendidos. Segundo as declarações oficiais, surgiram projecções que ultrapassaram a capacidade de extensão dos combatentes; ou seja, o Demo bufou lá do alto de toda a sua malignidade, aquela que muitos consideram a autêntica e verosímil «Semente do Diabo» que tudo empesta, infecta e, incinera, sem que ninguém o controle.
Ou estime, de quem foi a escabrosa mão que fez da baixa humidade, da alta temperatura registada e do combustível próprio da natureza sã da serra (a tal biomassa acumulada) se ter juntado numa festa de fogo e bruxas, de súcubos e íncubos, nesse maldito triângulo em incêndio não proscrito.
Vila de Monchique ladeada pelas chamas (dois dias depois do início): o que foi até aqui considerado o «presépio algarvio», foi nas últimas noites deste quente mês de Agosto de 2018, o mais fiel ventre materno de um deus menor ou daquele que todos conhecem por nunca ficar satisfeito sobre cinzas, almas e penedos crus de vida: O Chifrudo. Para os mais desentendidos, Lúcifer.
E se o ar foi e é irrespirável (numa extensível nuvem que se acoberta até ao oceano), que dizer da amálgama vegetal que sucumbe toda ela a nossos tristes e congestionados olhos, num estilhaço de agonia e morte, espasmos e má-sorte desse arrepiante estertor de maléfica destruição...?!
E tudo isso sobre o crepitar indomável e impiedoso de um incêndio que muitos disseram controlado e outros domado e, nem uns nem outros, afastados da razão, sacaram da contingência ou sequer a aflição de quem via o seu presépio afundar-se numa nuvem de maldição...
"Há mais de um ano que todos sabem que a serra de Monchique era a próxima a arder."
(Confissão velada e prestada ao jornal Público de Emílio Vidigal - Presidente da Associação dos Produtores Florestais do Barlavento Algarvio (Aspaflobal) - que não esconde o forte repúdio pelo sucedido, reiterando que há meses que espera a aprovação por parte do Instituto de Conservação da Natureza e Floresta (ICNF) de um plano de prevenção e combate a incêndios que abrange a zona onde começaram as chamas em Monchique)
"Há mais de um ano que todos sabem que Monchique estava no topo da lista das zonas com maior risco de incêndios florestais." (Insistiu Emílio Vidigal, na demanda de tudo estar embrulhado em resmas de burocracia nacional sem uma resolução palpável ou credível à vista por parte das entidades governamentais).
Neste momento, dia 7 de Agosto de 2018, há a certeza operacional sobre a serra de Monchique, as proximidades da região/concelho de Odemira, Silves, Portimão e Deus queira que não outras localidades na contenda florestal arrasada pelo vasto e avassalador incêndio que não dá tréguas, um manancial de mais de mil homens (fala-se em 1200) a combater este «controlado» fogo, três centenas e meia de veículos, e mais de uma dezena de aeronaves - incluindo três aviões Canadair disponibilizados pelos nuestros hermanos, ou seja, pelo Governo Espanhol, nosso vizinho.
Há quem estime por estatística apresentada (não se sabe se oficial ou não) de que já arderam 17 mil hectares de floresta, oscilando entre estes 17 mil e os quase 20 mil pronunciados ou já fustigados previamente do que no fim se saberá em pessoas feridas, casas ardidas, animais mortos por asfixia ou carbonizados (um horror!) e uma última floresta algarvia perdida sobre este éden europeu que muitos até há pouco assomavam como: «O Último Segredo da Europa» (ou o segredo mais bem guardado no sul europeu que, pelos vistos agora, é um dos mais queimados, ardidos e descompensados de que há memória....).
Estava de férias. Vi o início do fogo. Não acreditei que tomasse estas proporções; eu, ou qualquer outra alma, acredito. A população avisou as autoridades. Como sempre. E como sempre foram desvalorizadas, as suas preces, os seus avisos, as suas rezas e os seus pedidos (nem o INEM funciona bem...) e é tudo um Deus nos acuda que nem Ele já nos sabe acudir por tanta desgraçadeira desfraldada e embicada sobre estes nossos pobres e lusitanos destinos, sazonais e não só.
Há quem diga que isto já foi um país; há quem diga que isto (Portugal, em escassa demografia de uns meros oito milhões e tal de habitantes nos anos vindouros, pelos dez mil que se estão já a esboroar por óbitos maciços e natalidade quase nula), vai deixar em breve de ser país - para os seus e para os outros, os que aqui vinham em turismo, em prazer e até um certo vanguardismo de - Os Portugueses - serem gente boa de fácil e simpática recepção. E até para os já residentes que sentiam Portugal como sua nação. O que fica então...? Pouco, muito pouco, quase nada.
A Semente do Diabo implanta-se e cria raízes. Tantas são as raízes, deformadas, anómalas e gastas, que mais nada haverá em breve para salvar; nem as praias nem as qualidades do bem receber e do bem querer que, todos nós portugueses, vinculamos a quem nos visita e entrega de corpo e alma sobre uma arquitectural genética que nos faz ser os mais humildes e os mais subservientes desta «unida» Europa que roda a duas velocidades; sem contar com os futuros «Brexits» que por aí venham.
Se tudo cheirar a fogo (e a mofo), se tudo se visualizar a negro, se tudo se não recuperar ou mais radicalmente se não reconsiderar de que temos mesmo de mudar, então Portugal será apenas e tão-só... um lugar que um dia já foi país, já foi gente e já sentiu alegria que não a conspurcada e dissecada (quiçá dissimulada) rede consubstancial que tece a gran malha da Semente do Diabo - aquela mesma semente que neoplásica e corrosivamente nos come as entranhas e nos vomita aos pedaços, como um tumor amaldiçoado que nos suga o sangue e envenena a alma... aos pedaços também.
Por muitos económicos e capciosos interesses que hajam sobre esta deplorável mania de tudo queimar para mais tarde arrecadar, há que entender que, quando uma raiz morre jamais voltará a nascer; e nascendo, não voltará a ser a mesma que se finou. Há que semear sim, mas outras sementes que não as do dito que tanto prejuízo nos tem pregado e inevitavelmente enlutado. Somos um povo que resiste e sorri, luta e acredita, só não sei é até quando...
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