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segunda-feira, 30 de junho de 2014

Canção do Mar - Dulce Pontes (legendado)

A Conversão Estelar


Nave Estelar Vetor

Que os terá induzido - aos infiltrados estelares  - que, aquela corja de maltrapilhos terrestres que todos éramos e, segundo a sua própria óptica superior, a referência máxima de uma escolha, de uma minuciosa e selectiva repescaria na Terra? Com que finalidade? Com que repercussões individuais e, globais, do que de futuro faríamos das nossas vidas, após tamanha estranha experiência? Teríamos de lhes ser gratos pelo que não aprováramos sobre nós, nessa sua espécie de evangelização cósmica ou...conversão estelar?

"A gente converteu-se, na gente que finge ser!" - Extracto de Poema de Sam Shepard

13 de Março de 1997 - Lisboa, Portugal
A Recepção
O pouco que recordo dessa leda e fresca manhã de Março em finais de mais um Inverno passado, apenas se me aflui como uma vã e ténue esperança de ter sido somente um mero e esquisito episódio psicótico - dos muitos que se me insinuavam - desde que começara por ter aqueles terríveis pesadelos com  homenzinhos verdes e de olhos grandes, oblíquos, sobre mim. Nada de muito diferente. Apenas, o aligeirar da medicação e...da tortuosa depressão em que me via agora assistida. Passara por um amargo divórcio que me marcara o corpo e a alma como ferro em brasa de identificação bovina; ou pior, como endémica apresentação minha e, uma propensão para a angústia, o sofrimento para além da vitimização, segundo o meu psiquiatra. Acreditei. E, refugiando-me no exílio cúpido da medicação e de uma certa auto-comiseração, fui-me completamente abaixo de todas as defesas possíveis - e impossíveis - dessa reversibilidade doentia em que me encontrava. E passividade. E, impotência. Arrastava os dias e as noites numa conformidade abstracta de tudo confundir, até mesmo as alegrias - poucas - com as tristezas gerais. Tinha de ultrapassar o maior obstáculo de toda a minha vida: soerguer-me dos fracassos conjugais e...conceder-me o benefício de uma maior e mais sã liberdade, ainda que tudo me doesse como se tivesse sido atropelada por um camião de longo curso!...
Estava implacavelmente destruída como se a minha vida tivesse sido sugada por um enorme buraco negro cósmico ou então, levada no ar, volatilizada por uma bomba atómica em todo o seu exponencial terrífico e de razia total, no levantar-me do fundo do poço em que me encontrava. Estava só. Completamente só. O divórcio, o desemprego e...a depressão - na tríade mais perfeita das circunstâncias maléficas da vida - perfazendo a solidão e a dor do silêncio, sem filhos haver, sem nada a requerer em ressurgimento de qualquer resquício de novas alegrias, novos sorrisos, eu era um zombie ambulante e do qual parecia não querer sair. Ou deixar extinguir nessa mágoa sado-masoquista em que me dissolvia. Cada vez mais.
Mas, naquela leda e fresca manhã de Março, como já o referi, algo se iria passar de diferente e...estranho, muito estranho. Não. Não estava sedada nem bloqueada a nível neurológico ou de meninges ameaçadas em raciocínio e lucidez, pois vazara as últimas tomas pela sanita abaixo. O último reduto do que me vira submissa e subserviente, era agora pó e nada - pelo esgoto fora. Libertara-me finalmente! Pensava eu...
Deambulei até ao jardim que ladeia a zona comercial e, habitacional, onde vivia na época. Aquele local não tinha nada de paradisíaco nem calmo, pois que - na época - mais parecia um estaleiro naval pelas muitas investidas de camionagem barulhenta e roufenha de motores esfalfados nas idas e vindas em levadas de entulho e desperdícios, pelos alicerces, vias de acesso e demais construções que iam gradualmente edificando a Ponte Vasco da Gama e, a renovada cidade oriental de Lisboa - em próximo ano de (EXPO 1998) de, Exposição Mundial da Cultura. Tudo era um púlpito de excitação e desenvolvimento, energia e ascensão - no oposto de mim que só me apetecia desaparecer da face da Terra. Os meus pensamentos foram ouvidos. E eu...fui levada. Como...não o sei dizer. Só sei que, observando no Céu uma luz intensa, brilhante e sem se fazer anunciar, me invadiu toda como uma espécie de auréola magistral e de aparição divina, na qual fui sequestrada em corpo e espírito - num voo inamovível por mim - mas que, me deu asas para acreditar que, não estando louca, me sentia como há muito o não reconhecia na minha pessoa. Voei. E esse voo jamais esquecerei. Nem o que veio depois. A nave era imensa. Gigante. E eu...pequena, tão pequena, para que algo tão grande, tão omnipotente, tão omnipresente se vinculasse em mim como estirpe molecular de toda a minha essência. Se esta era nociva, perene, má ou fatal...ainda o não sabia. Mas confiei, tal como ventre materno que nos acolhe e aconchega em gestação uterina, de que algo de muito revelador se indiciava. E assim foi. Boquiaberta, estupefacta e...parva de todo, foi como presenciei aquela tão exorbitante magnitude de meios, vias, conhecimentos, estradas de comunicação e...abertura mental para o tanto que teria de acolher e, receber, daqueles meus raptores estelares.
Tive medo. De início. Observava os seus movimentos e temi o pior. Mas não estava só. Havia - tal como eu - mais umas quantas pessoas em meu redor e, iguais a mim. Homens e mulheres. Todos terrestres. Todos receosos. Todos em silêncio e em bloqueio geral. Sentimos partilhar essa igual confusão, consternação e pasmo radical que nos congelava as veias e quase o coração, num estremecimento imparável do que não sabíamos responder, do que não sabíamos ainda reconhecer do que nos tinha sucedido. A todos. Duas dezenas de homens e duas dezenas de mulheres, correspondentemente. Do que tive na percepção imediata de uma classe em género e reunião simbiótica do masculino e feminino no seu todo.
Senti-lhes o medo. Igual ao meu. Senti-lhes as origens e as cidades de berço ou vivência, nos muitos que ali estavam que, como eu, se sentiam perdidos e nada confiantes. Não falávamos. Não foi necessário. Havia uma telepatia impressionante entre todos, daquelas que só vemos nos filmes de ficção científica em arremessos futuristas de uma evolução ciclópica e pouco lúcida de compreensão. Parecíamos todos um bando de mendigos, um bando de maltrapilhos terrestres com a sequencial submissão de quem nada pode, de quem nada autorizou, de quem nada teve qualquer direito ou voz para se poder sublevar, ante aquela trupe estelar de seres superiores que nos guiavam só com o olhar. Parecíamos autómatos, ou então, uma sectorial linha de montagem - em formatação industrial - de cariz proto-robótica e de utilização duvidosa em espécie de experiência-piloto de uma qualquer coisa indefinível. O nosso estatuto era nulo; inominável a olhos terrenos; abominável...a nossos olhos. Mas não nos revoltámos. Antes aquiescemos perante tanta superioridade, tanta eloquência reiterada no que nos induziam que fizéssemos. Mas somos humanos e, como tal, prevaricámos. da pior maneira possível: uns urinaram-se, outros defecaram. Todos adultos, todos seres humanos e...todos igualmente humanamente com as suas defesas no limite mínimo. Eu...bem, eu não fui excepção e por muito que não me orgulhe disso, senti-me escoar um líquido quente pelas pernas abaixo, dando-me o entendimento primitivo e básico da questão de ser tão medrosa e frágil quanto os iguais a mim.
Um a um, fomos sendo criteriosamente sendo levados para um retiro de lavabos em que nos refrescávamos, ou seja, tomávamos banho sob uma «água» límpida ou líquido similar, que não víamos de onde surgia e nos dava a sensação na pele e num todo em cutisação uniforme e doce como se estivessem a espalhar-nos um bálsamo em Spa invisível de mãos e massagens por nós. Foi indescritível. Deu-nos segurança. Pelo menos, a mim. Mas penso que o sentimento era geral. Ainda que tudo nos parecesse uma estranha passagem por uma réplica da "Alice no País das Maravilhas"...ou mesmo do "Feiticeiro de Oz"...ou algo do género!

A Revelação
Estou no anfiteatro. Estou vestida com um fato de peça única de cor branca e de textura maravilhosa que, em contacto com a pele me parece ser a mais bela seda que jamais senti. Mas não o é. Possui um capuz que nos mandaram colocar em cobertura de cabeça como os antigos frades capuchinhos. O ambiente não é pesado, mas sente-se um estranho desconforto no ar. A mesma desconfiança, a mesma temeridade. Eu...observo. Os meus iguais, os meus «irmão terrestres» estão todos vestidos como eu: não há diferenças. Existe um mar branco à minha frente de homens e mulheres encapuçados, envoltos naquele tão endémico mistério de seitas religiosas ou maçónicas mas que, aqui, nos reverte a todos numa simbologia algo cómica ( e cósmica, claro está!) de algo que ainda não sabemos o término. Aguardamos.
Os mais impetuosos agitam-se nos longos assentos desta enorme plataforma de consistência dura mas agradável - como os bancos dos automóveis alemães, reconheci. Registamos então - em momentos que não preciso - uma tomada de posição já mais premente e, de certa forma, mais intuitiva - no que todos somos incentivados a observar dos nossos visitantes-sequestradores ou...anfitriões estelares. Parece-nos que a «aula universitária» vai começar, do que notamos em incidência de movimentos e reiterações em consciência mental que não sabemos explicar. O silêncio é sepulcral!
Sinto que os dados estão lançados e, pela primeira vez desde aquele estranho voo, que se vai abrir um imenso universo de conhecimentos, ensinamentos e...futuras regras a cumprir. Não estou errada.
O dogma é o principal ponto de abertura. A «Evangelização Cósmica» está prestes a iniciar-se. Estamos nervosos. E eles sabem-no. Aquietam-nos, e quase me dava para referir que os vira sorrir, mas penso que foi imaginação minha...ou então, sugestão da minha já tão conturbada mente em martirizada alteração.
Há o termo «alavancar» consciências, determinações e leis a reestabelecer na Terra do muito que o Homem já esqueceu. E não tornou a reorganizar. A reestruturar. A recuperar e...a reconstituir na Terra. E tudo isso nos é dito e asseverado de forma benevolente mas não complacente com esses ditames.
Sentimo-nos envergonhados, humilhados, espoliados de honra e direitos de o continuarmos a fazer no dito «nosso» planeta azul. Aferem que, ainda há tempo. E reafirmam-no em consubstanciação única de ordem superior, de ordem máxima de um ser único também - a que nós os terrestres, chamaríamos provavelmente de Deus (para os crentes e não crentes...) - e que, sem ínfima parte de desprezo ou contemptível amostragem do que nós humanos somos na nossa mais escura ou negra génese, a certeza dessa mesma transformação de nível superior, evolutivo e de ascensão permanente. Ou deitaremos tudo a perder, insinuaram. A somatização diletante que o ser humano foi fazendo ao longo de séculos ou mesmo milénios, fez sofrer o planeta, fez sofrer as suas altas instâncias estelares, admitiram. Muitos erros, muitas batalhas inglórias na Natureza e no Homem, recrudescendo uma inferioridade nestes sem limites, num processo recidivo e longo que a nenhum beneficiou ao longo desse tempo. A consciência humana, alada a uma maior integração nesse longo processo, tendo como base essa renovada reintegração planetária e cósmica - asseveraram - em espécie de evangelização cósmica e do Universo (acrescentaram), levará o Homem a esquecer por completo a sua total e execrável idiossincrasia terrestre e humana - em registos até aí indignos e mesmo psicossomáticos de distúrbios seus e, no seu semelhante. A evolução tridimensional em vários estádios estelares será uma realidade - consagraram. Mas levará o seu tempo!
O mundo quântico em similitude e expansão - tal como o próprio Universo - irá ser também uma realidade apresentada. Existem sete longos caminhos para o Homem: Em primeiro, A Aprendizagem. Em segundo, A Aculturação. Em terceiro, A Compreensão. Em quarto, A Lógica. Em quinto, O Desenvolvimento. Em sexto, A Afirmação e...em sétimo, A Definição. Esta última teve uma determinada paginação relevante em que eles referem a definição tanto do indivíduo como do Universo no seu todo.
O terceiro, quarto e quinto estádios estelares ainda serão uma miragem para alguns. O sexto e sétimo patamares só para os considerados divindades supremas desse imenso Universo, reafirmaram. Há mundos paralelos, há mundos infinitamente interligados, conectados e interagidos entre si. Não se pode mudar isso. Se algo lhes tocasse, se algo lhes interferisse nesse paralelismo, registando-se nestes uma colisão ou toque substancial, tudo ruiria. A aniquilação da Terra seria iminente se tal sucedesse. E, sem irreversibilidade, anuíram. Matéria, Energia, Partículas de Luz...tudo isso está ligado no futuro e, subsequente sobrevivência da raça humana, aferiram. Referiram Newton o que fez estranhar muitos de de nós, ainda estupefactos e apalermados com tanta informação ascendente sobre nós, simples cidadãos do mundo terrestre. "O Mundo transita de modo Eterno!" - E nada o faz parar! O futuro convertido em Energia e Tempo - similar também com o que sucede aos aceleradores de partículas em designações espalhafatosas ( reincidiram!) de: «Partículas de Deus!?...» que o não são de todo! Muito cuidado com essas reiterações científicas, acrescentaram. O Homem ainda não está de todo preparado para a sabedoria total. Sapiente sim, mas de forma ordeira, consensual e gradual à medida que vai estudando e aprendendo, nessa primeira e exímia alínea dos «Caminhos do Homem».

A Iluminação
Respirámos fundo. E absorvemos tudo como verdadeiras esponjas de ensino e regras, à semelhança do bom aluno ou de criança na pré-infantil. Sentimos todos que fôramos - de alguma maneira - abençoados e, escolhidos nessa espécie de selecção global e terrestre nos desígnios da Humanidade! Era como se tivéssemos acabado de nos graduarmos em licenciatura superior de tudo o que há conhecimento! E com nota máxima! Estávamos consideravelmente siderados com tanta sapiência, tanta sabedoria, tanta profetizada analogia sobre o planeta Terra que, agora, sabíamos não nosso mas de todo um Universo, um cosmos infinito! E estávamos surpreendentemente maravilhados com isso! Já não havia medo mas aprumo, confiança, orgulho e...discernimento de tudo o que nos havia sido dito em vozes de anjos, vozes de deuses, pronunciados em telepatia expressa de uma só língua universal, de um só entendimento, de uma só alegoria! Estávamos de facto, verdadeiramente sublimados àquela oitava, nona ou décima terceira maravilha estelar que nos evidenciara e seleccionara em distinção e resumo do que fôramos ali fazer. Sentimo-nos reis soberanos de nós mesmos, sentimo-nos donos e senhores do nosso próprio reino ditado por aqueles estranhos mas mui fiáveis e credíveis seres estelares que nos confinavam a sorte dos deuses e, a sua, de nos consagrarem agora igualmente iguais...ou quase! Reeducar-nos como se astrofísicos, astrónomos ou cientistas de grande hoste todos fôssemos - e não, os simples e comuns cidadãos que ali éramos - em sintonia com todos os nossos defeitos e qualidades inerentes à raça humana, raça terrível, segundo alguns.
Queríamos mudar isso. Começando por nós mesmos! Coarctados que foram os iniciais receios de uma cupidez idiota entre nós,solidarizámos de que algo teria de ser feito e, mudado na Terra. Aqueles seres inteligentes, conspícuos e velados de uma certeza inextinguível, haviam-nos dado a melhor das referências para continuarmos com as nossas parcas e modestas vidas quotidianas: a alegria da vida! Não mais teríamos pensamentos impuros, nefastos e fatais a nós mesmos - caso nos quiséssemos punir com a lassidão, cobardia e total despojamento de princípios humanos que é o suicídio ou...o homicídio. Referiram-nos de que, de quando o fazíamos em nós ou em outrém, isso se repercutiria em seres iguais - nesse outro mundo paralelo, como se matássemos outra pessoa em assassinato sacrílego e, sobre nós mesmos!
Esta realidade era monstruosa. Demais! Praticando o suicídio em nós, praticaríamos o homicídio noutrém! Ou seja, cometeríamos esse tão vil crime sem o desejar...ainda que, sob essa outra pessoa que seria como nós, na outra face de um outro planeta semelhante ou similar à Terra. E isso...era impensável, admitimos todos. Assertivos na crença e no desejo de tal nunca fazermos, acreditámos piamente nesse nosso novo destino de profícuo pensamento e acção na Terra, em profícuo projecto futuro e nunca em promiscua reversibilidade de se voltar a trás. Como um pacto ou aliança irrevogável, o acordo foi geral. A polarização efectiva desse objectivo máximo foi-nos dado logo ali, nos semblantes de fácies tão humanas quanto as nossas - em que só a indumentária diferia para um tom mais acinzentado - revelando-nos a coerência e a beatitude do que agora compúnhamos em total e coesa unidade terrestre. Só não sabia eu, por quanto tempo mais...assim que todos fixássemos os nossos pés na Terra. Teria de ter fé, e fé ali, era coisa que jamais eu pensaria deter em mim...depois de tudo o que vi e alcancei! Mas...estranhamente...senti que esta recrudescia ainda mais, à medida que fui destilando em mim tudo o que me havia sido dito e feito sentir, dentro e fora daquela massa humana e, em nave estelar algures no Universo!
Observei mares, oceanos, rios e lagos - uns tão iguais, outros tão diferentes dos terrestres - e, em todos, senti fazer parte. Observámos (todos!) as enormes cidades douradas, prateadas e multicolores que o cosmos tinha para nos presentear. Iluminámos as nossas almas com as outras almas, aquelas que tão deliberada e de forma algo melíflua - destilando harmonia, consenso e docilidade - depositou em nós, seres terrenos, seres inferiores, na funcionalidade quase perfeita de nos podermos a si igualar, nem que fosse por uma réstia molecular de todo um pensamento, de todo um sentido de vida...dentro ou fora do nosso planeta. Ou de vários! E, de toda a galáxia, de todo o Firmamento, de todo o cosmos, de todo o Universo!
Radiquei em mim uma outra consciência, um outro caminho de vida. Não mais tive pensamentos perniciosos e tão ingratos do ser vivente que sou. Sem falsos protagonismos ou afamados sentidos de vida, acobertados pela ganância de carreiras profissionais ou de abastança económica, não mais me vi sujeita a esses dislates impróprios para o ser humano que todos somos, mesmo e ainda, com alguns dos nossos muitos defeitos terrestres. A Felicidade não pode ser sinónimo de obscenidade mas sim, de equilíbrio, solicitude, bonomia e alegria em cada dia que amanhece. Só assim se reproduz esse mesmo sentido de vida em nós e nos outros! Aflorando, ramificando e proliferando essa mesma felicidade em caminho vivenciado (e...experienciado!) vamos, cada um de nós à sua medida, fazer esse percurso peregrino do berço à campa numa cíclica indumentária corpórea e espiritual que se quer e deseja eterna. Como M. Gandhi diria: "Não há caminho para a Felicidade...a Felicidade é o próprio caminho! E, digo eu, o meu já o vivi em parte - na felicidade havida de tão grandes anjos, guias, mestres, deuses e o meu indissociável e sempre digno em mim, Deus de todas as coisas, Deus do cosmos, Deus do Universo me lembrar ao acordar e ao adormecer que vale a pena viver, amar e ser amado, mesmo quando algo não está de feição. Deus do Universo cuida de nós e nós, humanos, só temos de agradecer por isso! Na Terra e...fora dela! Busquem a felicidade e, o vosso Deus, pois Ele é magnânimo...até mesmo, para quem Nele não acredita! E sejam felizes na Terra! Por enquanto...o Universo é nosso e espera por nós, acreditem!!!

terça-feira, 17 de junho de 2014

A-ha - Hunting High And Low

A Doutrina Kármica


Ilustração de Buda envolto nas Stupas

Será que, o que hoje fazemos individualmente na nossa vida, irá desencadear uma reacção perceptível e, colectiva no Universo? Ser-nos-à dada a opção e, a determinação de tornarmos a viver um bom ou mau Karma, consoante as boas ou más acções que aludirmos nas nossas vidas?

Karma e Reencarnação
Uma grande parte da Humanidade acredita que o ser humano se divide em corpo e espírito. Enquanto o corpo pode morrer e desaparecer, o espírito renasce ou reencarna para uma nova existência noutro corpo, numa vida ulterior. A memória do espírito persiste em todos os seus renascimentos.
Segundo os filósofos orientais, o espírito guarda a lembrança dos actos realizados pelos seres que já habitou. É aqui que entra o conceito de Karma.

Por Responsabilidade Própria
A antiga palavra indiana Karma, significa acto! Cada acto desta vida desencadeia o seu efeito na vida actual ou na seguinte. O Karma é no entanto um destino inevitável, uma reacção desapiedada à culpa ou ao castigo da existência terrena. Pelo contrário, tem a ver com o equilíbrio e a harmonização num jogo de forças espiritual e, divino, e pode dirigir-se a todo o momento por meio de palavras, actos ou pensamentos positivos. Os míticos partem do princípio de que, o espírito organiza um plano de vida antes de nascer na matéria, esboçando o futuro ser à luz de potenciais experiências e processos de aprendizagem, tendo em vista o Karma já acumulado.
Este plano de vida reflecte portanto o possível futuro do ser, mas pode ser sempre modificado através do livre-arbítrio, ou seja, de um Karma novo e consciente.

O Véu do Esquecimento
O livre-arbítrio representa o presente do ser que, se quiser despertar espiritualmente, tem de concentrar as suas energias apenas na actualidade, sem medo do Karma passado. A conduta correcta no presente é a chave da melhoria da qualidade de vida. Tanto o Hinduísmo como o Budismo afirmam que, a essência da espiritualidade consiste em viver no presente: a hora mais significativa é sempre a actual e, a pessoa mais importante, a que temos à frente neste momento. Quem tem acções e pensamentos positivos pode conseguir neutralizar o Karma negativo do passado.
O medo do Karma negativo pode ser uma das razões que explicam o véu de esquecimento que tapa as vidas anteriores de cada novo ser encarnado. Só pela meditação, transe, sonhos ou hipnose podemos chegar ao conhecimento que, o nosso espírito tem, de anteriores actos e existências.

Viagem ao Passado
Nas chamadas terapias de reencarnação, as pessoas chegam às vezes às profundezas do tempo. Passo a passo, os terapeutas experientes levam os seus clientes a um estado de descontracção - cada vez mais profundo - e fazem-nos recuar no passado, servindo-se por exemplo da imagem de marcos miliários com a inscrição dos anos. Sob a orientação do terapeuta, o sujeito da experiência «voa» então sobre os marcos, acabando por se deter num número que lhe lembra «alguma coisa».
Mediante determinadas perguntas, o terapeuta explora então esse ano com o cliente: onde se encontra o sujeito? Em que corpo? Quais foram as suas experiências-chave? O que o impressionou?
Os pormenores não têm importância, pois o que interessa mais numa regressão é saber quais os valores éticos que se adquiriram na respectiva vida anterior, como se manifestam no carácter da pessoa reencarnada e que Karma actua neste momento.

Budismo e Karma
Para se evitar o Karma negativo, os budistas aconselham que só se tenham bons pensamentos, palavras e acções. Ao contrário do Hinduísmo, não acreditam num espírito que encarna constantemente num novo corpo. Quando uma pessoa morre, é mais a sua consciência que passa directamente para outra pessoa. Este ciclo da reencarnação chama-se «samsara».
O Karma Budista existe apenas na corrente dos estados de consciência que reside em nós e não em anteriores vidas mentais. Portanto, os budistas lidam com o Karma de forma consciente e têm preceitos concretos sobre o castigo que, determinada acção atrai e, o que pode fazer-se para eliminar o Karma negativo.
Assim, o assassino é punido com uma vida curta, falta de saúde, constantes preocupações e, a separação daqueles que ama. O comportamento sexual incorrecto atrai muitos inimigos. O ladrão é castigado com a pobreza, miséria e frustração e, o mentiroso, ficará à mercê da calúnia.
O budista deve ser activo contra o Karma negativo: a preguiça e a passividade são consideradas comportamentos incorrectos.

Hinduísmo e Karma
Segundo os textos da Religião Védica - a mais antiga confissão da Índia - compreendendo inúmeros deuses - apesar de o prazer e a dor do ser humano já estarem predestinados - este tem a liberdade de responder pelos seus actos. Podemos por exemplo ir viver para outro lugar onde pensemos que seremos mais felizes, mas o nosso novo ambiente será tão positivo ou negativo, como nos foi predestinado! Ou seja, segundo a Doutrina Hinduísta, a nossa situação actual é determinada por desejos e actos passados, mas no entanto temos a liberdade de decidir como queremos lidar com ela.
Este comportamento origina outras situações futuras no ciclo da reencarnação. No entanto, ao contrário do Budismo - a Doutrina Védica - afirma a existência de uma realidade divina superior.
Apesar da vontade humana, no final é Deus que decide quando e como esta se manifesta. Mas seja qual for a nossa filosofia religiosa, o Karma do ciclo da reencarnação não deve ser visto como o castigo de uma culpa. O conceito de Karma refere-se apenas a um processo e, significa que, o que parte de uma pessoa também voltará a ela. Em última análise, somos nós que nos castigamos ou recompensamos a nós próprios através do nosso pensamento, vontade e comportamento!

Viver com o Karma
No Budismo existem vários aspectos que, podem impedir ou fomentar, a maturação do Karma:
- Uma boa acção não produz Karma positivo se, entretanto, nos arrependermos dela.
- Se tivermos praticado boas e más acções, é em primeiro lugar pelas boas que somos recompensados na reencarnação. Pode acontecer que, o Karma negativo, que seria igualmente de esperar, não se manifeste devido aos frutos das boas acções.
- A privação e, a integridade física, impedem ou fomentam a fruição do Karma positivo.
- As circunstâncias temporais - como as guerras e as fomes - podem dificultar o desenvolvimento do Karma positivo.
- O esforço pessoal a nível da entrega e, energia individual, pode resultar na maturação do bom Karma e, no recuo - ou não intervenção do mau.

Um Universo Inteligente
A terapia da reencarnação pode ser um veículo que nos transporta de uma dimensão da percepção a outra, para finalmente nos ensinar que, a nossa existência está incrustada num universo inteligente - o qual, não podemos percepcionar com as nossas actuais limitações.
Há muito que, nos círculos espirituais, se acredita no Macro e no Microcosmos, que se condicionam recíprocamente. O que o indivíduo faz hoje, desencadeia ao mesmo tempo uma reacção perceptível e, colectiva no Universo, o que torna compreensível a alegria de um bom Karma e, o medo de um mau.

Enquanto os Hindus crescem com a certeza da existência do renascimento e, de que cada vida anterior influencia a actual, os povos do Ocidente só lentamente acedem ao fenómeno do Karma, procurando nas terapias de reencarnação - nos últimos anos - a pista dos fardos das vidas passadas.
Assim sendo, teremos muito ainda que calcorrear em dimensão e práticas espirituais muito mais condignas com a nossa condição de humanos que somos mas, em maior abertura e entrega nessa consciência kármica de uma doutrina a cumprir. Ou então, cíclica e infinitamente, viveremos nessa mesma submissão de nunca nos livrarmos dos maus Karmas e...das más escolhas que fazemos na vida. Que a todos esta luz ilumine e, a bem de toda a Humanidade que somos, esse bom Karma que todos desejamos fluir e, conceber, nos seja vivenciado! E...alumiado em novos tempos, novas vidas. Assim seja!

segunda-feira, 16 de junho de 2014

A Essência da Mente


Escultura de Buda Sentado em Jardim

"Para lá de todas as técnicas e descrições da prática existe uma transmissão real, através da qual o Mestre implanta no aluno a realização da natureza da mente."
                                                                                              - Chetsang Rinpoché -

Vajrayana - O Caminho do Budismo Tibetano
Desenvolveu-se no Tibete uma forma de budismo especialmente ritualizada e rica em práticas mágicas e técnicas de meditação. Antes da introdução do Budismo, eram muitos os seguidores do Xamanismo e, da religião natural do «Bon» - um conjunto de diferentes correntes religiosas - firmemente ancorado na ideia de que, a Natureza, é habitada por espíritos e demónios.
Em primeiro plano surgiam a arte da adivinhação, o transe, ritos fúnebres para a protecção dos vivos e mortos e, ainda a neutralização dos espíritos maus.
Quando o Budismo chegou aos Himalaias no século VIII, misturou-se com a antiga religião popular do Bon e passou a ser caracterizado por Budismo Tibetano ou Lamaísmo. A palavra «Lama» (Aquele que está no Alto) tem o mesmo significado do «Guru» indiano e, indica um Mestre espiritualmente eminente!

A Meditação enquanto Prática Central
Com o passar do tempo, os monges e os seus respectivos lamas deram origem a quatro escolas principais: A Nyingmapa (Escola dos Anciãos); A Kagyupa (Linha de Transmissão Oral); A Sakyapa (com o nome do Mosteiro de Sakya, no Sul do Tibete) e A Gelugpa (Escola dos Virtuosos).
Cada escola ensina uma síntese particular da tradição filosófica e sua aplicação prática por meio da meditação. A Gelugpa - a última destas grandes escolas - surgida no século XIV, introduziu no século XVII a figura do Dalai-Lama, chefe político e religioso do Lamaísmo.
A forma específica do Budismo Tibetano chama-se Vajrayana (Veículo de Diamante) - um sistema espiritualizado que integrou as práticas mágicas e que deu lugar a uma grande riqueza de rituais.
O Vajrayana chega até a incluir a transmissibilidade mágica dos méritos kármicos, o que significa que o lama - que devido à sua posição elevada acumulou um bom karma nas vidas passadas e, presente, com a integridade da sua conduta - pode, por assim dizer, gastar alguns destes méritos com discípulos particularmente distintos, para que estes alcancem mais depressa a perfeição.
Um dos aspectos centrais é o ensino oral e, a iniciação na prática da meditação, feita por um Mestre autorizado, na qual se experiencia a divindade enquanto realidade mental.
O Mestre ensina aos seus alunos uma sequência de sílabas (Mantras) que, segundo a tradição, pertencem à divindade.
As diferentes formas de meditação encontram-se registadas nos chamados textos de Sadhana - os quais descrevem detalhadamente, como as divindades podem ser vividas enquanto realidade, a introdução da visualização e, por fim, a sua dissolução numa meditação sem forma.

Conhecimento da Essência da Mente
Diversas escolas destacam duas formas fundamentais da instrução da mente: Shamatha (Repouso tranquilo) e Vipashyana (Conhecimento especial). Primeiro, determinados exercícios preparatórios ensinam o discípulo a centrar e tranquilizar a mente, até esta ser capaz de se concentrar num único objecto.
Num segundo passo exercita-se a meditação sem objecto. Só depois do domínio desta prática, é possível assim avançar para a etapa seguinte do processo mental, Vipashyana - um laborioso acto de análise interior de todos os fenómenos do mundo e da consciência, realizado com a mente agora atenta sem qualquer esforço. O objectivo é alcançar o conhecimento da vacuidade (Shunyata), a verdadeira essência do mundo.
Este conhecimento específico não é possível através do esforço intelectual, pois, segundo Buda, não é a lógica que consegue penetrar a interdependência de todas as coisas. Só a mente purificada, capaz de contemplar os fenómenos para além da conceptualidade da razão, consegue alcançar o Shunyata.

O Grande Selo
No centro de algumas linhas tradicionais, como o Kagyupa, encontra-se o conhecimento específico e intuitivo da vacuidade, que pode ser alcançado através da meditação e que, equivale à libertação da roda do renascimento. A forma mais elevada desta doutrina, chamada Mahamudra (Grande Selo), percebe a natureza da mente como vacuidade e, claridade.
O «Grande Selo» é a verdadeira essência de todos os fenómenos mentais e materiais, por assim dizer neles impressa como um selo escondido.

Prática do Mahamudra
A prática do Mahamudra começa com a meditação sobre o Yidam - uma divindade que corresponde à personalidade individual do praticante. A sua visualização é feita até o praticante se fundir com ela.
Segue-se a meditação sobre o Mestre (Lama), também chamado Guru Ioga, que ocupa um lugar importante na prática do Mahamudra, pois realiza-se através dele a transmissão da bênção da linha da tradição.
O Lama transmite assim ao seu aluno avançado, os ensinamentos ocultos da respectiva tradição. Mas, este passo só se dá, com os discípulos já muito avançados - porque implica que o Mestre transmita ao aluno a realização da natureza última da mente.
É de importância capital que, o aluno, se mantenha firme na tradição da linha, pois que ele próprio é doravante seu representante. O actual titular da linha «Drikung-Kagyu, Chetsang Rinpoché - um lama renascido - explica desta forma esta transmissão mágica: "Para lá de todas as técnicas e descrições da prática existe uma transmissão real, através da qual o Mestre implanta no aluno a realização da natureza da mente."

Protectores dos Ensinamentos
Nos locais de oração (lhakhang) do Mosteiro, encontram-se inúmeras figuras santas em rolos de tecido (Thangkas), frescos nas paredes e estátuas de bronze e ouro. Normalmente representam Budas, Bodhisattvas (Seres iluminados) e, Dharmapalas (Protectores dos ensinamentos).
Estes últimos, expressão característica do Budismo Tibetano, são demónios zangados da antiga religião popular do Tibete. A vitória do Budismo transformou-os, passando a atribuir-lhes a responsabilidade de afugentarem as forças hostis e, de protegerem os ensinamentos de Buda. Através da oração, o praticante coloca-se sob a protecção destes dharmapalas.

Conceitos do Vajrayana
Bodhisattva: Ser iluminado que, por compaixão com os que sofrem, encarna uma e outra vez na terra até à libertação de todos os seres.
Bon: Noção que abarca as forças religiosas no Tibete, antes da implantação do Budismo.
Dharmapala: Divindades protectoras do Budismo.
Drikung-Kagyu: Uma das escolas do Budismo Tibetano.
Kagyupa: Uma das quatro escolas principais do Budismo Tibetano.
Lama: Mestre espiritual venerado no Tibete. Corresponde ao Guru indiano. Não é idêntico ao Dalai-Lama.
Lhakhang: Local de oração dos Mosteiros Budistas Tibetanos.
Mahamudra: Um dos ensinamentos mais elevados do Vajrayana - conduz ao conhecimento da vacuidade de todos os fenómenos e, à libertação da roda do renascimento.
Mantra: Sequência de sílabas que, repetidas continuamente, ajuda à meditação.
Prajna: O princípio feminino e, a sabedoria intuitiva como conhecimento da vacuidade enquanto verdadeira natureza do mundo.
Sadhana: Um determinado grupo de textos rituais que contém instruções sob uma forma especial de meditação.
Shamatha: Calma mental, práticas que preparam para a meditação.
Shunyata: Conceito fundamental do Budismo, segundo o qual a verdadeira natureza de todas as coisas é o «não ser»: nada possui uma existência independente ou uma substância duradoura.
Thangka: Rolo de tecido de seda representando Budas e outras figuras, segundo uma determinada iconografia.
Upaya: O princípio masculino e da multiplicidade.
Vajrayana: Orientação específica do Budismo Tibetano (também Lamaísmo).
Vipashyana: Aspiração ao conhecimento da vacuidade como verdadeira natureza do mundo.
Yidam: Divindade pessoal cujo carácter corresponde ao do praticante.

Símbolo da União
Os textos do Budismo Tibetano que descrevem o caminho do desenvolvimento espiritual chamam-se «Tantras». Todos os Tantras descrevem o processo em três etapas: Base, Caminho e Fruto.
Na prática chamada Mahamudra, a Base, é a natureza última e pura da própria mente. O Caminho descreve o estudo, reflexão, contemplação e, meditação sobre os ensinamentos.
O Fruto, é a realização perfeita da não-dualidade, a vivência simultânea do que é normal e absoluto em todas as coisas.
A superação da dualidade é simbolizada no Budismo Tibetano pela união sexual de divindades masculinas e femininas. O princípio masculino (Upaya) representa a actividade do absoluto no mundo das ilusões, ou seja, em termos ocidentais - a acção divina na terra - enquanto o princípio feminino da sabedoria (Prajna), remete para o um, o Universal.
Os Bodhisattvas ocupam também um lugar muito especial no Budismo, pois que, escolheram o Caminho da Iluminação não para si mesmos mas, para ajudar os outros. Renunciando ao Nirvana, voltam a nascer continuamente para servirem a Humanidade!

E isso, é algo que para sempre nos permanecerá em nós - seres humanos - a verdadeira e poderosa essência de tudo...em mente e vida a cumprir, na determinação dos tempos! Pois então que, a bem dessa contínua protecção e luz sobre os nossos caminhos e, de toda a Humanidade em geral, assim seja!

domingo, 15 de junho de 2014

A Flor Divina


 
Flor de Lótus

Que poderes mágicos possui esta maravilhosa flor que flutua na água em adoração de deuses e, todo um mistério envolvente, na montanha divina de ovário central e as quatro pétalas da corola em representação dos quatro principais continentes terrestres? Possuindo uma substância psicoactiva, que propriedades ou finalidades terá assim esta tão enigmática flor em beleza tão deslumbrante quanto exótica e estranha?

Lótus - A Flor Divina
De noite, o nenúfar fecha as flores, volta a retirar-se para dentro de água e, é inalcançável! Ao nascer do dia, desliza para cima e abre-se à luz na direcção do Oriente.
Para os Egípcios, tinha por isso uma relação estreita com o caminho mítico do deus do Sol.

O Jovem nascido do Lótus
O Lótus-Sagrado-do-Egipto (Nymphaea lotus) é simultaneamente a flor que surgiu no início da água primordial (Nun) e, a que nasceu da Luz!
É um símbolo do Sol que irrompe da noite. Uma das imagens mitológicas dos Egípcios é o deus do Sol, que emerge do mar primordial num Lótus.
No capítulo quinze do Livro dos Mortos está escrito que, o deus do Sol - Ré - apareceu na figura de «um jovem surgido do Lótus». A esperança do renascimento manifesta-se noutra passagem do livro, onde o morto deseja ser transformado na flor sagrada.
O Lótus foi divinizado na figura de Nefertem.

O Mundo no Lótus
Na geografia mítica dos Indianos - a terra - tal como o Lótus-Índico «Nelumbo nucifera» (Lótus da Índia), flutua na água. O ovário central representa a montanha divina e, as quatro pétalas da corola, os quatro principais continentes.
Na Índia, o Lótus simboliza a libertação de todos os aspectos exteriores do mundo. Apesar de aquele que busca o progresso espiritual viver no mundo, não deve ser tocado por ele. O mesmo acontece ao Lótus, que flutua na água mas não fica molhado.

Vishnu, Brama, Lakshmi
O Lótus é na Índia símbolo de beleza, pureza e santidade. Os santos têm olhos e pés de lótus.
O deus Vishnu é representado deitado num lótus, com um outro crescendo-lhe do umbigo.
Brama - o deus da Criação - aparece frequentemente sentado num lótus.
Lakshmi - a esposa de Vishnu - emergiu com um lótus na mão do oceano agitado, até se transformar num mar de leite. Tem olhos de lótus, pele cor de lótus e, é a deusa da Felicidade, do Amor e da Beleza.

O Lótus no Budismo
O Lótus cresce para a luz na água suja e, não é conspurcado! No interior, é vazio; no exterior, direito. Não possui ramos e é perfumado. O Budismo fez por isso dele o símbolo da verdadeira natureza do ser humano, que também permanece imaculada no lodo da existência terrena (samsara) e, da ignorância (avidya).
Só assim, no entanto, o ser humano pode ser iluminado. Os Budas são representados sentados em tronos de lótus. Não há a certeza se, a grande disseminação da sua adoração, se deve também ao seu efeito alucinogénio, pois existem alguns indícios de que, as plantas da espécie Nymphaea, foram usadas no passado com este fim. Os cientistas isolaram na planta a apomorfina - uma substância psicoactiva.

Figuras Tibetanas de Libertação
O Lótus - que se conta entre as 8 jóias do Budismo - tem uma relação simbólica estreita com o «bodhisattva» (ser iluminado) da compaixão infinita, Avalokiteshvara.
Na China, este bodhisattva tem normalmente uma representação feminina: é Kuna-Yin, divindade da Compaixão. Segundo a lenda, o bodhisattva Avalokiteshvara chorou um mar de lágrimas e, a deusa Tara - outra encarnação de Avalokiteshvara - nasceu num lótus.
Tara jurou afastar os obstáculos e, a ajudar os seres vivos, a alcançarem a libertação até ao fim dos tempos.
No Tibete, tornou-se uma popular figura de...libertação!

O Lótus pertence à família dos nenúfares. Tem folhas redondas ou ovais que flutuam na água, caule comprido e flores que podem atingir os 35 centímetros de diâmetro.
O Lótus do Egipto é branco. No Antigo Egipto. o lótus era o símbolo da Regeneração!
Que mais acrescentar a esta bela e maravilhosa flor que, desde a Antiguidade até aos nossos dias, nos ramifica também a certeza de uma ascensão ao longo dos tempos na maior consciência de libertação, regeneração e...muito provavelmente, reinício de uma outra vida em pureza e, crescimento! Haverá por certo, muito mais a elucidar sobre esta bonita flor que, desde o Egipto ao Tibete, se tem revelado de uma magia ímpar em toda a sua explanada singeleza sobre as águas paradas de um qualquer rio. Que esconderá então nas profundezas do mesmo...? Descobri-lo-emos algum dia? Que revelações nos faria? De que reino ou condição eflúvia se originará, em aroma intenso na emanação de si em alma humana, em alma sentida? Quem o saberá? A única certeza que nos fica sem dúvida, é o facto de toda a sua pujante beleza e...alegoria, a uma determinação terrestre em toda a sua forma e esplendor!
A bem dessa continuação perfumada e bela, assim seja então...ante os olhos e corações de toda a Humanidade!

sábado, 14 de junho de 2014

Us and Them Pink floyd AMAZING Video - Video Dailymotion

Us and Them Pink floyd AMAZING Video - Video Dailymotion

A Lua Cheia


Algures no Mundo há uma Lua Cheia...

                                                         A OUTRA FACE DA LUA

Há sempre uma face desconhecida...na Lua, em nós e nos outros! A minha...levou-me quase à morte! Poderei então esquecer, as mágoas, as traições, a violência e...a aniquilação da magia que me fez perder por ti? Que me fez perder por um amor doentio, ominoso e psicopata em que não havia espaço para mais nada que não fosse esse egoísmo, esse latejar insano de uma pertença castradora...e eu, rastejando amor, suplicando as pequenas gotículas do que já não existia...deixei-me estropiar, deixei-me morrer! Poderei ressuscitar alguma vez de toda esta angústia, de todo este sofrimento, de toda esta amarga e dolorida vida que me impuseste? Poderei...? Terei forças para isso? Sobreviverei?...

12 de Junho de 1981
A Sedução
O nosso amor era mágico! Íamos mudar o mundo com a mesma destreza com que mudávamos de camisa. Íamos ser felizes, muito felizes! A determinação com que galgávamos as escadas da subida da igreja local, era a mesma com que nos afiançávamos a subir todas as outras...da vida, da nossa vida! E foi bom. Era muito bom acreditar que, de facto, íamos mesmo fazer girar o mundo à nossa volta e tudo, e todos esperavam por isso. Fazíamos magia. Éramos a própria magia em toada de amor único que nos reportava irmos ser muito felizes com uma catrefa de filhos, com uma catrefa de sarilhos talvez...mas muito, muito felizes! E tudo começou bem. De início. Estava Lua Cheia e a noite era nossa!
Havia os Santos Populares em noite de Santo António - efusiva e deslumbrante em cidade de Lisboa à beira rio transformada. As suas gentes de manjerico na mão e, o pregão sempre aceso na boca, iam alegrando as ruelas de Lisboa com o mesmo entusiasmo com que casavam as filhas e netas em promessas cumpridas de velas e ouros ao santo casamenteiro. As marchas ecoavam na avenida com a graça de Deus e de quem é menos abençoada pela vida mas, nessa noite, todos são iguais, todos são filhos de Deus e todos comem sardinhas com pão de milho e bebem o vinho tinto que não mais é que o sangue do Senhor...ouve-se alvitrar. E eu...bem eu sorria, e dava saltos de gazela como há muito não me vira fazer - desde que deixara de ser criança - em voltejos loucos de quem começa a idade adulta mas nem sabe o que isso é.
Ele, o meu amor, estava lindo. Estava sempre bonito e bem composto. E era meu! Eu...uma donzela do século XX e ele, o meu cavaleiro andante em cima de um BMW de alta cilindrada. Sim, ele era um menino de boas famílias e rico! Se é que se pode designara assim quem na época trabalhava na empresa do pai e, fazia dos seus dias, a árdua tarefa de cumprimento e obrigação para com os mesmo.Fizera o complementar dos liceus - na época dizia-se assim - em estabelecimento de um secundário que já lhe daria para a vida sem sequer pôr os pés numa Universidade. O ramo comercial estava fluente e, o início dos anos oitenta a isso determinava, em prosperidade e...como muitos políticos afirmavam, em franco desenvolvimento devido à integração a breve prazo de Portugal na Comunidade Económica Europeia, hoje UE, (União Europeia).
Eu ia casar! E...pela igreja! Pela Santa Madre Igreja Católica e Romana como era de bom tom a qualquer menina da classe média, alta ou baixa do meu país. Não que fosse muito dada a igrejas e a missas - tendo unicamente professado a minha pequena devoção em passeio cerimonial, pelas alturas de uma romaria estival em terras paternas - levando-me a ficar com pés esfolados e, a alma esturricada ao ver que os meus pais nem me tinham visto - ou assistido - no belo acto infantil de me verem na procissão da Senhora da Aboboriz com um vestido pindérico e sem graça mas, que eu, achei o mais belo do mundo entre o que eu era - na mais bela princesa (do mundo também!) e, da torre enclausurada ou...das fadas boas que por vezes assomavam de noite ao meu quarto, falando comigo.
Mas tenho de subir mais degraus...os da tal sedução, os da tal idade em que tudo nos parece belo e de facto assim é. Até chegar a primeira submissão...a primeira desilusão...a primeira bofetada!

A Realidade
A década de oitenta não foi das melhores mas também não foi das piores. Resumindo: deu para o gasto. De início, de vida a cumprir, as zangas, as discussões apenas se cingiam a contas por pagar, a eventos a estabelecer e a...filhos por educar. Até que o tom de voz se tornou mais forte e o que anteriormente eram qualidades, tornaram-se defeitos; muitos defeitos. Que eu era burra! Que eu era desinteressante, que eu me deixara subestimar pela vida...pelos tratos e cuidados nos filhos; que eu me desleixara ao ponto de já não o seduzir, de já não o reconquistar, de já não o elevar às estrelas em prazer lúdico de alcova ou meandros sexuais deslumbrantes de, chicote na mão e algemas encorpadas. Que não sabia cozinhar. Que não sabia tratar dos filhos, que não sabia...amar! Como se amar fosse...fazer de prostituta à noite e ser criada para todo o serv iço de dia! E pensar eu...que ele me tinha oferecido o mais belo anel que eu já vira, em diamante reluzente de muitos quilates em noite de Lua Cheia, em noite de múltiplas promessas, em noite de devaneios e soluços gemidos de um desejo maior que não fosse o entregarmo-nos ambos a, um deleite sensual e profícuo, de concepção e geração a realizar. E como a Lua era bonita! Aquela mágica Lua sobre o rio Tejo, o meu rio, o rio que ladeia Lisboa e todas as almas boas da minha cidade e...do meu país. Como acreditei nas suas belas palavras de amor e só amor...e agora me via franqueada de tudo, bloqueada em voz, em querer, em som e em ambição de dali me ver para fora, levando os filhos comigo.
Primeiro, foi a estrondosa bofetada. De seguida, um murro na boca que me fez perder dois dentes e fiquei tão embelezada como o corcunda de Notre Dame em subserviência e anulação totais e, letais sobre mim. Já não era só uma Gata Borralheira...agora virava monstro. Eu era um monstro, sentia-me um monstro sem qualquer tipo de beleza ou alegria que me fizesse revoltar - ou sublevar - de dentro de quatro paredes e voltar-me a ele e esborrachar-lhe o «focinho», que é como quem diz, partir-lhe a boca toda, que era o que ele tinha feito comigo...deixando-me derreada por terra, deixando-me absorta na dor e na mágoa de não ser nada, de ser um lixo, de me sentir esgoto, de me sentir...um zero à esquerda!
Tinha-se quebrado o elo: tinha-se quebrado a magia, finalmente! Ele já não era o meu homem, aquele que eu queria para envelhecer ao meu lado e, dando-me a mão no estertor da morte, no estertor dos meus últimos momentos na Terra. Ele...já não era o meu príncipe: apenas o meu carrasco, o meu inquisidor!
E lia a Bíblia. Devorava a Bíblia em hermenêutica louca de não aprender nada, de não me aquietar com nada, de não querer ou sequer não ter suporte psicológico para tal! E pedia a Deus que mo levasse de mim, que lhe não fizesse mal pois era o pai dos meus três filhos - como foi possível esquecer tanto...adiar tanto...prorrogar tanto a dor e a maldição havidas...? (senti) E como não pedir que ele parasse com as tareias, as sovas, de quando o seu clube desportivo perdia, de quando o pai lhe superiorizava em ordem e em hierarquia suprema, a sua condição de homem-menino mimado que era, e o redimia à sua condição de ainda homem sem voz e sem poder por este ainda estar vivo? E eu apanhava! Apanhava sovas de morte. Primeiro os bofetões, depois os pontapés e depois...os murros e a minha magra sujeição de me toldar por chão em posição fetal, em posição carente e fechada de querer voltar ao útero da minha mãe! Mãe que, não era presente, nunca foi. Preferia viajar e insinuar-se por entre as lojas de grandes marcas em Ibiza ou Palma de Maiorca em veraneio constante, ficando absolutamente autista de tudo o que acontecia à filha. Ou assim o desejava, tentando coarctar em mim, qualquer ambição de separação ou desejo de divórcio - pois que uma senhora de bem não se divorcia, mesmo neste novos tempos (anos oitenta!) de maiores liberdades que o 25 de Abril em Revolução não-anunciada nos trouxe, afiançava, com toda a correcção de uma matrona de casa de meninas que não era (nem nunca foi...) mas eu lhe admiti, ao ouvi-la tão jocosa nessas suas palavras de cidadã do mundo que apenas tinha de ser a única coisa que eu queria: ser uma mãe, uma mãe para se chorar no ombro! E ombro para isso, ela não tinha nem queria! Que eu me virasse, que eu me instasse a ser uma melhor mulher e esposa, mãe e...tudo o resto, pois que ela também sofrera o seu quinhão na vida! E enquanto me referia isto, ia analisando as suas pontiagudas unhas e, o seu cabelo petrificado em esmero e mui bem penteado em cabeleireiro semanal, rigorosamente visitado e...pago. Eu estava só, tão só!

O Fim - (ou Início?...)
Naquela noite, tudo parecia calmo. Calmo demais! As crianças dormiam e tudo se limitava a uma simples noite de princípio de Verão. A brisa suave de um vento Suão que teimava em fazer-se entrar por entre as frestas da janela do meu quarto. Eu lia um livro de Saramago. Não...não sou pretensiosa ao ponto de me elevar como erudita que não sou em leituras mais profundas mas, porque, sempre gostei de ser abrangente nessa leitura - só assim e desse modo, poderemos criticar ou simplesmente amar o que lemos. Foi o caso. Mas não deixava de ler Ken Follett - um dos meus preferidos - Konsalik, Jorge Amado ou Isabel Allende. Todos, no seu peculiar estilo em literatura ou prosa - para além do inestimável Gabriel Garcia Marquez - me faziam evadir em sonhos e realidades das quais eu queria ou imbuir-me ou fugir, consoante o caso em que me apresentava. Quantas vezes fora dada como inculta, idiota e estúpida - por ele - o pai dos meus filhos, o meu agressor...que me via sublevar em consciência e em certa medida inteligência (ou noção de maior conhecimento!) e me inferiorizava, dizendo que eu só ouvia ABBA e ele, a excelência dos Pink Floyd, que homem que é homem, assim faz! Eu também gostava de Pink Floyd mas abominava essa sua reiterada certeza de até na música ele me fazer sentir (ou ser...) menor, ser inferior, em condição mínima de mulher que era, de mulher que sou! Levados eram os tempos em que ouvira de ombro no ombro e, peito no peito, as melodias dengosas mas belas de um Peter Frampton, de um Joe Cocker, Rod Stewart ou mesmo Elton John, entre outros. Tudo...gente menor, consideraria. E eu amofinava. E...definhava. Mas acreditava também que um dia se faria justiça a tanta inglória e arremesso de pancada eu haver, e sem o merecer!
Naquela noite, nada eu previra do que sucederia... após breves momentos de mais uma discussão entre nós. Vinha alcoolizado, ou seja...vinha completamente bêbado! Pedi-lhe que não falasse alto devido às crianças estarem a dormir - o que não surtiu efeito, pois ainda se incutiu de mais razões para o fazer, pois que ouvissem, pois que acordassem, pois que soubessem que a mãe era a pior rameira de todos os tempos!...E desferiu-me o mais rude golpe da minha vida, dizendo-me: "Já não preciso de ti! Arranjei outra! "
E depois, ainda não contente com essa sua desfaçatez, proferiu: "Vou deixar-te para sempre mas não vais ficar assim, a rir de mim!...Vou-te dar um prémio por me teres dado os piores anos da minha vida! Vou...fazer-te isto!" - E, num gesto abrupto, desfechou-me um golpe de asa duro e sem piedade com a palma da sua mão - em gesto de outrora, de cavaleiro injuriado em lei de duelo. De seguida, apontou-me uma arma, um revólver que eu nem sabia que ele possuía em prática ou porte de arma, pois não era polícia, caçador, vigilante ou qualquer outra entidade similar que, como tal, lhe fosse dada permissão para tal. Fiquei estarrecida e, colada às costas da cama, tal o meu pavor e verdadeiro terror de dali a segundos eu poder ser uma alma a voar rumo ao Céu. São segundos mas...que nos parecem séculos, em mundos indistintos entre a crueldade, a insanidade e...a lobreguidão de uma névoa que nos entorpece todo o corpo e, toda a alma. Eu estava nas suas mãos. De repente, sem uma só súplica, um só som que não fosse o eclodir daquela maldita arma de morte e...um cheiro ocre a ódio, a dor, a morte! Caí para o lado direito da minha cama. do meu leito como dantes se proferia - e que já me vira em mulher a ser amada, a mulher a amar, e agora...em quase mulher morta, ferida na face, ferida na alma, ferida de morte! Um sabor a sangue efluiu na minha boca como o sabor mais agridoce que já lembro. Depois a nebulosa, o frio...a tremura de quem está entre a vida e a morte. E eu...vi-me ser içada...ser alada de dois ou três anjos que me sorriam, me amparavam e me dignificavam em seu voo celestial para o Céu ou...para uma outra instância divina (ou não) mas que eu sabia, eu sentia, ser a mais confortável, a mais doce, a mais eterna de toda a minha vida. E não refutei. Nem instei esses meus anjos. Pela primeira vez em toda a minha curta vida...eu acreditei, confiei, sentindo um amor transversal e, incomensurável, que me ditava o quanto era amada e dali eu não queria sair. Mas saí. Feliz ou infelizmente...saí desse espaço, dessa esfera cilíndrica e escura e depois luz, a belíssima luz que todos falam. Eu estava lá! E presenciei tudo em primeiro balcão e...gostei, amei mesmo esse tão majestático sentimento de leveza, acordo e ambiência celestiais em que me encontrei, ouvindo um anjo dizer: "Tens de voltar. A tua missão ainda não está cumprida! Assim se fará! Volta!!!"

E voltei. Contrariada...mas voltei. Estive em coma. Estive como morta. Mas recuperei e sobrevivi. Com dois terços da face arrematada por um vulcão em projéctil disparado. Mas não perdi a face, literalmente! Em recobro e franca recuperação hospitalar, recobrei cores, valores, princípios e um certo ordenamento na minha vida! Voltei a acreditar que era possível ser feliz! Que era possível sobreviver-se à maior angústia de todas e que, mesmo em noite de Lua Cheia, seria admissível viver-se: o tornar a ser feliz! E fui. E sou!
Uma mulher nunca perde a face. E, neste caso, tão sentidamente eu o apregoe como voz de varina em anúncio seu - de outrora - de bradar o seu peixe aos fregueses. Eu vou ser feliz! Após múltiplas cirurgias e outras tantas intervenções multi-faciais em dinâmica hospitalar, cirúrgica e de feição plástica, ou seja, de carácter moldado ao meu novo rosto, à minha nova vida e desejos futuros, que eu me vejo ao espelho e sinto ser a mais bela mulher que o mundo já viu! Tenho muito por viver ainda...dele, nem quero saber. Está em prisão preventiva e, a aguardar julgamento - em prisão efectiva por ora. Dizem que eu tive sorte e que escapei à multi-dimensão também...das muitas mulheres mortas de há dez anos para cá, há uma década portanto! Que já não vou fazer parte da imensa estatística portuguesa - e até mundial - das mulheres vítimas de violência doméstica e que são mortas à facada, à bala de revólver, ao cartucho de espingardas de canos serrados, à ignomínia dos abutres e carnificina de necrófilos que até há pouco se diziam maridos e, amantes. E o pior...é que se acredita que nos amam! Que não vivem sem nós! Que se matam se os deixarmos...que antes, matam tudo à volta que nós mais desejamos ou amamos, inclusive, os filhos conjuntos. E que, para além de tudo o mais...nos amam incondicionalmente. E esta, é talvez a maior e mais sádica mentira de todos os tempos. Quem mata não ama! Quem ama, não mata e seria uma eterna verdade de la Palisse - se não fosse efectivamente tão verdadeira, tão ironicamente verdadeira essa mesma simbologia de amor e ódio misturados em essência maligna, essência execrável, que o ser humano prolifera em toda a sua máxima consternação e...abominação!
Eu sou uma sobrevivente! E sou mulher! E vou ser feliz! E mais nada nem ninguém mo vão contrariar! Por Deus e todos os anjos do mundo que assim o determino! Vou ser uma alma livre e bela, muito bela!!!

sexta-feira, 13 de junho de 2014

A Cabeça de Elefante


Estatueta de Ganexa

Ganexa - patrono da prosperidade - relacionado com a chuva e o crescimento como deus do Panteão Hinduísta, que mais terá sido em toda a sua glória e indução na Terra? Que origens teve esta figura mítica em cabeça de elefante e postura algo confusa numa provável encarnação do deus Crishna?

Ganexa - O Deus com Cabeça de Elefante
Não se encontra praticamente na Índia nenhum estudante que não traga consigo uma imagem ou um pequeno amuleto de Ganexa - o deus da Cabeça de Elefante - considerado o deus da Erudição.
O deus Brama aconselhou Vyasa (o coleccionador), o lendário autor da grande epopeia Mahabharata, a recorrer ao inteligente Ganexa para escrever a sua obra.

O Superador de Obstáculos
O anão Ganexa tem a barriga saliente e apenas uma presa. Segura nas quatro mãos símbolos da felicidade - normalmente um lótus, um machado, uma presa, um bolo de arroz ou uma corda - um bastão de espinhos e uma coroa de oração. A sua montada é um rato.
Desde sempre que o elefante é considerado um animal inteligente, que remove todos os obstáculos da selva com a sua força e corpulência. Ganexa distribui sabedoria porque é «senhor e superador de obstáculos» (Vighneshvara).
Também o rato é esperto e consegue vencer obstáculos, pois logra entrar nos celeiros fechados. Ambos simbolizam o poder deste deus, que remove todas as barreiras do caminho para a libertação.
Ganexa supera os bloqueios e, protege as capacidades mentais, sobretudo quando se trata do trabalho intelectual. O seu auxílio é por isso invocado no início de todos os empreendimentos, especialmente os literários. São-lhe oferecidos incensos, flores ou alimentos; de contrário, originará resistências.

A Discussão com Rama
Ganexa perdeu uma presa quando estava a guardar a porta dos aposentos do seu pai, Shiva. Levou a sua tarefa tão a sério que impediu a entrada de «Rama com o machado» (Parashu-Rama), uma encarnação do deus-Vishnu. Deu-se então uma briga. Com a trombra, Ganexa atirou ao chão Parashu-Rama, que, furioso, lhe arremessou o machado. Ao reconhecer nele um presente que seu pai dera a Parashu-Rama, Ganexa imobilizou-se e esperou humildemente o golpe, que lhe custou uma presa.

A Origem de Ganexa
Existem muitas histórias míticas sobre a origem de todos os deuses do Panteão Hinduísta. Ganexa não é excepção. Para o observador exterior, talvez algumas delas se excluam mutuamente, mas para o Hindu, que vive com a certeza da transformação eterna de todos os fenómenos deste mundo, de modo algum elas são contraditórias. Não há por isso qualquer problema no facto de, segundo a mitologia indiana, Ganexa ser uma encarnação do deus Crishna.
A figura do deus Ganexa teve provavelmente origem num culto de fertilidade. Em todo o caso, está relacionado com uma sexualidade pronunciada. No Sul da Índia, relacionam-no com a chuva e o crescimento. Este deus tornou-se tão popular que foi elevado a grande promotor da prosperidade. As suas mulheres chamam-se, consequentemente, Siddhi (Bom sucesso) e Radhi (Bem-estar).

Como o Deus adquiriu a sua Cabeça
Na qualidade de filho dos deuses Shiva e Parvati, Ganexa encabeça o séquito do seu pai e protege o sucesso tanto na vida terrena como na vida espiritual. Esta popular divindade corresponde - em muitos aspectos - ao deus grego Hermes e ao romano Mercúrio. É por isso muito respeitado entre os comerciantes.
Conta uma lenda como o deus adquiriu a sua cabeça de elefante:
Parvati tinha tanto orgulho no seu magnífico filho que, pediu a Shani - deus do planeta Saturno - que o contemplasse. Shani é chamado «o do mau olhado», mas Parvati esquecera-se do efeito destruidor do seu olhar, que queimou a cabeça do filho, transformando-a em cinzas. Vendo o desespero da mãe, o deus criador Brama, aconselhou-a a substituir a cabeça por qualquer coisa que conseguisse encontrar rapidamente. Foi uma cabeça de elefante!

Na Província do Rajastão encontra-se num nicho do magnífico átrio do palácio de Udaipur, uma referência em escultura a Ganexa - patrono da prosperidade - e, onde muitos peregrinos vão, fazendo os seus pedidos e remetendo as suas ofertas. Mais uma vez se alude então, a toda uma reverencial veneração hinduísta no que nos sugere ter sido este deus Ganexa em toda a sua dimensão num culto de fertilidade, chuva e crescimento. A sua apresentação em cabeça de elefante induz-nos no que poderia ter sido uma mutação genética ou simplesmente uma deformidade física que, a nada disso se poder obter a conclusão imediata, se reverterá em apenas uma mera especulação através destes novos tempos da Ciência e, da investigação. Como figura mitológica e de grande adoração na Índia, apenas se nos aufere acrescentar que, a bem dos povos e de toda a sua exponencial cultura que assim continue para as gerações futuras. A bem da Humanidade, assim seja!

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Queen - Love of my life - legendado em portugues

A Dança Divina


Escultura de Nataraja - Província de Tamil Nadu - Chidambaram                  Sul da Índia

Existirá de facto - nesta dança divina - a expressão maior de união entre a Terra e o Céu, entre a matéria e a consciência suprema? Nesta manifestação de Shiva - em Nataraja - e, executando a sua dança cósmica da criação, terá este desejado assim unificar o Universo e o coração dos homens na Terra?

Nataraja - O Senhor da Dança
A dança e a música são, em todas as culturas, componentes essenciais das práticas religiosas e mágicas. A dança conduz ao transe, durante o qual se sente a presença do divino.
Na Índia, a dança - juntamente com o ascetismo - que vira as costas ao mundo, sempre teve um significado muito especial. A contradição que o entendimento ocidental pode ver entre a dança - virada para a vida - e o ascetismo - retirado do mundo - não existe de modo nenhum na Índia.

Dança e Espiritualidade
Bem pelo contrário, todas as formas de dança sagrada da Índia, têm como objectivo último aproximar o espectador de uma consciência espiritual superior. Não se trata de uma diversão superficial.
A verdadeira experiência da dança sagrada ultrapassa os sentidos. Entendendo-a correctamente, aquele que nela toma parte, aproximar-se-à do plano da consciência divina.
Dado o significado da dança sagrada, Shiva - um dos deuses mais importantes do Panteão Hinduísta - é simultaneamente senhor da ascese e, da dança.
Shiva, no seu aspecto de dançarino cósmico, reina no palco do mundo com o nome de Nataraja (Rei da Dança). Tem no entanto mais de mil outros nomes.

O Simbolismo da Dança de Shiva/Nataraja
As cinco actividades de Shiva manifestam-se na dança de Nataraja: Criação, Conservação, Destruição, Encarnação e Libertação. Com um pé esmaga o demónio Mujalaka - que representa a ignorância e, a temporalidade. A mão inferior esquerda aponta a perna erguida, que simboliza o estado supraconsciente (ou libertação espiritual).
Os compridos cabelos de asceta agitam-se-lhe na cabeça. Na mão superior direita segura o pequeno tambor da criação - símbolo do tempo - ao som do qual dançam os elementos.
Na mão esquerda - a língua de fogo - símbolo da destruição do mundo mas também da aniquilação do véu de Maya, a força do engano e, portanto, das ilusões. A harmonia destes dois braços de Nataraja simboliza o jogo cósmico da criação e, da destruição.

Dança no Círculo de Fogo
A dança das forças da Natureza é representada num círculo de fogo, em oposição à dança da sabedoria de Shiva. A mão direita que tem livre faz o «abhaya-mudra» - o gesto da ousadia e da protecção - símbolo do poder de Shiva para proteger o Universo.
Duas serpentes segurando uma caveira prendem-lhe uma parte do cabelo. As serpentes e o crânio representam os aspectos destruidores do deus, o tempo e a morte.
A imagem de Shiva dançando com uma perna erguida, reflecte o significado místico da dança: só pode dançar quem deseja libertar-se da Terra, quem aspira ao alto. Ao mesmo tempo, só pode existir dança se houver contacto com a Terra.
A Dança Divina converte-se na expressão na união entre a Terra e o Céu, entre a matéria e a consciência suprema.

A Dança da Criação em Chidambaram
No século X, a poderosa dinastia dos reis Cola elevou Shiva, enquanto Nataraja - à qualidade de principal divindade protectora - e fez de Chidambaram o centro do culto de dança de Shiva.
Diz-se que foi neste lugar do Sul da Índia, que Shiva executou a sua dança cósmica da criação «Ananda Tandava» (A Dança da Glória).
Chidambaram - e o seu templo de Shiva - foram identificados com o coração do ser cósmico primordial.
Shiva efectuou neste lugar a sua dança no centro do cosmos e, ao mesmo tempo, no coração dos fiéis. Assim, o primitivo culto de uma divindade local foi elevado a importante culto do hinduísmo.

No Sul da Índia, na província de Tamil Nadu - em Chidambaram - encontra-se o templo de Nataraja, dedicado à Dança da Criação. Na fachada principal, vê-se uma escultura de Nataraja - uma manifestação de Shiva. Quem tal visite constatará esse enorme poder que reflecte a dita união entre a Terra e o Céu num todo cósmico que, porventura estarão interligados em maior espiritualidade do que supomos. Mais uma vez aqui se instaura a respectiva veneração e respeito sobre estas crenças e, muito provavelmente, a consciente certeza de algo mais, algo superior - num jogo cósmico da criação e da destruição no ser humano. Para além de tudo o mais, uma outra consciência verificada em dança divina, de todo um poder que une então este nosso Universo com todos nós, humanos. E por essa realidade ou verdade rectificada, e a bem de toda a Humanidade, assim possa continuar a ser!

quarta-feira, 11 de junho de 2014

A Deusa Negra Kali


Ilustração da Deusa-Mãe Indiana: Amba, Durga ou Kali

Que poderes mágicos serão estes, incutidos - e desenvolvidos - por estas deusas de outrora em que se afirmava que voavam e até ressuscitavam mortos? Que culto seria este para que tal reproduzissem em ritos sexuais realizados nos templos? E, qual o verdadeiro sentido desses ritos?

Kali - A Deusa Negra e os seus Seguidores
A grande Deusa-Mãe tem muitos nomes na Índia. Os mais comuns são Amba (mãe), Durga (a insondável) ou Kali (a negra). É a esposa de Shiva, também chamada Parvati; todos os nomes representam aspectos da sua natureza de «shakti» (força, energia): a personificação da energia primordial divina.

A Grande Feiticeira
Sete servas, as «Yoguinis», acompanham a mãe divina. Simbolizam as Shaktis personificadas de vários deuses. As Yoguinis, acompanhadas da Grande-Deusa, são no entanto apenas outros aspectos da natureza desta Deusa-Mãe.
Este facto é evidente, sobretudo na oitava yoguini, acrescentada mais tarde às outras sete e chamada Mahamaya (A Grande Feiticeira). Mas Kali e Durga também eram invocadas com este nome, o que não admira, pois Mahamaya é o conjunto das Yoguinis - a essência de todos os aspectos da Grande Deusa-Mãe.

A Criação das Yoguinis
Segundo a lenda, cada gota de sangue que o demónio Raktabija perde, transforma-se num novo demónio. Para o combater nesta situação desesperada, Kali cria as sanguinárias yoguinis, que engolem o sangue de Raktabija - finalmente morto pela espada da deusa.
Kali é muitas vezes representada dançando em união sexual com Shiva. Os seus adornos são um cinturão de braços decepados e, um colar de caveiras. Numa mão segura a cabeça de um demónio e na outra, uma espada.

Poderes Mágicos
As misteriosas Yoguinis são interpretadas como encarnações dos defeitos humanos: Brahmani é o orgulho, Maheshvari a cólera; Vishnavi a cobiça, Kaumari a arrogância; Varahi a inveja, Indrani a difamação, Kamunda a calúnia e Yogueshvari a origem de todos os defeitos - a sede da existência que prende o indivíduo ao mundo material e o afasta do espírito.
Na crença popular, as Yoguinis são terríveis e perigosas: devoram crianças, trazem doenças e habitam os locais onde se queimam os mortos. São atribuídos poderes mágicos extraordinários a elas e às bruxas, suas seguidoras na terra. Diz-se que voam e até que ressuscitam mortos.

Ritos Sexuais
Ao que parece, existiu outrora um culto das yoguinis, realizado por mulheres «selvagens», a quem hoje chamaríamos «inconvencionais», que exactamente por isso eram consideradas bruxas.
O culto estava ligado a ritos sexuais realizados nos templos. O verdadeiro sentido destes ritos era superar os defeitos e, transformá-los em virtudes espirituais, pois sob uma capa terrível, as Yoguinis revelam a sua verdadeira cara: as virtudes da inteligência, sabedoria, conhecimento, pensamento, perseverança, memória, discernimento e, por fim, luz libertadora.

A Deusa Adorada
Durga - com quatro a dez braços - é representada dominando um leão. castiga ou abençoa com o seu enorme poder. Recompensa com amor e conhecimento quem aspira à realização espiritual. Distribui comida aos pobres e destrói com fúria aniquiladora o demónio da ignorância.
É adorada sobretudo em Bengala, no Nordeste do subcontinente indiano, onde todos os anos se realiza no Outono uma festa que dura vários dias, a Durga-puja. No último dia mergulha-se num rio - ou no mar - uma imagem da Durga escolhida para o efeito durante o ano.

O Templo de Kali em Udaipur é diariamente visitado por muitos fiéis. Trata-se sobretudo de mulheres que cumprem as suas devoções nos templos de Kali, perante as imagens da deusa.
Não se sabe ainda hoje se, estas deusas seriam ou não emissárias de algum deus maior que as terá incutido de poderes extraordinários sobre os homens. O que se supõe, é que algo de superior e muito avesso à Terra se terá inculcado também nestes poderes que outrora se julgavam mágicos e fora do comum nestas mulheres-deusas indianas. Veneração - e muitos seguidores das mesmas - ainda hoje se mantém por toda a Índia em adoração e respeito numa entrega total de crença e, prestação a si. Todos os cultos nos merecem esse mesmo respeito, consideração e, conhecimento, pelo que aqui se regista de uma sabedoria ancestral que ficou no tempo - e para a História - algo mais que talvez ainda não tenhamos de todo desvendado. Seja como for, restar-nos-à respeitar isso mesmo também com a mesma simpatia e lucidez cultural que nos é devido, em continuação de cultos e culturas além os tempos. A bem da Humanidade, assim seja!

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Pink Floyd - The Great Gig in the Sky (Screen Film 1973 Version #1 (HD))...

A Água Sagrada


Rio Ganges - Benares                                  Índia

Será de facto kármico, os banhos realizados ao longo do cais do Ganges em Varanasi, eliminando as consequências acumuladas de todos os actos em si impostos ao longo de milénios de existências terrenas?
Que água sagrada é esta, que leva milhares nos ghats de Varanasi a banharem-se e, a purificarem-se assim?

Ganges - O Rio Sagrado
Um mito do Ramayana - a segunda epopeia mais importante da Índia a seguir ao Mahabharata - narra que, outrora, o santo Agastya engoliu o oceano para liquidar os demónios que nele viviam.
A terra ficou seca e toda a vida ameaçada de destruição. O santo rei Bhagiratha viu que a única possibilidade de salvar a Terra era convencer os deuses a enviarem para a Terra a torrente celeste, que pairava no Firmamento como a Via Láctea.

Bhagiratha - O Herói Espiritual
Durante 1000 anos, o lendário Bhagiratha submeteu-se a severas mortificações no santuário de Shiva em Gokarna, no Sul da Índia. Devido às forças espirituais que acumulou, o deus da Criação - Brama - revelou-se-lhe por fim e, concordou, em deixar o Ganges descer à terra. Mas esta empresa gigantesca não era simples. As massas de água que se precipitariam sobre a terra, arriscavam-se a parti-la e, a destruí-la para sempre. Era por isso necessária a colaboração de Shiva - Yogue divino e, exemplo de todos os ascetas.

Bhagiratha invoca Shiva
Shiva estava sentado sozinho em meditação num pico dos Himalaias. Bhagiratha precisava portanto de realizar outro feito espiritual para conseguir a colaboração do inalcançável deus.
Deslocou-se então aos Himalaias, alimentando-se apenas de folhas e água, e assumiu uma «asana» - uma postura de ioga chamada «urdhavabahu». E assim se concentrou, direito como uma coluna, apoiado numa perna, com os braços sobre a cabeça e os dedos entrelaçados.
Um conhecido baixo-relevo de Mahabalipuram - uma pequena localidade perto de Madrasta - mostra Bhagiratha em posição de ioga diante do templo de Gokarna. É o momento em que Brama aparece no interior do templo, mas também representa a cena na qual Bhagiratha, magro devido ao jejum e de pé em posição de ioga, invoca Shiva.
O Deus revela-se-lhe então, gigantesco, com quatro braços e os cabelos formando uma pilha imensa.

O Rio Celeste desce à Terra
Tanto fervor convenceu Shiva, que concordou em colaborar naquela tarefa cósmica. O Deus entrelaçou as suas compridas madeixas de asceta em forma de torre e, colocou-se no lugar onde o Ganges se precipitaria para a Terra. O seu cabelo travou a monstruosa cascata e a água correu suavemente para os Himalaias, inundando as vastas planícies do Norte da Índia.
Por este feito, Shiva recebeu o nome de Ganga-Dhara ( o que detém o Ganges).

Locais de Recolhimento Espiritual
A história mítica da descida do Ganges glorifica a força que pode ser alcançada por meio das práticas espirituais. Até os deuses mais importantes se deixam conquistar assim. Por isso, desde tempos muito recuados, que o Ganges tem uma relação estreita com o esforço espiritual.
Ao longo do rio, ficam muitos lugares sagrados com numerosos «ashrams» - centros de meditação e estudos religiosos. Haridwar e Rishikesh, no curso superior do Ganges - onde o rio sagrado inunda a planície - são considerados locais especialmente sagrados, ponto de encontro de inúmeros «sadhus», que renunciaram ao mundo para se entregarem à suas práticas espirituais.
Mas também aqui vêm muitos outros hindus em busca de algum tempo de recolhimento. Em meditação nas margens do Ganges, entregam-se à magia do rio e dos mitos que o acompanham.

O Banho Ritual no Ganges
É no entanto Varanasi (Benares), no curso inferior do Ganges, que regista a maior afluência de peregrinos. Os crentes hindus descem a escadaria da margem (ghat) ainda antes do nascer do Sol, para se banharem no mais sagrado dos seus rios. Mergulhados no rio até ao peito, com o seu rosto em êxtase virado para o sol-nascente, derramam a água benta na cabeça, espalham flores no regaço de Ganga - a deusa do rio - fazem abluções rituais e, bebem a água acastanhada.
Se um devoto já idoso vai ao local sagrado...é porque quer morrer ali! Às portas da morte recebe um gole da água sagrada do Ganges e, o próprio deus Shiva, sopra-lhe ao ouvido uma poderosa mantra por meio da qual pode alcançar a libertação. Os cadáveres são queimados na margem e as suas cinzas espalhadas no rio.

A Água do Ganges e os Brâmanes
Os Brâmanes - membros da casta dos sacerdotes - instalaram-se nos ghats de Varanasi. Debaixo de guarda-sóis, símbolos do seu estatuto, pregam o seu culto e explicam os textos sagrados a quem os quiser ouvir. Por todo o lado se tira água do rio para se levar para casa.
Qualquer cerimónia ritual religiosa hindu (Puja) é impensável sem água do Ganges.

A Descida do Ganges
Em Mahabalipuram, no Sul da Índia, encontra-se um expressivo baixo-relevo, como já se referiu aqui, datado do início do século VII d. C. Este enorme bloco de pedra conta a história da descida do Ganges. Ao centro, o rio descendo sobre a terra parece fender a pedra. Um rei e uma rainha serpentes nadam majestosamente nele enquanto rezam. De toda a parte acorrem deuses, seres celestiais, demónios, pessoas e animais para admirar o acontecimento.
O baixo-relevo é uma expressão da convicção hinduísta de que, tudo no mundo é atravessado por uma energia vivificante. E é também manifestação do grande espectáculo do desdobramento do «Maya» divino - os fluxos ilusórios da substância da vida em eterna transformação.

Rituais dos Peregrinos
Os peregrinos que chegam a Varanasi para se banharem no rio Ganges, dispensador da libertação, dão primeiro a volta aos antigos limites da cidade que rodeava o templo de Madhyameshvara a uma distância de cerca de 16 quilómetros.
A volta sagrada à cidade (pradakshina), que começa na margem do rio Ganges, no Manikarnika Ghat, e aí acaba depois de 60 quilómetros a pé, demora seis dias. A área de Varanasi - considerada sagrada e livre de pecados - é comparada com um barco redentor no qual o homem pode atravessar o oceano da metempsicose. As consequências acumuladas de todos os actos realizados ao longo de milénios de existências terrenas (Karma), são eliminadas com um banho no Ganges em Varanasi.

Depois de fatigante viagem e, do longo caminho a pé em volta dos antigos limites da cidade, os fiéis alcançam finalmente o verdadeiro objectivo da sua peregrinação com o banho ritual no Ganges. O banho nas suas águas...parece assim suprimir as rígidas fronteiras que ainda existem entre as diferentes castas. A tudo se nos é dado ver e observar com a mesma candura e crença espiritual que cada um faz em si, nestas sagradas águas do Ganges. Só se poderá então acrescentar em face a esta ancestral tradição de uma espiritualidade comovente que, limpos os impuros, iluminados os que assim profetizam, nos seja dado a continuação desses mesmos actos - para quem acredite ou não - que tudo eliminarão em Karma distinto e se Deus permitir, em Karma renovado de almas limpas e puras. A bem da Humanidade...assim seja!

domingo, 8 de junho de 2014

A Imortal Alma


Jesus Cristo descido da cruz - «Cûlgaitã» (Cólgota) Monte do Calvário - Norte do Monte Sião
                                                                                                             Cidade Velha de Jerusalém

Ano I d. C, - Sexta-Feira Pascal 15: 00 h. locais
Últimas palavras de Cristo em registo bíblico: "Eis que venho em breve! Felizes aqueles que põem em prática as palavras da profecia deste livro," (...). (10) Disse ele ai ainda: Não seles o texto profético deste livro porque o momento está próximo. (11) O injusto faça ainda injustiças, o impuro pratique impurezas. Mas o justo faça a justiça e o santo santifique-se ainda mais. (12) Eis que venho em breve, e a minha recompensa está comigo, para dar a cada um conforme as suas obras. (13) Eu sou o Alfa e o Omega, o Primeiro e o Último, o Começo e o Fim. (18) Eu declaro a todos aqueles que ouvirem as palavras da profecia deste livro: se alguém lhes ajuntar alguma coisa. Deus ajuntará sobre ele pragas descritas neste livro, (19) e se alguém dele tirar qualquer coisa, Deus lhe tirará a parte da sua árvore da vida e da Cidade Santa, descritas neste livro. (20) Aquele que atesta estas coisas diz: "Sim! Eu venho depressa!" Amen. Vem Senhor Jesus!"(21) A graça do Senhor Jesus esteja com todos.
                                                                                               Apocalipse 22 - Bíblia Sagrada

O Suplício - Via Dolorosa
Julgado pelo Sinédrio, por Pôncio Pilatos e, Herodes Antipas, todos eles demónios, todos eles avessos à tua palavra, meu Senhor! Como pudesteis resistir tanto...como haveis mantido a honra e a dor incutidas em ti, pelas muitas torturas sofridas...pelas muitas dores da vida e destes ímpios homens que te devassam o corpo e, a alma! Não tenho mais lágrimas para derramar sobre teu manto púrpuro de fraca condição, não tenho mais ânimos de me voltar a fazer tua...mesmo além o teu reino e, a tua imposição sobre mim, que me rogaste a fé a confiança de esperar, de não te julgar e...de aguardar por novas de ti.
Cada ferida, cada pústula que em ti abrem, é como a minha chaga de tormentos e devaneios por te ter amado um dia...por te amar para sempre meu santo Senhor! Cada gemido, cada rogo teu de lamento e dor, é o meu inferno sustentado por uma única certeza: a de te voltar a ver, a de te voltar a ter em meus braços, Senhor! Tua mãe está derreada e sem cores e eu...apenas a seguro sem forças já ter para tanto sofrimento, tanta mágoa desesperada de um só grito, de um só desalento! Quem nos valerá nesta hora maldita? Quem nos augurará o inverso desta execrável acção de direitos extremos de direitos não concertados com a missão que vinhas impor na terra, que vinhas instar aos homens de boa vontade...? Que Centurião é este que nos confrange e amordaça o querer e a vontade de pensar diferente, de ser diferente...de ser magnânimo e perfeito? Como te puderam fazer isto meu santo Senhor de todos os dias, de todas as noites que por ti velava, que por ti esperava em amanhecer rosáceo e belo de um recomeço inextirpável?
Não sou mais tua, não és mais meu! Ou sê-lo-às...para sempre...para a eternidade dos teus céus, das tuas desventuras do deserto, das tuas missivas e mensagens profundas de Deus? Ainda me ouvirás? Ainda o teu coração baterá pelo meu, aquando me chamavas de bela Maria, de bela de Jerusalém...de bela de todas as coisas?...Ainda chamas por mim? Ainda me escutas? Ainda me esperas?
E o teu corpo tão massacrado, tão desmembrado de toda a pureza que nele eu vi e que neste eu senti, em toda a misericórdia de vida e pujança cordata em si. E agora, meu santo Senhor, que é de vós sem mim e eu sem ti meu amor maior, meu amor de todos os tempos, de todas as coisas...que serei sem vós?
Compadecida de vós, vi eu Verónica em pano limpo, arcando com as tuas impurezas, as tuas excrescências que ficaram marcadas para sempre nesse enxergo de caminhante doloroso que vos vi - em piedosa alma que te estendeu o mais puro de si em linho puído, em linho esgaçado, como porventura a sua alma ao ver-te passar. E, o pobre do Simão Cirineu que obrigado foi a levar a tua cruz - pudesse eu, e a levaria em ombros também...só para não te ver o cilício tortuoso em teus membros, em teu andamento refreado de dor, muita dor. E eu...sem nada puder fazer...a tua Maria...a tua bela Maria. E tanto que eu invoquei os meus parcos poderes, poderes de mulher de Jerusalém aqui e, nos meus familiares, nos meus vizinhos e conselheiros e... em redor de toda esta terra de Romanos em terra não sua, de invasores e delatores de terra nossa! E a todos apelei, e a todos me vi ser ouvida mas não absolvida de vossos impostos erros, imposta condenação em manto jocoso e coroa espinhosa, remetendo em vós, a luxúria de que nunca foi vossa morada!
Morro de lamentos fazer por vós. Morro...de tanto suplicar, clamar e...orar por vós meu Senhor, minha santa alma...e meu amor único! Levar-vos-ei para sempre comigo em servidão e descendência, pois que vosso filho está em mim e... mesmo não vos vendo mais, sentirá vossa presença, tal como todos os vossos apóstolos - e meus correligionários - nesta tão imensa dor de vos ver martirizado e quase morto. E morta eu sou já também...como vossa mãe Maria, como vossa tia e José de Arimateia. E Tiago e... tantos outros, os que não fugiram, os que não vos negaram - ou renegaram - ainda antes da cantada do galo do amanhecer. Bem sabeis do que falo mas não são momentos de tal invocar, pois e minha alma está tão densa e tão enevoada de dor e sofrimento que ninguém devo julgar. Mas permeio em devassidão e lamúria pelos tempos que aí virão, se a todos acometeres a breve mas infinita lição de nos voltares a ser luz, de nos voltares a presentear com tua omnipotente presença de cor e...salvação! Espero por vós Senhor! Aqui ou...naquela que é a vossa terra, o vosso reino que não é deste mundo! E todos acreditamos nisso!

A Ressurreição - A Luz na Escuridão
Ao terceiro dia fez-se luz! Voltaste para mim Senhor. Voltaste para todos nós. Que alegria, Senhor! Que júbilo! Que entoação de alma em enlevo e acordo dos céus assim, em solstício intemporal de mudares todas as coisas! Vieste das estrelas, vieste do teu reino do Céu e...de uma outra esfera que não conhecemos mas já habita em nós, Senhor! Vossa mãe está esfuziante. Vossos irmãos, amigos e companheiros de longa data nem sabem o que dizer. Vosso reino é tão distante e tão longínquo de todos nós, como é esta nossa terra das estrelas e tudo o que pensareis dizer-nos, que nada será tão forte e eloquente quanto o coração meu que por vós vibra e espera por partir. Sabeis vós o que o Centurião aferiu sobre vosso corpo: "Verdadeiramente este homem era o Filho de Deus!" - E se eles o afirmaram após teres partido e deixado vosso corpo, será que os ouvistes em crença e artimanha pois que sabiam que vosso corpo era inerte mas não morto?
Não precisais de responder meu Senhor, pois que tudo clama por vós em homilia assente de toda uma reiterada missão e caminhada que todos nós temos de fazer. Judas Tadeu ficou pelo caminho - o mau - mas isso, já o sabeis. Sim...eu sei meu amado Senhor, que Judas foi apenas um mero mas, mui válido instrumento de Deus, por tua voz, em fazer cumprir o que havias determinado anteriormente e que tal ele cumpriu. Mas os remorsos foram muitos. Não os suportou. Pediste-lhe que te entregasse, pois só assim serias recordado, só assim serias falado e dignificado em mensagem póstuma nos tempos vindouros, mas foi demais para si, para Judas Tadeu, que se viu enleado numa teia assaz turbulenta e indigna de tal. Enforcou-se, e a sua alma aí jazerá, no que só vós podereis comutar em penas que o pobre não sofra para a sua eternidade. E tal como meu irmão, Lázaro, que ressuscitásteis de tanta enfermidade sua, revoga agora estas duras penas em Judas e outros que tão perseguidos serão por somente te terem seguido em desígnios e muitos ventos.
Por Acta Sanctorum que um dia tudo irá expor, eu te consigno meu santo e belo Senhor de olhos negros e balsâmica profundidade de alma, que todos no mundo te falarão, sobre teu nome e sobre tua missão em mensagem de Deus e, das estrelas de onde vieste, e ficaste em quarenta dias de deserto, em outros tantos de pensamento e sugestão de alma...pelo que Deus te arremessou em sacrifício e punção.
José de Arimateia foi testemunha de teu corpo envolver...com Nicodemos em auxílio e bonomia de tamanha nobre missão. E tua mãe Maria que tudo viu...observou e oprimiu lágrimas, ruídos ou outros lamentos pelo que sabia omitir, sonegar e não mais afligir-se de para longe dali te levar...para bem perto depois, de nós...vós ficáreis. E assim se cumpriu. E assim o mundo viu a tua alma elevar-se e o teu corpo esfumar-se. E depois...a tua luz, a tua nova imagem em poder supremo de todos os reinos, de todas as estrelas, de todas as luas e...de todos os sentidos. Voltaste ainda mais perfeito e mais digno para o reino dos vivos e...dos ignotos que todos nós éramos, ainda antes de te conhecer, Senhor! E eu...que tanto esperei por ti meu amo e Senhor Jesus que, como mulher de Jerusalém, a vossos pés me concirno e me devoto, pois que para sempre vossa serei por todos os tempos advindos também!
E aquela escuridão...? E aquela tremura de chão...? E aquele desabar do templo, desabar de tudo em submissão a vós, ao que em vós fizeram, levando a palma de todas as más sortes, de todas as punições? Tive de aquietar vossa mãe e mesmo vossa tia ou José de Arimateis sempre tão forte, tão determinado e ali...tão espavorido com tamanha aferição de alma em solo tremente, em céus cúpidos de tormentas de nuvens malignas, raios pavorosos e rasgão de entranhas de Céu que a todos fez recear e temer por si. E depois...tudo passou. Apenas ficou a espera. A subversão dos factos e de vosso corpo envolto no linho que vossa mãe abraçou. O resto já sabeis. Vieste para nós, vieste para o mundo! E Deus anotou!
Vamos ser felizes...muito felizes. Vamos dar mundos ao mundo e...vamos ser um só! E eu...morrerei de vosso lado em chão de estrelas e cama de nuvens...com o Sol ao fundo a brilhar! E vosso filho...a brincar! Vós...alma imortal, igual à minha e...à de vosso filho, que para todo o sempre ramificará na Terra, a vossa mensagem  e,a vossa missiva, em palavra de Deus anunciada e registada até ao fim dos tempos!
E eu...Maria, velarei por isso ainda que...por muitos e muitos anos - e alguns maus momentos na Terra - essa consagração na virtualidade dos tempos, me tenha imposto o inverso disso mesmo, asseverando ter sido uma má mulher que de facto não fui! Apenas...uma mulher que amou, só isso! Muito! O meu nome...? Maria! Maria Madalena!

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Queen - Who Wants To Live Forever

A Terra do Eldorado


Selva Amazónica                                          América do Sul

Teria existido na região amazónica uma enigmática tribo de homens brancos, possíveis guardiões de uma cultura perdida? Manterá a imensa selva amazónica escondido um dos seus últimos grandes segredos?

Eldorado - O Reino de Ouro
Os índios Muíscas seguiam as cerimónias no lago como que enfeitiçados. Sobre uma jangada de juncos totalmente coberta de pó de ouro erguia-se um jovem rei, também ele envolto por uma camada de ouro finamente reduzido a pós que, emitia um brilho mate. O seu olhar dirigia-se impassível para a superfície da água, verde-escura e lisa, a seus pés jaziam oferendas ricamente decoradas de ouro puro; cálices adornados com esmerados trabalhos de cinzelagem e outras decorações, esmeraldas e amuletos.
Toda a lagoa estava repleta de aroma agradável da resina das árvores e os índios, que envergavam fantásticas túnicas cobertas de penas, aclamavam com júbilo aquele rei dourado. Instrumentos de sopro e tambores sublinhavam o burburinho que, em resposta a um sinal secreto, imediatamente terminava. Depois, o homem dourado atirava todos aqueles formidáveis tesouros para o lago, onde estes desapareciam silenciosamente nas escuras profundezas da água.
Através deste ritual, o jovem rei era aceite no círculo dos chefes de tribo. Tudo isto deverá ter tido lugar no lago Guatavita, próximo de Bogotá, na Colômbia.

Ouro usado como Droga
O mundo enlouquece-nos; o ouro torna-nos ambiciosos - mas tal sucede apenas se não tivermos o suficiente à disposição. Sempre houve povos que tiveram a oportunidade de viver em regiões com considerável riqueza em termos de ouro: ora no antigo Egipto, ora no México, na costa ocidental de África ou sobretudo nas regiões mais a norte da América do Sul.
Incalculáveis jazidas de ouro aí existentes promoveram o surgimento de uma cultura  que, mais tarde, no século XVI, foi completamente dizimada pelos conquistadores espanhóis. Na sua ânsia de encontrarem estas lendárias riquezas - sobretudo os tesouros afundados no lago Guatavita - praticaram o genocídio das populações indígenas e, alteraram por completo a paisagem.
A demanda da misteriosa terra do ouro - conhecida por Eldorado - durou séculos e, custou a vida a muitos dos caçadores de tesouros e a inúmeros membros das populações indígenas.
Ainda hoje são feitos achados dos mais diversos séculos que vêm assim confirmar as lendas em redor dos tesouros de ouro.

O Centro do Ouro
Com base nos relatos acerca dos incalculáveis valores que repousariam no leito do lago Guatavita, os conquistadores espanhóis presumiram que, se encontrariam tesouros ainda maiores à espera de ser descobertos. De início, as buscas centraram-se neste lago. Apenas sobreviveram 170 dos 1000 espanhóis que iniciaram a marcha rumo ao lago Guatavita.
Em 1580, António de Sepúlveda, um rico comerciante de Bogotá, socorreu-se da força de trabalho de 8000 indígenas para escavar uma enorme fenda na parede rochosa que se ergue em redor do lago, com vista a baixar a superfície da água no interior do mesmo. Esta enorme fenda ainda hoje pode ser vista. Quando no decurso dos trabalhos se deu um acidente em que perderam a vida centenas de índios, o gigantesco empreendimento foi suspenso. Ainda assim foram aí encontradas esmeraldas do tamanho de ovos de galinha, couraças para proteger o peito e, varas de ouro puro - logo enviadas a Filipe II, o rei de Espanha.
Nos anos que se seguiram, a rainha Isabel I de Inglaterra enviou o explorador Sir Walter Raleigh para a selva amazónica, a fim de encontrar a cidade de Manoa, onde se dizia que até as panelas eram de ouro. A sua busca inglória custou-lhe a vida. Como Isabel I acreditava numa conspiração, Sir Walter Raleigh foi aprisionado e, em nome do interesse de uma nova política de amizade com Espanha, executado em 1618.
Por fim, a febre do ouro acabou por relegar a lenda do rei dourado de Eldorado para segundo plano, porém ainda hoje as investigações acerca das origens desta lendária terra se concentram nas regiões em redor do lago Guatavita.

Gran Moxo
Quando no início do século XVII Martin del Barco Centenera morreu, levou consigo para a sepultura um segredo dourado. Martin Centenera havia estado nas profundezas da impenetrável selva brasileira, onde encontrara uma enigmática cidade perdida, sobre a qual escreveu em 1602: «No meio do lago está uma ilha com edifícios imponentes. A sua beleza suplanta a capacidade de compreensão humana.»
Esta cidade, a que os índios dão o nome de Gran Moxo, tornou-se um sonho almejado e, um pesadelo experimentado, por muitas expedições que se realizaram nos séculos seguintes.

No Encalço do Segredo
O documento com o número 512 da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro contém um relato sensacional e, detalhado, de um grupo de portugueses em busca de ouro em 1743 acerca das ruínas de um misterioso local chamado Gran Moxo. Seis portugueses, acompanhados por uma dúzia de escravos africanos e uma trintena de índios, lançaram-se à descoberta. A expedição avançou para norte, até nas terras altas do Centro do país deparar subitamente com uma serra bastante alcantilada. Os aventureiros treparam por uma parede rochosa muito íngreme e, chegaram inesperadamente a um planalto - onde ao longe conseguiram distinguir os contornos de uma cidade.
Grandes blocos de pedra maciça envolviam as casas, que estavam completamente abandonadas e pareciam ter sido destruídas por um tremor de terra. Foram encontrados alguns pedaços de ouro e vários vestígios de trabalho de mineração, para além de - num rio próximo - ser possível obter pepitas de ouro.

Índios Brancos
Os portugueses decidiram então regressar à cidade, mais bem apetrechados, para aí poderem explorar devidamente os recursos auríferos. Uma vez no rio Paraguaçu enviaram um emissário, portador de um relato provisório acerca do que haviam encontrado, ao Vice-Rei de Portugal que se encontrava na Baía, no Brasil.
Este foi, porém, o único sinal de vida conhecido de qualquer dos participantes. Nenhum deles voltou a ser visto. Ter-se-ão perdido? Terão sido assaltados pelos índios ou pelos escravos que levavam consigo? Ou...terá havido algo inédito e deveras surpreendente em face a este périplo amazónico de portugueses desabridos perante algo muito superior? Desaparecimento mágico, meticuloso ou apenas...a morte anunciada pelos muitos perigos e armadilhas aí impostas sobre uma terra jamais violável?...
Nos últimos registos de que se tem conhecimento, fazem referência ao facto de terem avistado dois homens de pele branca e de cabelos compridos e negros, algo a que também é feita alusão em relatos anteriores. Daí as muitas questões levantadas se, terá existido então na região amazónica, uma enigmática tribo de homens brancos - possíveis guardiões de uma cultura perdida?
Todas as expedições que se seguiram - levadas a cabo por franceses e britânicos - tiveram fins trágicos. O que nos induz nesta última pergunta: Manterá a imensa selva amazónica escondido um dos seus últimos segredos?

A Tragédia do Coronel Fawcett
Firmemente convito de estar em posse da localização exacta do reino de Eldorado, mediante uma informação que lhe havia sido dada pelos índios Nafaquas - e na mira de encontrar uma civilização brasileira perdida - o aventureiro inglês Percy Fawcett começou em 1922 a planear uma expedição.
Em 1925, acompanhado do seu filho Jack e, de um outro jovem inglês chamado Raleigh Rimmel, abandona os últimos indícios de civilização e parte na direcção do inexplorado Mato Grosso.
"O meu objectivo é tão somente este: investigar os segredos que durante tantos séculos permaneceram escondidos nas profundezas da selva. Temos fortes esperanças de vir a encontrar as ruínas de uma antiga civilização de homens brancos." - Estas, são as notas que tirou antes do início da expedição - que também no seu caso, haveria de ser a sua perdição. Se bem que expedições posteriores tenham conseguido encontrar vestígios do seu empreendimento, ele próprio nunca mais foi encontrado, tornando-se assim mais um dos mitos daquela selva.

Metalurgia
A diversidade geológica das paisagens entre o Panamá e o Peru, define assim a chamada terra do ouro do Eldorado. Os países com zona costeira para o Pacífico - bem como aqueles próximos do istmo do Panamá - contam-se como o berço da ourivesaria e, da cerâmica. Diversos achados são datados em épocas bastante recuadas. Existe um recipiente peruano datado do século V a. C. de ouro e prata, em forma de perna, o que deixa adivinhar uma utilização como oferenda em rituais sagrados. A pega dourada de uma faca cerimonial - também originária do Peru - é atribuída à cultura Lambayeque, onde se verifica que, a metalurgia, era uma arte já perfeitamente dominada.

Manoa
A maravilhosa terra de Manoa - um segundo Eldorado - estaria situado numa ilha mágica no meio de um grande mar salgado, de acordo com relatos que os aventureiros europeus ouviram da boca de índios da América do Sul: «Todos os pratos e talheres do palácio são de ouro puro e prata, bem como os mais comuns dos objectos.»
No centro da ilha deverá ter existido um templo dedicado ao Sol, rodeado de estátuas douradas que representavam gigantes, um príncipe e árvores. Julga-se que Manoa ficaria situada a sul do rio Orenoco, no território da actual Venezuela mas, até hoje, a demanda deste belíssimo paraíso dourado apenas conseguiu atrair inúmeras desgraças sobre os habitantes primitivos da América do Sul.

Pouco há a acrescentar, para além de uma verdadeira caça ao ouro, à ganância e, à evolução dos tempos - que registaria mais mortes do que propriamente a refrega (ou saque) desse mesmo ouro. Contudo, tendo havido diversas outras expedições nesta selva amazónica em finais bem mais felizes - e de repercussão positiva em descoberta e datação de artefactos - levar-nos-à a apenas afirmar de que tal terá valido de facto a pena e o merecimento do que se supõe de uma existência civilizacional deveras surpreendente de índios brancos. Ou...seres avançados para a época que, guardando os seus tesouros, terão omitido para a História toda a sua cultura ou parte desta. Que não, todo o conhecimento sobre si...felizmente. Assim sendo, que novas expedições se reportem, reflectindo estes novos tempos mas...em maior preservação e respeito por essas missivas e não ambiciosas do que leva à perdição e morte no Homem. Pela cultura, conhecimento e continuidade da Humanidade, assim seja então!